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O ÉXODO O DESERTO MAGIA E TEURGIA

No documento OS GRANDES INICIADOS (páginas 162-173)

O plano de Moisés era um dos mais extraordinários, dos mais ousados que um homem jamais concebeu. Arrancar um povo do jugo de uma nação tão poderosa quanto o Egito, conduzi-lo à conquista de um país ocupado por populações inimigas e melhor armadas, conduzi-lo durante dez, vinte ou quarenta anos pelo deserto, deixá-lo arder de sede e extenuar-se de fome; fustigá-lo como a um cavalo puro-sangue sob as flechas dos hititas e dos amalecitas, prontos a esquartejá-lo; isolá-lo com o tabernáculo do Eterno entre aquelas nações idólatras, impor-lhe o monoteísmo com uma vara de fogo e inspirar-lhe um tal temor, uma tal veneração por aquele Deus único, de modo que se entranhasse em sua carne, que se tornasse o símbolo nacional, o fim de todas as suas aspirações e sua razão de ser. Tal foi a obra inaudita de Moisés.

O Êxodo foi planejado e preparado de longa data pelo profeta, pelos principais chefes israelitas e por Jetro. Para pôr seu plano em execução, Moisés aproveitou um momento em que Meneftá, seu antigo companheiro de estudos, que se tornara faraó, devia repelir a temível invasão do rei dos líbios, Mermaiú. Todo o exército egípcio estava concentrado no Oeste e não pôde conter os hebreus e a emigração em massa se operou pacificamente.

Então, os Beni-Israel se puseram em marcha. A longa fila de caravanas, carregando as tendas no dorso de camelos, seguida de grandes rebanhos, apronta-se para contornar o mar Vermelho. No começo eram apenas alguns milhares de homens. Mais tarde, a emigração será aumentada por “toda a espécie de gentes” como diz a Bíblia – gananeus, edomitas, árabes, semitas de todo o gênero, atraídos e fascinados pelo profeta do deserto, que de todos os cantos do horizonte os convoca, para modelá-los à sua vontade. O núcleo desse povo é formado pelos Beni-Israel, homens direitos, mas duros, obstinados e rebeldes. Seus hahs ou chefes tinham-lhes, ensinado o culto de Deus único, que constituía entre eles uma elevada tradição

patriarcal. Porém, naquelas naturezas primitivas e violentas, o monoteísmo não passava de uma consciência vacilante. Assim que as más paixões despertam, o instinto do politeísmo, tão natural no homem, readquire o predomínio. Então, eles recaem nas superstições populares, na bruxaria e nas práticas idólatras das populações vizinhas do Egito e da Fenícia, que Moisés vai combater com leis draconianas.

Ao redor do profeta que comanda esse povo há um grupo de sacerdotes presididos por Aarão, seu irmão pela iniciação, e pela profetisa Maria, que já representa em Israel a iniciação feminina. Esse grupo constitui o sacerdócio. Com eles, setenta chefes eleitos ou iniciados leigos comprimem-se em torno do profeta de Iavé, o qual lhes confiará sua doutrina secreta e sua tradição oral, que lhes transmitirá uma parte de seus poderes, associando-os, às vezes, a suas inspirações e suas visões.

No coração desse grupo era carregada a arca de ouro, idéia inspirada a Moisés pelos templos egípcios, onde servia de arcano para os livros teúrgicos, mas ele mandou refundir um modelo novo, para seus desígnios pessoais. A arca de Israel é flanqueada por quatro querubins de ouro semelhantes a esfinges e parecidos com os quatro animais simbólicos da visão de Ezequiel. Um tem cabeça de leão, o outro, cabeça de boi, o terceiro, cabeça de águia e o último, cabeça de homem. Personificam os quatro elementos universais: a terra, a água, o ar e o fogo, assim como os quatro mundos representados pelas letras do tetragrama divino. Com suas asas os querubins recobrem o propiciatório.

Esta arca será o instrumento dos fenômenos elétricos e luminosos produzidos pela magia do sacerdote de Osíris, fenômenos que, aumentados pela lenda, produzirão as narrativas bíblicas. A arca de ouro encerra, além do mais, o Séfer Bereschit ou livro de Cosmogonia redigido por Moisés em hieróglifos egípcios, e a varinha mágica do profeta, que a Bíblia chama vara. Ela conterá também o livro da aliança ou a lei do Sinai. Moisés denominará a arca de o trono de Eloim, porque nela repousa a tradição sagrada, a missão de Israel, a idéia de Iavé.

