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OS MISTÉRIOS DO EGITO

No documento OS GRANDES INICIADOS (páginas 92-103)

Alma cega ! Arma-te do facho dos Mistérios, e na noite terrestre descobrirás teu luminoso Duplo, tua Alma celeste. Segue este guia divino e que ele seja teu Gênio. Pois ele tem a chave de tuas existências passadas e futuras.

Apelo aos Iniciados (segundo o Livro dos Mortos)

Escutai em vós mesmos e olhai no infinito do Espaço e do Tempo. Lá retumbam o canto dos Astros, a voz dos Números, a harmonia das Esferas.

Cada sol é um pensamento de Deus e cada planeta um modo desse pensamento. Almas! é para conheceres o pensamento divino que desceis e subis penosamente a estrada dos sete planetas e seus sete céus.

Que fazem os astros? Que dizem os Números? Que rolam as Esferas? - Almas perdidas ou salvas! Eles cantam, eles dizem, eles rolam - vossos destinos!

HERMES

Os Mistérios do Egito

I A ESFINGE

Diante de Babilônia, metrópole tenebrosa do despotismo, o Egito foi no mundo antigo uma verdadeira cidadela da ciência sagrada, uma escola para seus mais ilustres profetas, um refúgio e um laboratório das mais nobres tradições da humanidade. Graças a imensas escavações e admiráveis trabalhos, conhecemos hoje o povo egípcio melhor do que qualquer outra civilização anterior à grega, pois ele nos reabre sua história escrita em páginas de pedra (1). Desenterram-se seus monumentos, decifram-se seus hieróglifos; e, no entanto, ainda falta penetrar no mais profundo arcano de seu pensamento. Este arcano é a doutrina oculta de seus sacerdotes, a qual, cientificamente cultivada nos templos, prudentemente velada sob os mistérios, mostra-nos ao mesmo tempo a alma do Egito, o segredo de sua política e seu papel capital na história universal.

Nossos historiadores falam dos faraós no mesmo tom com que se referem aos déspotas de Nínive e de Babilônia. Para eles, o Egito é uma monarquia absoluta e conquistadora como a Assíria, só diferindo dela por ter durado alguns milhares de anos a mais. Teriam levado em consideração que na Assíria a realeza esmagou o sacerdócio fazendo dele seu instrumento, enquanto no Egito o sacerdócio disciplinou a realeza, e jamais abdicou, mesmo nas piores épocas, impondo-se aos reis, expulsando os déspotas, governando sempre a nação? E isto, por uma superioridade intelectual, por uma sabedoria profunda e oculta, que nenhum corpo docente jamais igualou em qualquer país ou qualquer tempo. É pouco provável. Pois, muito longe de colher as inúmeras

conseqüências desse fato essencial, nossos historiadores apenas o entreviram e parecem não lhe atribuir nenhuma importância. Todavia, não é necessário ser arqueólogo ou lingüista para compreender que o ódio implacável entre a Assíria e o Egito provém de que esses dois povos representam no mundo dois princípios opostos e que o povo egípcio ficou devendo sua longa duração a uma estrutura religiosa e científica mais forte do que todas as revoluções.

Desde a época ariana, através do período agitado que seguiu os tempos védicos até a conquista persa e a época alexandrina, isto é, durante um lapso de mais de cinco mil anos, o Egito foi a fortaleza das mais puras e elevadas doutrinas, cujo conjunto constitui a ciência dos princípios e que se poderia chamar a ortodoxia esotérica da Antigüidade. Cinqüenta dinastias puderam suceder-se e o Nilo pôde carregar seus aluviões sobre cidades inteiras; a invasão fenícia pôde inundar o país e dele ser expulsa. Porém, em meio aos fluxos e refluxos da História, sob a idolatria aparente de seu politeísmo exterior, o Egito conservou o velho fundo de sua teologia oculta e sua organização sacerdotal. Esta resistiu aos séculos como a pirâmide de Gisé, meio soterrada na areia, mas intacta.

