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ANÁLISE ENTREVISTA PROFESSORA UM

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CAPÍTULO III ANÁLISES DAS ENTREVISTAS

3.2 ANÁLISES INDIVIDUAIS DOS PROFESSORES

3.2.1 ANÁLISE ENTREVISTA PROFESSORA UM

Para essa professora a idéia de formação humana está ligada à questão de formação integral do seu aluno. Essa concepção é clara quando em sua fala aparece a seguinte expressão:

A questão da formação integral, eu sempre uso a expressão formação integral do sujeito, e aí entendo que o que nós estamos falando é a mesma coisa, quando você fala em formação humana.

Essa formação integral do sujeito refere-se à formação do aluno para ser “uma pessoa melhor”, entendendo que o ser professor ou o ser pedagogo é uma das facetas do ser humano. O ser professor faz parte de uma pessoa integral, na qual uma de suas dimensões é ser professor. Nesse sentido, o papel do formador será o de formar dentro desse ser humano, o pedagogo ou o professor, que, em sua atividade profissional utilize seu potencial humano. Compreende-se então, que a formação integral é mais ampla e supera a formação profissional.

O trabalho para que se concretize essa formação humana em sua prática se dá através de leituras, de poesias, de dinâmicas de grupo, de práticas de socialização, trocas de experiências e de valorização dos saberes do aluno.

Um outro aspecto de sua prática pedagógica é a valorização do aluno como ser humano, individualmente e em grupo. A valorização do grupo vai desde a sua integração até a minimização da competição entre as pessoas, trabalhando num sentido de integração coletiva.

A questão da reflexão se apresenta em sua prática no sentido do conteúdo apresentado em sua disciplina para a prática profissional do aluno:

Ser reflexivo de uma forma mais didática possível entender, é ser um sujeito que pensa no que fez, e pensa para fazer, e enxerga e reflete sobre os acontecimentos que envolvem sua vida e a vida das pessoas que estão no seu entorno. A reflexividade acontece o tempo todo na medida em que você

não faz um trabalho mecânico e automático. Quando eu enxergo a valorização do ser humano que é o meu aluno, e quando nós pensamos um pouco no que está acontecendo ao nosso redor nós estamos em exercício de reflexidade. Eu enxergo um pouco essa reflexividade dessa forma prática. Eu paro, eu analiso a minha prática, eu procuro entender o que está acontecendo nesse momento. E não só eu, professora, na minha prática, mas eu junto com os alunos. Essa questão da reflexão coletiva é que é importante para todos nós. Que é para dar significado àquilo que nós estamos fazendo. Se nós não entendermos e não refletirmos sobre nossa prática aqui na sala de aula, fica aquele vazio. Por que estou fazendo isso? Qual o interesse nesse conteúdo, qual o interesse naquela discussão, nessa leitura?.

Para ela, o sentido da reflexão sobre os textos se encontra na aplicação do seu conteúdo à prática do aluno, em seu cotidiano profissional.

Por que estou aprendendo isso? Qual a validade disso na minha vida? Por que esse autor escreveu sobre isso? Qual é o contexto? É o texto e o contexto. E principalmente a aplicação prática daquilo que a gente está trabalhando. Eu enxergo um pouco por esse lado.

Pensando sobre um curso de pedagogia ideal, a sua idéia é de que ele tenha um currículo voltado para uma formação profissional completa. Essa formação profissional completa ela entende como aquela que desenvolva nos alunos competências para o ensino e reflexividade sobre sua atuação docente. Defende a interdisciplinaridade como instrumento para a formação humana no curso e uma equipe de professores articulada. Ela não acredita em disciplinas específicas para formação humana, mas que esta formação, que chama de integral, e não só de profissional, permeie o curso como um todo.

Ainda pensando em currículo, ela considera que as diretrizes apresentadas pelo MEC para o curso de pedagogia são muito abrangentes e amplas, centradas em competências e habilidades. Essa amplitude, segundo ela, acaba “abrindo demais as possibilidades”, diferenciando os cursos de pedagogia nas diversas instituições. Falando especificamente do curso em que atua, ela acredita que a instituição a que pertence está trabalhando para direcionar o curso de pedagogia para a formação de um “professor pesquisador, reflexivo, autônomo, capaz de solucionar os problemas cotidianos da sala de aula”.

Não se esquecendo de que as universidades particulares estão inseridas em um mercado, e como tal, não perdem o caráter de empresas, ela entende que mesmo nesse contexto é possível oferecer um ensino de qualidade.

Para isso sugere a participação dos alunos em projetos que trabalhem dificuldades de comunicação, timidez, baixa auto-estima, e a introdução da psicologia como uma disciplina do curso que trabalhe com os alunos esses pontos de dificuldades.