Qual foi a constituição política que Moisés deu a seu povo? Para compreendê-lo é preciso citar uma das passagens mais curiosas do Êxodo. Passagem esta tanto mais antiga e mais autêntica porque nos mostra o lado fraco de Moisés, sua tendência ao orgulho sacerdotal e à tirania teocrática, reprimida por seu iniciador etíope.

“No dia seguinte, como Moisés estivesse sentado para julgar o povo, e o povo se mantivesse diante de Moisés da manha à noite, o sogro de Moisés, tendo visto o que ele fazia ao povo, disse-lhe: O que fazes ao povo? Por que só tu estás sentado e o povo se mantém diante de ti desde manhã até a noite?

E Moisés respondeu ao sogro: É que o povo vem a mim para inquirir de Deus.

Quando têm alguma causa, vêm a mim; então eu julgo entre um e outro, e lhes faço entender as ordens de Deus e suas leis.

Mas o sogro de Moisés disse: Não fazes bem.

Certamente sucumbirás, tu e o povo que está contigo; pois isto é muito difícil para ti, e não saberás fazê-lo sozinho.

Escuta, pois, meu conselho; eu te aconselharei e Deus estará contigo. Sê para o povo o legado de Deus, e leva as causas a Deus;

Instrui-os sobre as ordens e as leis, e faze-os ouvir a voz pela qual eles devem se orientar e saber o que terão de fazer;

E escolhe entre todo o povo homens virtuosos, tementes a Deus, homens que verdadeiramente odeiem o ganho desonesto, e estabelece entre eles chefes de milheiros, chefes de centenas, chefes de cinqüentenas e chefes de dezenas;

E que eles julguem o povo sempre; mas que eles te tragam todas as grandes disputas e que julguem as pequenas causas. Assim, eles te aliviarão e suportarão uma parte da carga contigo.

Se fizeres isto, e Deus to ordena, tu poderás subsistir, e até todo o povo chegará felizmente a seu lugar.

Moisés, pois, obedeceu à palavra do sogro, e fez tudo o que ele havia dito”. (1)

Deduz-se desta passagem que, na constituição de Israel estabelecida por Moisés, o poder executivo era considerado como uma

emanação do poder judiciário e colocado sob o controle da autoridade sacerdotal. Assim foi o governo legado por Moisés a seus sucessores, segundo o sábio conselho de Jetro. Permaneceu o mesmo na época dos Juizes, de Josué a Samuel, até a usurpação de Saul. Sob o poder dos Reis, o sacerdócio deprimido começou a perder a verdadeira tradição de Moisés, que sobreviveu apenas entre os profetas.

Como já dissemos, Moisés não foi um patriota, mas um domador de povos, tendo em vista os destinos de toda a humanidade. Israel não era para ele senão um meio, a religião universal era a sua finalidade, e por cima da cabeça dos nômades seu pensamento ia para os tempos futuros. Desde a saída do Egito até a morte de Moisés a história de Israel não deixou de ser um longo duelo entre o profeta e seu povo.

Moisés conduziu primeiro as tribos de Israel ao Sinai, no deserto árido, diante da montanha consagrada a Eloim por todos os semitas, onde ele mesmo tivera sua revelação. Lá onde o Gênio se apoderara do profeta, o profeta quis apoderar-se de seu povo e imprimir-lhe na fronte o selo de Iavé: os dez mandamentos, poderoso resumo da lei moral e complemento da verdade transcendental contida no livro hermético da arca.

Nada de mais trágico do que esse primeiro diálogo entre o profeta e seu povo. Lá se passaram cenas estranhas, sangrentas, terríveis, que deixaram como que a marca de um ferro quente na carne mortificada de Israel. Por detrás dos exageros da lenda bíblica, adivinha-se a possível realidade dos fatos.

