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A GRÉCIA PRÉ-HISTÓRICA AS BACANTES APARIÇÃO DE ORFEU

No documento OS GRANDES INICIADOS (páginas 177-186)

Nos santuários de Apolo, possuidores da tradição órfica, uma festa misteriosa era celebrada no equinócio da primavera. Era o momento em que os narcisos refloresciam junto da fonte de Castália. Os trípodes e as liras do templo vibravam por si mesmos e supunha-se que o Deus invisível voltava ao país dos hiperbóreos, em seu carro puxado por cisnes. Então, a grande sacerdotisa, em suas vestes de Musa, coroada de louros, a fronte cingida por faixinhas sagradas, cantava somente para os iniciados o nascimento de Orfeu, filho de Apolo e de uma sacerdotisa do Deus. Ela invocava a alma de Orfeu, pai dos místicos, salvador melodioso dos homens; Orfeu soberano, imortal e três vezes coroado, nos infernos, na terra e no céu; e que vagava trazendo, uma estrela na fronte, entre os astros e os Deuses.

O canto místico da sacerdotisa de Delfos fazia alusão a um dos numerosos segredos guardados pelos sacerdotes de Apolo e ignorados pela massa. Orfeu foi o gênio animador da Grécia sagrada, o vivificador de sua alma divina. Sua lira de sete cordas abrange o Universo. Cada uma delas corresponde a uma modalidade da alma humana, contém a lei de uma ciência e de uma arte. Perdemos a chave de sua plena harmonia, mas as diversas tonalidades não deixaram de vibrar em nossos ouvidos.

O impulso teúrgico e dionisíaco que Orfeu soube comunicar à Grécia foi transmitido por ela a toda a Europa. Nosso tempo não acredita mais na beleza da vida. Se, apesar de tudo, ainda conserva uma profunda recordação, uma secreta e invencível esperança, deve-o àquele sublime Inspirado. Saudemos nele o grande iniciador da Grécia, o

Ancestral da Poesia e da Música, concebidas como reveladoras da verdade eterna.

Mas, antes de reconstituir a história de Orfeu, a partir da própria essência da tradição dos santuários, mostremos o que era a Grécia, no momento de sua aparição.

Estava-se no tempo de Moisés, cinco séculos antes de Homero, treze séculos antes de Cristo. A Índia, naufragada em seu Kali-Yuga, atravessava a idade das trevas e não oferecia mais do que a sombra de seu antigo esplendor. A Assíria, que, pela tirania da Babilônia, havia desencadeado sobre o mundo o flagelo da anarquia, continuava a espezinhar a Ásia. O Egito, muito grande pela ciência de seus sacerdotes e por seus faraós, reagia com todas as forças a essa decomposição universal; mas sua ação se limitava ao Eufrates e ao Mediterrâneo. Israel estabelecia no deserto o princípio do Deus másculo e da unidade divina por meio da voz tonitruante de Moisés; mas a Terra ainda não ouvira seus ecos.

A Grécia estava profundamente dividida pela religião e pela política.

A península montanhosa, que estende seus finos recortes no Mediterrâneo, rodeada por guirlandas de ilhas, era habitada, há milênios, por um ramo da raça branca, vizinho dos getos, dos citas e dos celtas primitivos. Essa raça sofrera misturas e influências de todas as civilizações anteriores. Colônias da Índia, do Egito, da Fenícia haviam emigrado para suas margens, povoando seus promontórios e vales com raças, divindades e costumes múltiplos. Frotas passavam, velas desdobradas, sob as pernas do colosso de Rodes, assentado sobre os dois diques do porto. O mar das Cíclades, onde, nos dias claros, o navegador sempre vê alguma ilha ou algum rio surgir no horizonte, era sulcado pelas proas vermelhas dos fenícios e pelas proas negras dos piratas da Lídia. Transportavam em suas naus côncavas todas as riquezas da Ásia e da África: marfim, louças pintadas, tecidos da Síria, vasos de ouro, púrpura e pérolas – e muitas vezes mulheres roubadas de uma costa selvagem.

