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A MORTE DE MOISÉS

No documento OS GRANDES INICIADOS (páginas 173-177)

Quando Moisés chegou com seu povo à entrada de Canaã, sentiu que sua obra estava terminada. O que era Iavé-Eloim para o Vidente do Sinai? A ordem divina de alto a baixo, através de todas as esferas do Universo e realizada na terra visível, à imagem das hierarquias celestes e da eterna verdade. Não, ele não havia contemplado em vão a face do Eterno, que se reflete em todos os mundos. O Livro estava na Arca, e a Arca, guardada por um povo forte, templo vivo do Senhor. O culto do Deus único estava fundado sobre a Terra; o nome de Iavé brilhava em letras chamejantes na consciência de Israel; os séculos poderão rolar suas ondas na alma mutável da humanidade, porém, não apagarão mais o nome do Eterno.

Moisés, tendo compreendido essas coisas, invocou o Anjo da Morte. Impôs as mãos sobre a cabeça do seu sucessor, Josué, diante do tabernáculo, a fim de que o Espírito de Deus descesse sobre ele, depois abençoou toda a humanidade através das doze tribos de Israel e escalou o monte Nebo, seguido somente de Josué e de dois levitas. Aarão já havia sido “recolhido junto de seus pais”, a profetisa Maria tomara o mesmo caminho. E o dia de Moisés tinha chegado.

Quais foram os pensamentos do profeta centenário, quando viu desaparecer o acampamento de Israel e subiu para a grande solidão de Eloim? O que teria sentido ele ao correr os olhos pela terra da promissão, de Galaad a Jericó, a cidade das palmas? Um verdadeiro poeta (1), pintando com maestria seu estado de alma, colocou-lhe nos lábios este grito:

Senhor, vivi poderoso e solitário, Deixai-me adormecer no sono da terra!

Esses belos versos dizem mais sobre a alma de Moisés do que os comentários de uma centena de teólogos. Esta alma se assemelha à

grande pirâmide de Gisé, maciça, nua, fechada por fora, mas que contém em seu interior os grandes mistérios e traz em seu centro um sarcófago, chamado pelos iniciados o sarcófago da ressurreição. Dali, por um corredor oblíquo se percebia a estrela polar. Assim também aquele espírito impenetrável, do centro de sua alma, olhava o destino final de todas as coisas.

Sim, todos os poderosos conheceram a solidão que cria a grandeza; mas Moisés foi mais solitário do que os outros, porque seu princípio foi mais absoluto, mais transcendental. Seu Deus foi o princípio masculino por excelência, o Espírito puro. Para impô-lo aos homens, precisou declarar guerra ao princípio feminino, à deusa Natureza, à Eva, à mulher eterna que vive na alma da Terra e no coração do Homem. Teve que combatê-la sem trégua e sem misericórdia, não para destruí-la, mas submetê-la e dominá-la Não é de admirar que a Natureza e a Mulher, entre as quais reina um pacto misterioso, tremessem diante dele, e, conseqüentemente, se rejubilassem com sua partida e esperassem, para erguer a cabeça, que a sombra de Moisés deixasse de projetar sobre elas a sombra da morte.

Tais foram, sem dúvida, os pensamentos do vidente, enquanto subia o estéril monte Nebo. Os homens não podiam amá-lo, porque ele só tinha amado a Deus. Pelo menos sua obra viveria? Seu povo permaneceria fiel à sua missão? Ah! Fatal clarividência dos moribundos, dom trágico dos profetas que levanta todos os véus na hora derradeira! À medida que o espírito de Moisés se desligava da terra, ele vê a terrível realidade do futuro. Vê as traições de Israel, a anarquia imperando, a realeza sucedendo aos Juizes, os crimes dos reis conspurcando o templo do Senhor, seu livro mutilado, incompreendido, seu pensamento deturpado, rebaixado pelos sacerdotes ignorantes ou hipócritas, as apostasias dos reis, o adultério de Judá com as nações idólatras, a pura tradição e a doutrina sagrada sufocadas, e os profetas, possuidores do verbo vivo, perseguidos até o fundo do deserto.

Sentado numa caverna do monte Nebo, Moisés vê tudo isso em si mesmo. Mas a Morte já estendia as asas sobre sua fronte e pousava a mão fria sobre seu coração. Então, aquele coração de leão tentou rugir

ainda uma vez. Irritado contra seu povo, Moisés conclamou a vingança de Eloim. sobre a raça de Judá. Ergueu o braço pesado. Josué e os levitas, que o assistiam, ouviram com espanto estas palavras saírem da boca do profeta moribundo: “Israel traiu seu Deus. Que ele seja disperso aos quatro ventos do céu!”

Josué e os levitas olhavam com terror seu mestre, que não dava mais sinal de vida. Sua última palavra tinha sido uma maldição. Teria ele, com ela, exalado seu último suspiro? Porém, Moisés abriu os olhos ainda uma vez e disse:

“Voltai para Israel. Quando os tempos chegarem, o Eterno vos fará aparecer um profeta como eu entre vossos irmãos e colocará o verbo em sua boca, e esse profeta vos revelará tudo o que o Eterno lhe tiver ordenado. E o Eterno pedirá contas a quem não escutar as palavras que ele tiver dito”. (Deuteronômio, XVIII, 18,19).

Após essas palavras proféticas, Moisés entregou seu espírito. O Anjo solar com o gládio de fogo, que primeiro lhe apareceu no Sinai, esperava-o. Arrastou-o para o seio profundo da Ísis celestial, para as ondas daquela luz, que é a Esposa de Deus. Longe das regiões terrestres, eles atravessaram círculos de almas de um crescente esplendor. Finalmente, o Anjo do Senhor mostrou-lhe um espírito de surpreendente beleza e de uma doçura celestial, mas de um brilho tal e de uma claridade tão fulgurante, junto da qual a sua parecia apenas uma sombra. Esse espírito não trazia o gládio do castigo, mas a palma do sacrifício e da vitória. Moisés compreendeu que ele completaria sua obra e conduziria os homens ao Pai, pelo poder do Eterno-Feminino, pela Graça divina e pelo Amor perfeito.

Então, o Legislador se prostrou diante do Redentor e Moisés adorou Jesus Cristo.

LIVRO V

ORFEU

Os Mistérios de Dionísio

Como elas se agitam no imenso Universo, como rodopiam e se buscam, as almas inumeráveis que brotam da grande alma do Mundo! Elas caem de planeta em planeta e choram no abismo a pátria esquecida... São tuas lágrimas, Dionísio... Oh! grande Espírito. Oh! divino Libertador! recolhe tuas filhas em teu seio de luz.

Fragmento órfico.

Eurídice! Luz divina! – exclama Orfeu moribundo. Eurídice! gemem, partindo-se, as sete cordas de sua Lira. E sua cabeça que rola, levada para sempre pelo rio dos tempos, clama ainda: Eurídice! Eurídice!

ORFEU

Os Mistérios de Dionísio

I

A GRÉCIA PRÉ-HISTÓRICA. AS BACANTES.

No documento OS GRANDES INICIADOS (páginas 173-177)