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Grão-Pará e

Maranhão em

relação às aldeias

dos índios: as

estratégias e

adaptações do

Alvará de 25 de

julho de 1638

Benedita do Socorro

Matos Santos

1

& Sousa,

A. n.

2

Universidade de Évora, Portugal

1 Doutoranda em Ciências da Educação: História. Subárea: História do Brasil Colonial. Instituto de Investigação e Formação Avançada-IIFA pela Universidade de Évora - Portugal. Endereço: Universidade de Évora: Largo dos Colégios 2, 7000- Évora. E-mail: dra. bsms@gmail.com.

2 Mestrando em Recursos Humanos na Universidade de Évora. Endereço: Universidade de Évora: Largo dos Colégios 2, 7000- Évora. E-mail: star. brinde@uol.com.

o contrário, ficando eu da virtude e zelo dos padres da Companhia que sempre elegeram para prelado e superior daquela casa, pessoa de tanta virtude, letras, entendimento, prudência e exemplo de vida, que possa cumprir com as obrigações de tão grande cargo. (El-rei, 1638).

No entanto, os colonos encontravam-se em desvantagem devido à forma de tratar os índios ao descrevê-los como selvagens, e que deveriam estar sempre de posse deles no que diz respeito ao trabalho no campo e em família garantindo, com isso, o seu sustento próprio e permanência de sua fortuna. Mas, a lei de 25 de julho de 1638, viera modificar as peças do tabuleiro da administração portuguesa no Brasil Colonial, especialmente no Grão-Pará e Maranhão, motivo pelo qual os padres da Companhia de Jesus passaram a ser caluniados, e mal vistos pelos colonos.

Os padres, apesar das tempestades causadas pelos colonos, não se deixaram abater e logo começaram a organizar as missões ao construir escolas, igrejas, vilas e residências, germinando e expandindo no espaço luso-brasileiro os seus propósitos de remir as almas. Com efeito, a vontade, a persistência e a fé que traziam consigo e seus votos de obediência à “Santa Fé” como escudo de devoção em propagação da fé católica, sustentada de forma estratégica e adaptável ao Novo Mundo, prolongaram por vários anos a Companhia de Jesus naquele vasto território. Mesmo com as ameaças, durante o pronunciamento da lei, os padres se mantiveram firmes em seu propósito de catequizar, ensinar e instruir os índios, os filhos de colonos e os demais que se propunham em empreender aquele movimento eclesiástico.

As estratégias e adaptações vieram a ser sustentadas devido ao contexto em que se encontrava o Brasil Colonial, principalmente no norte do país na área destinada ao Grão-Pará e Maranhão, que se desenvolveu com o esforço de mão-de-obra indígena e escrava, por ter sido habitada pelo maior contingente de tribos indígenas, os ditos “selvagens”. E para além disso, os que detinham a maioria destes, também obtinham o poder de melhor produzir em suas terras, garantindo riqueza para o reino e para si. E foi assim, que os índios passaram a ser motivo de disputas entre jesuítas, colonos, governos e entre outros.

Os índios, contudo, eram considerados miseráveis “bugre” de certas narrativas depreciativas, tão perseguidos e tão desejados, ele com o corpo para o trabalho, ela com o corpo para o trabalho e o prazer. A diferença entre os jesuítas era que os padres viam os índios como seres de alma para catequizar e remir. Mas, também se beneficiavam dos préstimos indígenas mas sem a violência física impregnada pelos colonos.

Assim, as fazendas, as vilas, as residências, os engenhos e entre outros da Companhia de Jesus eram os que mais prosperavam e se alargavam perante todo o território do Grão-Pará e Maranhão, contudo, o germe embrionário da fortuna e da cobiça vislumbradas pelos colonos, despontou de uma hora para outra sem grande esforço, tendo os padres adquirido um império consistente contínuo e a todo vapor em propriedades e prosperidade jesuítica.

Com efeito, os colonos sentiram-se lesados devido aos índios ficarem, em sua grande maioria, à disposição dos padres que os protegiam de todos os males impostos pelos colonos. Então, se formaram as guerras justas, com propriedades injustas para os domínios dos vencedores e escravidão para os vencidos ou aniquilamento para os prisioneiros de guerra.

Com isso, gerou um período bastante turbulento e violento, pois as tribos indígenas passaram a guerrear entre si e os perdedores uns serviam para a escravatura e outros eram entregues a seus algozes para então serem decapitados em cerimónia como demonstra a figura abaixo.