Devido aos cruzamentos das raças, tinha-se moldado um idioma harmonioso e fácil, mistura do celta primitivo, do zens, do sânscrito e do fenício. Essa língua, que descrevia a majestade do Oceano no nome de Poseidon e a serenidade do céu no de Uranos, imitava todas as vozes da natureza, desde o gorjeio dos pássaros até o tinir das espadas e o estrondo da tempestade. Era multicor como seu mar de um azul intenso, de tons mutáveis, mas multissoante como as vagas que murmuram em seus golfos ou estrondam sobre os inúmeros recifes – poluphlosboio

Thalassa, como diz Homero.

Com os mercadores ou piratas vinham muitas vezes sacerdotes, que os dirigiam e comandavam como mestres. Eles escondiam no barco, como uma preciosidade, uma imagem em madeira de uma divindade qualquer. A imagem era grosseiramente esculpida, sem dúvida, e os marujos de então tinham. por ela o mesmo fetichismo que muitos de nossos marinheiros têm por sua madona. Mas esses sacerdotes não eram inferiores no conhecimento de certas ciências, e a divindade que eles carregavam, de seu templo ao país estrangeiro, representava para eles uma concepção da natureza, um conjunto de leis, uma organização civil e religiosa, pois, naquele tempo, toda a vida intelectual provinha dos santuários. Adorava-se Juno em Argos; Artêmis na Arcádia; em Pafos e Corinto, a Astarté fenícia tornara-se Afrodite, nascida da espuma das ondas.

Vários iniciadores apareceram na Ática. Uma colônia egípcia tinha trazido a Elêusis o culto de Ísis, sob a forma de Deméter (Ceres), mãe dos Deuses. Erecteu estabelecera, entre o monte Himeto e o Pentélico, o culto de uma deusa virgem, filha do céu azul, amiga da oliveira e da sabedoria. Durante as invasões, ao primeiro sinal de alarme, a população se refugiava na Acrópole e se comprimia em torno da deusa como em torno de uma vitória viva.

Acima das divindades locais reinavam alguns deuses masculinos e cosmogônicos. Mas, relegados às altas montanhas, eclipsados pelo cortejo brilhante das divindades femininas, tinham pouca influência. O Deus solar, o Apolo délfico (1) já existia, mas só desempenhava um papel secundário. Havia sacerdotes de Zeus, o Altíssimo, ao pé dos

cumes nevados de Ida, nas alturas da Arcádia e sob os carvalhos de Dodone. Contudo, o povo preferia, ao Deus misterioso e universal, as deusas que representavam a natureza em suas potencialidades, sedutoras ou terríveis. Os rios subterrâneos da Arcádia, as cavernas das montanhas que descem até as entranhas da terra, as erupções vulcânicas nas ilhas do mar Egeu cedo levaram os gregos ao culto das forças misteriosas da terra. Assim, em suas alturas como em suas profundezas, a natureza era pressentida, temida e venerada. Todavia, como todas aquelas divindades não tinham nem centro social, nem síntese religiosa, guerreavam-se aferradamente. Os templos inimigos, as cidades rivais, os povos divididos pelo rito, pela ambição dos sacerdotes e dos reis, odiavam-se, invejavam-se e combatiam-se em lutas sangrentas.

Contudo, atrás da Grécia, havia a Trácia selvagem e rude. Para o Norte, fileiras de montanhas cobertas de carvalhos gigantes e coroadas de rochedos, sucediam-se em cumes ondulosos, desenrolavam-se em círculos enormes ou emaranhavam-se em maciços nodosos. Os ventos do setentrião sulcavam seus flancos ramalhados e um céu às vezes tempestuoso varria seus picos. Pastores dos vales e guerreiros das planícies pertenciam àquela forte raça branca, à grande reserva dos dórios da Grécia. Raça varonil por excelência, que se distingue na beleza pela intensidade dos traços, a decisão do caráter e, na fealdade, pelo apavorante e o grandioso que se encontra na máscara das Medusas e das antigas Górgonas.