A elite das tribos acampou no planalto de Farã, à entrada de uma garganta selvagem que conduz aos rochedos do Serbal. O cimo ameaçador do Sinai domina o terreno pedregoso, vulcânico, convulso. Diante de toda a assembléia, Moisés anuncia, solenemente, que subirá à montanha para consultar Eloim e que, na volta, trará a lei escrita em uma tábua de pedra. Ordena ao povo que o aguarde em castidade e oração, velando e jejuando. Deixa a arca portátil que esconde a tenda do tabernáculo sob a guarda dos setenta Anciãos. Depois desaparece na garganta, levando consigo apenas o fiel discípulo Josué.

Passam-se os dias. Moisés não volta. No início o povo se inquieta, depois murmura: “Por que trazer-nos para este deserto horrível, expondo-nos às setas dos amalecitas? Moisés prometeu conduzir-nos à terra de Canaã, onde correm o leite e o mel, e eis que morremos no deserto. Valia mais a servidão no Egito do que esta vida miserável. Antes tivéssemos ainda os pratos de carne que comíamos lá! Se o Deus de Moisés é o verdadeiro Deus, que ele o prove, que todos os seus inimigos sejam dispersos e que nós entremos imediatamente na terra da promissão”. Os murmúrios aumentam; amotina-se o povo e os chefes aderem.

E eis que vem um grupo de mulheres, cochichando e murmurando entre si. São as filhas de Moab, de pele negra, corpos flexíveis, formas opulentas, concubinas ou servas de alguns chefes edomitas associados a Israel. Elas se lembram de que foram sacerdotisas de Astaroth e que celebraram as orgias da deusa nos bosques sagrados do país natal. Sentem que a hora de reassumir seu império chegou. Elas chegam enfeitadas de ouro e de tecidos esvoaçantes, o sorriso nos lábios, como um bando de belas serpentes que saem da terra e fazem reluzir ao sol suas formas ondulosas de reflexos metálicos. Misturam-se aos rebeldes, lançam-lhes seus olhares brilhantes, enlaçam-nos com os braços onde tilintam anéis de cobre e os adulam com sua linguagem dourada: “Quem é, afinal de contas, este sacerdote do Egito e seu Deus? Ele será morto no Sinai. Os refains já o terão lançado num abismo. Não será ele quem levará as tribos a Canaã. Então que os filhos de Israel invoquem os deuses de Moab: Belfegor e Astaroth! Estes, sim, são deuses que se pode ver e que fazem milagres! Eles poderão levá-los à terra de Canaã!”

Os amotinados escutam as mulheres moabitas, excitam-se e este grito parte da multidão: “Aarão, faz para nós deuses que marchem à nossa frente; pois ao Deus de Moisés, que nos fez sair do Egito, não sabemos o que aconteceu”.

Aarão tentou em vão acalmar a multidão. As filhas de Moab chamam os sacerdotes fenícios vindos com uma caravana. Eles carregam uma estátua de Astaroth, que colocam num altar de pedra. Os rebeldes forçam Aarão, sob ameaça de morte, a fundir o veado de ouro,

uma das formas de Belfegor. Sacrificam touros e bodes aos deuses estrangeiros, põem-se a beber e a comer, e as danças luxuriosas, orientadas pelas moabitas, começam ao redor dos ídolos, ao som dos nebéis, dos quinores e dos tamborins agitados pelas mulheres.

Os setenta Anciãos eleitos por Moisés para guardar a arca tentam, em vão, deter a desordem por meio de suas exprobrações. Então, sentam-se no chão, cobrindo a cabeça com um saco de cinzas. Reunidos em torno do tabernáculo da arca, eles ouvem consternados os gritos selvagens, os cantos voluptuosos, as invocações aos deuses malditos, demônios de luxúria e de crueldade. Eles vêem com horror o povo contorcer-se de alegria e de revolta contra seu Deus.

O que iria acontecer com a Arca, com o Livro e com Israel, se Moisés não voltasse mais?

Entretanto, Moisés voltou. De seu longo recolhimento, de sua solidão no monte de Eloim, ele traz a Lei impressa em tábuas de pedra (2) . Ao entrar no acampamento, vê as danças, a bacanal de seu povo em frente dos ídolos Astaroth e Belfegor.