Graças a esta imobilidade de esfinge guardando seu segredo, a esta resistência de granito, o Egito tomou-se o eixo em torno do qual evoluiu o pensamento religioso da humanidade, passando da Ásia para a Europa. A Judéia, a Grécia, a Etrúria, igualmente almas de vida que formaram civilizações diversas. Mas, onde colheram elas suas idéias- mães, senão na reserva orgânica do velho Egito? Moisés e Orfeu criaram duas religiões opostas e prodigiosas, uma com seu áspero monoteísmo, outra com seu politeísmo efervescente. Porém, em que molde se formou seu gênio? Onde encontrou a força, a energia, a audácia para reformar um povo semi-selvagem, como o bronze numa fornalha, e o outro, a magia de fazer falar os deuses, como uma lira afinada, à alma de seus bárbaros encantados? Nos templos de Osíris, na antiga Tebas, que os iniciados chamavam de cidade do sol ou Arca Solar - porque ela continha a síntese da ciência divina e todos os segredos da iniciação.

Todos os anos, no solstício do verão, quando caem as chuvas torrenciais da Abissínia, o Nilo muda de cor e adquire o tom de sangue a que se refere a Bíblia. O rio aumenta até o equinócio do outono e esconde sob as vagas o horizonte de suas margens. Mas, de pé sobre seus planaltos graníticos, sob o sol deslumbrante, os templos talhados em rocha viva, as necrópoles, os pilões e as pirâmides refletem a majestade de suas ruínas no Nilo transformado em mar. Assim o sacerdócio egípcio atravessou os séculos com sua organização e seus símbolos, os arcanos de sua ciência por longo tempo impenetráveis. Nesses templos, criptas e pirâmides elaborou-se a famosa doutrina do Verbo-Luz, da Palavra universal, que Moisés encerrará em sua arca de ouro e da qual Cristo será a chama viva.

A verdade é imutável em si mesma; só ela sobrevive a tudo; porém ela muda de morada como de formas e suas revelações são intermitentes. “A luz de Osíris”, que outrora iluminava para os iniciados as profundezas da natureza e as abóbadas celestes, extinguiu-se para sempre nas criptas abandonadas. Cumpriu-se a profecia de Hermes e Asclépio: “Egito! Egito! não restarão de ti senão fábulas inacreditáveis para as futuras gerações, e de ti só ficarão palavras talhadas nas pedras”.

Entretanto, é um raio deste misterioso sol dos santuários que queremos fazer reviver, seguindo a via secreta da antiga iniciação egípcia, tanto quanto o permite a intuição esotérica e a fugaz refração das eras.

Mas, antes de entrar no templo, lancemos um rápido olhar sobre as grandes fases que o Egito atravessou antes do tempo dos hicsos.

Quase tão velha quanto a carcaça de nossos continentes, a primeira civilização egípcia remonta à antiga raça vermelha. A esfinge colossal de Gisé (2), junto da grande pirâmide, é sua obra. No tempo em que o Delta não existia ainda (formado mais tarde pelos aluviões do Nilo), o animal monstruoso e simbólico já estava deitado na colina de granito, diante da cadeia dos montes líbios e olhava o mar quebrar-se a seus pés, lá onde se estende hoje a areia do deserto. A esfinge, primeira criação do Egito, tornou-se seu símbolo principal, sua marca característica. O mais antigo sacerdócio humano a esculpiu, imagem de

natureza calma e temível em seu mistério. Uma cabeça de homem sai de um corpo de touro com garras de leão, e asas de águia curvam-se sobre seus flancos. É Ísis terrestre, a natureza na unidade viva de seus reinos. Pois já nos tempos imemoriais os sacerdotes sabiam e ensinavam que, na grande evolução, a natureza humana emerge da natureza animal. Naquele composto de touro, leão, águia e homem estão também encerrados os quatro animais da visão de Ezequiel, representando quatro elementos constitutivos do microcosmo e do macrocosmo: a água, a terra, o ar e o fogo, bases da ciência oculta. Eis porque, nos séculos posteriores, quando os iniciados viram o animal sagrado deitado no limiar dos templos ou no fundo das criptas, sentiram viver este mistério neles próprios e curvaram em silêncio as asas do espírito sobre a verdade interior. Pois antes de Édipo, eles souberam que a palavra do enigma da esfinge era o homem, o microssomo, o agente divino, que resume todos os elementos e todas as forças da natureza.

A raça vermelha, pois, não deixou outra testemunha de si mesma além da esfinge de Gisé, prova irrecusável de que ela havia formulado e resolvido à sua maneira o grande problema.

