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TEORIAS INSTITUCIONALISTAS OU NEO-INSTITUCIONALISTAS

No documento Maria Amélia Rodrigues da Silva Enríquez (páginas 71-74)

1 DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE EM REGIÕES RICAS EM RECURSOS NATURAIS, MAS POBRES NOS INDICADORES

4. rumo à maturidade após a decolagem, surge um longo intervalo de progresso sustentado Os investimentos se elevam de 10% para 20% do PIB, o que permite

1.4 TEORIAS INSTITUCIONALISTAS OU NEO-INSTITUCIONALISTAS

Douglass North17 é um dos principais expoentes do denominado “neo- institucionalismo”. Para os institucionalistas, a análise econômica convencional (neoclássica) é limitada para explicar a realidade do desenvolvimento, pois abusa de supostos simplificadores que não têm alcance para revelar as diferenças entre países e regiões. Para o institucionalismo, em geral, e para o neo-institucionalismo, em particular, o conceito de instituição é a chave explicativa da evolução e do desenvolvimento econômicos. No sentido amplo, “instituição” pode ser entendida como “as normas implícitas ou explícitas que regulam a adoção de decisões pelos indivíduos e que limitam, voluntária ou involuntariamente a capacidade de escolhas” ou simplesmente como “as regras da sociedade que moldam as interações humanas” (NORTH,1990). Assim, as instituições são importantes porque reduzem as incertezas e proporcionam uma estrutura para a vida cotidiana, por definir e limitar o conjunto de escolhas humanas.

North (1990) faz uma distinção entre instituições e organizações. Se as instituições são as regras do jogo, diz ele, as organizações e os seus atores são os jogadores. É da interação entre instituições e organizações que se estabelece a evolução institucional de uma economia.

As organizações consistem de grupos de indivíduos unidos por um propósito comum, com o fim de obter certos objetivos. Dentre outras, se destacam as: políticas (partidos políticos, assembléias municipais, os corpos reguladores), econômicas (empresas, sindicatos, cooperativas), sociais (igrejas, clubes, associações esportivas) e educativas (escolas, universidade, centros de ensino técnicos) - (NORTH, 1993). As organizações

17 Vencedor do prêmio Nobel de economia de 1993, juntamente com Robert W.Fogel, por suas

contribuições originais ao campo da investigação da história econômica, com o uso de métodos quantitativos para explicar as mudanças econômicas e institucionais.

refletem as oportunidades oferecidas pela matriz institucional. Isto quer dizer que, se o marco institucional premia a pirataria, emergirão organizações piratas. Ao contrário, se o marco institucional premiar as atividades produtivas, surgirão organizações – empresas – voltadas para essa modalidade.

Para os institucionalistas é possível que a chave para se alcançar o crescimento e o desenvolvimento econômico e social, estável e sustentável, não esteja apenas na manipulação das variáveis macroeconômicas e sim na lenta reelaboração das instituições que regem o comportamento e as relações entre os indivíduos e as suas atividades cotidianas, tanto no interior das empresas como no do Estado. O benefício da instituição é maior quanto mais eficiência gere na economia e quanto mais minimize os custos de transação e de informação (NORTH, 1993).

Além do conceito de instituição, um outro fundamental para os institucionalistas é o de “custo de transação”. Os custos de transação podem ser definidos como os custos de se transferir os direitos de propriedade ou custos de estabelecer e manter os direitos de propriedade (COASE, 1960). Assim, instituições afetam o desempenho econômico por intermédio de seus efeitos sobre os custos de transação e, por conseqüência, sobre os custos de produção (NORTH, 1990).

O enfoque institucionalista considera a existência dos custos de transação não somente nas trocas de mercado, mas também nos intercâmbios no interior das empresas e das organizações18.

Segundo North (1990), em Coase (1960) o resultado neoclássico de mercados eficientes (alocação ótima dos recursos) só pode ser alcançado com a inexistência de custos de transação. Considerando essa impossibilidade no mundo real, as instituições exercem um papel decisivo. De acordo com a sua eficiência, elas podem reduzir ou aumentar esses custos e, portanto, favorecer ou dificultar o processo de desenvolvimento econômico.

