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A UNIVERSIDADE NA ABERTURA DEMOCRÁTICA

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CAPÍTULO II A CONSTRUÇÃO DE UM MODELO DE UNIVERSIDADE NO BRASIL

2.6 A UNIVERSIDADE NA ABERTURA DEMOCRÁTICA

A partir de 1985, com o Brasil sendo novamente governado por civis, consolidou-se o padrão de ensino superior que esteve em desenvolvimento e se acentuou a partir de 1964, ou seja, um sistema de ensino calcado num setor de massa privado.

As características desse modelo seriam: a rápida expansão envolvendo capital privado e a forma de atendimento à demanda, não havendo preocupação com a qualidade.

Em 1988, após a promulgação da nova constituição, iniciou-se a discussão sobre nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que resultou na aprovação da lei sob número 9.394/96.

A intenção inicial dessa reforma universitária que se consolidou na lei 9.394/96, era que o ensino superior fosse ministrado em universidades e só excepcionalmente em estabelecimentos isolados. O ocorrido, no entanto, a partir de 1970, foi uma expansão do sistema de ensino superior, em decorrência do grande aumento do setor privado.

Segundo Soares (2002), esta estrutura de ensino superior, configura, no Brasil, para o total de estabelecimentos apenas 15% de universidades. Este dado é importante para análise, pois a legislação estabelece a indissociação do ensino, da pesquisa e da extensão somente para as universidades.

A maioria dessas universidades são estabelecimentos públicos, que concentram o ensino de melhor qualidade, além de parte substancial de pesquisa e pós-graduação.

Segundo Sguissardi (2003), para a definição de um modelo de universidade predominante no Brasil, podem-se utilizar dois elementos: a associação ensino, pesquisa e extensão e, integração de um conjunto de unidades (faculdades, institutos, centros, etc.).

Para esta análise, será considerada a classificação como neo-napoleônica ou neo-humboltianas. Para a caracterização como neo-napoleônica considera-se indicadores como: ausência de estrutura de pesquisa e pós-graduação consolidada e reconhecida; maior parte do corpo docente em regime de tempo parcial, sem qualificação pós-graduada; isolamento das unidades; dedicação quase que exclusiva ao ensino; estrutura voltada para a formação de profissionais, etc.

Para a caracterização do modelo neo-humboltiano, considera-se: presença de estrutura e produção científica e de pós-graduação stricto sensu consolidada e reconhecida; maioria do corpo docente em regime de tempo integral e com qualificação pós-graduada; integração das unidades em torno de projetos comuns de ensino e pesquisa; associação de ensino, pesquisa e extensão em diferentes níveis; estrutura voltada para a formação de profissionais e também para a formação de pesquisadores na maioria das áreas do conhecimento.

Considerando esses indicadores, o que se pode afirmar é que está presente na estruturação do ensino superior no Brasil, uma dualidade ou superposição de modelos. Do ponto de vista quantitativo, ainda segundo Sguissardi (2003), o que predomina e continua se ampliando é o modelo neo-napoleônico, que remonta às escolas profissionais.

Após permanecer estagnada na década de 80, a demanda por ensino superior no Brasil, voltou a crescer nos últimos anos. Segundo Soares (2002) um dos indicadores desse aumento, é a progressão do número de candidatos inscritos no vestibular, que dobrou na última década, passando de 1.905.293 em 1990, para 3.826.293 em 2000.

Apesar do grande aumento no número de matrículas no período 1990/2000, que foi de 75%, grande parte dessa demanda não pode ser atendida, embora, se

considerarmos o total de vagas oferecidas pelos sistemas públicos e privados, existam vagas ociosas.

Segundo Soares:

Isso indica que a dificuldade de acesso a esse nível de educação não está apenas na incapacidade do sistema em absorver a demanda, mas está também associado ao baixo desempenho acadêmico dos alunos nas provas de seleção e à incapacidade dos mesmos de custearem seus estudos em escolas privadas (2002, p. 116).

Castanho (2001), ao referir-se à universidade, apresenta dois modelos contemporâneos que denominou de: modelo democrático-nacional-participativo e modelo neo-liberal-globalista-plurimodal.

O modelo democrático-nacional-participativo é definido da seguinte maneira: democrático no sentido da universidade definir-se como espaço de livre manifestação do espírito; nacional por se aglutinar em torno do Estado Nacional e participativo, pois na própria prática da vida universitária se formariam gerações capazes de compreender e empreender as mudanças necessárias ao desenvolvimento. Esses marcos refletem o próprio modelo de uma sociedade pós- recessão e pós-guerra, que necessitava desenvolver e progredir sua arrasada economia.

Nesse modelo de sociedade que configura no Estado forte, provedor e regulador da economia, tem-se nesse mesmo Estado o agente fundamental da educação superior numa posição publicista e não privatista. Este modelo, segundo o autor, está desgastado no Brasil, pois não se cristalizou na LDBEN de 1961.

Para Castanho (2001), a educação superior nesta perspectiva, se configura de melhor forma com o modo universitário de organização. Parte do princípio de que a produção de conhecimentos através da pesquisa exige a contribuição de diversos olhares sobre a realidade, o que somente pode acontecer numa instituição multidisciplinar.

Ainda segundo Castanho (2001), temos em plena emergência o modelo universitário denominado neoliberal-globalista-plurimodal. Tendo o neoliberalismo como ideologia que sustenta uma nova forma de produção do capitalismo, num contexto em que os Estados perdem a condição de agentes de desenvolvimento

econômico, cria-se um novo modelo de universidade. Neoliberal porque não mais se orienta para as necessidades da nação, mas sim do mercado. Também porque passa a definir-se em um espaço de busca de instrumentos para o sucesso individual, e não em espaço de habilitação de indivíduos para servir à sociedade. É globalista porque é o mundo que importa e não a nação. E finalmente é plurimodal porque assume mil formas, dependendo da necessidade do mercado.

No panorama apresentado até aqui sobre a construção histórica da universidade no Brasil, percebe-se diferentes projetos e funções para ela. Criada com a marca da aglutinação de faculdades pré-existentes, sem qualquer compromisso com o espírito universitário, está a universidade hoje direcionada à formação de profissionais para o mercado de trabalho.

No entanto, mesmo neste quadro, Goergen (2002), afirma que a relação universidade-sociedade, e educação e realidade deve ser entendida de forma dialética, crítica, tensional. Para este autor, o desempenho da universidade resulta da filosofia, do projeto de ensino e pesquisa, que não deve perder de vista o humano, individual e coletivo.

É nesta perspectiva que esta pesquisa se coloca e vai buscar, na opinião de professores, percepções de formação que não acontecem apenas na direção do domínio da técnica, mas também da humanização.

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