À vista do sacerdote de Osíris, do profeta de Eloim, as danças param, os sacerdotes estrangeiros fogem, os rebeldes hesitam. A cólera ferve em Moisés como um fogo devorador. Ele quebra as tábuas de pedra e sente-se que ele quebraria do mesmo modo todo o povo, mas Deus o detém.

Israel treme, porém os rebeldes têm olhares de ódio dissimulados por seu medo. Uma palavra, um gesto de hesitação por parte do profeta- chefe, e a hidra da anarquia idólatra ergueria contra ele seus milhares de cabeças e expulsaria sob uma saraivada de pedras a arca santa, o profeta e sua idéia. Contudo, Moisés está lá, e por trás dele os poderes invisíveis que o protegem. Ele compreende que é preciso, antes de tudo, reabilitar a alma dos setenta eleitos e, por meio deles, todo o povo. Invoca Eloim-Iavé, o Espírito varonil, o Princípio-Fogo, do fundo de si mesmo e do fundo do céu.

– Que venham a mim os setenta! Que eles tomem a arca e subam comigo à montanha de Deus. Quanto ao povo, que espere, e que trema. Vou trazer-lhe o julgamento de Eloim.

Os levitas tiram de baixo da tenda a arca de ouro envolta por véus, e o cortejo dos setenta desaparece com o profeta nos desfiladeiros do Sinai. Não se sabe quem treme mais, se os levitas, pelo que vão ver, ou o povo, pelo castigo que Moisés deixa suspenso sobre suas cabeças como uma espada invisível.

Ah! se fosse possível escapar às mãos terríveis desse sacerdote de Osíris, desse profeta da infelicidade! – dizem os rebeldes. E, apressadamente, a metade do acampamento dobra as tendas, sela os camelos e prepara-se para fugir. Mas, eis que um crepúsculo estranho, um véu de poeira se estende no céu; uma brisa rude sopra do mar Vermelho, o deserto adquire uma cor fulva e descorada, e por trás do Sinai amontoam-se grossas nuvens. Enfim, o céu torna-se negro. Rajadas de vento trazem ondas de areia e relâmpagos fazem desabar em torrentes de chuva os turbilhões de nuvens que envolvem o Sinai. Logo brilha o raio e seu estrondo, repercutindo por todas as gargantas do maciço, rebenta sobre o acampamento em detonações sucessivas com um estrépito medonho. O povo não duvida de que seja a cólera de Eloim evocado por Moisés As filhas de Moab desapareceram. Desmoronam-se os ídolos, os chefes se prostram, as crianças e as mulheres se escondem sob o ventre dos camelos. Isto dura toda uma noite, todo um dia. O raio cai sobre as tendas, matando homens e animais e o trovão ribomba sempre.

À noite, acalma-se a tempestade, mas as nuvens ainda fumegam sobre o Sinai e o céu permanece negro. E eis que, à entrada do acampamento, reaparecem os setenta, com Moisés à frente. No vago clarão do crepúsculo, a fisionomia do profeta e a de seus eleitos irradiam uma luz sobrenatural, como se eles trouxessem na face o reflexo de uma visão radiosa e sublime. Sobre a arca de ouro, sobre os querubins com asas de fogo, oscila um clarão elétrico, como um jato fosforescente. Diante desse espetáculo, os Anciãos e o povo, homens e mulheres, se prostram à distância.

Moisés clama:

– Aqueles que estão com o Eterno, venham a mim!

Três quartos dos chefes de Israel alinham-se ao redor de Moisés; os rebeldes escondem-se em suas tendas. Então, o profeta avança e ordena aos fiéis que passem ao fio da espada os instigadores da revolta e as sacerdotisas de Astaroth, a fim de que Israel trema para sempre diante de Eloim e se lembre da lei do Sinai e de seu primeiro mandamento:

– “Eu sou o Eterno, teu Deus, que te tirou do país do Egito, da casa da servidão. Não terás outro Deus diante de mim. Não esculpirás imagens nem qualquer outra coisa semelhante às que existem no alto dos céus, nas águas ou na terra”.

Foi por esse misto de terror e de mistério que Moisés impôs sua lei e seu culto ao povo. Era preciso imprimir a idéia de Iavé em letras de fogo em sua alma e, sem aquelas medidas implacáveis, o monoteísmo jamais teria triunfado sobre o avassalador politeísmo da Fenícia e de Babilônia.

