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4 MINERAÇÃO DE LARGA ESCALA NOS MAIORES MUNICÍPIOS MINERADORES DO BRASIL E SUA RELAÇÃO COM AS DIMENSÕES

No documento Maria Amélia Rodrigues da Silva Enríquez (páginas 195-200)

CLÁSSICAS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Conhecer a base concreta onde ocorrem os fenômenos físicos, econômicos, sociais, culturais, políticos e outros tantos decorrentes do processo civilizatório é um dos principais desafios da proposta do desenvolvimento sustentável, pois sem isso estratégias para promoção do desenvolvimento são falhas pela falta de aderência à realidade. Daí a importância fundamental do uso de indicadores, a fim de verificar a influência da mineração nessas dimensões “clássicas” do desenvolvimento sustentável. É nessa perspectiva que este capítulo objetiva apresentar um conjunto de indicadores econômicos, ambientais, sociais e de governança visando conhecer as associações existentes entre eles e a atividade de mineração.

Indicadores que revelem a trajetória do município minerador são importantes para verificar as transformações que sofreu ao longo do tempo. No entanto, como saber se essas mudanças se devem à existência de atividade mineral ou a outros fatores? Como uma alternativa para contornar essa dificuldade, recorreu-se à comparação dos mesmos indicadores para os municípios não-mineradores do entorno do município estudado. Por estarem estabelecidos na mesma região geográfica, é provável que esse conjunto de município minerador e entorno receba influências espaciais semelhantes. No entanto, por ter uma atividade de extração mineral, é admissível que municípios de base mineradora apresentem características próprias. Quais são essas peculiaridades? Como elas afetam as dimensões clássicas do desenvolvimento desses espaços?

Observada a partir da ótica da sustentabilidade forte, Manfred Nitsch (1995), assim como Cleveland & Ruth (1997) argumentam que a mineração é intrinsecamente insustentável. Portanto, não faz sentido falar de mineração e sustentabilidade e, dessa forma, esta tese não teria razão de existir. Mas se forem consideradas outras perspectivas, como a da Escola de Londres e da própria sustentabilidade fraca de Solow (1993), é possível estabelecer alguns indicadores que captem as transformações ambientais dos municípios mineradores e do seu entorno. Mas, será que é possível afirmar categoricamente que a mineração se associa com os danos ou com a melhora das condições ambientais? Essa pergunta aparentemente trivial é de difícil resposta, pois as informações secundárias disponíveis, que permitiriam formar esse quadro, são insuficientes e, em alguns casos, pouco consistentes quando confrontadas com a realidade. Contudo, a partir das

informações disponíveis e das pesquisas em campo, foi possível elaborar alguns indicadores que demonstraram coerência. Um desses indicadores foi o da criação institucionalização do meio ambiente, a partir das informações disponibilizadas pelo IBGE (Anexos 3 e 4). Esses e outros indicadores foram conferidos com os levantamentos feitos em campo para os municípios de base mineradora, com o propósito de verificar se o tipo de minério explotado ou se a região geográfica onde a mina está instalada estão, de alguma forma, associados aos indicadores ambientais municipais.

Para a dimensão econômica, a evolução no tempo do PIB, e do PIB per capita dos municípios mineradores vis-à-vis o seu entorno, e a média de seus Estados, permitirá saber se, em nível municipal, a mineração é um fator que contribui favoravelmente para o crescimento econômico, sendo um “trampolim para o desenvolvimento”, como atestam as teses clássicas de crescimento, respaldadas pelas políticas de organizações internacionais tais como o Banco Mundial. Ou, ao contrário, é uma maldição, e municípios mineradores apresentam atrasos em relação ao demais não-mineradores, como atestam as teses de Bunker (1988) e dos setorialistas (SHAFER, 1994), amparados pelas teorias de enclave dos dependencistas e outros.Os indicadores de dimensão econômica trazem importantes contribuição às teorias que tratam de mineração e desenvolvimento, pois a maioria delas é feita para nações e comunidades. Essa abordagem de examinar conjuntamente a cidade mineira e seu entorno, a partir de uma perspectiva nacional, é inovadora.

