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UNIT, Estácio Fase, FANESE, Brasil; UFS, UFC, Brasil e

UNIT, Brasil, UA- Aveiro, Portugal

1 Licenciatura e Bacharelado em História, mestrado em Sociologia, mestrado em Geografia, doutorado em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe e Pós-doutorado em Estudos Culturais pelo Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC)/Fórum de Ciência e Cultura (FCC) – Univer- sidade Federal do Rio de Janeiro. Professor da Facul- dade de Estácio de Sergipe-Estácio FaSe, da Faculdade de Administração e negócios de Sergipe – FANESE e da Universidade Tiradentes -UNIT. Sergipe/Brasil. E-mail: ensino.pesquisa@yahoo.com.br

2 Graduação e Bacharelado em Geografia - Universidade Federal de Sergipe, mestrado em Geografia - Universidade Federal de Sergipe e douto- rado em Geografia - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho-UNESP- Rio Claro. Professor associado da Universidade Federal de Sergipe nos cursos de graduação, mestrado e doutorado em Geografia. Cargos de gestão: Diretora de Recursos Minerais da CODISE/SE; Secretária Municipal de Turismo e Meio Ambiente de Estância/SE e diretora de Gestão Ambiental da DESO/SE. Atualmente Pós- doutoranda no PPGG/Universidade Federal do Ceará. E-mail: lilianwanderley@uol.com.br

3 Licenciatura em Ciências Sociais pela Faculdade Frassinetti do Recife - UFPE; especialização em Metodologia do Ensino Superior pela UNIT e em Métodos e Técnicas de Elaboração de Projetos Sociais pela PUC-MG; mestrado em Comunicação e Cultura - UFRJ. Professor da Universidade Tiradentes - UNIT e doutoranda em Educação - Universidade de Aveiro- Portugal. E-mail: amaralpesquisa@gmail.com

aquela que serve ou poderia servir para a produção agrícola, incluindo os terrenos de mata (floresta virgem) e de capoeira (vegetação secundária), e excluindo os destinados à moradia, bem como os já cobertos de capim, destinados a criação de gado bovino ou animais de cargas. [...] [sendo], portanto, sinônimo de terra agricultável (Musumeci, 1988: 79).

Nessas áreas agregadas, dada a intermitência do seu uso, não seria possível se constituir propriedade privada e permanente das famílias, havendo constante rodízio de cultivos nessas parcelas. Em geral, essas áreas domésticas eram cercadas pelos posseiros para a criação de porcos e galinhas. Esses posseiros eram reconhecidos no período colonial pela nomenclatura de agregados, junto à expressão “escravos de um engenho”, decorrente da posse de gleba, recebida diretamente do seu senhor. Algumas vezes as áreas de matas derrubadas por esses agregados eram incorporados à área do engenho.

No cotidiano escravocrata, os senhores aproveitaram o testamento post mortem para doações de alforrias a escravos merecedores, ao tempo em que estabeleciam uma relação de pendência, com doações de pequenas glebas para o sustento do agraciado, seja por razões afetivas seja pensando em barganhar com Deus o beneficio da salvação da sua própria alma.

Esse mecanismo ideológico de controle do escravo ou ex-escravo fazia dele um cúmplice de confiança do senhor, que nele depositava a segurança na manutenção de seus domínios intactos, evitando que pessoas de fora do engenho ocupassem suas terras e adquirissem domínio sobre ela.

Aos agraciados com terras cabia, não só durante a vida do benfeitor mas dos seus descendentes, trabalharem nas terras e prestarem serviços complementares de defesa e de fortalecimento do poder político do doador, sendo assegurados pelo senhor de terras ao beneficiado a proteção nos tribunais e a defesa contra a política de recrutamento para as forças armadas e guerras.

2. Doações Testamentárias a Escravos e Ex-Escravos de Sergipe Entre os Séculos XVIII e XIX

Nos 140 testamentos “post mortem” de Sergipe, deixados por latifundiários no período de 1780 a 1850, pesquisados diretamente no Arquivo Judiciário do Estado de Sergipe (AJES), foram constatados vários casos de doações de terras e de outros bens móveis e imóveis, geralmente acompanhados de esmolas em dinheiro e jóias para uso pessoal do beneficiado e de benfeitorias no patrimônio recebido (Quadro 1), agregados a uma série de valores subjetivos, tais como fidelidade, obediência e bons serviços, fatores que pesavam na decisão da concessão dos benefícios ao agraciado. No montante dos documentos estudados também foram localizados alguns inventários de ex-escravos contemplando o período entre 1863-1888.

Os testamentos asseguravam a legitimidade das doações e do domínio da gleba recebida pelo agraciado, que por seu lado, poderiam ser vendidas, trocadas ou repassadas a seus descendentes, mesmo quando localizada em terras do senhor, algumas delas sendo repassadas através de testamento (Quadro 2).

A Região da Cotinguiba e adjacências foi o palco dessas iniciativas por parte dos senhores de terras, área onde predominavam os engenhos de açúcar e a produção canavieira, com ocorrência do criatório bovino e outros produtos de menor proporção.