Administração eclesiástica do Grão-Pará e Maranhão em relação às aldeias dos índios: as estratégias e adaptações do Alvará de 25 de julho de 1638 || Benedita do Socorro Matos Santos & Sousa, A. N.

Figura 1. “O inimigo capturado em combate era levado para a aldeia do vencedor e, entre os Tupinambás, morto e

devorado por toda a tribo. A cerimónia da morte do prisioneiro era realizada alguns dias após a captura, e nesse intervalo eram-lhes dedicados bons tratos e consideração” (p.39). (Fonte História do Brasil (1972) 150 anos de Independência. Rio

de janeiro: Bloch Editores. V.I.)

Enfim, os colonos sempre estavam interessados nestes movimentos que até em certos momentos incentivavam as tribos distribuindo terçados, foices entre outros para lutaram contra seus inimigos fossem eles índios, ingleses, franceses, isto é, dependia do momento ou da ocasião, tudo para defender e manter a sua fortuna.

Os jesuítas, porém, na tentativa de proteger os índios e formar missão intervinham diretamente utilizando todo o prestígio que tinham junto à corte portuguesa e sempre obtinham resultados favoráveis a seu respeito sobre os pedidos quando chegados eram sempre atendidos sem mais demora.

O acontecimento, de imediato em resposta aos apelos dos padres foi o Alvará que concebia a jurisdição das Aldeias do Grão-Pará e Maranhão a Ordem, fato este confirmado por Franco (2006: 155) quando pontuam as seguintes questões:

1. Poucas ordens religiosas conseguiram, a partir da modernidade, reunir de forma eficaz um tão extenso volume de recursos materiais e estender, à escala mundial, uma organização marcada pela sua considerável coesão e eficácia, em nome do ideário sobrenatural da evangelização, como a Companhia de Jesus.

2. E é também em razão desse serviço religioso, constitucionalmente definido, que é justificado, pelos jesuítas, o também significativo poder de influência granjeado junto as elites do poder político, mormente junto de reis, ministros e conselheiros das cortes europeias e de outros povos do mundo, quer desempenhando funções importantes como confessores, conselheiros, educadores, pregadores, intermediários, técnicos, diplomatas e especialistas em várias áreas cientificas, quer simplesmente como amigos de confiança.

Assim, nesta conjuntura política e administrativa o Alvará fez-se legalidade nas escritas e penas de El-rei que ganharam vida ao serem cumpridas pelos padres da Companhia de Jesus e revoltas nos colonos devido à lei trazer somente benefícios à Ordem. O qual confirma ao administrador os seguintes privilégios:

haverá duzentos mil reis de seu mantimento, e em cada um ano, consignados nos dízimos daquele Estado, pagos em dinheiro e fazendas, na forma que se costumam fazer os pagamentos da Fazenda Real do dito Estado, para o que se lhe passarão também as provisões necessárias (...). (El-rei, 1638).

Então, o padre escolhido para o feito desta missão foi Luís Figueira considerado pelos colegas jesuítas um homem dotado de valor, prestigio e conhecimento, assim denominado de o “grande mestre da Língua, inicia a construção do Colégio de Nossa Senhora da Luz na capital São Luís, e abre a série das peregrinações catequizadoras, indo pelo Amazonas até o Xingu” (Betendorf, 1910: XV).

Luís Figueira não somente foi o padre, mas um homem que tinha como missão a evangelização das almas onde quer que a Companhia de Jesus montasse seus domínios não havendo escolhas de continentes: Oriental ou Ocidental para desenvolver os propósitos da Ordem, mas sim cumprimento do que foi ordenado desde o início de sua formação jesuítica.

Os padres adquiriam uma formação de fé, perseverança, que ultrapassava os limites do corpo e da alma, e que colocava em risco a sua própria vida, feitos estes narrados em vários momentos pelo padre João Felipe Betendorf ao escrever o Livro intitulado

