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Analogia histórica – países como Suécia, Finlândia, Inglaterra e, mais recentemente, Austrália, Canadá e Estados Unidos contaram (e ainda contam)

No documento Maria Amélia Rodrigues da Silva Enríquez (páginas 125-130)

1 DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE EM REGIÕES RICAS EM RECURSOS NATURAIS, MAS POBRES NOS INDICADORES

1. Analogia histórica – países como Suécia, Finlândia, Inglaterra e, mais recentemente, Austrália, Canadá e Estados Unidos contaram (e ainda contam)

com um forte setor mineral que, por sua vez, teria sido o principal impulsionador para a trajetória de desenvolvimento.

2. Criação de empregos – a mineração gera empregos diretos e indiretos. No Brasil, por exemplo, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD)46 estima que, para cada emprego gerado na indústria extrativa mineral, 13 postos de trabalho são criados em outros setores da economia, nos serviços, ou em outras indústrias a montante e a jusante. A associação entre a criação de empregos e a redução da pobreza ocorre por intermédio da renda salarial que flui para a economia, contribuindo positivamente para o aumento da renda per capita e, conseqüentemente, para a redução da pobreza, conforme o esquema abaixo:

mineração → criação de emprego → geração de renda → redução da pobreza.

3. Geração de renda – além da renda dos salários, a renda obtida

principalmente por intermédio dos encadeamentos fiscais é um poderoso elemento de combate à pobreza. A recuperação financeira do setor público possibilita aos governos implementar programas voltados para a superação da pobreza. A relação causal é a seguinte:

mineração → impostos, taxas, royalties para o governo → financiamento de programas de alívio à pobreza → redução da pobreza

4. Crescimento econômico – a lógica causal é a dos modelos de crescimento econômico e do papel indutor dos investimentos, conforme esquema abaixo:

atividade mineral → crescimento econômico → redução da pobreza

5. Transferência de tecnologia – as atividades econômicas baseadas na extração de recursos naturais podem se transformar em verdadeiras indústrias do conhecimento. Segundo o BM, a mineração foi considerada uma “experiência de aprendizado nacional” para os EUA; a sua conexão com a redução da pobreza ocorre via expansão de oportunidades de negócios. A lógica causal dessa relação é:

mineração → desenvolvimento tecnológico → expansão das oportunidades econômicas → redução da pobreza

46 Palestra proferida por Gabriel Stoliar, em nome do presidente da CVRD, durante o evento de

comemoração pelo 30 anos do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), em 12/12/2006, em Brasília (DF).

6. Desenvolvimento de infra-estrutura – Os investimentos necessários para a extração dos recursos minerais catalisam melhorias na infra-estrutura física do território em que estão instalados. A lógica causal é a seguinte:

mineração → melhorias na rede de infra-estrutura física → expansão das oportunidades econômicas → redução da pobreza

7. Criação de indústrias a jusante – a mineração pode criar oportunidades econômicas na cadeia de valor paralela e a jusante da atividade extrativa, promovendo investimentos em indústrias que processem e adicionem valor aos bens minerais, antes que sejam exportados. A conexão com a redução da pobreza é a seguinte:

empreendimentos a jusante → empregos, crescimento econômico, impostos e receitas públicas → redução da pobreza.

O próprio estudo de Pegg (2006), apresenta as críticas e contra-argumentações às razões do BM. Grande parte das objeções já foi mencionada no item 2.1. Nesta seção nos interessa averiguar a lógica que está por trás do incentivo às atividades mineradoras, enquanto setor capaz de impulsionar o crescimento e o desenvolvimento econômicos.

2.2.2 O setor mineral como um perdedor revisitado por Davis

Os argumentos que Davis (1998) e Davis & Tilton (2002), usam para se contrapor às teses setorialistas e aos outros estudos que procuram demonstrar a relação de causalidade adversa entre desenvolvimento econômico e mineração se apóiam nas teorias e nos conceitos da economia convencional. As próximas seções foram estruturada a partir da leitura desses dois autores.