Doações testamentárias de terras a escravos e ex-escravos de Sergipe, Nordeste do Brasil, entre os séculos XVII e XIX || Hortência de Abreu Gonçalves, Lilian de Lins Wanderley & Carmen Lúcia Neves do Amaral Costa

DOADOR(A)* LOCAL ANO BENEFICIADO(A) Escravo(a) / Ex- escravo(a) TERRA: Herança e/ou Esmola

Recebida

Joaquim Vila de Santo Amaro das

Brotas 1780 Ignácia (Ex-escrava) Luís Loureiro (criado como forro)

Morada de casa e suas miudezas Casa de telhas e uma tenda de ourives.

João Vila de Santo Amaro das Brotas (Engenho da Serra Negra)

1816 Antonia Mestiça (ex-

escrava) Mora agregada ao pasto (parcela para uso próprio) João (Nossa Senhora da

Piedade do Lagarto) 1818 Lourença (ex-escrava, com quem teve filhos) Filhos: Luiz e Vicente (alforriados)

Herdeiros da terça: 01 fazenda de gado no Sacco do Moreira, 01 sítio de terras denominado Caetita na dita Vila, casas na vila do Lagarto, 01 fazenda no Sertão de Vaza- Barris denominada Lages, 01 roça grande em Simão Dias, 01 roça no Retiro, escravos, porção de terras no Quebra (demarcada)

Antonio Vila Nova de Santo Antonio Real de El Rey (Rio São Francisco)

1818 Anna (instituída com os demais herdeiros) Reconhecida como filha com alforria

01 morada de casas de taipa e telhas, ouro e prata

Dona Anna Maria Povoação de Nossa

Senhora do Socorro 1820 Luiza Maria (livre) (filha de Adriano e Ignácia – escravos)

40$000 mil réis de terras no Sítio do Saquinho e mais um braço de cordão de ouro

Anna Maria Povoação de Estância (termo Real de Santa Luzia)

1820 Pedro (filho da escrava

Vicência) (alforriado) Herdeiro universal dos remanescentes da terça: porção de terras com coqueiros

Dona Anna Vila de Santo Amaro das

Brotas (Sítio Mombaça) 1820 Manoel de Jesus (ex-escravo) 01 pedaço de terra demarcada com dois marcos de pedra que dos ditos marcos para baixo fica a porção que recebeu, com casa de morada e todos os coqueiros, desmembrada do sítio Mombaça. Religioso Antonio Povoação de Estância

(Termo da Vila de Santa Luzia)

1820 José (alforriado) (filho da mestiça Manoela liberta)

João de Deos (alforria)

600$000 mil réis p/compra de terra e vivenda e mais o escravo Pedro.

600$000 (mil réis) para o mesmo uso e o escravo Francisco

Joze de Góis Sítio da Boavista (Nossa

Senhora do Socorro) 1821 Felipe (escravo) de Joaquim morador no Sitio Gentio

80$000 (mil reis) e mais duas farrotas, para ajudá-lo na roça.

João Manoel Vila de Nossa Senhora da Purificação da Capela (Sítio do Saco)

1826 Timota (ex-escrava) 01 Casa de morada para viver com a sobrinha do doador e caso esta última se recusasse a casa passaria para Timota, com plantação para ser vendida em função de alimentar a ex-escrava e a sobrinha.

Quadro 1: Doações Testamentárias de bens móveis e imóveis a escravos e ex-escravos da Capitania de Sergipe d’El

Rey (1780 – 1826) - * os sobrenomes foram omitidos. (Fonte: Testamentos “post - mortem” de Sergipe d’El Rey – Arquivo

A descrição contida no Quadros 1 denota que no momento da elaboração do testamento “post mortem” alguns senhores procuraram recompensar seus escravos pelos bons serviços prestados, não apenas com roupas, como também jóias, dinheiro e terras.

Em muitas ocasiões, esses valores serviram para a compra da liberdade, e principalmente para o acesso à terra e para a sobrevivência por meio da agricultura. Em muitos casos, serviram para benfeitorias e beneficiamentos das terras dos que já as possuíam, promovendo consequentemente uma melhor qualidade de vida e status social. As inúmeras doações constatadas na documentação estudada refletem bem a complexidade da relação senhor-escravo e ex-escravo em Sergipe, conforme Quadro 2 com alguns exemplos.

A comprovação do uso dessas doações de parcelas de terras a escravos e ex-escravos, com fins de agricultura familiar, pode ser confirmada por meio dos inventários de cativos agraciados, conforme os exemplos que seguem: um ex - escravo1 denominado Vicente, morador no termo da Vila do Lagarto,

o qual deixou em testamento uma tarefa e meia de mandioca no valor de 20$00 (vinte mil réis), localizada em terras do seu senhor, além de animais e outros objetos, importando o total de 101$000 (cento e um mil réis), instituindo como seu único herdeiro o tio materno.

I N V E N T Á R I O S * – S é c u l o X I X

EX-

ESCRAVO HERDEIRO(A) ANO/LOCAL

PARCELA DE TERRA (localização) PRODUÇÃO AGRÍCOLA/ ANIMAIS

Domingos

(ex-escravo)

(sua mulher ) Martinha

(escrava)

1863 / Cidade

de São Cristóvão

Em terras do senhor

mandiocaTarefa de

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