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O SÉFER BERESCHIT

No documento OS GRANDES INICIADOS (páginas 144-159)

Moisés casou-se com Séfora, filha de Jetro, e permaneceu muitos anos junto do sábio de Madiã. Graças às tradições etíopes e caldeias que encontrou no templo, pôde completar e fazer uma revisão no que aprendera nos santuários egípcios, ampliar sua visão dos mais antigos ciclos da humanidade e projetá-las, por indução, para os horizontes longínquos do futuro. Foi na casa de Jetro que ele encontrou dois livros de cosmogonia mencionados no Gênese: As Guerras de Jeová e As

Gerações de Adão. Entregou-se inteiramente ao estudo deles.

Para a obra que sonhava realizar era preciso envidar todos os reforços. Antes dele, Rama, Krishna, Hermes, Zoroastro, Fo-Hi haviam criado religiões para os povos; Moisés quis criar um povo para a religião eterna. Para esse projeto tão ousado, novo e colossal, era necessária uma base poderosa. Por isso Moisés escreveu o Séfer

Bereschit, seu Livro de Princípios, síntese da ciência passada e quadro

da ciência futura, chave dos mistérios, tocha dos iniciados, incentivo para a união de toda a nação.

Procuremos ver o que foi o Gênese no raciocínio de Moisés. Certamente, naquela época, o Gênese irradiava uma outra luz, abrangia mundos mais vastos do que o mundo infantil e a pequena terra que nos aparecem na tradição grega dos Setenta, ou na tradição latina de São Jerônimo!

A exegese bíblica deste século difundiu a idéia de que o Gênese não é obra de Moisés, e até mesmo que esse profeta poderia muito bem não ter existido e não passar de um personagem lendário, fabricado quatro ou cinco séculos mais tarde pelo sacerdote judaico, para atribuir- se uma origem divina. A crítica moderna fundamenta esta opinião na circunstância de que o Gênese compõe-se de fragmentos diversos (eloísta e jeovista) costurados num conjunto, e que sua redação atual é posterior, pelo menos uns quatrocentos anos, à época em que Israel saiu do Egito. Os fatos estabelecidos pela crítica moderna, quanto à época da

redação dos textos que possuímos, são exatos; as conclusões que deles tira são arbitrárias e ilógicas. Por os terem escrito, eloístas e jeovistas, quatrocentos anos após o Êxodo, não nos autoriza a concluir que tenham sido os inventores do Gênese e que não tenham trabalhado sobre um documento anterior, talvez mal compreendido. O fato de o Pentateuco nos apresentar uma narrativa lendária na vida de Moisés não significa que nada contenha de verdadeiro. A missão do profeta explica- se reintegrada em seu meio natal: o templo solar de Mênfis. Enfim, o que há de mais profundo no Gênese somente se revela à luz dos princípios extraídos da iniciação de Ísis e de Osíris.

Uma religião não se constitui sem um iniciador. Os judeus, os Profetas, toda a história de Israel provam a existência de Moisés; mesmo Jesus não se concebe sem ele. Ora, o Gênese contém a essência da tradição mosaica. Ainda que ela tenha sofrido algumas transformações, a venerável múmia deve conter, sob a poeira dos séculos e as faixinhas sacerdotais, a idéia-mãe, o pensamento vivo, o testamento do profeta de Israel.

Israel gravita em torno de Moisés tão seguramente, tão fatalmente quanto a Terra gira em torno do Sol.

Mas, isto posto, outra coisa é saber quais foram as idéias-mães do Gênese, o que Moisés quis legar à posteridade nesse testamento secreto do Séfer Bereschit.

O problema, talvez, só pode ser resolvido sob o ponto de vista esotérico, e assim se coloca: a intelectualidade de Moisés, em sua qualidade de iniciado egípcio, devia estar à altura da ciência egípcia, que admitia, como a nossa, a imutabilidade das leis do Universo, o desenvolvimento dos mundos pela evolução gradual, e que tinha, além do mais, sobre a alma e a natureza invisível, noções extensas, precisas, lógicas. Se foi tal a ciência de Moisés e como não a teria tido o sacerdote de Osíris? – como conciliá-la com as idéias infantis do Gênese, sobre a criação do mundo e sobre a origem do homem? Esta história da criação, que, tomada ao pé da letra, faz sorrir o escolar de nossos dias, não esconderia um profundo sentido simbólico, trazendo

oculta uma chave para decifrá-lo? Este sentido, qual é ele ? Esta chave, onde encontrá-la?

