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Ferreira Lisbôa Filho

3. Trabalhando com o circuito da cultura

Começamos com o eixo da regulação, que corresponde a noção de regramento, isto é, leis, normas e convenções através das quais as práticas sociais são ordenadas e políticas culturais são implementadas, cuja abrangência pode incluir tanto o direito universal de “procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”2, quanto específicas legislações nacionais como a que institui as concessões de rádio e televisão no Brasil. Esta, embora seja essencialmente uma questão técnica de alocação de frequências no espectro eletromagnético para evitar interferências nas transmissões, assume caráter político, como o atual debate em torno da proibição de concessões de meios de comunicação a detentores de cargos eletivos e a grupos ligados a igrejas3. Neste sentido, há uma clara conexão no circuito da cultura entre as instâncias da regulação e da produção, no que tange aos meios de produção articulados aos recursos no âmbito da tecnologia.

Para Hall (1997), a esfera da cultura é governada tanto pela tendência à regulação quanto à desregulação, podendo estar associada, no primeiro caso, ao Estado e, no segundo, ao mercado. Em ambas as situações, a cultura é regulada por pressões econômicas e de grupos, bem como de estruturas de poder, e está em íntima associação com o modo de produção econômica e as formas de consumo. Assim, ao mesmo tempo em que existe um “governo da cultura”, há a ocorrência de um movimento inverso: a “regulação através da cultura”. Destacamos duas dessas formas de regulação identificadas por Hall (1997): a normativa, que guia a ação humana mediante normas associadas a convenções existentes na cultura; e a que incide diretamente na constituição dos modos de ser e, portanto, das identidades, pois

2 XIX Parágrafo da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da Assembleia Geral das Nações Unidas, firmada em 10 de dezembro de 1948. Disponível em http://www.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm. Acesso em 23.out.2013.

3 “A proposta de projeto de lei (PL) que regulamenta o funcionamento de meios de comunicação, conhecida como Lei da Mídia Democrática, foi lançada hoje (22), na Câmara dos Deputados pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).” Agência Brasil, 22/08/2013, disponível em http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/proposta-que-regulamenta-meios-de-comunicacao-e- lancada-na-camara/ Acesso em 20.out.2013.

busca que o sujeito internalize condutas, normas e regras, regulando-se a si mesmo. É nesse sentido que se efetiva o poder da mídia, cujas representações penetram nos modos de ser dos sujeitos.

A representação corresponde à associação de sentidos a determinado produto cultural, e isso se viabiliza principalmente através da linguagem, um dos principais meios de representação na cultura. Para Du Gay et al. (1997) é através da cultura que as coisas “fazem sentido”, e o “trabalho de construção de significados” se dá pela forma como as representamos. Alertam ainda que “por linguagem não se entenda apenas as palavras escritas ou faladas. Queremos dizer qualquer sistema de representação — fotografia, pintura, fala, escrita, imagens feitas através da tecnologia, desenho [...]” (Du Gay et al., 1997: 13 [tradução nossa]).

Woodward indica que os processos envolvidos na produção de significados são engendrados por meio de “sistemas de representação” conectados com os diversos posicionamentos assumidos pelos sujeitos, no interior de “sistemas simbólicos” responsáveis por “estruturas classificatórias que dão certo sentido e certa ordem à vida social e às distinções fundamentais — entre nós e eles, entre o fora e o dentro, entre o sagrado e o profano, entre o masculino e o feminino — que estão no centro dos sistemas de significação da cultura” (Woodward, 2000: 67-68). Tais sistemas produzem o que Hall (1997b) chama de “representações da diferença”, a noção de alteridade, que pode conduzir à produção de estereótipos, onde estão implicados sentimentos, atitudes e emoções. Exemplo da articulação desses conceitos para análise da televisão é o da pesquisa Mídia Regional: gauchidade e formato televisual no Galpão Crioulo (Lisbôa Filho, 2009).