Essas análises podem levar a interpretações equivocadas de que basta “criar” instituições eficientes para que os custos de transação sejam minimizados e, dessa forma, sejam geradas as condições necessárias para se promover um competente programa de desenvolvimento econômico. No entanto, a análise institucionalista atribui uma importância

18 Para o enfoque neoclássico, custo de transação é o somatório dos custos envolvidos para realizar

a referida transação, tais como: busca de informações sobre os preços e alternativas existentes nos mercados, a fiscalização e a medida do intercâmbio, a comunicação entre as partes e os custos de assessoramento legal.

decisiva aos fatores culturais que estão profundamente arraigados no seio das sociedades e que não são facilmente modificáveis.

Esse tema foi muito bem explorado por Robert Putnam (1996), a partir da observação sistemática de 20 anos da política italiana. O trabalho de Putnam (1990, p. 19- 22) trata de algumas questões controversas exploradas pelos institucionalistas, tais como: de que modo as instituições formais influenciam a prática da política e do governo e, conseqüentemente, o desenvolvimento? Mudando-se as instituições, mudam-se também as práticas? Quais as condições necessárias para se criar instituições fortes, responsáveis e eficazes? A prosperidade social e econômica é causa ou conseqüência de uma sociedade cívica?

De acordo com Putnam (1996, p. 30), a comunidade cívica que se “caracteriza por cidadãos atuantes e imbuídos de espírito público, por relações políticas igualitárias e por uma estrutura social firmada na confiança e na colaboração”, é a causa tanto do bom desempenho institucional quanto do desenvolvimento socioeconômico.

A parte mais polêmica da tese de Putnam é a afirmação de que as raízes dessa sociedade cívica estão fincadas na milenária história, no caso específico, da sociedade italiana. Ele formula essa suposição por intermédio da “tese da subordinação à trajetória” que diz que: aonde você pode chegar depende do ponto onde você está; portanto, há certos lugares impossíveis de serem alcançados a partir do ponto no qual você está. Essa tese está muito bem fundamentada com exemplos da história italiana. Todavia, deixa uma sensação incômoda de impotência diante da inevitabilidade do determinismo histórico e, portanto, das reduzidas chances de se promover mudanças institucionais profundas. Se a pré-condição para melhorias institucionais e socioeconômicas é a existência de uma “comunidade cívica” é evidente que ela não se forma do dia para noite. Muito pelo contrário, está fincada na história.

Nesse sentido, North (1993) adverte que as categorias analíticas institucionalistas conseguem explicar razoavelmente o processo de desenvolvimento no longo prazo. No entanto, há uma grande deficiência em estudos que investiguem como isso ocorre como curto prazo. Para North, a questão é saber como, a partir do ponto em que uma sociedade adota uma determinada trajetória, ela tende a permanecer nela.

As teses institucionalistas adicionam outras questões importantes no debate sobre o desenvolvimento e abrem uma perspectiva analítica que permite enxergar além das variáveis econômicas. Sem arranjos institucionais que favoreçam o desenvolvimento

econômico, apenas os investimentos produtivos (no setor mineral, por exemplo) terão pouco alcance para transformar a realidade socioeconômica. Pode-se indagar: o que são boas instituições para potencializar os benefícios da mineração? Quando inexistem inovações institucionais podem ser criadas ou estimuladas de alguma forma? North (1990), sustenta que as mudanças nos arranjos institucionais são conseqüências de tentativas de maximizar utilidades. A oportunidade de obter utilidades por intermédio das inovações institucionais se apresenta quando se produzem deslocamentos exógenos de demanda, variações no custo de organizar ou operar uma inovação ou mudanças no poder político de grupos particulares. No entanto, esse é ainda um campo aberto e o próprio North reconhece que:

[...] as organizações políticas moldam o desempenho econômico porque definem e implantam as regras econômicas. Portanto, parte fundamental de uma política de desenvolvimento é a criação de instituições políticas que, por sua vez, criam e fazem cumprir os direitos de propriedade eficientes. No entanto, sabemos muito pouco como criar essas organizações políticas porque a nova economia política (a nova economia institucional aplicada à política) tem estado predominantemente enfocada nos Estados Unidos e nas organizações políticas de países desenvolvidos. Uma desafiante linha de investigação é moldar as organizações políticas do Terceiro Mundo e da Europa do Leste. (NORTH, 1993, p. 12).

A análise institucionalista, por intermédio da “tese da subordinação à trajetória”, também lança luzes para compreender o porquê do atraso de certas economias, independemente de sua base produtiva. Ou seja, não é apenas a base econômica em si, mas as instituições que se plasmaram ao longo do tempo que permitem compreender a trajetória de desenvolvimento ou de subdesenvolvimento das regiões.

No documento Maria Amélia Rodrigues da Silva Enríquez (páginas 71-74)

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