Como todos os povos antigos que receberam sua organização dos Mistérios, como o Egito, Israel e Etrúria, a Grécia teve sua geografia sagrada, onde cada região era o símbolo de uma região puramente intelectual e supraterrestre do espírito. Por que a Trácia (2) teria sido sempre considerada pelos gregos como o país santo por excelência, o país da luz e a verdadeira pátria das Musas? É que naquelas altas montanhas erguiam-se os mais velhos santuários de Cronos, de Zeus e de Urano. De lá tinham descido, em ritmos eumólpicos, a Poesia, as Leis e as Artes Sacras. Os fabulosos poetas da Trácia são uma prova disso. Os nomes Tâmris, Lino, Anfião talvez correspondam a personagens reais; mas personificam antes de tudo, conforme a

linguagem dos templos, gêneros de poesia. Cada um deles consagra a vitória de uma teologia sobre a outra. Nos templos daquela época, só se escrevia a história alegoricamente. O indivíduo não era nada, a doutrina e a obra, tudo. Tâmris, que cantou a guerra dos Titãs, cego pelas Musas, prenuncia a derrota da poesia cosmogônica por meio de versos novos. Lino, que introduziu na Grécia os cantos melancólicos da Ásia e foi morto por Hércules, revestiu a invasão da Trácia de uma poesia lacrimosa, chorosa e voluptuosa, que o espírito viril dos dóricos do Norte logo repeliu. Significa ao mesmo tempo a vitória de um culto lunar sobre um culto solar. Ao contrário, Anfião, que, segundo a lenda alegórica, movia as pedras com seus cantos e construía templos ao som de sua lira, representa a força plástica que a doutrina solar e a poesia dórica ortodoxa exerceram sobre as artes e sobre toda a civilização helênica (3).

É outra a luz que irradia Orfeu! Ele brilha através das eras com o raio pessoal de um gênio criador, cuja alma vibra de amor em suas varonis profundezas pelo Eterno-Feminino – e, em suas últimas profundezas também, responde-lhe aquele Eterno-Feminino que vive e palpita sob uma tríplice forma: na Natureza, na Humanidade e no Céu. A adoração dos santuários, a tradição dos iniciados, o grito dos poetas, a voz dos filósofos – e, mais do que todo o resto, sua obra, a Grécia orgânica – são testemunhas de sua realidade viva!

Naqueles tempos, a Trácia era atormentada por uma luta tremenda e constante. Os cultos solares e os lunares disputavam a supremacia. A guerra entre os adoradores do Sol e da Lua, não era, como se poderia acreditar, a disputa fútil de duas superstições. Esses dois cultos representavam duas teologias, duas cosmogonias, duas religiões e duas organizações sociais absolutamente opostas. Os cultos uranianos e solares tinham seus templos nas colinas e nas montanhas, sacerdotes masculinos e leis severas. Os cultos lunares reinavam nas florestas, nos vales profundos e tinham mulheres por sacerdotisas, ritos voluptuosos, prática desregrada das artes ocultas e o gosto da excitação orgiástica. Havia uma guerra de morte entre os sacerdotes do Sol e as sacerdotisas da Lua. Luta entre sexos, luta antiga, inevitável, manifesta ou oculta,

mas eterna, entre o princípio masculino e o princípio feminino, entre o homem e a mulher, que preenche a história com suas alternativas e na qual se consubstancia o segredo dos mundos. Assim como a fusão perfeita do masculino e do feminino constitui a própria essência e o mistério da divindade, assim também o equilíbrio desses dois princípios pode sozinho produzir as grandes civilizações.

Por toda parte, na Trácia como na Grécia, os deuses masculinos, cosmogônicos e solares tinham sido relegados para as altas montanhas, nas regiões desertas. O povo preferia o cortejo inquietante das divindades femininas que evocavam as paixões perigosas e as forças cegas da natureza. Esses cultos atribuíam à divindade suprema o sexo feminino.