(1). Champollion, L Egypte sous les Pharaons; Bunsen, Aegyptische

Alterthümer; Lepsius, Denkmaeler, Paul Pierret, Le Livre des morts; François

Lenormant, Histoire des peuples de I'Orient; Maspero, Histoire ancienne des

peuples de L'Orient, etc.

(2). Em uma inscrição da 4ª dinastia, fala-se da esfinge como um monumento cuja origem se perde na noite dos tempos, que foi encontrado fortuitamente sob o reinado desse príncipe, coberto pela areia do deserto e esquecido por longas gerações. Fr. Lenormant, Hist. d'Orient, 11, 55. - Ora, a 4ª dinastia nos leva a 4.000 anos antes de Cristo. Por aí pode-se deduzir a antigüidade da Esfinge!

II HERMES

A raça negra, que sucedeu à raça vermelha do domínio do mundo, fez do Alto Egito seu principal santuário. O nome de Hermes-Tote, misterioso e primeiro iniciador do Egito nas doutrinas sagradas, relaciona-se, sem dúvida, a uma primeira e pacífica mistura da raça branca com a negra, nas regiões da Etiópia e do Alto Egito, muito tempo antes da época ariana.

Hermes é um nome genérico, como Manu e Buda. Designa ao mesmo tempo um homem, uma casta e um deus. O homem, Hermes, é o primeiro, o grande iniciador do Egito; casta, é o sacerdócio depositário das tradições ocultas; deus, é o planeta Mercúrio, assimilado com sua esfera a uma categoria de espíritos, de iniciadores divinos; em resumo, Hermes preside à região supraterrestre da iniciação celestial.

Na economia espiritual do mundo, todas essas coisas estão ligadas por secretas afinidades, como que por um fio invisível. O nome de Hermes é um talismã que as sintetiza, um som mágico que as evoca. Daí seu prestígio. Os gregos, discípulos dos egípcios, chamaram-no Hermes Trimegisto ou três vezes grande, porque era considerado rei, legislador e sacerdote. Ele representa uma época em que o sacerdócio, a magistratura e a realeza estavam reunidos em um só corpo governamental. A cronologia egípcia de Maneton denomina esta época de reino dos deuses. Ainda não havia o papiro nem a escrita fonética; mas já existia a ideografia sagrada e a ciência do sacerdócio estava inscrita em hieróglifos nas colunas e nas paredes das criptas. Consideravelmente aumentada, ela passou mais tarde às bibliotecas dos templos. Os egípcios atribuíam a Hermes 42 livros sobre a ciência oculta. O livro grego conhecido sob o nome de Hermes Trimegisto encerra certamente restos alterados, mas infinitamente preciosos, da antiga teogonia que é como o fiat lux, de onde Moisés e Orfeu receberam seus primeiros raios. A doutrina do Fogo-Princípio e do

Verbo-Luz, contida na Visão de Hermes, será o vértice e o centro da iniciação egípcia.

Tentaremos dentro em pouco reencontrar esta visão dos mestres, esta rosa mística que só desabrochou na noite do santuário e no arcano das grandes religiões. Algumas palavras de Hermes, impregnadas da antiga sabedoria, são bem elaboradas para nos prepararmos. “Nenhum de nossos pensamentos - disse ele ao discípulo Asclépio - poderia conceber Deus, nem linguagem alguma defini-lo. O que é incorporal, invisível, sem forma, não pode ser apreendido por nossos sentidos; o que é eterno não poderia ser medido pela curta regra do tempo; Deus, portanto, é inefável. Deus pode, é verdade, comunicar a alguns eleitos a faculdade de se elevar acima das coisas naturais, a fim de perceber algum vislumbre de sua suprema perfeição - mas esses eleitos não encontram palavras para traduzir em linguagem vulgar a imaterial visão que os fez estremecer. Podem explicar à humanidade as causas secundárias das criações que passam sob seus olhos como imagens da vida universal, mas a causa primeira permanece velada e só chegaremos a compreende-la atravessando a morte.” É assim que Hermes falava de Deus desconhecido no limiar das criptas. Os discípulos que penetravam com ele em suas profundezas aprendiam a conhece-lo como um ser vivo (1).