No Brasil, ao tratarmos da representação da identidade regional gaúcha televisiva, é necessário considerar que a constituição do gaúcho4 passa pela história oficial, mas foi a literatura e o cinema que o forjaram como herói mitificado e vangloriado, especialmente na Semana Farroupilha5. Outros elementos foram resgatados, adaptados, criados ou inventados também pelo rádio e pela televisão, que os dotou de simbolismos e de uma aura quase mítica capaz de encantar e seduzir, povoar o imaginário popular e contribuir na formação da representação do regional e da cultura popular do Sul do Brasil. Dentre as distintas narrativas midiáticas que contam a história gaúcha, entretanto, é possível verificar legitimações pela exaltação da bravura, da belicosidade, do orgulho, do valor da família, da masculinidade, dentre outros valores de tal forma consolidados que aparecem, em maior ou menor escala, no programa televisivo Galpão Crioulo6 - GC. Essas marcas e caracterizações, mesmo que caricatas ou estereotipadas,

são recuperadas e evocadas pelos apresentadores do GC, quando contam uma história, uma lenda, uma poesia que remete à cidade que sedia o show, a um cidadão ilustre ou a um evento local.

As contextualizações temáticas encontradas no GC se configuram em representações que têm uma forte identificação com o público, pois apresentam o gaúcho que existe no imaginário popular, com práticas, valores e todo um conjunto simbólico que, resgatado e reforçado, atualiza-se em atitudes individuais e coletivas no presente. O GC traz a representação de uma gauchidade que transita entre as tradições e as histórias do estado, selecionadas e recriadas no contexto midiático para atingir o gosto do público.

Sobre o conceito de representação, é preciso ainda registrar que sua operacionalização como instrumento analítico vem se apresentando em variadas pesquisas em comunicação articulado à questão

4 Gaúcho é quem nasce no estado do Rio Grande do Sul, no extremo Sul do Brasil. Há ainda o gaucho argentino ou uruguaio, também proveniente do amálgama entre as culturas ibérica e indígena. O gaúcho típico é habitante das fazendas e as peculiaridades de seus modos de vida formam uma identidade regional.

5 A Semana Farroupilha é o evento máximo da cultura gaúcha, com desfiles em homenagem à Revolução Farroupilha (ou dos Farrapos), revolução regional contra o governo imperial do Brasil, de 20 de setembro de 1835 a 1º de março de 1845.

6 O Galpão Crioulo é um programa criado em 1982 pela RBS TV, filiada da Rede Globo de Televisão, cuja base é musical, mas pode apresentar entrevistas, declamações, pajadas, danças, dentre outras manifestações identitárias regionais. Até 1984 o programa era gravado em estúdio; depois adquiriu a característica de itinerante, viajando por todo o estado e neste período passou também a ser gravado ao vivo.

O circuito da cultura: um modo de análise das recolonizações de modos de ser no contexto da televisão brasileira contemporânea || Ana Carolina Damboriarena Escosteguy, Ana Luiza Coiro Moraes & Flavi Ferreira Lisbôa Filho

das identidades contemporâneas.

Assunto central nos EC, a identidade cultural vem fundamentando pesquisas que envolvem questões de gênero, de classe, de raça e etnia, e de confrontos como modernidade x pós-modernidade, local x global, etc. Hall (2003: 108-109) defende que o processo identitário tem ligação com o que os sujeitos podem se tornar, como têm sido representados e como essa figuração organiza o modo como podem se auto-representar: “[as identidades] não são nunca singulares, mas multiplamente construídas ao longo de discursos, práticas e posições que podem se cruzar ou ser antagônicas”.

Observamos que no caso do Rio Grande do Sul o conjunto das mídias do estado atua de forma articulada, incluindo o local – mas também o nacional/global – e, por consequência, realimentando o sistema simbólico do imaginário mítico do gaúcho, que compõe sua identidade, através dos produtos culturais que disponibilizam. Em seu discurso, o GC legitima os papéis e efeitos de perpetuador e de vigilante da identidade gaúcha. Nele, é possível vislumbrar a convivência de traços da tradição e da contemporaneidade, mesmo que esta última apareça em menor escala. As imagens trazem crianças, jovens e idosos, homens e mulheres, o antigo e o novo, num processo que não aparenta exclusão, mesmo que ela seja inerente ao processo midiático e televisivo especialmente. Cabe dizer que o GC tem uma identidade muito forte junto aos gaúchos, que já está consolidada nas lógicas enunciativas que se repetem, nas estratégias discursivas utilizadas e no seu formato.