Mas, o que tinham visto no Sinai os setenta? O Deuteronômio (XXXIII, 2) fala de uma visão colossal, de milhares de santos que apareceram, em meio à tempestade, sobre o Sinai, à luz de Iavé. Os sábios do antigo ciclo, os antigos iniciados dos árias, da Índia, da Pérsia e do Egito, todos os nobres filhos da Ásia, a terra de Deus, teriam vindo auxiliar Moisés em sua obra e exercer uma pressão decisiva sobre a consciência de seus associados?

As forças espirituais que velam sobre a humanidade estão sempre presentes, mas o véu que delas nos separa somente se descerra nas grandes horas e para os raros eleitos. Seja como for, Moisés transmitiu aos setenta o fogo divino e a energia de sua própria vontade. Eles foram o primeiro templo, antes daquele de Salomão: o templo vivo, em

marcha, o coração de Israel, a luz real de Deus.

Pelas cenas do Sinai, pela execução em massa dos rebeldes, Moisés ganhou autoridade sobre os semitas nômades, que ele agora continha com mão de ferro. Contudo, cenas análogas, seguidas de novos golpes de força, deveriam se repetir durante as marchas e contramarchas

rumo à terra de Canaã. Como Maomé, Moisés teve que ostentar, ao mesmo tempo, o gênio de um profeta, de um homem de guerra e de um organizador social. Lutou contra as lassitudes, as calúnias, as conspirações.

Depois da revolta popular, Moisés teve que abater o orgulho dos sacerdotes-levitas, que queriam igualar-se-lhe em função, e se consideravam, como ele, inspirados diretos do Iavé. Viu-se também obrigado a enfrentar as conspirações mais perigosas de alguns chefes ambiciosos como Coré, Datan e Abiram, que fomentaram a insurreição popular para derrubar o profeta e proclamar um rei, assim como fariam mais tarde os israelitas com Saul, apesar da resistência de Samuel.

Nessa luta, Moisés tem momentos de indignação e de piedade, ternuras de pai e rugidos de leão contra o povo que se debate sob a pressão de seu espírito e que apesar de tudo suportou-o. Disso encontramos o eco nos diálogos que a narrativa bíblica institui entre o profeta e seu Deus, diálogos que parecem revelar o que se passava no fundo de sua consciência.

No Pentateuco, Moisés triunfa sobre todos os obstáculos mediante os milagres mais inverossímeis. Jeová, concebido como um Deus pessoal, está sempre à sua disposição. Aparece sobre o tabernáculo como uma nuvem brilhante que se chama a glória do Senhor. Somente Moisés pode ali entrar; os profanos que se aproximam são feridos de morte. O tabernáculo de assinação, que contém a arca, desempenha na narrativa bíblica o papel de uma gigantesca bateria elétrica que uma vez carregada do fogo de Jeová fulmina massas humanas. Os filhos de Aarão, os duzentos e cinqüenta adeptos de Coré e de Datan, enfim, quatorze mil homens do povo são mortos instantaneamente. Além disso, Moisés provoca, em hora marcada, um tremor de terra que traga os três chefes revoltados, com suas tendas e suas famílias. Esta última narrativa é de uma poesia terrível e grandiosa. Mas é pintada com tal exagero, com um caráter tão visivelmente lendário que seria pueril discutir-lhe a realidade. O que, acima de tudo, dá um caráter exótico a essas narrativas é o papel de Deus irascível e mutável que a ele empresta Jeová. Está sempre prestes a fulminar e a destruir, enquanto que Moisés representa

a misericórdia e a sabedoria. Uma concepção tão infantil, tão contraditória da divindade não é menos estranha à consciência de um iniciado de Osíris que à de um Jesus.

E, contudo, esses colossais exageros parecem provir de certos fenômenos devidos aos poderes mágicos de Moisés e que não são únicos na tradição dos templos antigos. É hora de dizermos o que se pode acreditar dos pretensos milagres de Moisés, sob o ponto de vista de uma teosofia racional e dos pontos elucidados da ciência oculta. A

No documento OS GRANDES INICIADOS (páginas 162-173)