Para a sua avaliação de formação humana, ela procura fazer uma avaliação continuada na qual considera todos os trabalhos feitos pelos alunos, incluindo sua participação em debates e seminários. Procura também criar situações em que os alunos se exponham, para analisar sua linguagem oral, seu relacionamento, entendimento e forma de comunicação. A respeito disto ela diz:

Eu costumo fazer uma avaliação contínua. Essa avaliação é bastante trabalhosa para mim e para o aluno. Por que eu tenho que mensurar como você disse, o aluno precisa ter uma nota de zero a dez”... . “O aluno trabalha intensamente, tudo o que faz para mim é avaliação, a participação dele numa dinâmica, num debate.

Segundo ela, para que ocorra uma formação integral do aluno, a avaliação tem que valorizar outros aspectos.

Em sua prática, esta professora considera a construção da autonomia do aluno um de seus pontos fortes. Essa autonomia está ligada tanto à questão do desenvolvimento do espírito científico, que considera como principal função do ensino superior, quanto ao da gestão da própria formação, no sentido de criar no aluno a necessidade da formação continuada. Conforme afirma:

... mas particularmente a minha visão de educação no ensino superior é justamente levar e conduzir a formação do aluno para que ele desenvolva principalmente a sua autonomia. Eu entendo que esse espírito pesquisador, ele é próximo à autonomia, aliás, o pesquisador é um sujeito autônomo. A realidade da faculdade Um e da maioria das faculdades, principalmente as particulares no Brasil hoje é receber um aluno do ensino médio com muitas defasagens, com muitas dificuldades, e muito longe da autonomia, muito longe do espírito investigativo. É preciso que essa preocupação permeie a prática desde o primeiro dia. O que eu posso fazer para isso? Ajudar o meu aluno a despertar o espírito investigativo.

Embora afirme que os alunos que as faculdades estão recebendo atualmente apresentem defasagens e dificuldades, ela coloca que ajudá-los a desenvolver o espírito científico e a autonomia é o trabalho do professor universitário hoje, o que não está sendo feito pelos professores do curso:

Ajudar o meu aluno a despertar o espírito investigativo, ele não vai ser um pesquisador do dia para a noite, eu sou orientadora de monografia de um curso de três anos, que é um curso curto por sinal, e que os alunos sofrem muito para fazer essas monografias. Isso me indica que no percurso de três anos, o espírito investigativo não foi desenvolvido, por que ele tem dificuldade em delimitar um tema, um problema, levantar hipóteses, buscar autonomamente referenciais bibliográficos. Isso tem levado a entender que o nosso trabalho, o meu e dos colegas está longe de ajudar a desenvolver o espírito científico.

Um trabalho centrado em aulas dialógicas tem sido a maneira apresentada por ela para essa construção.

Eu sempre trabalho centrado em aula dialógica, eu sempre estimulo muito a pergunta, sempre procuro fazer questionamento. Sempre gosto de deixar uma pulguinha atrás da orelha. Eu nunca termino uma aula esgotando um assunto. Eu sempre termino uma aula deixando um questionamento. Deixando o aluno envolvido com alguma dúvida.

A dialogicidade de sua aula na qual procura ouvir as opiniões dos alunos e instigá-los a refletir sobre algumas questões, foi a maneira que encontrou para desenvolver neles a autonomia:

Então ele não lê fora, e em muitas situações eu faço a leitura aqui e uma leitura que a gente faz de uma forma corrida eu faço a famosa pergunta: e aí? O que ficou? O que entendeu? Eu ouço a visão do aluno, cutuco algumas questões, converso, o instigo a pensar de uma outra forma, de uma forma mais abrangente. Então é nessa prática centrada no diálogo, na estimulação, no fazê-lo compreender que ele é capaz, que ele tem conhecimento sim, e solicitando e recomendando muita leitura, eu acabo até sendo um pouquinho chata de tanto que eu exijo leitura. Mas eu entendo que é o meu limite nesse momento é o limite do aluno também, então é isso.

Essa dialogicidade se dá como articuladora entre a teoria e a prática, pois para ela, o pedagogo “precisa de muito conhecimento da ciência” para a partir desse conhecimento se colocar em condições de solucionar problemas práticos. Utiliza então a dialogicidade para fazer a relação teoria-prática na construção da autonomia dos sujeitos, através do desenvolvimento do espírito científico.

Ela acredita no trabalho para uma educação transformadora no sentido de transformar a vida do sujeito que está no processo. Isso se concretiza quando, em sua fala, ela explicita a mudança de alguns alunos desde a sua aparência até a sua transformação na vida, conforme ela afirma:

Então vencendo todas essas dificuldades, as dificuldades financeiras, que ninguém fica rico na educação, a gente numa educação transformadora, não no sentido de transformar a sociedade capitalista globalizada, mas no sentido de transformar a vida do sujeito que está aqui com você. E eu consigo enxergar muitas vidas transformadas aqui.

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