O eixo da produção se refere ao ato ou resultado da transformação socialmente organizada de materiais numa determinada forma. Como apresentado na proposta de Du Gay et al. (1997), este eixo se detém numa instância que corresponde às condições ou meios de produção do artefato cultural que se constitui no seu objeto de estudo (o Walkman da Sony). Às condições ou meios de produção, entretanto, acrescentamos uma segunda instância, a análise textual, em busca de uma categoria analítica que possa dar conta das realizações linguísticas e comunicativas das produções televisivas, que trabalham com o material simbólico que se organiza sob determinados meios de produção capitalistas e sob a lógica dos contemporâneos recursos tecnológicos.

Ao comentar o ensaio de Walter Benjamin7, Du Gay et al. (1997: 21-24) fazem referência ao uso da tecnologia (terceiro vértice da produção), considerando que, se Benjamin falava sobre uma reprodutibilidade “mecânica”, cujo impacto se fazia sentir na arte esvanecendo-lhe a aura; as novas tecnologias a serviço da produção cultural promovem um tipo de reprodutibilidade “eletrônica”, que se pode notar num artefato cultural como o Walkman, que,

não é apenas uma parte essencial do kit de sobrevivência dos jovens, é um testemunho do alto valor que a cultura da modernidade tardia situa na mobilidade. E esta mobilidade é real e simbólica. O Walkman se encaixa num mundo em que as pessoas estão literalmente se movendo mais. Mas também é projetado para um mundo em que a mobilidade social do indivíduo com relação ao seu grupo social também aumentou. O Walkman maximiza a escolha individual e a flexibilidade. (Du Gay et al., 1997: 24, tradução nossa)

A atual profusão de telefones celulares, iPhones, iPads, iPods etc. indicam que o Walkman foi somente o início de um tipo de tecnologia de reprodutibilidade que contemporaneamente se exacerba em redes de distribuição de conteúdos A televisão, por exemplo, liberta-se das restrições dos canais em rede aberta, chegando a grades de programação que se multiplicam nos inúmeros canais pagos. O “lar privatizado”, ao qual Williams (2011 [1974]) se refere em Television, insere-se num processo de “privatização móvel”, em que a casa passa a ser o lugar para onde convergem os meios tecnológicos, que ali atuam como aparelhos (eletro)domésticos.

7 Benjamin, W. “A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica” in Adorno et al. Teoria da Cultura de Massa. São Paulo: Paz e Terra, 2000: 221-254.

Entretanto, esta ‘privatização móvel’ começa a se transformar a partir do momento em que as novas plataformas digitais, especialmente as miniaturizadas, passam a permitir a privatização de novos ambientes. A possibilidade de se assistir televisão em casa deixa de ser a única alternativa de contato do indivíduo com um mundo distante da sua realidade cotidiana. Tanto o ambiente doméstico quanto a televisão perdem a sua condição singular (Campanella, 2008: 4-5).

O significado dessas mudanças de ordem tecnológica não pode ser subestimado na esfera do consumo, sobretudo nos estudos de recepção, especialmente porque mais do que a incorporação de novas tecnologias, tais transformações influenciaram as habilidades dos receptores, agora aptos para a criação de conteúdos e capazes de transitar em diversas plataformas.

O consumo é o eixo do circuito da cultura onde se completa a produção de sentidos, através do “conjunto de processos socioculturais em que se realizam a apropriação e os usos dos produtos” (Canclini, 1999: 77). O consumo se dá no plano da partilha de significados atribuídos a bens, produtos e serviços pelos membros de uma sociedade, onde possuir um computador “de última geração” ou a assinatura de um sistema de canais de televisão paga se torna um elemento de distinção social, pois, “no consumo se constrói parte da racionalidade integrativa e comunicativa de uma sociedade” (Canclini, 1999: 80 - grifo do autor).

