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A UNIVERSIDADE A PARTIR DA LEI 5.540/68

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CAPÍTULO II A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE UNIVERSIDADE NO BRASIL

2.5 A UNIVERSIDADE A PARTIR DA LEI 5.540/68

Após o Golpe Militar em 1964, as primeiras medidas tomadas pelo novo governo com relação à universidade, foram em geral, ações repressivas como demissão e perseguição a professores e alunos, e tentativas de desarticulações dos movimentos e entidades estudantis, que realizavam movimentos e manifestações contra o regime. Mas, à medida que os movimentos estudantis ressurgiam, as forças armadas preparavam ações para superar esse problema político.

Da idéia de que o estudante que trabalha não tem tempo para se engajar em movimentos subversivos, surgiram os Centros de Integração Empresa-Escola, primeiro em São Paulo e depois em outros estados. Criados por empresários, os CIE-ES tinham como objetivo levar às empresas a contribuição teórica dos estudantes, e às escolas superiores o espírito prático das empresas.

Outro movimento desse processo foi a extensão universitária, na qual a universidade deveria colocar seus recursos materiais, humanos e de pesquisa à serviço da comunidade. O Centro Rural Universitário de Treinamento e Ação Comunitária – CRUTAC- e o Projeto Rondon, foram dois empreendimentos desse movimento.

Na década de 60 uma doutrina sistemática sobre a reforma universitária no Brasil criou forma, passando a responder aos antigos anseios de superação do

modelo napoleônico do ensino universitário instaurado no país, voltado para a profissionalização.

Segundo Cunha:

Essa doutrina teve suporte institucional no Conselho Federal de Educação e suporte político no regime autoritário resultante do golpe de Estado de 1964. Foi naqueles pensadores alemães que a doutrina da reforma universitária buscou seus fundamentos. A despeito da critica que nessa doutrina se fazia à concepção humboldtiana da faculdade de filosofia, a matriz filosófica do idealismo alemão, com sua ambigüidade liberal/autoritária, prestava-se admiravelmente bem para expressar o projeto político dos novos detentores do poder para a reforma da crítica universidade brasileira. (1988, p. 17).

A idéia dos pensadores alemães tratava de realizar na prática a Idéia de Universidade, embora a concepção ideal de universidade variasse entre a manifestação diversa do saber uno e a totalização sistemática do saber diverso, e com marcas liberais ou autoritárias.

Foi instituído um grupo de trabalho para elaborar um projeto de lei para a reforma universitária. A composição heterogênea deste grupo de trabalho (GT), que abrangia pessoas de formação filosófica e idealista, e também pessoas de formação economista e tecnicista, criou uma concepção dual de universidade.

De um lado, a universidade foi definida como uma “obra do espírito”. Nessa concepção, a universidade se constituiria a “partir de uma vontade e de um espírito originários de seu próprio ser”, e voltada para a “plasmação do futuro”.

Do outro lado, definiu-se a universidade como um dos fatores essenciais do processo de desenvolvimento que seria um pré-investimento no

Processo racional de construção da nova sociedade através da transformação global e qualitativa de suas estruturas, visando à promoção do homem na plenitude de suas dimensões. Esse papel a universidade o desempenharia pela criação do “know- how” indispensável à expansão da indústria nacional e pelo oferecimento de um “produto universitário amplamente diversificado e capaz de satisfazer às solicitações de um mercado de trabalho cada vez mais diferenciado (Cunha, 1988. p. 243).

No que se refere à pesquisa, o grupo assumiu uma posição mais conservadora. A razão desse conservadorismo poderia ser que, já que a graduação estava sendo invadida por uma legião de jovens que deteriorava a qualidade do ensino, a pós-graduação deveria ser preservada para garantir sua qualidade ficando então, a pesquisa científica a cargo da iniciativa do Governo Federal.

A reforma universitária deu-se através da Lei n. 5540/68 que criou os departamentos, o sistema de créditos, o vestibular classificatório, os cursos de curta duração, o clico básico, entre outras inovações.

Essa lei estabeleceu necessidade da indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão, o regime de tempo integral para os professores e a dedicação exclusiva, valorizando a titulação e a produção científica.

Para Cunha, em sua busca pelas determinações do ensino superior, existe a subordinação da universidade à empresa capitalista:

Não a imediata e visível subordinação financeira, que tanto se temia. Mais profundamente a dominância – melhor diria, com Antonio Gramsci, hegemonia – que as práticas do “americanismo”, próprias da grande indústria, passaram a ter nela: a organização e a avaliação da universidade em função da produtividade, da “organização racional do trabalho” e das linhas de comando, conceitos essenciais às doutrinas de Frederick Taylor e Henry Fayol.(1988, p. 19).

Devido ao intenso crescimento do ensino privado, considerou-se que o ensino superior seria ministrado em universidades e também em estabelecimentos isolados, organizados como instituições de direito público ou privado.

A mais importante modificação, pela qual há muito tempo se lutava, foi a extinção da cátedra ou cadeira na organização do ensino superior.

As modificações do ensino Superior consagradas pela Lei, conduziram a uma expansão fragmentadora desse ensino, conduzida pelo setor privado que abriu e expandiu cursos propiciadores de altas taxas de lucro, tendo pouco ou nada a ver com a formação da força de trabalho para os setores dinâmicos da economia.

Para Cunha:

A modernização do ensino superior empreendida pela reforma universitária de 1968 destinava-se a colocar a universidade a serviço de uma nova força de trabalho requisitada pelo capital

monopolista organizado nas formas estatal e privada “multinacional” (1989, p.12).

O caráter do ensino privado foi de organizar suas atividades acadêmicas a partir da lógica do capitalismo e a formação de mão-de-obra requerida pelo regime político e econômico. Segundo Gianfaldoni (1997), o novo ensino privado rompe com uma característica de produção e transmissão de um saber crítico que era desenvolvido em algumas universidades. Este ensino colocava-se ao lado da proposta governamental para formação de recursos humanos que colaborassem para o “desenvolvimento com segurança”, que era a lógica do regime autoritário.

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