A chave se acha: 1º no simbolismo egípcio; 2º no simbolismo de todas as religiões do antigo ciclo; 3º na síntese da doutrina dos iniciados, tal como resulta da comparação do ensino esotérico desde a Índia védica até os iniciados cristãos dos primeiros séculos.

Os sacerdotes do Egito, contam-nos os autores gregos, tinham três maneiras para exprimir seu pensamento. “A primeira era clara e simples, a segunda simbólica e figurada, a terceira sagrada e hieroglífica. A mesma palavra tomava, à vontade, o significado próprio, figurado ou transcendental. Era assim a flexibilidade de sua linguagem. Heráclito exprimiu perfeitamente essa diferença, designando-a pelos epítetos de falante, de significante e de ocultante” (1).

Nas ciências teogônicas e cosmogônicas, os sacerdotes egípcios empregaram sempre a terceira maneira de escrever. Seus hieróglifos tinham, então, três sentidos correspondentes e distintos. Os dois últimos não podiam ser compreendidos sem chave. Essa maneira de escrever, enigmática e concentrada, apoiava-se num dogma fundamental da doutrina de Hermes, segundo o qual uma mesma lei rege o mundo natural, o mundo humano e o mundo divino. Esta linguagem, de uma concisão prodigiosa, ininteligível ao vulgo, possuía uma singular eloqüência para o adepto; pois, por meio de um único sinal, ela evocava os princípios, as causas e os efeitos que da divindade irradiam na natureza cega, na consciência humana e no mundo dos puros espíritos. Graças a essa escrita, o adepto abrangia os três mundos com um só olhar.

Não resta dúvida de que, dada a formação de Moisés, ele tenha escrito o Gênese em hieróglifos egípcios nos três sentidos. Confiou suas chaves e a explicação oral a seus sucessores. Quando, no tempo de Salomão, traduziu-se o Gênese em caracteres fenícios; quando, após o cativeiro de Babilônia, Esdras o redigiu em caracteres aramaico- caldaicos, o sacerdócio judeu já manejava essas chaves com bastante imperfeição. Quando, finalmente, vieram os tradutores gregos da Bíblia, estes tinham somente uma pálida idéia do significado esotérico dos

textos. São Jerônimo, malgrado suas sérias intenções e seu grande espírito, quando fez a tradução latina segundo o texto hebreu não pôde penetrar seu significado primitivo; e, se o conseguiu, viu-se obrigado a calar-se. Pois, quando lemos o Gênese em nossas traduções, percebemos apenas seu significado primário e inferior. Por bem ou por mal, os próprios exegetas e teólogos, ortodoxos ou livre-pensadores, só vêem o texto hebraico através da Vulgata. Escapa-lhes o sentido comparativo e superlativo, que é o sentido profundo e verdadeiro. Ele não se mantém menos misteriosamente dissimulado no texto hebreu que mergulha, por suas raízes, na linguagem sagrada dos templos. Esta linguagem em que cada vogal, cada consoante tinha um sentido universal em relação ao valor acústico da letra e o estado de alma do homem que a produz, foi refundida por Moisés. Para os intuitivos, este sentido profundo brota às vezes do texto, como uma centelha; para os videntes, ele reluz na estrutura fonética das palavras adotadas ou criadas por Moisés; sílabas mágicas onde o iniciado de Osíris vazou seu pensamento, como um metal sonoro num molde perfeito. Pelo estudo desse fonetismo que traz a marca da linguagem sagrada dos templos antigos, pelas chaves que nos fornece a Cabala, algumas das quais remontam a Moisés, enfim, pelo esoterismo comparado, hoje nos é permitido entrever e reconstituir o verdadeiro Gênese.

Assim, o pensamento de Moisés sairá brilhante como o ouro da fornalha dos séculos, das escórias de uma teologia primária e das cinzas da crítica negativa (2).