2.2.2.1 Influência dos minerais sobre a capacidade burocrática do estado e sobre a

flexibilidade estrutural.

O excesso de pessimismo dos setorialistas, particularmente, a afirmação de que o setor mineral engendra “incapacidade burocrática” e que esta impede o desenvolvimento econômico e o desenvolvimento da indústria é muito criticado por Davis (1998). Para ele, nem mesmo o estudo de Sachs e Warner (1995)47 apresenta fortes evidências de que a

47 Sachs e Warner (1995), em um amplo estudo empírico sobre abundância de recursos e

crescimento econômico em 90 países, não encontraram qualquer evidência econométrica de que a abundância de recursos primários provoca subseqüente ineficiência burocrática, muito embora ambos

abundância de recursos primários cause ineficiência burocrática. O que existiria entre ambos é uma associação, e não uma relação de causalidade. Isto é, a abundância de recursos está associada à ineficiência burocrática e tanto um como outro estão correlacionados aos baixos índices de crescimento econômico.

A contra-argumentação mais consistente é de que as análises setorialistas são limitadas para explicar as diferenças entre as economias mineiras. Indonésia, Namíbia e Zâmbia, por exemplo, têm ampliado o peso do setor mineral nas suas exportações. Entretanto, a Indonésia, segundo Davis (1998), é um caso de sucesso de relação favorável entre mineração e desenvolvimento. Essa associação positiva ocorreu devido à existência prévia de instituições de apoio ao crescimento econômico, antes e durante o boom mineral; isso não aconteceu com as outras economias mineiras. Pelo contrário, em Namíbia e Zâmbia a política predominante foi a de busca constante pelo aumento na parcela das rendas mineiras captadas pelo setor público, conhecido como rent seeking.

Muito mais do que a presença de um setor mineral forte, é a diversidade étnica que mais interfere na capacidade de o Estado adotar políticas públicas pró-desenvolvimento. Esse argumento de Davis (1998) encontra suporte em Easterly e Levine (1997)48, que demonstraram que um alto nível de diversidade étnica tanto retarda a adoção de políticas que promovam o desenvolvimento, como está positivamente correlacionado com o comportamento de rent seeking dos agentes econômicos, na forma de corrupção, e com a ausência de regras institucionais claras e estáveis. Uma objeção a essa tese seria a de que a mineração tende a se concentrar nesses tipos de países. No entanto, de 109 países ranqueados pelo índice de diversidade étnica49, apenas 23 são economias mineiras. Contudo, essas economias apresentavam os mais altos escores desse índice.

2.2.2.2 Causalidade entre o desempenho estatal e o crescimento econômico

Para os setorialistas, a prosperidade econômica depende de um “Estado forte”. Para Davis (1998), a tendência das teorias modernas do desenvolvimento é considerar as políticas públicas como indutores do desenvolvimento econômico. Ele concorda que boas políticas estão associadas ao crescimento econômico, mas rejeita a tese de que economias mineiras não favorecem boas políticas e criam Estados burocráticos e ineficientes. Ele também discorda de que a relação de causalidade se dá no sentido da boa política para o

(abundância de recurso e ineficiência burocrática) estejam fortemente correlacionados com o crescimento econômico mais lento.

48 Easterly, W, & Levine, R. Africa’s growth tragedy: politics and ethnic division. Quarterly Journal of

Economics (November) 1997, (p. 1203-1250).

49 O índice mede a probabilidade de duas pessoas de um dado país, escolhidas ao acaso, não

bom desempenho econômico. Para isso ele recorre a estudos que mostram que, de forma inversa, é o bom desempenho econômico que favorece boas políticas, ou seja, é a consistência política que sofre influência do crescimento econômico. No entanto, Davis (1998, p. 223) reconhece que determinar a relação de causalidade nas interações político- econômicas é uma tarefa empírica muito difícil. .

