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ANÁLISE ENTREVISTA PROFESSOR QUATRO

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CAPÍTULO III ANÁLISES DAS ENTREVISTAS

3.2 ANÁLISES INDIVIDUAIS DOS PROFESSORES

3.2.4 ANÁLISE ENTREVISTA PROFESSOR QUATRO

A concepção de formação humana para este professor divide-se em duas dimensões: a teórica e a prática. Na dimensão teórica a

Formação humana só é possível a partir da tentativa de desenvolver no aluno uma formação crítica. Crítica no sentido do aluno ser capaz, competente de estabelecer os limites da

realidade. E de enunciar propostas a partir da concepção teórica, a partir da visão teórica, de transformações dessa mesma realidade.

Na dimensão da prática ele entende que a missão da universidade não é uma missão “utilitarista”:

Eu não estou aqui para ensinar o aluno a fazer algo em pedagogia, eu não me vejo dessa forma, não vou ensiná-lo a fazer um plano, não vou ensiná-lo a fazer avaliação. Quando eu penso na perspectiva prática, eu penso na perspectiva da aplicação da teoria na prática, mas nesse sentido que eu coloquei, de compreensão e de transformação a partir dessa ação reflexiva do aluno.

Para ele, a prática não se limita ao fazer do professor, mas também em uma ação social: “E quando eu penso na prática, eu não estou pensando só na prática docente, estou pensando na prática social que inclui a prática docente”.

Em seu trabalho docente, a formação humana se caracteriza nos “bons resultados”, que ele divide em grupos: um grupo de uns setenta por cento que consegue perceber que “há uma forma diferente de olhar a escola e não passa disso”. Uma outra parcela, uns cinco por cento,

Que desenvolvem efetivamente um posicionamento favorável a uma mudança de perspectiva de se olhar a escola”, e o outro grupo em torno de uns vinte por cento que não tem compromisso nenhum com absolutamente nada.

Segundo esse professor, existem disciplinas que seriam os “fundamentos, a base, os alicerces”. Essas disciplinas são: a sociologia, a antropologia, a filosofia e a história. Na presença desses fundamentos, seria possível trabalhar a formação humana tanto especificamente nelas, como de uma maneira transversal no curso, embora a transversalidade ou a interdisciplinaridade seja muito difícil de acontecer, por que não há tempo para os professores “se articularem para fazer isso”. Ele considera que as novas diretrizes curriculares reduziram muito a carga horária desses fundamentos, que têm um papel fundamental no desenvolvimento da

“postura humanista do aluno”. Por conta disto, o currículo do curso de pedagogia está “lastimável”, pois os fundamentos estão “desaparecendo dos cursos”.

Um outro problema que ele vê na universidade contemporânea, é que existe pouca possibilidade de se desenvolver o potencial crítico dos alunos coletivamente, de discutir essa perspectiva de curso entre o corpo docente:

Então se você pensa o aluno como resultado de um trabalho coletivo, você acaba ficando isolado num trabalho individual de formação, acreditando ingenuamente que você sozinho vai formar esse aluno, e isso não é assim, ele é resultado da ação de todos nós, de todos os professores.

As habilitações que o curso oferece também são vistas como um problema para ele:

Duas habilitações, que é gestão escolar e a docência, que em três anos é impossível você ter uma formação adequada dessas duas habilitações. Por mais boa vontade que tenha a instituição, os professores, por que vai depender muito do aluno.

Este professor considera que no curso de pedagogia há uma preocupação da formação humanista no corpo docente de uma forma generalizada, no entanto, existem diferentes concepções do que seria a formação humana:

O problema é: que concepção de humanismo é esse. Eu acho que essa é a discussão. O que cada professor entende por humanismo. Humanismo é você tornar o professor competente na perspectiva do Perrenoud, por exemplo? Então você vai discutir as competências com o professor, isso é humanismo? Tem professores que entendem que sim, que a função da escola é transmitir o conhecimento de uma determinada forma que através dela, será possível você fazer a transformação social. Na concepção dele, ele está tendo uma posição humanista, de transmitir uma técnica. Eu acho que é isso que você está tentando apurar, ou seja, qual é a visão que os professores têm a respeito disso.

O Professor Quatro acredita que as universidades se preocupam com a formação humana, que há nos gestores a “clara intenção em fazer essa formação”, no entanto, a “configuração dos cursos empurra em uma direção contrária”. O

“discurso está presente”, mas a sua efetivação se dá em função da “iniciativa própria, individual de cada professor”.

Por um outro lado, os alunos querem um “curso profissionalizante com a menor duração possível”.

A instituição me parece que até no atual currículo, ela caminhava como que em uma corda bamba. Então nem lá, nem cá. Ela tentava dar um pouco dessa formação básica dos fundamentos, sem deixar de lado a formação mais prática, mais técnica”... “A partir do próximo ano, com as mudanças das diretrizes, vai ser um curso eminentemente técnico, por isso, para mim, é o Normal Superior. É a formação de professores sem a preocupação prática de formar esse aluno criticamente, dar para ele uma visão crítica, não há mais essa preocupação, ou não haverá mais essa preocupação.

Em sua disciplina, ele tenta contribuir para o desenvolvimento do espírito científico, levando o aluno à prática da pesquisa de campo e da pesquisa bibliográfica:

Eles vão para a escola, vão levantar as práticas docentes, eu sempre faço esse trabalho”. “Atualmente eles fazem uma pesquisa, eu oriento a pesquisa bibliográfica, uma revisão bibliográfica.

Em sua avaliação, este professor considera a formação humana baseado na capacidade que o aluno tem de articular o que foi trabalhado ao longo do semestre, e como ele consegue relacionar esses elementos fazendo com que isso se reflita em sua análise da realidade, isto é, como ele articula uma coisa com a outra:

Na medida em que você vai articulando isso, e o aluno é obrigado a fazer uma relação entre esses elementos e que ele consegue olhar esses elementos e apontar quais são os limites, as possibilidades, o quê que ele vai encontrar na realidade, eu entendo que aí sim ele está conseguindo desenvolver esse espírito crítico, essa visão humanista da realidade. É basicamente isso que eu levo em consideração quando eu vou olhar o resultado de uma avaliação.

Na análise desse professor, os alunos confundem formação humana com “amor”. Essa confusão se dá “por conta da influência da mídia e das editoras” na divulgação de certos autores que ele classifica como “não críticos”.

Então você tem uma dezena de autores que caíram na graça das editoras, são autores que vendem muito, e esses autores têm uma entrada muito forte. Na minha forma de ver, os alunos identificam uma formação humanista, com a adoção e o discurso desses autores. Um exemplo mais clássico e mais forte é o Paulo Freire. O exemplo mais top de linha, mas tem outros, dezenas de autores, passando pela auto-ajuda, autores que tratam a educação como se fosse questão de você trabalhar com seus filhos dentro de casa e então passa por aí. A minha visão de como os alunos vêm essa questão é essa.

Para este professor, um curso ideal deveria oferecer somente uma habilitação e ter a duração de quatro anos. As demais habilitações seriam na pós-graduação ou especialização. Deveria conter um conjunto de disciplinas técnicas, para instrumentalizar o aluno em sua prática, outro conjunto de disciplinas que preparassem o aluno para a pesquisa, para a formação científica, e finalmente os “fundamentos”. “Os fundamentos, na minha concepção, são a pedra de toque para você formar um aluno capaz de ter além de uma atuação técnica, uma atuação humana”.

Para ele, o que é possível realizar no momento é uma articulação com o maior número de professores possível para se discutir questões críticas como organização do curso, possibilidades e os textos.

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