Dois exemplos esclarecem plenamente o que era a linguagem sagrada dos templos antigos, e como os três significados correspondem nos símbolos do Egito e nos do Gênese. Em inúmeros monumentos egípcios vê-se uma mulher coroada, segurando em uma das mãos a cruz anseada, símbolo da vida eterna, na outra um cetro com uma flor de Lótus, símbolo da iniciação. É a deusa ÍSIS. Ora, Ísis tem três significados diferentes. No significado próprio, ela representa a Mulher e, em conseqüência, o gênero feminino universal. No comparativo ela personifica o conjunto da natureza terrestre, com todos os seus poderes conceptivos. No superlativo, ela simboliza a natureza celeste e invisível,

o elemento próprio das almas e dos espíritos, a luz espiritual e inteligível por si mesma, que sozinha confere a iniciação. O símbolo que corresponde a Ísis no texto do Gênese e na intelectualidade judaico- cristã é EVA, Heva, a Mulher eterna. Esta Eva não é somente a mulher de Adão, ela é ainda a esposa de Deus. Ela constitui os três quartos de sua essência. Pois o nome do Eterno IAVÉ que impropriamente mencionamos como Jeová e Javé, compõe-se do prefixo Jod e do nome Eva. O grande sacerdote. de Jerusalém pronunciava uma vez por ano o nome divino enunciando-o, letra por letra, da seguinte maneira: Jod, ha, v, he. A primeira letra exprimia o pensamento divino (3) e as ciências teogônicas; as três letras do nome Eva exprimiam três ordens da natureza (4), os três mundos nos quais este pensamento se realiza e, conseqüentemente, as ciências cosmogônicas, psíquicas e físicas que a ele correspondem (5). O Inefável contém em seu seio profundo o Eterno masculino e o Eterno feminino. Seu poder e seu mistério provêm dessa união indissolúvel. Eis o que Moisés, inimigo figadal de toda imagem da divindade, não dizia ao povo, mas que simbolicamente consignou na estrutura do nome divino ao explicá-lo a seus adeptos. Assim, a natureza velada no culto judaico se esconde no próprio nome de Deus. A esposa de Adão, a mulher curiosa, culpada e encantadora, revela-nos suas afinidades profundas com a Ísis terrestre e divina, a mãe dos deuses que mostra no fundo do seio turbilhões de almas e de astros.

Outro exemplo: um personagem que desempenha um grande papel da história de Adão e Eva é a serpente. O Gênese a chama de Nahache. Ora, o que significava a serpente para os templos antigos? Os mistérios da Índia, do Egito e da Grécia respondem numa só voz: a serpente disposta em círculo significa a vida universal, cujo agente mágico é a luz astral. Num sentido mais profundo ainda, Nahache quer dizer: a força que põe esta vida em movimento, a atração recíproca, na qual Geoffroy Saint-Hilaire via a razão da gravitação universal. Os gregos chamavam-na Eros, Amor ou o Desejo.

Apliquemos agora esses dois sentidos à história de Adão e Eva e da serpente, e veremos que a queda do primeiro casal, o famoso pecado original, torna-se de repente a imensa espiral da natureza divina,

universal, com seus reinos, seus gêneros, suas espécies no círculo formidável e fatal da vida.

Esses dois exemplos nos permitiram lançar um primeiro olhar nas profundezas do Gênese mosaico. Entrevemos já o que era a cosmogonia para um iniciado antigo e o que a distinguia de uma cosmogonia no sentido moderno.

Para a ciência moderna, a cosmogonia se reduz a uma cosmografia. Encontrar-se-á aí a descrição de uma porção do Universo visível com um estudo sobre o encadeamento das causas e dos efeitos físicos numa dada esfera. Será, por exemplo, o sistema do mundo de Laplace, onde a formação de nosso sistema solar é decifrada pelo seu funcionamento atual, deduzida da única matéria em movimento, o que é uma pura hipótese. Será ainda a história da Terra, de que são testemunhas irrefutáveis as camadas superpostas do solo. A ciência antiga não ignorava esse desenvolvimento do Universo visível e, se tinha sobre ele noções menos precisas do que a ciência moderna, formulara intuitivamente as leis gerais.