Aliada à dimensão econômica, verificar o comportamento dos indicadores de crescimento populacional dos municípios mineradores vis-à-vis o seu entorno e à média de seus Estados ajuda a estabelecer associações entre a mineração e a dinâmica populacional. A variação populacional influencia o PIB per capita e, conseqüentemente, a dinâmica de crescimento econômico, com bem ressaltam as primeiras teses de Solow (1956). Ainda nessa perspectiva, é importante verificar o comportamento, ao longo do tempo, das informações sobre população ocupada. Será que as oportunidades de crescimento estão, de fato, se materializando em emprego? Conforme explorado na revisão teórica sobre o desenvolvimento, Hirschman (1977) e outros vêem com ceticismo a possibilidade de geração de emprego a partir de uma base mineradora, por causa dos fracos encadeamentos da produção para frente e para trás, da possibilidade de efeitos nulos sobre o consumo (se a renda for gasta em outras localidades) e da falta de competência de os governos gerirem adequadamente os encadeamentos fiscais. Será que eles estão certos?

Para a dimensão social, os indicadores de desenvolvimento humano municipal (IDHM) e sub-índices de educação, de longeividade e de renda, permitem verificar até que

ponto a mineração está positivamente associada à expansão do desenvolvimento humano nos municípios de base mineira e seus entornos. Essa criação de Amartya Sen representou um enorme avanço para mensuração da dimensão humana do desenvolvimento, mas, por ser um índice-síntese, não consegue captar detalhes que podem fazer muita diferença, em nível municipal. Nesse sentido, foram incluídos outros indicadores na análise da dimensão social (Anexos 3 e 4), objetivando apresentar um quadro mais consistente dessa esfera do desenvolvimento municipal. Indicadores de pobreza – percentual de pobres em relação ao total da população - e de concentração de renda – índice de Gini - dos municípios mineradores vis-à-vis o seu entorno e à média de seus Estados ajudam a conhecer até que ponto a mineração é um fator que contribui, ou não, para a redução da pobreza e para a maior eqüidade na distribuição de renda.

Para a dimensão da governança foram utilizados indicadores das finanças públicas municipais, em diferentes períodos, com o objetivo de conhecer a trajetória das receitas e das despesas públicas dos municípios mineradores vis-à-vis os municípios não- mineradores. A partir deles é possível saber até que ponto a mineração contribui favoravelmente para o equilíbrio financeiro das receitas públicas? Se é certo que a mineração incrementa, não somente a quantidade como a qualidade do gasto público? Será que o perfil da arrecadação e dos dispêndios dos municípios mineradores está associado ao desempenho dos indicadores de outras dimensões?

Antes de apresentar os indicadores será feita uma breve caracterização socieoeconômica do Brasil e dos seus mais expressivos estados de mineradores.

4.1 A MINERAÇÃO E A SOCIEOECONÔMIA DO BRASIL E DOS SEUS MAIS

EXPRESSIVOS ESTADOS DE MINERADORES

Com uma população de 187 milhões de habitantes (projeção do IBGE para 2006), a taxa de crescimento populacional brasileira, entre 1991-2000, foi 1,4% ao ano, com grandes variações interestaduais. No estado da Paraíba, por exemplo, essa taxa foi de apenas 0,7%, enquanto que no Amapá foi de 5,1%. Resultado de um longo histórico de exclusão social e concentração de renda, o Brasil exibe uma das piores distribuições de renda do mundo; muito embora o índice de Gini venha caindo nos últimos anos (de 0,614, em 1990, para 0,569, em 2005), em 2002, ocupou a quarta posição entre os paises com renda mais concentrada do mundo, perdendo apenas para Serra Leoa, República Centro Africana e

Suazilândia (BANCO MUNDIAL, 2005). Os indicadores sociais estão bem distantes dos padrões aceitáveis para os países considerados desenvolvidos. A taxa de analfabetismo da população de mais de 15 anos é de 11,5%, o número médio de anos de estudo é 6,5 e 31% da população brasileira estão abaixo da linha da pobreza (PNUD/IPEA, dados de 2005). Esses indicadores se agravam de acordo com a região geográfica, uma vez que são marcantes no Brasil as disparidades regionais. Em 2000, a renda média da região Sudeste foi quase duas vezes e meia maior do que a das regiões Norte e Nordeste (Mapa 3). Nesse mesmo ano, o Distrito Federal apresentou um IDH de 0,844, enquanto que no Maranhão esse mesmo indicador foi de 0,636. A média brasileira é de 0,757 (IPEA/PNUD).