Chronica da Missão dos padres da Companhia de Jesus no Estado do Maranhão o qual narra

a morte do padre Francisco Pinto e outros missionários nas mãos dos índios. O cumprimento de seu dever era superior aos martírios da vida terrena e grandiosa diante dos povos que teriam de conquistar. Em todos os lados do Ocidente ao Oriente, os padres necessitavam de missionários, e isso, não seria diferente nas Províncias do Grão-Pará e Maranhão solicitando constantemente irmãos para o cumprimento da missão naquele vasto território, que ainda se encontrava em estado primitivo. O Estado do Maranhão concebido segundo a divisão do Brasil Colonial sobre administração por- tuguesa compreendia, em sua extensão no ano “de 3 de setembro de 1626, o seguinte limite que começava não longe dos baixos de S. Roque, ao 30º 30” L. S., estendendo-se até ao Rio Vicente Pin- son (Oyapock), que viria mais tarde a beneficiar o Estado do Maranhão, devido a sua localização se encontrar no Atlântico, isto é, o efeito das correntes marítimas passavam a possibilitar o acesso direto a Lisboa. Para além de mercadorias, correspondências e possibilitar chegar de forma ágil à coroa portuguesa. Logo, o Estado do Brasil deixa de ser favorável, motivo pelo qual o Estado do Maranhão passou a ser a rota principal de embarque e desembarque de materiais (cana-de-açúcar, cachaça, arroz, ouro, entre outros). Assim, na figura abaixo logo se observa o quanto a Companhia de Jesus necessitaria de mão-de-obra missionária para tomar conta da área atribuída pelo Estado.

Figura 2. Mapa do Estado do Maranhão e as duas capitanias em 1626. [Tábua segunda retirada de http://objdigital.

Administração eclesiástica do Grão-Pará e Maranhão em relação às aldeias dos índios: as estratégias e adaptações do Alvará de 25 de julho de 1638 || Benedita do Socorro Matos Santos & Sousa, A. N.

O Estado do Maranhão devido a sua extensão territorial facilitava o acesso rápido pela costa do Atlântico e também com mais trabalhador indígena e mão-de-obra em abundância passou a ser alvo de várias invasões, francesas, inglesas, holandesas, entre outras. E que queriam parte desta colónia portuguesa, que, segundo o padre Betendorf (1910: XIII), o Estado do Maranhão era composto por duas capitanias principais,

a do Maranhão e a do Grampará, subdivididas em outras secundárias, algumas da coroa, muitas de donatários, situadas quase todas ao longo da costa do Atlântico, poucos no interior, próximos a foz dos rios, mas já contando grande número de núcleos pelas margens do Amazonas até o Madeira e o Negro.

Assim, a articulação entre os jesuítas e El-rei de certa forma garantia o controlo dos índios, mas também proporcionava à coroa portuguesa a riqueza, pois os índios quando dominados pelos jesuítas se tornavam aliados dos mesmos, e eles eram os sabedores da terra, das drogas dos sertões, desmatavam, caçavam, criavam gados, e estavam presentes em todos os momentos de guerra e de paz. Em contrapartida, a coroa portuguesa estabelecia contato com os colonos e estes direcionavam também a corte quando se sentiam prejudicados, no caso do dito Alvará de 1638, no qual El-rei decretou uma nova “lei de 17 de outubro de 1653 em que revogava a anterior e os capítulos da liberdade, deixando a porta aberta a cativeiros injustos”6.

Os índios, por sua vez, ao juntarem-se às guerras junto aos colonos, os jesuítas e El-rei estabeleciam forças para eliminar seus adversários de tribos rivais. Na verdade, estamos convictos de que esta articulação veio beneficiar a todos de certa forma, os jesuítas na catequização da fé, os índios ao eliminar as tribos rivais, El-rei ao manter sua riqueza expedindo Alvará para auxilio de jesuítas e colonos, e os colonos ao adquirirem índios escravos para seus próprios fim. Assim, o circulo se tornou constante com cada um a seu tempo com manutenção e estratégias para se permanecer no poder.

Referencias Bibliográficas

Betendorf, J. (1910). “Chronica da Missão dos Padres da Companhia de Jesus no Estado do Maranhão” in Revista do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, Tomo LXXII, parte I. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional.

Franco, J. (2006). O Mito dos Jesuítas: Em Portugal, no Brasil e no Oriente (século XVI a XX). Das origens ao Marques de Pombal. Lisboa: Gradiva.

Leite, S. (1938a). “História da Companhia de Jesus no Brasil” in prefácio Tomos IV. Lisboa/Rio de Janeiro: edições Loyola. p. IX.

______. (1938b). “História da Companhia de Jesus no Brasil” in Livro I Tomos IV. Lisboa/Rio de Janeiro: edições Loyola. p. 9.

― (1972) História do Brasil: 150 anos de Independência. Vol. 1. Rio de Janeiro: Bloch Editores. ― (1638) Alvará com força de lei sobre a administração das Aldeias do Grão-Pará e Maranhão Julho. Lisboa – Arquivo Histórico Ultramarino., Maranhão, Cx. 1. pp. 25.

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