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Quadro 2: Inventários de ex-escravos e bens deixados como herança (1863-1888) (Fonte: Arquivo Judiciário do

Estado de Sergipe (AJES)).

*Obs: Parcelas recebidas em doação via testamentos “post mortem” dos (as) senhores (as) e localizadas em terras dos

benfeitores.

Situações como as mostradas acima confirmam a posse da terra e a formação do pecúlio pelo cativo ou ex-cativo, o qual podia ser transmitido aos herdeiros ascendentes e descendentes, bem como a qualquer pessoa que ele achasse merecer o recebimento dos seus bens via inventário “post mortem”, conforme a Lei Imperial 204, art. 4º. inciso 1; Regimento 5135, art. 59.

Em geral, o inventário consiste numa relação exaustiva dos bens móveis e imóveis existentes e pertencentes a uma determinada pessoa. Para a sua elaboração,

requiere la presencia de un notario para que certifique que los bienes relacionados son efectivamente 1 Cartório de Lagarto – CLG 1º ofício – Inventário – Cx 01 nº 1089 (1888).

Doações testamentárias de terras a escravos e ex-escravos de Sergipe, Nordeste do Brasil, entre os séculos XVII e XIX || Hortência de Abreu Gonçalves, Lilian de Lins Wanderley & Carmen Lúcia Neves do Amaral Costa

los que se encuentran en ese lugar en ese determinado momento. Los inventarios se realizan por diversas causas siempre relacionadas con la custodia o con la transmisión de los bienes que se mencionan, es decir con la posesión y la propiedad de los mismos. Generalmente se producen tras la muerte de un individuo y se efectúan para preservar los derechos que sobre los bienes del difunto tienen sus descendientes frente a los que tiene el cónyuge superviviente u otros terceros. Puesto que se realiza tras la muerte de uno de los cónyuges se le denomina inventario ‘post mortem’2 (Gracia, 1999: 2.).

Na motivação para essas doações de glebas a escravos e ex-escravos predominou o fato dos agraciados terem manifestado, na relação senhor-escravo, bom comportamento, fidelidade, prestação de bons serviços e, em muitos casos, serem filhos(as) fora do casamento que, no momento da proximidade da morte dos seus senhores, foram reconhecidos(as) e instituídos(as) nos remanescentes da terça ou até como herdeiros(as) universais.

3. Conclusão

A categoria dos homens e mulheres livres é bastante significativa para o rompimento da estrutura escravista, agindo com dissolvente das relações de produção regidas pelo trabalho escravo. Os testamentos e os Livros de Notas cartoriais atestam a frequência das Cartas de Liberdade “concedidas aos escravos por seus senhores. Livres, ex-escravos mantiveram-se nas propriedades dos seus antigos senhores ou procuraram novas oportunidades em outras fazendas [ou engenhos], com opções ocupacionais variadas” (Almeida, 1984: 17). Muitas vezes, esses escravos alforriados, por não terem outros locais para viver, se agregaram ao engenho, vivendo das pequenas glebas recebidas por doação dos seus senhores.

Ao longo do tempo, essas doações acabaram por consolidar um segmento produtivo justaposto ou periférico às terras mais valorizadas da propriedade dos senhores de engenho ou fazendeiros, incumbidos da chamada lavoura de subsistência, onde se associava a manutenção do núcleo familiar com o excedente comercializável.

Esse segmento produtivo, levado à frente por pessoas livres ou não, constituiu um conjunto sem ordenação e sem outros mecanismos de controle pelos setores dominantes que não fossem a cooptação ou a coerção. A documentação estudada demonstra a presença de escravos e ex-escravos que receberam esmolas em dinheiro para compra de alforrias e sustento próprio, situação que em muitos casos, contribuiu para o acesso fácil à terra. A partir dos anos 1850 (séc. XIX), alguns condicionantes pressionaram o homem livre a buscar trabalho contínuo e remunerado, dentre eles:

1. o crescimento vegetativo do grupo livre;

2. a menor disponibilidade de terras a serem ocupadas na província;

3. o fracionamento das propriedades de engenho impedindo ao senhor utilizar quinhões de terra como retribuição de serviços;

4. a maior procura de trabalhadores alternativos, na falta de boa parte de mão-de-obra escrava; 5. a valorização do dinheiro, com o crescimento do consumo de objetos que a industria inglesa

difunde por toda parte (Almeida, 1984: 242).