Daí começavam já a resultar assustadores abusos. Entre os trácios, as sacerdotisas da Lua ou da tríplice Hécate tinham conquistado a supremacia apropriando-se do velho culto a Baco e imprimindo-lhe um caráter sangrento e temível. Em sinal de sua vitória, elas adotaram o nome de bacantes, marcando assim o seu império, o reinado soberano da mulher e seu domínio sobre o homem. Ao mesmo tempo mágicas, sedutoras e sacrificadoras sangrentas de vítimas humanas, tinham seus santuários em vales selvagens e afastados. Por que sombrio encanto, por que ardente curiosidade homens e mulheres eram atraídos para aquelas solidões de vegetação luxuriante e grandiosa? Formas nuas... danças lascivas no recesso de um bosque... risos, um enorme grito... e cem bacantes investiam contra o estrangeiro para derrubá-lo. Este devia jurar-lhe submissão e submeter-se a seus ritos ou perecer. As bacantes domesticavam panteras e leões, que exibiam em suas festas. À noite, com serpentes enroladas nos braços, elas se prostravam diante da tríplice Hécate; depois, em círculos frenéticos, evocavam Baco subterrâneo, de duplo sexo e com face de touro (4). Mas, infeliz do estrangeiro, infeliz do sacerdote de Júpiter ou de Apolo que viesse espreitá-las. Era feito em pedaços.

As bacantes primitivas foram, então, as druidisas da Grécia. Muitos chefes trácios permaneceram fiéis aos velhos cultos masculinos. Porém, as bacantes tinham insinuado a alguns de seus reis que unissem

os costumes bárbaros ao luxo e aos refinamentos da Ásia. Seduziram- nos pela volúpia e os dominaram pelo terror. Assim os Deuses dividiram a Trácia em dois campos inimigos. E os sacerdotes de Júpiter e de Apolo, em seus cumes desertos, perseguidos pelo raio, tornavam-se impotentes contra Hécate, que ocupava os vales ardentes e, de suas profundezas, começava a ameaçar os altares dos filhos da luz.

Naquela época, aparecera na Trácia um jovem de raça real e de uma sedução maravilhosa. Diziam que era filho de uma sacerdotisa de Apolo. Sua voz melodiosa possuía um encanto estranho. Ele falava nos Deuses com um ritmo novo e parecia inspirado. Sua cabeleira loira, orgulho dos dóricos, caía em ondas douradas pelas espáduas, e a música que vazava de seus lábios emprestava-lhe aos cantos da boca um contorno suave e triste. Os olhos, de um azul profundo, irradiavam força, doçura e magia. Os trácios, invejosos, fugiam a esse olhar. As mulheres, porém, versadas na arte dos encantos, diziam que aqueles olhos misturavam em seu filtro azul as flechas do Sol às carícias da Lua.

As próprias bacantes, curiosas de sua beleza, giravam freqüentemente em tomo dele como panteras amorosas, vaidosas de sua pele malhada, e sorriam a suas palavras incompreensíveis.

Subitamente, aquele jovem, que chamavam de o filho de Apolo, desapareceu. Diziam que tinha morrido e descido aos infernos. No entanto, ele tinha fugido secretamente para a Samotrácia, depois para o Egito, onde solicitara asilo aos sacerdotes de Mênfis. Tendo atravessado os Mistérios, depois de vinte anos ele voltou com um nome iniciático, que havia conquistado com suas provas e recebido de seus mestres, como sinal de sua missão. Chamava-se agora Orfeu ou Arfa (5), que significa aquele que cura pela luz.

O mais velho santuário de Júpiter erguia-se, então, sobre o monte

Kaukaión. Outrora, seus hierofantes tinham sido grandes pontífices. Do

alto daquela montanha, ao abrigo de qualquer ataque, eles tinham reinado sobre toda a Trácia. Mas, desde que as divindades da planície ganharam prestígio, seus adeptos estavam reduzidos a um pequeno número, e seu templo quase abandonado. Os sacerdotes do monte Kaukaión acolheram o iniciado do Egito como um salvador. Por sua

ciência e por seu entusiasmo, Orfeu arrebatou a maior parte dos trácios, transformou completamente o culto a Baco e dominou as bacantes. Sua influência logo penetrou em todos os santuários da Grécia. Foi ele quem consagrou a realeza de Zeus na Trácia, a de Apolo em Delfos, onde lançou as bases do tribunal dos Anfictiões, que se tornou a unidade social da Grécia. Enfim, mediante a criação dos Mistérios, ele moldou a alma religiosa de sua pátria. Pois, no ápice da iniciação, ele fundiu a religião de Zeus com a de Dionísio em um pensamento universal. Os iniciados recebiam, através de seus ensinamentos, a pura luz das verdades sublimes. Essa mesma luz chegava ao povo mais atenuada, mas não menos benéfica, sob o véu da poesia e das festas encantadoras.