Mas, para os sábios da Índia e do Egito, lá estava somente o aspecto exterior do mundo, seu movimento reflexo. Eles procuravam a explicação em seu aspecto interior, em seu movimento direto e originário. Encontravam-na em uma outra ordem de leis que se revela à nossa inteligência. Para a ciência antiga o Universo ilimitado não era uma matéria morta regida por leis mecânicas, mas um todo vivo, dotado de inteligência, alma e vontade. Esse grande animal sagrado tinha inúmeros órgãos correspondentes às suas infinitas faculdades. Como no corpo humano os movimentos resultam da alma que pensa, da vontade que age, assim, aos olhos da ciência antiga, a ordem visível do Universo

era somente a repercussão de uma ordem invisível, isto é, das forças

cosmogônicas e das mônadas espirituais, reinos, gêneros, espécies, que, por sua perpétua involução na matéria, produzem a evolução da vida. Enquanto a ciência moderna só considera o exterior, a aparência do Universo, a ciência dos tempos antigos tinha por fim revelar-lhe o interior, descobrir-lhe os mecanismos ocultos. Não extraía a inteligência da matéria, mas a matéria da inteligência. Não fazia nascer o Universo

da dança cega dos átomos, mas gerava os átomos pelas vibrações da alma universal. Em resumo, procedia em círculos concêntricos do universal ao particular, do Invisível ao Visível, do Espírito puro à Substância organizada, de Deus ao homem. Esta ordem descendente das Forças e da Almas, inversamente proporcional à ordem ascendente da Vida e dos Corpos, era a ontologia ou a ciência dos princípios inteligíveis e constituía o fundamento da cosmogonia.

Todas as grandes iniciações da Índia, do Egito, da Judéia e da Grécia, as de Krishna, de Hermes, de Moisés e de Orfeu, conheceram sob formas diversas esta ordem dos princípios, dos poderes, das almas, das gerações que descendem da causa primeira, do Pai inefável.

A ordem descendente das encarnações é simultânea à ordem ascendente das vidas e somente aquela faz compreender esta. A involução produz a evolução e a explica.

Na Grécia, os templos masculinos e dóricos, os de Júpiter e de Apolo, sobretudo o de Delfos, foram os únicos que possuíram a fundo a ordem descendente. Os templos jônicos e femininos não a conheceram, senão imperfeitamente. Toda a civilização grega sendo jônica, a ciência e a ordem dórica curvaram-se a ela cada vez mais. Mas não é menos incontestável que seus grandes iniciadores, seus heróis e seus filósofos, de Orfeu a Pitágoras, de Pitágoras a Platão e deste aos Alexandrinos dependem dessa ordem. Todos eles reconhecem Hermes como mestre.

Voltemos ao Gênese. No pensamento de Moisés, outro filho de Hermes, os dez primeiros capítulos do Gênese constituíam uma verdadeira ontologia segundo a ordem e a filiação dos princípios. Tudo o que começa deve acabar. O Gênese narra simultaneamente a evolução no tempo e a criação na eternidade, a única digna de Deus.

Reservo-me o direito de apresentar no Livro de Pitágoras um quadro vivo da teogonia e da cosmogonia esotérica em moldes menos abstratos do que o de Moisés e mais próximos do espírito moderno. Apesar da forma politeísta, apesar da extrema diversidade dos símbolos, o sentido da cosmogonia pitagórica, de acordo com a iniciação órfica e os santuários de Apolo, será idêntica, no fundo, à do profeta de Israel. Em Pitágoras, ela será como que esclarecida pelo seu complemento

natural: a doutrina da alma e sua evolução. Ensinavam-na nos santuários gregos sob os símbolos do mito de Perséfone. Denominavam-na também: a história terrestre e celeste de Psiquê. Essa história, que corresponde ao que o Cristianismo chama a redenção, falta completamente no Antigo Testamento. Não que Moisés e os profetas a ignorassem, mas julgavam-na muito elevada para o ensino popular e reservaram-na para a tradição oral dos iniciados. A divina Psiquê ficará muito tempo oculta sob os símbolos herméticos de Israel, para se personificar apenas na aparição etérea e luminosa de Cristo.

Quanto à cosmogonia de Moisés, ela tem a áspera concisão do gênio semítico e a precisão matemática do gênio egípcio. O estilo da narrativa lembra as figuras que revestem o interior dos túmulos dos reis; diretas, secas, severas, elas encerram em sua dura nudez um mistério impenetrável. O conjunto faz pensar numa construção ciclópica; mas aqui e lá, como um jato de lava entre os blocos gigantes, o pensamento de Moisés irrompe com a impetuosidade do fogo inicial entre os versículos trêmulos dos tradutores. Nos primeiros capítulos de uma incomparável grandeza, sente-se passar o sopro de Eloim, que vira, uma a uma, as pesadas páginas do Universo.

