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Sustentabilidade em Solow

No documento Maria Amélia Rodrigues da Silva Enríquez (páginas 84-88)

1 DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE EM REGIÕES RICAS EM RECURSOS NATURAIS, MAS POBRES NOS INDICADORES

4. rumo à maturidade após a decolagem, surge um longo intervalo de progresso sustentado Os investimentos se elevam de 10% para 20% do PIB, o que permite

1.5 AS PROPOSTAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

1.5.2 Sustentabilidade e suas derivações

1.5.2.2 Sustentabilidade em Solow

De acordo com Solow (1992), é lugar comum pensar que o produto e a renda nacionais apresentam uma imagem distorcida do valor da atividade econômica das nações. Para ele, o PIB e o PNB não são indicadores ruins para estudar as flutuações do nível de emprego, ou para analisar a demanda por bens e serviços. No entanto, eles são incompletos quando se quer medir o bem-estar dos habitantes de um país. A mais óbvia omissão é a depreciação dos ativos de capital fixo. Se duas economias produzem o mesmo

PIB, mas uma delas desperdiça os seus estoques e deprecia rapidamente os seus estabelecimentos e equipamentos industriais, enquanto que outra usa apenas uma pequena parcela destes ativos, é óbvio que esta última está fazendo muito mais por seus cidadãos, afirma Solow. O sistema de contas nacionais reconhece estes pontos e desenvolveu os conceitos de agregados líquidos para dar uma resposta apropriada a estas questões. Sabe- se, no entanto, que a depreciação do capital fixo pode ser mensurada erroneamente e que o erro pode afetar a mensuração da produção líquida, muito embora tenha sido feito um esforço de superar esse problema.

Para Solow (1992), esse mesmo princípio deve ser estendido para a análise do estoque de recursos não-renováveis e para os ativos ambientais, como ar puro e água limpa. Imagine-se duas economias que produzem o mesmo PIB, diz Solow, com a possibilidade de depreciar os seus ativos fixos, mas uma deles desperdiça os seus recursos naturais e permite a deterioração de seu meio ambiente, enquanto a outra conserva recursos e preserva o seu ambiente natural. Neste caso, não há problemas de afirmar que a primeira proporciona menos abundância aos seus cidadãos do que a segunda. Dessa forma, é necessário um ajustamento para medir o estoque e o fluxo dos recursos naturais e dos ativos ambientais não-incluídos no sistema convencional de contas nacionais.

Entretanto, é necessário um ajustamento para medir o estoque e o fluxo dos recursos naturais e dos ativos ambientais não-incluídos no sistema de contas nacionais. Algum esforço já foi feito nesse sentido. A natureza desses problemas tem sido pesquisada há algum tempo. Isso começou com William D. Nordhaus e James Tobin, em 1972. No entanto, Solow (1992) enfatiza que há uma maneira correta de fazer esses ajustes, não necessariamente de forma mais simples e direta, mas de forma a incorporar na economia o consumo da dotação de recursos naturais. Entretanto, ele alerta que as correções são mais fáceis de definir do que de realmente fazer. Os cálculos necessários podem ser mais equivocados do que os cálculos para estimar a depreciação dos ativos fixos. Porém, se o país, o governo ou a comunidade estão empenhados em fazer a coisa certa, as dotações de recursos naturais e ambientais e a própria medida de estoque e de fluxos devem estar no topo da lista dos passos a serem dados na direção de decisões inteligentes e prudentes.

Se “sustentabilidade” é algo mais que um slogan ou expressão emotiva, afirma Solow (1992), o conceito deve estar relacionado a uma injunção para preservar a capacidade produtiva para um futuro indefinido. Isso só é compatível com o uso de recursos não- renováveis se a sociedade como um todo substituir o uso desses recursos por outros recursos. Dessa forma, o mesmo cálculo requerido para construir um ajuste no produto nacional líquido para a avaliação corrente dos benefícios econômicos é também essencial

para a construção de uma estratégia de sustentabilidade. Além do próprio Solow, importantes economistas têm contribuído para essa linha de estudos, tais como: John Hartwick, Partha Dasgupta, Karl-Göran Mäler, Martim L Weitzman, Robert Repetto e Nordhaus, em trabalhos pioneiros.

Os pressupostos do modelo de Solow (1992) para encontrar o produto líquido verdadeiro de uma economia simples num futuro longínquo são:

1. estoque fixo de recursos naturais não-renováveis; 2. esses recursos são essenciais para produção futura;

3. descartam-se as possibilidades de descobertas futuras e outras particularidades,

como localização, facilidade de extração, teor etc.