O livro fala de sua morte como da partida de um deus. “Hermes viu o conjunto das coisas, e, tendo visto, ele compreendeu; e tendo compreendido, ele tinha o poder de manifestar e de revelar. O que ele pensou, ele escreveu; o que ele escreveu ocultou em grande parte, simultaneamente falando e calando-se com sabedoria para que toda a duração do mundo procurasse essas coisas. E assim, tendo ordenado aos deuses, seus irmãos, que lhe servissem de cortejo, ele subiu às estrelas.”

Pode-se, a rigor, isolar a história política dos povos, mas não se pode separar sua história religiosa. As religiões da Assíria, do Egito, da Judéia, da Grécia só podem ser compreendidas quando se toma seu ponto de ligação com a antiga religião indo-ariana. Consideradas em particular são enigmas e charadas; vistas em conjunto e do alto, constituem uma soberba evolução, onde tudo se comanda e se explica

reciprocamente. Em resumo, a história de uma religião será sempre estreita, supersticiosa e falsa. Nada existe de verdadeiro, a não ser a história religiosa da humanidade. A esta altura, só se sentem as correntes que dão a volta ao globo. O povo egípcio, o mais independente e o mais fechado de todos às influências exteriores, não pode esquivar-se a esta lei universal.

Cinco mil anos antes de nossa era, a luz de Rama, acesa no Irã, brilhou sobre o Egito e tornou-se a lei de Âmon-Rá, o Deus solar de Tebas. Essa constituição permitiu-lhe enfrentar muitas revoluções. Menes foi o primeiro rei justo, o primeiro faraó executor daquela lei. Ele procurou não negar a antiga teologia do Egito, que também era a sua. Apenas confirmou-a e a fez desabrochar; a ela acrescentando uma organização social nova: o sacerdócio, isto é, o ensinamento, a um primeiro conselho; a justiça, a um outro; o governo, aos dois; a realeza foi concebida como sua delegação e submetida ao seu controle; a independência relativa dos nomos ou comunas, na base da sociedade. A isto podemos chamar governo dos iniciados. Seu princípio fundamental era uma síntese das ciências conhecidas sob o nome de Osíris (O-Sir-is), o senhor intelectual. A grande pirâmide e o gnomo matemático são seu símbolo. O faraó, que recebia seu nome iniciático no templo, que exercia a arte sacerdotal e real sobre o trono, era um personagem muito diferente do déspota assírio, cujo poder arbitrário apoiava-se no crime e no sangue. O faraó era o iniciado coroado, ou pelo menos aluno e instrumento dos iniciados. Durante séculos, os faraós defenderão, contra a Ásia que se tornara despótica e contra a Europa anárquica, a lei do Carneiro, que representava então os direitos da justiça e da arbitragem internacional.

Por volta do ano 2.000 antes de Cristo, o Egito sofreu a crise mais terrível que um povo pode atravessar: a invasão estrangeira e uma semiconquista. A invasão fenícia era a conseqüência do grande cisma religioso asiático, que sublevara as massas populares, semeando a discórdia nos templos. Liderada pelos reis-pastores chamados hicsos, essa invasão derramou seu dilúvio sobre o Delta e o Médio-Egito. Os reis cismáticos traziam com eles uma civilização corrompida, a

indolência jônia, o luxo asiático, os costumes do harém, uma idolatria grosseira. A existência nacional do Egito estava comprometida, sua intelectualidade em perigo, sua missão universal ameaçada. Mas o Egito tinha uma alma de vida, isto é, um corpo organizado de iniciados, depositários da antiga ciência de Hermes e de Âmon-Rá. O que fizeram eles? Retiraram-se para o fundo de seus santuários, recolheram-se em si mesmos para melhor resistirem ao inimigo. Aparentemente, o sacerdócio se curvou diante da invasão e reconheceu os usurpadores que traziam a lei do Touro e o culto do boi Ápis. Entretanto, ocultos nos templos, os dois conselhos lá guardavam, como um depósito sagrado, sua ciência, suas tradições, a antiga e pura religião e, com ela, a esperança de uma restauração da dinastia nacional.