Nessa vertente, o trabalho assalariado passa a ser uma alternativa, diante da Lei de extinção do

2 “requer a presença de um notário para que certifique se os bend relacionados são efetivamente os que se encontram nesse lugar nesse determinado momento. Os investários se realizam por diversas causas sempre relacionadas com uma custódia ou com a transmissão dos bens que se mencionam, e decide a posse e a transmissão dos mesmos. Geralmente ocorre após a morte do indivíduo e se efetuam para preservar os direitos que sobre os bens do defunto tem seus descendentes. Frente aos que tem o cônjuge sobrevivente ou terceiros. Pois que se realiza após a morte de um dos cônjuges e por isso se denomina inventário ‘post mortem’” (Gracia, 1999: 2).

tráfico negro, Lei Eusébio de Queirós (1850) e da Lei do Ventre Livre (1871), com uma nova concepção do trabalho, pesando sobre este a responsabilidade da confiança e dedicação ao senhor–patrão. Esse fato remete a uma situação atual, quando o pequeno produtor necessita de complementar seus ganhos e durante certas fases do ano trabalha em outras propriedades como assalariado. Especialmente, quando a sua gleba se acha encravada em propriedades maiores, principalmente engenhos, terminando por prestar serviços nesses estabelecimentos, para obter ganhos maiores ou suprir as fases da entressafra agrícola.

Referências Bibliográficas

Almeida, M. (1993). Nordeste açucareiro (1840-1875): desafios num processo de vir-a-ser capitalista. Sergipe no século XIX. Aracaju: UFS/Secretaria do Planejamento - BANESE.

______. (1984). Sergipe: fundamentos de uma economia dependente. Petrópolis, RJ: Vozes. Gonçalves, H. (2007). Doações testamentárias e sua relação com a formação do espaço rural de Sergipe no período de 1780-1850. Doutorado em Geografia, UFS. Aracaju: UFS.

______. (2001). Sergipe entre os anos de 1780 e 1855: a relação campo-cidade na formação do território. Mestrado em Geografia, UFS. Aracaju: UFS.

______. (1994). As cartas de alforria e a religiosidade. Sergipe (1780 - 1850). Aracaju: UFS. Mestrado em Sociologia, UFS.

Gracia, M. (1999). “Lector, lecturas, bibliotecas...: el inventario como fuente para su investigación histórica” in Anales de Documentación, nº 2. Zaragoza: Universidade de Zaragoza. [Url:http://www. um.es/fccd/anales/ad02/AD09-1999.PDF, acedido em 20/12/2006].

Resumo: Este trabalho apresenta dados de uma pesquisa

etnográfica que teve como lócus a pequena cidade de Bananal (pouco mais de 11 mil habitantes), localizada no Vale do Paraíba no Estado de São Paulo – Brasil. Historicamente, Bananal se consagrou como uma das principais produtoras de café no século XIX, na região leste do Estado paulista. Inicialmente a pesquisa investigou entre os estudantes locais o imaginário popular sobre um personagem característico do “folclore” no país: o Saci. Os pesquisadores perceberam que para além dos muros da escola local, havia memórias, músicas e danças que são característicos de populações negras trazidas através da diáspora africana. Essas populações trouxeram padrões culturais fundamentais para a compreensão da cosmogonia nesta pequena comunidade, cercada pelas exuberantes paisagens de Mata Atlântica da Serra da Bocaina. Bananal está situada no Vale Histórico do Rio Paraíba do Sul, que ainda hoje preserva as marcas da cultura tradicional e dominante de um Brasil caracterizado como “oitocentista”, tanto pela arquitetura neoclássica de seus casarões, como por costumes ou manifestações culturais que ainda permanecem na memória de seus habitantes, tais como: o Jongo – um estilo musical que pode- se identificar como música da diáspora, devido a particularidade da antifonia do canto. Este cenário de Bananal foi ideal para partir da história oral, reconstruir as memórias da comunidade, do Jongo e da história dos negros no Brasil, sem esquecer a condição precária do sistema escolar público utilizado por estes grupos sociais em sua formação inicial.

Palavras-Chave: Memória Social – História Afrobrasileira

– Escola Pública

Introdução:

Esta pesquisa, feita através de observação direta e contato próximo com os sujeitos participantes, foi uma tentativa que venho perseguindo desde o mestrado: captar a força e a persistência da cultura negra (ou afrobrasileira) que permanece nas memórias de certos grupos sociais como marca de identidade.

O Brasil e a África Central Ocidental (devido ao transito de pessoas e ideias) desde o século XV cooperaram entre si através do Atlântico Negro ou do Eixo Atlântico Sul (Gilroy, 2001; Alencastro, 2000).

Além de compreender a função da escola na comunidade a pesquisa esteve atenta à formação de ideologias, do processo cultural e as consciências. O dia-a-dia na escola demonstra um cotidiano escolar regularizado/burocratizado que ao invés de trabalhar na sua plena qualidade tem por finalidade criar um

A história Escolar

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