• Nenhum resultado encontrado

O excedente econômico como a chave para o desenvolvimento, em Baran Contrariamente aos que vêem o desenvolvimento como uma ilusão ou mito, como

No documento Maria Amélia Rodrigues da Silva Enríquez (páginas 54-56)

1 DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE EM REGIÕES RICAS EM RECURSOS NATURAIS, MAS POBRES NOS INDICADORES

4. rumo à maturidade após a decolagem, surge um longo intervalo de progresso sustentado Os investimentos se elevam de 10% para 20% do PIB, o que permite

1.3.3 O excedente econômico como a chave para o desenvolvimento, em Baran Contrariamente aos que vêem o desenvolvimento como uma ilusão ou mito, como

algo impossível de alcançar quando se considera a composição das forças globais e as assimetrias entre os países, Baran (1964, p. 332) vê o desenvolvimento econômico “como uma necessidade mais urgente e vital da esmagadora maioria da raça humana. Cada ano perdido representa a perda de milhões de vidas humanas. Cada ano de inatividade significa maior enfraquecimento e mais desesperança para os povos que vegetam nos países subdesenvolvidos”.

A idéia de desenvolvimento, para Baran (1964, p. 70), é muito semelhante à noção da economia convencional, como fica evidenciado por sua definição - “definamos crescimento (ou desenvolvimento) econômico como um aumento ao longo do tempo da produção per capita de bens materiais”. No entanto, as suas causas são bem distintas. Problemas como, escassez de poupança, excesso de população, desequilíbrio entre a taxa de natalidade e de mortalidade, entre outros, são veementemente rejeitados por Baran enquanto fatores explicativos do atraso das economias periféricas, principalmente, quando esses indicadores são comparados aos das economias centrais. Para Baran, a variável- chave para entender o processo de acumulação do capital é o conceito de excedente econômico. Portanto, para compreender as possibilidades de desenvolvimento das regiões periféricas, é de fundamental importância conhecer a origem, a distribuição (apropriação) e a destinação (uso) dada ao excedente.

Segundo Baran o excedente econômico não se confunde com os lucros observáveis estatisticamente. Há dois principais tipos de excedentes econômicos: o efetivo e o potencial.

• O excedente econômico efetivo é aquele que se origina a partir da diferença entre o produto social efetivo de uma comunidade e o seu consumo. É idêntico à poupança ou à acumulação e se materializa em ativos de diversas espécies que se adicionam à riqueza da sociedade durante o período determinado. Nas sociedades atrasadas, o excedente econômico efetivo participa do processo produtivo e contribui, de maneira modesta, para o incremento da produtividade da economia.

• O excedente econômico potencial é a diferença entre o produto social que poderia ser obtido com o auxílio dos recursos produtivos realmente disponíveis e produto existente. É aquele que estaria disponível para os investimentos se o produto nacional, com os mesmos recursos que não são hoje empregados, fosse

utilizado com mais eficiência e de forma consciente, ou seja, se não fosse desperdiçado em consumo suntuoso e todas as formas de gastos improdutivos .

O excedente econômico potencial pode assumir quatro formas (BARAN, 1964, p. 76): 1) consumo supérfluo das sociedades, 2) produção que deixa de ser realizada por causa do trabalho improdutivo, 3) produção desperdiçada por causa da organização irracional e 4) produção que não se obtém devido à deficiência de procura efetiva.

Baran (1964) se foca nas economias periféricas produtoras de petróleo e de matérias-primas, principalmente minerais. A conclusão geral a que ele chega é a de que,

[...] em primeiro lugar, ao contrário do que comumente se sustenta com grande destaque na literatura ocidental sobre países subdesenvolvidos, o principal obstáculo ao seu desenvolvimento não é a escassez de capital. O que é escasso em todos esses países é o que denominamos excedente econômico efetivo investido na ampliação de seu aparelho produtivo. O excedente econômico potencial, que poderia ser utilizado com esse objetivo, é grande em todos esse países. Note-se que ele não é grande em termos absolutos, isto é, quando comparado à ordem de grandeza do excedente de nações adiantadas como, por exemplo, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, embora existam algumas áreas subdesenvolvidas onde ele é considerável até mesmo quando medido por esse padrão. (BARAN, 1964, p. 308).

Dessa forma, ele critica a noção, amplamente difundida, de que “a escassez de capital é o mais importante fator limitativo do desenvolvimento econômico dos países atrasados e que a deterioração das relações de troca das áreas de produção primária tem comprometido seriamente o seu progresso econômico” (BARAN, 1964, p. 314). O problema mais crítico para o desenvolvimento das nações periféricas é a distribuição e de uso desse excedente, já que uma grande parcela dele é canalizada para fora da região produtora por intermédio das empresas multinacionais e dos endividamentos externos. Assim,

[...] o principal obstáculo ao rápido desenvolvimento econômico dos países atrasados é o modo de utilização de seu excedente econômico potencial, ele é absorvido por várias formas de consumo suntuoso da classe capitalista, é utilizado para acrescer as quantidades já entesouradas tanto no país quanto no exterior, para manter a vasta e improdutiva burocracia e uma força militar. (BARAN, 1964, p. 309).

Embora Baran (1964, p. 314 - 15) reconheça a existência de uma tendência à queda nos termos de trocas, conforme argumentação da CEPAL, ele questiona até que ponto essa tendência possa ser responsabilizada pela ausência de desenvolvimento da América Latina. Para isso ele usa o seguintes argumentos:

1) pouco sentido se pode atribuir às relações de troca. As companhias de petróleo, por exemplo, podem manipular os seus lucros e, em conseqüência,

o preço FOB de seus produtos, com o objetivo de minimizar o montante de royalties devidos aos países onde operam. Isso também ocorre com empresas exportadoras de outras matérias-primas;

2) para a maioria das nações subdesenvolvidas exportadoras de matérias- primas por intermédio de empresas estrangeiras, modificações nas relações de troca têm pouco significado, na medida em que essas variações dependem muito mais de alterações dos preços das matérias-primas que dos preços dos bens importados;

3) a importância do montante de lucros para o bem-estar dos países subdesenvolvidos ou para o desenvolvimento econômico depende exclusivamente de quem se apropria desses lucros e do emprego que lhes dá. Se o montante dos lucros vai para os acionistas estrangeiros, as suas variações em pouco ou em nada afetarão as condições de vida da população local.

As categorias desenvolvidas por Baran (1964) lançam verdadeiros holofotes para a compreensão do subdesenvolvimento de regiões produtoras de bens minerais, especialmente no que se refere ao papel crítico exercido pelo excedente econômico – ou renda mineira. Quanto é gerado? Quem se apropria? Como ele é usado? São questões fundamentais. Essa discussão remete à necessidade do controle das rendas mineiras. Porém, a partir da leitura de Baran se conclui que são remotas as possibilidades de isso ocorrer e, por conseguinte, de se alcançar o desejado desenvolvimento da periferia. Por outro lado, a história é farta em exemplos de nacionalização e de apropriação estatal do excedente dos recursos naturais, sem que os problemas do subdesenvolvimento tenham sido solucionados. É possível que existam outros motivos que estão muito além do simples acesso ao excedente econômico.

No documento Maria Amélia Rodrigues da Silva Enríquez (páginas 54-56)

Outline

Documentos relacionados