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Teorias da dependência

No documento Maria Amélia Rodrigues da Silva Enríquez (páginas 51-54)

1 DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE EM REGIÕES RICAS EM RECURSOS NATURAIS, MAS POBRES NOS INDICADORES

4. rumo à maturidade após a decolagem, surge um longo intervalo de progresso sustentado Os investimentos se elevam de 10% para 20% do PIB, o que permite

1.3.2 Teorias da dependência

As interpretações sobre a natureza dependente do capitalismo latino-americano conhecidas como “teoria da dependência”, surgiram nos anos 1960. Segundo Santos (2000), visava explicar as novas características do desenvolvimento socioeconômico iniciado nos anos 1930-45 e ser uma síntese do movimento intelectual e histórico predominante na América Latina anos 1950 e 1960. Essa abordagem questiona a idéia comum, na época, inclusive por parte da escola estruturalista, de que subdesenvolvimento significava a falta de desenvolvimento. Ela propõe uma interpretação alternativa de que desenvolvimento e subdesenvolvimento são, na realidade, o “resultado histórico do desenvolvimento do capitalismo”.

O pensamento dependentista não formou um bloco homogêneo. O elemento comum que une os dependencistas é a idéia de que o sistema mundial capitalista produz simultaneamente desenvolvimento e subdesenvolvimento, ou seja, a periferia subdesenvolvida seria apenas a outra face do desenvolvimento dos países centrais. Isso faria parte da própria natureza da dinâmica capitalista.

Os dependentistas têm também em comum a crítica à proposta de industrialização recomendada pela CEPAL. As promessas de distribuição de renda, criação de centros nacionais de decisões autônomas e de acumulação capitalista e a criação de condições democráticas que viriam a reboque da industrialização não ocorreram, principalmente porque “o centro de poder continuava nos pólos centrais da economia mundial” (SANTOS, 2000, p. 127). Além disso, as tecnologias importadas eram poupadoras de mão-de-obra, portanto, incapazes de criar empregos suficientes para incorporar as massas de desempregados liberados do campo e das atividades de autoconsumo.

A tarefa mais importante dos dependentistas era revelar as contradições que ocorriam no interior do desenvolvimento capitalista dependente latino-americano. Um aspecto fundamental das teorias da dependência estava relacionado ao controle do excedente econômico gerado na região dependente. A falta de autonomia para determinar a

apropriação e o uso do excedente é a peça-chave para a compreensão do subdesenvolvimento das ricas regiões pobres, conforme será aprofundado em outras seções. No entanto, os dependentistas divergem sobre esse e outros pontos.

Uma importante forma de apropriação do excedente, evidenciada na obra de Cardoso & Faletto (1984, p. 46-51) são as “economias de enclave”. De acordo com os autores, as economias de enclave se formam a partir de um duplo processo: 1) da desarticulação dos setores econômicos pré-existentes, por causa da incapacidade local de reagir e competir internacionalmente com a produção de bens que exigem condições técnicas, sistemas de comercialização e capitais de grande vulto; 2) do projeto de expansão das economias centrais. Em ambos os casos, o enclave expressa o dinamismo das economias centrais e, por conseguinte, o caráter capitalista global, independentemente dos grupos locais.

O impulso dinâmico possibilitado por enclaves externos permite à economia local a formação de um “setor moderno”, que é uma espécie de prolongamento tecnológico e financeiro das economias centrais; entretanto,

[...] na medida em que as economias locais tenderam a organizar-se em torno desse tipo de sistema produtivo apresentaram, em grau elevado, características que tornavam compatível um relativo êxito do sistema exportador com uma grande especialização da economia e fortes saídas de excedentes. Nesses casos, o êxito do crescimento orientado ‘para fora’ nem sempre permitiu criar um mercado interno, pois levou à concentração da renda no setor do enclave. (CARDOSO & FALETTO, 1984, p. 48).

Cardoso & Faletto (1984, p. 48) distinguem dois tipos de enclave e as suas características, conforme a seguir:

1) enclave agrícola – emprega muita mão-de-obra, pode haver pouca concentração de capital, mas apresenta tendência à pouca distribuição de renda. A expansão e a modernização da economia provocam expansão da fronteira agrícola, o que, por sua vez, afeta negativamente a economia de subsistência e a própria produção para o mercado interno.

2) enclave mineiro – o nível de ocupação da mão-de-obra é reduzido, a concentração de capital é muito elevada, o nível de produção tende a se expandir e os salários são mais elevados para os técnicos especializados. Da mesma forma, apresenta tendência à pouca distribuição de renda, porém não afeta o setor da economia orientado para o mercado interno, uma vez que não compete com as outras formas de uso e ocupação do solo, como no enclave agrícola.

Conforme o tipo de enclave e o seu processo de formação, ele pode provocar distintos efeitos sociais e políticos, em decorrência das alianças entre os grupos e classes que o tornam possível. Em geral, o sistema de alianças, típico do enclave, fortalece muito mais as funções políticas, administrativas e reguladoras do Estado do que as funções econômicas do setor privado, possibilitando a formação de uma pesada burocracia de Governo a partir dos impostos cobrados do setor de enclave.

As principais características das economias de enclave podem ser assim sintetizadas (CARDOSO & FALETTO, 1984, p. 51):

• a produção é um prolongamento direto da economia central, tanto no controle das decisões de investimento, como na apropriação dos lucros gerados pelo capital;

• não existem conexões com a economia local. Existem apenas conexões com o sistema de poder, que define as condições de concessão;

• as relações econômicas são estabelecidas no âmbito dos mercados centrais. Conforme será revisado nas teorias especialmente focadas na discussão entre desenvolvimento e indústria mineral, a idéia de enclave, originalmente sugerida por Perroux e difundida na América Latina por Cardoso & Faletto, exerceu e ainda exerce uma profunda influência nas análises explicativas sobre o porquê do atraso das regiões ricas em recursos naturais, porém pobres no aspecto socioeconômico.

A principal contribuição da teoria da dependência foi o seu alerta para a necessidade de entender o subdesenvolvimento das regiões periféricas como resultado do sistema de acumulação global. Além de sua crítica à idéia de que apenas a industrialização é capaz de gerar desenvolvimento.

O atual momento do mercado das commodities minerais demonstra essa interdependência global. Um outro fator relevante para a compreensão do subdesenvolvimento das periferias, principalmente das exportadoras de matérias-primas, é a importância do controle do excedente. Não obstante a difusão da idéia do enclave da produção mineral, muito pouco é discutido sobre o uso do excedente como elemento capaz de reverter e/ou amenizar a situação de dependência. Nesse sentido, verifica-se forte visão determinista do processo histórico, com poucas perspectivas para as regiões dependentes.

1.3.3 O excedente econômico como a chave para o desenvolvimento, em Baran

No documento Maria Amélia Rodrigues da Silva Enríquez (páginas 51-54)

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