Sob o ponto de vista dessa “racionalidade comunicativa”, é possível situar o consumo como uma atividade dos atores sociais que não se restringe à decodificação específica de uma mensagem emitida. Trata-se, portanto, de despojar-se da necessidade de entender “as audiências”, pois o que conta é “o engajamento intelectual, crítico e contínuo, com as variadas formas pelas quais somos constituídos através do consumo da mídia” (ANG, 1996: 52)

Entretanto, se os estudos de recepção ainda são relativamente recentes − o boom desse tipo de pesquisa se dá nos anos 1980, sob a premissa dos EC de que as mensagens dos meios são formas culturais abertas e de que a audiência é composta por agentes produtores de sentido −, contemporaneamente há outros vértices a problematizar este tipo de pesquisa.

Natansohn (2008: 7) aponta dois problemas para a pesquisa de recepção no meio internet, que solicitam um tipo de revisão ou adaptação dos marcos analíticos deste tipo de investigação sob a rubrica dos EC, já que surgiram à sombra das mídias de massa, como a rádio e a TV. Em primeiro lugar, a autora indica que a distância irredutível entre as instâncias de produção e consumo hoje se relativiza pela “capacidade de autopublicação, a escrita colaborativa e o jornalismo participativo [...] propiciado nas redes telemáticas”. Em segundo lugar, ela sinaliza a profunda alteração da ideia clássica de “público massivo”, no âmbito da internet, uma vez que “a relação entre receptores e meio se personaliza: fala-se de “interação pessoa-computador” e já não de meios-públicos” (Natansohn, 2008: 7).

A internet convoca a participação dos sujeitos de uma forma que está além da mera atuação como produtores de sentido e, por isso, apontamos a necessidade de incluir uma problematização sobre: tecnologia/protagonismo dos sujeitos. Isso porque, se de um lado, o desejo de participação da esfera da recepção/consumo na instância produtiva não é novo — Meyer (2005) conta que aos autores de folhetins chegavam cartas de leitores com sugestões de toda ordem, da volta de personagens a mudanças no enredo — de outro lado, a partir das redes sociais, mais do que indivíduos ativos no consumo das mídias, os receptores vêm se tornando produtores de conteúdos em potencial. No microblog Twitter, por exemplo, ao comentar e discutir assuntos relativos à telenovela Avenida Brasil8, os discursos dos receptores assumem um caráter de divulgação.

8 A telenovela Avenida Brasil foi produzida e exibida pela Rede Globo de Televisão de 26 de março de 2012 a 19 de outubro de 2012.

O circuito da cultura: um modo de análise das recolonizações de modos de ser no contexto da televisão brasileira contemporânea || Ana Carolina Damboriarena Escosteguy, Ana Luiza Coiro Moraes & Flavi Ferreira Lisbôa Filho

As Redes Sociais funcionam, de fato, como uma “camada” das mídias tradicionais - inclusive a TV – e, no caso da telenovela Avenida Brasil, isso parte de uma autoorganização por parte dos usuários e não por parte da emissora. [...]A hashtag #AvenidaBrasil chega a ficar entre os tópicos mais falados do Twitter quase todos os dias e quando não é a hashtag contendo o nome da novela, são os nomes dos personagens que estão em voga. (Santos & Coiro Moraes, 2012: 205)

A telenovela teve 7 mil menções no Twitter, em apenas 24 horas9. Na coleta de dados (30 postagens no Twitter com a hashtag #AvenidaBrasil, em um mês de observação), as autoras perceberam um padrão de comportamento e repetição nos tweets entre os usuários, que levou a três categorias: críticos, humorísticos e de divulgação/elogios. Exemplo de tweet crítico foi “Já é meia-noite e a maldita tag #AvenidaBrasil não sai dos TTs. >(“; de humorístico, “Essa Carminha é mais falsa do que “boa sorte” de professor na prova ou o “ficou lindo em você” da vendedora! #AvenidaBrasil”; e de divulgação/elogios, “#AvenidaBrasil hoje foi emocionante, cada vez melhor...”Esses tweets geram divulgação, pois outras pessoas retweetam as postagens e as comentam, seja para criticar, elogiar ou apenas concordar. As postagens sob a hashtag #AvenidaBrasil se tornam uma forma de obter visibilidade e, assim, aumentar o capital social dos sujeitos que, de meros interlocutores do autor se transformam em protagonistas de um discurso cujo teor, entretanto, não difere muito das cartas de leitores de folhetins. Isto é, o advento da tecnologia altera o próprio estatuto da recepção, mas parece não dar passos muito largos com relação aos modos de ser dos sujeitos.

