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O paradoxo da segurança nacional versus segurança pública

Roes Dalmolin

4. O paradoxo da segurança nacional versus segurança pública

Foi, portanto, na elaboração do artigo referido que começamos a apontar para o que posteriormente reconhecemos como o paradoxo resultante da confusa cobertura de temas imbricados em segurança nacional versus segurança pública. Se a herança dos “anos de chumbo” ainda mantém ranços ideológicos que não permitem seu discernimento, de outro lado, conforme apontaria Alberto Pfeifer (2010: 510 ) para o caso do México (e que nos afeta por óbvia derivação do influxo globalizante das agências de notícia), não se teria permitido o pleno desentranhamento de suas distinções, levando a que o noticiário se faça refém da superposição dessas duas dimensões, tanto quanto em consequência do escasso debate político no tema.

Daí surge nossa hipótese de que a cobertura jornalística sobre as periferias nacionais abriga a dialética dos confrontos contemporâneos dispostos entre as dimensões de segurança nacional versus segurança pública. A observância de tal dialética engendra, por parte da cobertura jornalística, a cobrança de ações de projeção de poder do Estado brasileiro em suas periferias - Fronteiras Internacionais, Favelas e Amazônia Legal.

Os resultados obtidos e expostos nos artigos referidos permitem confirmar a hipótese de trabalho de que a incidência do agenciamento e da noticiabilidade sobre as periferias as mantém numa condição discursiva ambígua, enquadrando indiscriminadamente seus acontecimentos como dispositivos panópticos que alertam continuamente a comunidade nacional/local para seus perigos através da ambivalência na cobertura jornalística. O aspecto de enquadramento como alarme de incêndio ainda se encontra em análise num último artigo em produção com base nos dados empíricos selecionados.

O projeto de pesquisa encaixa-se na linha de pesquisa do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria, intitulada Mídia e identidades contemporâneas, na medida em que pensa a singularidade e a diferença num contexto globalizado. As questões atinentes a noções emergentes como identidades situacionais ou posicionais (os sacoleiros que trafegam pelas fronteiras internacionais e muitas vezes são tomados como contrabandistas), a hibridização cultural (as periferias), as fronteiras e o Estado-nação, imersos no contexto que Homi Bhabha (1990, p 291) aponta a partir do contínuo deslizar de categorias como sexualidade, classe social, paranoia territorial ou diferenças culturais, constituem um universo de questões palpitantes, para as quais a institucionalidade não contém respostas.

Com relação aos resultados obtidos no trajeto de pesquisa, eles podem ser sumariamente apontados como consistindo:

— Na discursivização da realidade das periferias, antes que representação de uma realidade insustentável e precária que se faz expressiva das ambiguidades contidas neste início de sociedade global;

— Na realidade cotidiana das periferias quando privada da lente que amplia o sentido dado pela perspectiva internacional e que não tem atrativo para grande parte do noticiário, à exceção de certas atividades artísticas de mercado consumidor amplo e assegurado;

— Na incidência dos olhares colonial, burocrático e pós-moderno instaurando-se ao modo de devorações do outro;

— Na armadilha da ambivalência significacional conduzindo ao constrangimento de um imaginário policêntrico e que se encontra segregado;

— Na vingança da ambivalência significacional que não é construída como portadora de atrativos para grande parte do noticiário, a não ser como faits divers;

— No alinhamento periférico de Fronteiras Internacionais e Favelas, ao qual adicionou-se a Amazônia Legal;

O condomínio sul-americano: Inserção colonial e cobertura jornalística da mídia de referência brasileira || Ada Cristina Machado Silveira, Isabel Padilha Guimarães & Aline Roes Dalmolin

— Na ambivalência significacional incidindo discursivamente em processos tão distintos como o de segurança pública, de identificação e reconhecimento de si ou das relações internacionais.

Tais resultados sustentam a proposição de ampliação da proposta de investigação do projeto de pesquisa como desdobramento de um anterior.

Referências Bibliográficas

Bauman, Z. (2002). A sociedade sitiada. Lisboa: Instituto Piaget.

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Jameson, F. (1995). Espaço e imagem. Rio de Janeiro: UFRJ.

Losano-Rendón, J. C.; […et al]. (2000). “Informational news in the Latin American press”. In: Malek, A.; Kavoori, A. (Orgs.). The global dynamicsof news. Studies in international news cover and news agenda. Westport (EUA):Greenwood, pp. 190-215.

Rebelo, A. (2010) Soberania e intervenção em questões ambientais. Rio de Janeiro: FGV, pp. 192-204.

Silveira, A. (2012). A cobertura jornalística de fronteiriços e favelados. Narrativas securitárias e imunização contra a diferença. São Paulo, v.35, pp. 75-92.

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_____. (2008). Ambivalência entre fronteiras e favelas na cobertura jornalística sobre periferias. Brasília.

de sanções. Um estudo dos discursos da imprensa internacional permite identificar um novo tipo de colonização dos países do Sul pelos países do Norte. Nestes discursos, antevemos uma nova ordem simbólica da crise financeira. Uma ordem que dita os modos de dizer, de pensar e de agir para sair da crise. Uma ordem que se alimenta do imaginário prometeico e que pensa dominar o mal, o perigo, o imprevisto, a queda, opondo-lhe antíteses, como o bem, a segurança, a antecipação, o progresso, o crescimento, o pleno emprego. A identificação de monstros, doenças, e a projeção em metáforas da sua encarnação constitui o prelúdio de uma luta contra o mal, um mal que adota um rosto humano: os países do Sul, que viveram para além das suas possibilidades, que consumiram em vez de produzir, que gastaram em vez de poupar e que ficam submetidos ao reembolso desvantajoso de resgates ou planos de ajudas que atuam como forma de punição e de expiação.

Palavras-chave: Crise; Colonização; Preconceitos;

Rumores; Dominação.

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