Antes de deixá-los, consideremos alguns dos poderosos hieróglifos compostos pelo profeta do Sinai. Como a porta de um templo subterrâneo, cada um deles se abre para uma galeria de verdades ocultas que iluminam, com suas lâmpadas imóveis, a série dos mundos e dos tempos. Procuremos aí penetrar com as chaves da iniciação. Esforcemo-nos para ver esses símbolos estranhos, essas fórmulas mágicas em seu poder evocador, tais como as viu o iniciado de Osíris, quando saíram em letras de fogo da fornalha de seu pensamento.

Em uma cripta do templo de Jetro, sentado sobre um sarcófago, Moisés medita sozinho. Muros e pilastras estão cobertos de hieróglifos e de pinturas que representam os nomes e as figuras dos Deuses de todos os povos da Terra. Aqueles símbolos resumem a história dos ciclos desaparecidos e predizem os ciclos futuros. Uma lâmpada colocada no chão ilumina fracamente cada um dos sinais que lhe falam em sua linguagem. E ele já não vê mais nada do mundo exterior.

Procura em si mesmo o Verbo e seu livro, a figura de sua obra, a Palavra que será a Ação. A lâmpada se extingue, mas, à sua visão interior, na noite da cripta, reluz este nome: IAVÉ.

A primeira letra – I – tem a cor branca da luz, as três outras brilham como um fogo cambiante onde passam todas as cores do arco- íris. E que vida estranha nesses caracteres!

Na letra inicial, Moisés percebe o Princípio masculino, Osíris, o Espírito criador por excelência; em Eva, a faculdade conceptiva, a Ísis celeste, que dela faz parte. Assim, as faculdades divinas, que encerram em potência todos os mundos, desdobram-se e se organizam no seio de Deus.

Por sua união perfeita, o Pai e a Mãe inefável formam o Filho, o Verbo vivo que cria o Universo. Eis o mistério dos mistérios, fechado para os sentidos, mas que fala pelo sinal do Eterno como o Espírito fala ao Espírito. E o tetragrama sagrado brilha com urna luz sempre mais intensa. Moisés dela vê irromper, em grandes fulgurações, os três mundos, todos os reinos da natureza e a ordem sublime das ciências.

Então, o seu olhar ardente se concentra no signo masculino do Espírito criador. Invoca-o para penetrar na ordem das criações e haurir na vontade soberana a força para realizar sua própria criação, depois de ter contemplado a obra do Eterno.

E eis que nas trevas da cripta reluz outro nome divino: ELOIM. Eloim significa para o iniciado: Ele, – os Deuses, o Deus dos

Deuses (6). Não é mais o Ser dobrado em si mesmo e no Absoluto, mas

o Senhor dos mundos cujo pensamento desabrocha em milhões de estrelas, esferas móveis de universos flutuantes.

“No princípio Deus criou os céus e a terra” Mas no início, estes céus foram apenas o pensamento do tempo e do espaço sem limites, habitados pelo vazio e pelo silêncio. “ o sopro de Deus se movia sobre a face do abismo.”(7)

O que vai sair primeiro de seu seio? Um sol? Uma terra? Uma nebulosa? Uma substância qualquer deste mundo visível? Não. O que nasceu primeiro dele foi Aur, a Luz. Esta luz, porém, não é a luz física, é a luz inteligível, nascida do estremecimento da Ísis celeste no seio do

Infinito; alma universal, luz astral, substância que constitui as almas e na qual elas despontam como num fluído etéreo; elemento sutil pelo qual o pensamento se transmite a infinitas distâncias; luz divina, anterior e posterior à luz de todos os sóis. Primeiro ela se expande no Infinito, é o poderoso respir de Deus; depois ela volta sobre si mesma num movimento de amor, profundo aspir do Eterno. Nas ondas do divino éter, palpitam como sob um véu translúcido as formas astrais dos

No documento OS GRANDES INICIADOS (páginas 144-159)