Foi por essa época que os sacerdotes espalharam entre a multidão a lenda de Ísis e de Osíris, do desmembramento deste último e de sua próxima ressurreição através do filho, Hórus, o qual reencontraria seus membros esparsos trazidos pelo Nilo. Excitou-se a imaginação da multidão mediante a pompa das cerimônias públicas. Manteve-se seu amor pela velha religião representando-lhe as infelicidades da deusa, suas lamentações pela perda do esposo celeste e a esperança que tinha no filho, Hórus, o divino mediador. Mas, ao mesmo tempo, os iniciados julgaram necessário tornar a verdade esotérica inatacável, ocultando-se sob um tríplice véu. À difusão do culto popular de Ísis e de Osíris corresponde a organização interior e sábia dos pequenos e grandes Mistérios, cercados de barreiras intransponíveis, de perigos terríveis. Inventaram-se provas morais, exigiu-se o juramento do silêncio e a pena de morte foi rigorosamente aplicada contra os iniciados que divulgassem o mínimo detalhe dos Mistérios. Graças a essa organização severa, a iniciação egípcia tornou-se não somente refúgio da doutrina esotérica, mas ainda cadinho de uma ressurreição nacional e escola das futuras religiões. Enquanto os usurpadores coroados reinavam em Menfis, Tebas preparava lentamente a regeneração do país. De seu templo, de sua arca solar, saiu o salvador do Egito, Amos, que expulsou os hicsos, após nove séculos de domínio, restaurando os direitos da ciência egípcia e da varonil religião de Osíris. Assim os Mistérios

salvaram a alma do Egito da tirania estrangeira, e para o bem da humanidade. Pois, naquela época, era tal a força da sua disciplina, o poder de sua iniciação, que eles continham a melhor força moral e a mais alta seleção intelectual.

A iniciação antiga repousava em uma concepção do homem ao mesmo tempo mais sadia e mais elevada do que a nossa. Nós dissociamos a educação do corpo, da alma e do espírito. Nossas ciências físicas e naturais, bastante avançadas em si mesmas, abstraem o princípio da alma e de sua difusão no Universo; nossa religião não satisfaz às necessidades da inteligência; nossa medicina nada quer saber nem da alma nem do espírito. O homem contemporâneo procura o prazer sem a felicidade, a felicidade sem a ciência, e a ciência sem a sabedoria. A antigüidade não admitia semelhante separação. Em todos os domínios, ela levava em conta a tríplice natureza do homem. A iniciação era um treino gradual de todo ser humano rumo aos cumes vertiginosos do espírito, de onde se pode dominar a vida. “Para atingir o domínio – diziam os sábios de então – o homem tem necessidade de uma refundição total de seu ser físico, moral e intelectual. Ora, esta refundição só é possível mediante o exercício simultâneo da vontade, da intuição e do raciocínio. Por meio de sua completa concordância, o homem pode desenvolver suas faculdades até limites incalculáveis. A alma tem sentidos adormecidos; a iniciação os desperta. Através de um estudo aprofundado, uma aplicação constante, o homem pode colocar-se em comunicação consciente com as forças ocultas do Universo. Através de um esforço prodigioso, ele pode atingir a percepção espiritual direta, abrir os caminhos do além e tornar-se capaz de se dirigir para lá. Somente então pode dizer que venceu o destino e conquistou aqui na terra sua liberdade divina. Somente então o iniciado pode tornar-se iniciador, profeta e teurgo, isto é, vidente e criador de almas. Porque somente aquele que comanda a si mesmo pode comandar os outros; somente aquele que é livre pode libertar.”

Assim pensavam os iniciados antigos. Os maiores deles viviam e agiam de acordo com esse pensamento. A verdadeira iniciação, portanto, era muito diferente de um sonho vazio e muito mais do que

um simples ensinamento científico; era a criação de uma alma por ela mesma, sua eclosão em um plano superior, sua eflorescência no mundo divino.

Coloquemo-nos no tempo dos Ramsés, na época de Moisés e de Orfeu, cerca do ano 1.300 antes de nossa era – e esforcemo-nos para penetrar no coração da iniciação egípcia. Os monumentos figurados, os livros de Hermes, a tradição judaica e a grega (2) permitem fazer reviver as fases ascendentes e fazer uma idéia de sua mais alta revelação.

(1). A teologia sábia, esotérica, diz M. Maspero, é monoteísta desde os

No documento OS GRANDES INICIADOS (páginas 92-103)