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O PERÍODO PÓS 30 OU ERA DE VARGAS

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CAPÍTULO II A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE UNIVERSIDADE NO BRASIL

2.3 O PERÍODO PÓS 30 OU ERA DE VARGAS

Após a instalação do governo provisório em 1930, inaugurou-se no campo educacional, a disputa entre duas correntes contrárias: a autoritária e a liberal.

O autoritarismo prevalecia no poder central, e as idéias liberais eram hegemônicas na sociedade civil. Embora a corrente autoritária promovesse o aumento do controle exercido pelo Estado sobre o ensino, contou com o apoio da Igreja Católica, que obteve a permissão para que os alunos da escola pública pudessem ter ensino religioso facultativo, fato que foi legitimado na Constituição de 1934.

Foi criado pelo Governo Provisório o Ministério da Educação e Saúde Pública, cujo titular Francisco de Campos elabora as reformas para o ensino, nos moldes centralizadores.

O Estatuto das Universidades Brasileiras de 1931 é fruto dessa reforma. A intenção era adaptar a educação escolar às diretrizes políticas e educacionais, cuja preocupação era criar e desenvolver um ensino mais adequado à modernização do país baseado na formação de elites e na capacitação para o trabalho.

A repressão generalizada a partir de 1935, retirou do cenário as idéias educacionais liberais, fazendo com que seus seguidores aderissem a uma nova ordem.

Nesse mesmo período foi elaborado o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova assinado por 26 educadores reconhecidos, dentre eles, Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira e Lourenço Filho. Nesse manifesto estavam idéias como democratização do ensino com abertura de oportunidades para todos os grupos sociais. Dizia que a educação superior não deveria limitar-se à profissionalização,

mas também formar cientistas, educadores, técnicos para buscar novas soluções para a sociedade em questões científicas, éticas, políticas e econômicas.

Em 1935 é encaminhado ao Poder Legislativo o Plano de Reorganização do Ministério da Educação e Saúde Pública. Nesse Plano elaborado pelo Poder Executivo, está a proposta de criação da Universidade do Brasil localizada no Distrito Federal. Essa universidade seria marcada pelo ser caráter nacional e freqüentada não só por estudantes da capital da República, mas também por estudantes de outros pontos do país. Em julho de 1937 é promulgada a lei que institui a Universidade do Brasil, sendo definido no artigo 1º da Lei no. 452 como “uma comunidade de professores e alunos consagrados aos estudos”.

A perspectiva de criação de uma universidade autônoma, produtora do saber desinteressado, formadora de indivíduos teórica e politicamente críticos, cultores da liberdade, também era a intenção de Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo, quando da criação dos projetos da Universidade do Distrito Federal em 1935 e da Universidade de São Paulo em 1940.

A Universidade do Distrito Federal estava voltada especialmente à renovação e ampliação da cultura e aos estudos desinteressados. Apesar da escassez de recursos econômicos, as atividades de pesquisas eram estimuladas com o apoio dos professores que eram adeptos desse tipo de educação. Essa iniciativa foi uma vitória do grupo de educadores liberais, liderados pelo próprio Anísio Teixeira, que era discípulo de John Dewey e defensor da escola pública, gratuita e leiga.

A igreja Católica foi fonte de crítica dessa universidade, pois temia que a influência negativa do liberalismo norte-americano, materialista, individualista e protestante prevalecesse sobre os valores humanistas e personalistas, considerados essenciais na cultura brasileira.

Teixeira, pelo seu posicionamento liberal, não encontrou apoio para sustentar o seu projeto, sendo extinta a Universidade do Distrito Federal quatro anos após a sua criação.

A Universidade de São Paulo teve o apoio do Governo do Estado para sua construção. Segundo Cunha (1986), “os objetivos de grande alcance da Universidade de São Paulo, eram políticos”. Liderada por Fernando de Azevedo e livre do controle direto do governo federal, foi uma tentativa desse estado

reconquistar a sua hegemonia política que exercera até a Revolução de 30, quando derrotadas no campo de batalha na insurreição das oligarquias paulistas.