Assim, resumindo este esforço de através do circuito da cultura de Du Gay et al. (1997) organizar um protocolo analítico para a televisão, esboça-se na Figura 2, abaixo, a proposta do circuito trabalhado pelas instâncias aqui elencadas, com a ressalva de que se trata tão somente de um exercício, já que o processo analítico é determinado pelos particulares objetos de estudo de cada pesquisa.

↗Condições/ meios de produção

→Análise textual ↘ Tecnologia

Figura 2 – O circuito da cultura para mídias audiovisuais

Fonte: a autora

IDENTIDADE

Regional

REPRESENTAÇÃO↔Estereótipos PRODUÇÃO

CONSUMO↔Recepção ↓↓

REGULAÇÃO↔Desregulação e Retomada da regulação

↕Tecnologia ↔ Protagonismo dos sujeitos

Considerações Finais

Ainda que os dois exemplos apresentados explorem distintas facetas do circuito da cultura proposto por Du Gay et al, e não estejam completamente descritos, o que se pretende aqui destacar é que a pesquisa em televisão ganharia em amplitude e complexidade se assumisse protocolos analíticos que integram diferentes elementos – produtores, representações, tecnologias, receptores/

9 O site UOL Televisão cita pesquisa da empresa Seekr de monitoramento em redes sociais. Disponível em <http://televisao.uol. com.br/colunas/flavio-ricco/2012/08/14/avenida-brasil-e-um-grande-sucesso-nas-redessociaishtm>

consumidores – e momentos – produção, circulação, recepção, consumo. Nessa direção, a proposta esboçada avança em relação a trabalho anterior de identificação de outros protocolos analíticos que sugerem essa mesma intenção (Escosteguy, 2007). Em primeiro lugar, porque explora outra proposição analítica apenas indicada naquele momento. Em segundo, porque explicita a incorporação de diferentes tecnologias que, hoje, estão vinculadas umbilicalmente nos variados circuitos culturais o que, por sua vez, tensiona a tradição dos estudos de recepção. E, por último, porque mediante a análise de representações se reitera a profunda associação entre mídia e formação de identidades e, portanto, a regulação pela cultura dos modos de ser. De toda maneira, o que fica em evidência entre ambas as propostas é o papel crucial da dimensão simbólica que se espraia e constitui os distintos momentos do circuito da cultura/comunicação.

No plano específico das pesquisas relatadas, percebemos, de um lado, nas representações do gaúcho na televisão o uso continuado de estereótipos, orientando a um tipo de identidade regional socialmente aceita e, de outro lado, no uso da tecnologia por parte dos receptores de telenovela, a reiteração de hábitos e discursos antigos. De modo geral, os dois exemplos revelam que apenas se deu uma realocação do lugar onde se dá a manifestação de um tipo de recolonização de modos de ser dos sujeitos.

Referências Bibliográficas

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Canclini, N. (1999 [1995]). Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro: Editora UFRJ.

Du Gay et al. (1997). Doing Cultural Studies: The Story of the Sony Walkman. London: Sage.

Eecosteguy, A. (2007). “Circuitos de cultura/circuitos de comunicação: um protocolo analítico de integração da produção e recepção” in Revista Comunicação, Mídia e Consumo: São Paulo, 4 (11), pp. 115-135.

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Lisbôa Filho, F. (2013). Mídia Regional: formatos da gauchidade televisual no Galpão Crioulo (tese doutorado). [Url:http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_ action=&co_obra=158176, acedido em 10/11/2013].

O circuito da cultura: um modo de análise das recolonizações de modos de ser no contexto da televisão brasileira contemporânea

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