Mapa 3: Renda per capita dos estados brasileiros (R$1,00 de 2000)

Fonte: IPEA/PNUD (Atlas do Desenvolvimento Humano, 2000).

Por outro lado, em termos de PIB, a posição do Brasil tem oscilado entre a nona e a décima quarta economia mundial. Em 2006, o PIB brasileiro alcançou os US$ 900 bilhões. De acordo com o DNPM, o Brasil ocupa a primeira posição mundial em reserva de nióbio (96,9%) e tantalita (46,3%), a segunda de grafita natural (26,8), a terceira de bauxita metalúrgica (8,3) e vermiculita (5,7), a quarta de estanho (11,7%) e magnesita (8,9%) e a quinta de minério de ferro (7,2%) e manganês (2,5%) (SUMÁRIO MINERAL, 2005). A Tabela 7 apresenta os principais produtos minerais primários que compõem a pauta de exportações brasileiras e o destaque maior é para o minério de ferro (em suas diferentes formas), que isoladamente responde por 6,2% do total. (SUMÁRIO MINERAL, 2005).

Tabela 7: Brasil - exportações de minerais (2005) mineral valor US$ 1.000 Participação nas exportações minerais minério de ferro 7.296.631 6,167%

rocha ornamental, gesso, cimento, amianto. 829.076 0,701% cobre 334.986 0,283% manganês 139.625 0,118% caulim 224.887 0,190% bauxita metalúrgica 229.913 0,194% cromo 29.423 0,025% chumbo 14.346 0,012% nióbio 4.773 0,004% tungstênio 2.925 0,002% prata 2.370 0,002% ilmenita 1.301 0,001% zirconita 48 0,000% antimônio 23 0,000% outros 42 0,000% exportação de minerais 9.110.369 7,701% exportações brasileiras 118.308.270

Fonte: Sistema Alice (SECEX).

No entanto, o Brasil não é considerado uma economia de base mineradora, uma vez que a participação dos minerais no PIB nacional é pouco mais que 4%85 e nas exportações responde por apenas 7,7% (SUMÁRIO MINERAL, 2006). Contudo, alguns estados da federação são tipicamente mineradores, como o Pará, por exemplo, pois em torno de 50% das suas exportações provém da indústria extrativa mineral, percentual que passa para 81% incluindo-se os produtos minerais transformados (SECEX, 2006). Minas Gerais, embora já tenha diversificado bastante a sua economia, tem 24% das suas exportações oriundas da mineração, percentual que passa para 52% se incluídos os produtos minerais transformados. Os estados da Bahia e de Goiás estão também se assemelhando às características das economias de base mineira.

O Gráfico 9, a seguir, mostra a participação dos mais importantes Estados mineradores (não-petróleo) do Brasil no valor da produção mineral (VPM) nacional em dois momentos. Ao longo de quase uma década - 1996 e 2004 - percebe-se que houve significativas mudanças na posição relativa desses Estados. Em 1996, um terço do VPM era proveniente de Minas Gerais; uma parcela significava (17%) foi procedente São Paulo, com sua produção de não-metálicos; o Pará já começava a despontar no cenário nacional também com 17% do VPM. Em 2004, registrou-se uma queda relativa na posição dos maiores produtores e um aumento da participação de outros Estados. Os maiores

85

destaques foram para Goiás, que dobrou sua participação, e Pará que passou a responder por 24% do VPM nacional, superado apenas por Minas Gerais que, por sua vez, continua respondendo pela maior parcela do VPM nacional.

32% 17% 6% 5% 17% 23% 29% 24% 10% 5% 2% 30%

Minas Gerais Pará Goiás Bahia São Paulo Outros 2004

1996

Gráfico 9: Brasil: participação dos estados no valor da produção mineral brasileira – 1996- 2004

Fonte: DNPM (Anuário Mineral Brasileiro -1997 e 2005)

O VPM é um indicador importante, porém quanto ponderado por outros indicadores como mão-de-obra diretamente empregada no segmento mineral, número de minas existentes e o valor da CFEM recolhida, exibe um quadro nacional diferente que, de certa forma reflete as acentuadas disparidades regionais brasileiras (Gráfico 10).

No documento Maria Amélia Rodrigues da Silva Enríquez (páginas 195-200)

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