2.2.2.3 Extrair minérios ou industrializá-los?

Para os setorialistas, qualquer economia mineira que não consiga diversificar o seu setor mineral é refém da elite dos empresários da mineração ou do sindicato dos trabalhadores da mineração, ao invés de estar aderindo à doutrina das vantagens comparativas. De acordo com Davis (1998), a decisão de extrair minérios ou diversificar a economia com a criação de indústrias leves, por exemplo, deve estar subordinada ao livre jogo das forças de mercado e não a uma deliberação voluntarista à revelia do mercado. A sobrevalorização da taxa de câmbio provocada pelo boom mineral é também um importante indicador de mercado, pois sinaliza o elevado custo de oportunidade de restringir o fluxo natural de recursos do setor industrial tradicional em direção ao setor mineral exportador.

Segundo Auty e Evans (1994) apud Davis (1998, p. 224), durante a alta de preços dos bens minerais dos anos 1970, as economias mineiras cresceram por volta de 6,2 % ao ano por toda a década, o crescimento econômico este que caiu para 2,3% ao ano, em média, durante o colapso dos preços dos anos 1980.

2.2.2.4 Desempenho geral das economias mineradoras

De acordo com a análise setorialista, as economias de base mineira sempre apresentam um pior desempenho do que as não-mineradoras, por causa das características intrínsecas da mineração. Para contestar essa tese, Davis (1998) revisa seis estudos que correlacionam o desempenho econômico (PIB) e a base mineira e conclui que não há evidência estatística consistente de que a dependência mineral conduza a um rápido ou a um lento processo de crescimento econômico. Os estudos revisados por Davis são:

1. Wheeler50 (1984) - os níveis históricos da produção mineral são negativamente correlacionados com o subseqüente crescimento econômico;

2. Sachs e Warner51 (1995) – 10% de aumento da participação do setor mineral no PIB implicam em uma queda de 0,4% no desempenho econômico mensurado pelo PIB per capita;

50 WHEELER, D. Sources of Stagnation in Sub-Saharan Africa. World Development 12,1, 1984, (p. 1-

3. Mainardi52 (1995) - as economias mineiras apresentam o mesmo padrão de crescimento que as economias não-mineiras;

4. Sala-i-Martin53 (1997) - o desempenho econômico cresce com o aumento da atividade mineral;

5. Auty e Evans54 (1994) – compararam dois grupos de países mineiros e não- mineiros e encontraram resultados mistos. Nos anos 1970, de boom mineral, o crescimento das economias mineiras como um todo superou o grupo de economias não-mineiras. Todavia, nos anos 1990, de bust mineral, o grupo de economias mineiras teve um desempenho muito ruim. A análise de regressão identificou que as exportações minerais estão negativamente correlacionadas com o crescimento, porém apenas para o subconjunto de economias mineiras maduras e apenas para certo período;

6. Askarin et al55 (1997) - verificaram que mudanças no PIB das economias mineiras refletem as mudanças nos preços dos minerais;

Davis (1995), usa os indicadores de desenvolvimento “Hicks-Streeten” para estudar o desempenho das economias mineradoras nas décadas de 1970 e 1990 e conclui que a sua dinâmica econômica superou a das economias não-mineiras.

Após essa extensa revisão, as principais conclusões de Davis (1998) são:

• não existe evidência empírica de que a dotação mineral crie ineficiência burocrática ou uma “prisão” setorial. A diversidade étnica parece dar melhores respostas a perguntas sobre as diferenças entre economias mineiras e não- mineiras;

• é muito difícil estabelecer alguma causalidade empírica entre o perfil burocrático de um país e o crescimento econômico. O crescimento econômico é o fator exógeno que influencia a qualidade da política;

• o desempenho das economias mineradoras é muito heterogêneo; elas estão entre as que apresentaram os melhores e os piores desempenhos, nas décadas

No documento Maria Amélia Rodrigues da Silva Enríquez (páginas 125-130)

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