4. é sempre possível substituir grandes insumos de trabalho, capital reprodutível e recursos renováveis por pequenas quantidades de insumos de recursos fixos; 5. estabilidade populacionalno longo prazo;

6. a cada ano são acrescidos mais estabelecimentos e equipamentos industriais (investimentos líquidos);

7. a cada ano diminui o estoque de recursos remanescente;

Prevalece a hipótese de substituição entre os fatores produtivos. No entanto, ela deve ser vista em termos razoáveis, uma vez que os processos de substituição acarretam custos elevados. Porém, sem essa possibilidade de substituição, a conclusão a que se poderia chegar é que a economia funciona como um relógio, com uma programação fixa do número de tic-tacs. Quando estes cessarem, o relógio para, definitivamente, comenta Solow. Sem a possibilidade de substituição, diz ele, não é possível se pensar em sustentabilidade e a única escolha possível é entre uma vida curta e feliz e uma vida longa, porém infeliz. Para essa economia, a vida consiste em usar todo o seu estoque de capital e de trabalho e exaurir o seu estoque remanescente de recursos a cada ano (PIB). Parte da produção anual é consumida e proporciona satisfação para os consumidores correntes. O restante é investido em capital reprodutível, para ser utilizado no futuro. Existem várias hipóteses que podem ser feitas sobre a evolução da população e do emprego. A hipótese assumida é a de estabilidade.

A cada ano existem duas novas decisões: 1) quanto poupar e investir? 2) que parte do estoque remanescente de recursos não-renováveis usar? Os consumidores desse ano fizeram uma troca com a posteridade. Eles usaram parte dos estoques de recursos não- renováveis, e em troca eles pouparam e investiram; dessa forma, a posteridade herdará um amplo estoque de capital reprodutível.

Essa troca intergeracional pode ser bem ou mal gerenciada, pode ser eqüitativa ou pode promover iniqüidades. Supondo-se que a troca é feita com eqüidade, isso significa duas coisas:

1) nada é desperdiçado, a produção é feita com eficiência;

2) a noção de eqüidade intergeracional é muito mais complicada e não se pode esperar uma explicação completa. A idéia é de que cada geração concede a favor de si mesma no futuro, mas não demais. Cada geração pode, por seu turno, descontar o bem-estar das futuras gerações. Cada geração sucessiva aplica a mesma taxa de desconto para o bem-estar de seus sucessores. A taxa de desconto não pode ser muito elevada, para garantir a preservação em um nível razoável.

Com o objetivo de tornar o debate em torno da sustentabilidade mais pragmático e menos emocional, Solow recorre aos teoremas de Hotelling e de Hartwick, como métodos indicados para se proceder a uma adequada contabilidade do estoque de capital natural exaurido. O valor sombra dos recursos exauridos é exatamente o das rendas agregadas de Hotelling, que é igual à quantidade que deve deduzida da contabilidade usual para revelar a “renda líquida real”. A regra de Hartwick, por sua vez, diz o seguinte: uma sociedade que investe as rendas agregadas dos recursos em capitais reprodutíveis está preservando a capacidade de manter o seu nível de consumo. O mesmo procedimento deve ser adotado em relação aos recursos ambientais.

Assim definido, o montante exaurido deve ter uma contrapartida. Os países ricos devem separar uma dotação de recursos equivalentes para investimentos em substitutos e os países pobres exportadores de minerais devem deixar à parte as rendas hotellianas para realizar investimentos produtivos, e isso deve ter uma alta prioridade. Nesse sentido, o pecado primordial não é a mineração, mas sim o consumo das rendas mineiras (SOLOW, 1992, p. 20).

Solow reconhece que a sustentabilidade é um objetivo difícil de ser alcançado pelos países pobres. Para ele, os países pobres enfrentam um grande dilema, pois é muito mais difícil eles serem competitivos se adotarem os mesmos padrões ambientais dos países ricos. Dessa forma, o dilema que os países pobres enfrentam é ser condescendente com a pobreza e preservar o meio ambiente ou utilizar o seu meio ambiente para ter mais competitividade, e assim combater a pobreza. Quando o meio ambiente afetado é pontualmente localizado, esse dilema é menos grave, porém, quando as opções produtivas implicam em danos ambientais difusos, o problema se agrava, admite Solow.

Solow insiste em que a mesma metodologia utilizada no tratamento dos recursos naturais não-renováveis deva ser utilizada para os recursos ambientais. No entanto, ele reconhece que nesse campo há muito mais complexidade, por diversas razões. Uma delas é que os ativos ambientais têm valor intrínseco, como o caso dos monumentos naturais (Grand Canyon ou o Parque Nacional Yosemite), para cuja paisagem ambiental não existe substituto – não havendo, portanto, possibilidade de trade-offs. Os recursos minerais utilizáveis estão em uma categoria mais utilitária; por conseguinte, são passíveis de substituição. Outra grande dificuldade está relacionada às incertezas a respeito dos custos e dos benefícios ambientais.

De acordo com Müller (2007) ,

“[...] essa visão que Solow tentou passar a ambientalistas nada mais é do que uma versão, em linguagem mais fácil para o público em geral compreender, de mensagens que há mais de trinta anos o autor passou a economistas então preocupados com a insustentabilidade do padrão contenporâneo de crescimento da economia mundial”.

No documento Maria Amélia Rodrigues da Silva Enríquez (páginas 84-88)

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