Foi assim que Orfeu se tornou pontífice da Trácia, grande sacerdote do Zeus Olímpico e, para os iniciados, o revelador do Dionísio celeste.

(1). Segundo a tradição dos trácios, a poesia tinha sido inventada por

Olen. Ora, este nome quer dizer em fenício o Ser universal. Apolo tem a

mesma raiz. Ap Olen ou Ap Wholen significa Pai universal. Primitivamente adorava-se em Delfos o Ser universal sob o nome de Olen. O culto de Apolo foi introduzido por um sacerdote inovador, sob a influência da doutrina do verbo solar que percorria, então, os santuários da Índia e do Egito. Esse reformador identificou o Pai universal com sua dupla manifestação: a luz hiperfísica e o sol visível. Mas essa reforma de maneira nenhuma saiu das profundezas do santuário. Foi Orfeu quem deu nova força ao verbo solar de Apolo, reanimando-o e eletrizando-o por meio dos mistérios de Dionísio. (Ver Fabre d'Olivet, Les vers dorés de Pythagore.)

(2). Trakia, segundo Fabre d'Oivet, deriva do fenício Rakhiwa: o espaço etéreo ou o firmamento. O certo é que, para os poetas e os iniciados da Grécia, como Píndaro, Ésquilo ou Platão, o nome Trácia tinha um sentido simbólico e significava: o país da pura doutrina e da poesia sagrada que dele procede. O termo tinha, pois, para eles um sentido filosófico e histórico. Filosoficamente, designava uma região intelectual, o conjunto das doutrinas e das tradições que fazem o mundo proceder de uma inteligência divina. Historicamente, o nome lembrava o país e a raça onde a doutrina e a poesia

dóricas, aquele vigoroso rebento do antigo espírito ariano, primeiro haviam brotado, para reflorescer em seguida na Grécia, através do santuário de Apolo. – O uso desse gênero de simbolismo é provado pela história posterior. Em Delfos, havia uma classe de sacerdotes trácios. Eram os guardiões da alta doutrina. O tribunal dos Anfictiões era antigamente defendido por uma

guarda trácia, isto é, por uma guarda de guerreiros iniciados. A tirania de

Esparta suprimiu essa falange incorruptível e a substituiu pelos mercenários de força bruta. Mais tarde, o verbo traciar foi aplicado ironicamente aos devotos das antigas doutrinas.

(3). Estrabão afirma positivamente que a poesia antiga era a língua da alegoria. Dinis de Halicarnasso confirma-o e confessa que os mistérios da natureza e as mais sublimes concepções da moral foram encobertos por um véu. Não é, pois, por metáfora que a antiga poesia se chamou a língua dos

Deuses. Esse sentido secreto e mágico, que faz sua força e seu encanto; está

contido em seu próprio nome. A maior parte dos lingüistas considera a palavra poesia derivada do verbo grego poíeien, fazer, criar. Etimologia simples e muito natural na aparência, mas um pouco em desacordo com a língua sagrada dos templos, de onde saiu a poesia primitiva. É mais lógico admitir com Fabre d'Olivet que poièsis vem do fenício phohe (boca, voz, linguagem, discurso) e de ish (Ser superior, ser princípio, em sentido figurado: Deus). O etrusco Aes ou Aesar, o gálico Aes, o escandinavo Ase, o copta Os (Senhor), o egípcio Osíris têm a mesma raiz.

(4). O Baco com face de touro se encontra no XXIX hino órfico. É uma lembrança do antigo culto que, de maneira nenhuma, pertence à pura tradição de Orfeu. Este depurou completamente e transfigurou o Baco popular em Dionísio celeste, símbolo do espírito divino que evolui através de todos os reinos da natureza.

Coisa curiosa, encontramos o Baco infernal das bacantes no Satã com face de touro, que as bruxas da Idade Média evocavam e adoravam em seus sabás noturnos É o famoso Bafomé, do qual a Igreja acusou os Templários de serem sectários, para desacreditá-los.

II

No documento OS GRANDES INICIADOS (páginas 177-186)