O projeto da USP tinha como instrumento inovador, a colocação da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, como responsável pelos cursos básicos para os alunos das escolas superiores profissionais agregadas à Universidade. Tal faculdade contava com professores pesquisadores estrangeiros, principalmente da Europa.

A USP tornou-se o maior centro de pesquisas do Brasil, concretizando o ideal de seus fundadores.

Mas a elite paulista continuava a dar preferência aos cursos profissionais de Medicina, Engenharia e Direito, e apesar da alta qualificação do corpo docente, foi pequena a demanda pelos cursos oferecidos por essa instituição. Esse caráter integrador encontrou também resistências dentro da própria universidade, ao que comenta Ribeiro:

O ideal integrativo teve, entretanto, de ser abandonado devido à oposição das faculdades tradicionais (Direito, Medicina e Engenharia), rebeladas contra a idéia de confiar a formação básica de seus futuros estudantes a faculdades recém- nascidas onde era falado o francês (1978, p. 129).

Pode-se também observar que:

As medidas adotadas pelo Governo após a década de 30 revelam uma percepção da escola como instrumento capaz de assegurar a ideologia dos grupos dominantes e de preparar, ao menos intencionalmente, os que vão ocupar papéis ou funções na divisão social e técnica do trabalho (Fávero, 2000. p. 53).

O objetivo da burocracia do Estado era o de não só utilizar o sistema escolar como mecanismo de difusão da ideologia que o legitimava, mas também o de impedir que surgissem ideologias alternativas.

No auge das lutas entre as correntes liberais e autoritárias em 1934, que tinha no ensino religioso seu ponto mais nevrálgico, realizou-se no Rio de janeiro, o Congresso Católico de Educação. O tema de uma das comissões era a criação de

uma universidade católica, fato que ocorreu em 1940, com a autorização para funcionamento das Faculdades Católicas.

A primeira a ser criada foi a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em 1946. Surgiu a partir da Faculdade Livre de Filosofia e Letras de São Paulo, agregada à Universidade de Louvain, na Bélgica, com a união de mais cinco unidades.

Segundo o Estatuto de Fundação da PUCSP, alguns objetivos aparecem claramente: ensino, aprimoramento da educação do país, estimulação da investigação e da cultura religiosa, filosófica, literária, artística e científica. Propõe-se a contribuir para a formação da cultura superior, adaptada às realidades brasileiras. Informada pelos princípios cristãos e pelas diretrizes pontifícias, almejava contribuir para o desenvolvimento da solidariedade humana, especialmente no campo social e cultural, em defesa da civilização cristã.

O crescimento do ensino superior durante a primeira república, permitiu o aumento da proporção de estudantes oriundos das camadas médias, filhos de funcionários do Estado, de empresas particulares e profissionais liberais.

Houve então espaço para a criação da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1938. Com surgimento dessa entidade, surgiu também um projeto educacional para o ensino superior, contraditório com o da política educacional autoritária.

A proposta da UNE defendia a universidade aberta a todos; a diminuição da taxas de exame e de matrícula, as quais selecionavam os alunos pelo nível de renda, e não pela capacidade; a vigência nas universidades do exercício das liberdades de pensamento, de cátedra, de imprensa, de crítica e de tribuna, além do rompimento da dependência da universidade com o Estado, no que se refere à escolha do reitor e dos diretores.

Devido á influência da UNE, a orientação política da maioria dos estudantes, era contrária ao regime autoritário do Estado Novo, o que era combatido com a repressão policial.

Nas décadas seguintes, após a derrota do Estado Novo, e com os liberais assumindo o poder, o movimento dos estudantes, era o de fazer concretizar todas as reivindicações que estavam abandonadas no regime autoritário, e que viriam a se ampliar.

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