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9. Breve historial dos queijos transmontanos e da sua certificação DOP

9.3 Etapas de produção dos queijos Terrincho DOP e Cabra Transmontano DOP

9.3.1. Os animais fornecedores de leite

São de duas raças os únicos animais fornecedores de leite para o fabrico dos queijos DOP: A ovelha Churra da Terra Quente, para o fabrico do queijo Terrincho DOP e a cabra Serrana (ecótipo Transmontano) para o queijo de Cabra Transmontano DOP.

A ovelha Churra da Terra Quente

A ovelha Churra da Terra Quente é oriunda da mistura da ovelha Badana com o macho Mondegueiro93, o que possibilitou aperfeiçoar a reprodução desta raça, relativamente nova. Esta

mistura iniciou-se a partir do século XIX, com maior expressão em meados do século XX. As duas raças possuem certamente ancestrais vindo dos Pirenéus pertencentes ao tronco ibérico. São raças rústicas, bastante fecundas, dando frequentemente partos gemelares, boas leiteiras e de regular carne. Tal possibilitou obter melhor leite e carne para consumo. A publicação “A raça Churra da Terra Quente” (p. 1)94 destaca, também, que a raça é considerada nova, e que o seu

aperfeiçoamento genético se iniciou nos anos de 1950, com o objetivo de melhorar a qualidade do animal em termos da produção de carne e de leite.

Trata-se de um animal que se distribui geograficamente em Trás-os-Montes, sobretudo nos concelhos de Macedo de Cavaleiros, Mirandela, Vila Flor, Moncorvo, Mogadouro, Alfândega da Fé, Freixo de Espada à Cintra, Vila Nova de Foz do Côa, Carrazeda de Ansiães (Fig. 17).

93 Disponível no Caderno de Especificações do Queijo Terrincho – Denominação de Origem Protegida (p. 10-11).

94 A raça Churra da Terra Quente – Interreg IIIA – acção 1.2. Projecto Douro/Duero. Formas de complementares de valorização dos produtos animais. Estudo desenvolvido pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, ANCOTEQ e QUEITEC. Disponível em: http://interreg.utad.pt/accao12/ctq.html#ini . Acesso em 28/11/2018

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Fig. 17 – Distribuição Geográfica do ovino Churra da Terra Quente Fonte: http://www.ovinosecaprinos.com/recursos_f.html

Segundo a Sociedade Portuguesa de Ovinotecnia e Caprinotecnia – SPOC, o animal tem as seguintes características95:

a. Aspeto Geral: Estatura média e cor branca

b. Pele, Velo e Lã: velo extenso, de madeixas compridas e pontiagudas, não reveste a cabeça, a extremidade livre dos membros, e, por vezes, a barriga.

c. Cabeça: comprida. Testa plana e com pequena poupa. Chanfro comprido e convexo, sobretudo nos machos. Cornos em ambos os sexos, em espiral mais ou menos aberta, rugosos e de secção triangular. Orelhas de tamanho médio e horizontais.

d. Pescoço: pescoço estreito, revestido de lã, com barbela nos machos.

e. Tronco: peito relativamente estreito; região dorso-lombar horizontal e de medidas transversais médias; ventre volumoso, sendo às vezes deslanado; garupa em regra pouco ampla e um pouco descaída.

f. Úbere bem desenvolvido, globoso e com sulco mediado; tetos regularmente desenvolvidos e de regular inserção.

g. Membros: membros finos, vigorosos, deslanados nas extremidades livres; nádega pouco desenvolvida; unhas rijas e pigmentadas.

h. Peso vivo adulto: Machos – 85kg a 100kg; Fêmea – 55kg a 60kg.

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Abaixo seguem imagens do ovino Churra da Terra Quente fotografadas por Dinis Pereira (Fig. 18 (a) e (b)).

Fig. 18 – (a) e (b) Ovelha Churra da Terra Quente

Fonte: Dinis Pereira96

A cabra Serrana – Ecótipo Transmontano

A cabra Serrana, hoje dispersada por todo o país, em quatro ecótipos, é o caprino autóctone com maior efetivo em Portugal. O ecótipo Transmontano é responsável pelo fornecimento do leite para o fabrico do Queijo de Cabra Transmontano DOP. Para além do ecótipo Transmontano, a cabra Serrana também tem as variedades da Serra, Jarmelista e Ribatejana. Segundo os dados da Associação Nacional de Caprinocultores da Raça Serrana (ANCRAS), esta raça representa 45% do gado caprino nacional.

No levantamento histórico da cabra Serrana, a SPOC97 destaca a dificuldade da determinação de

sua origem sobretudo porque em Portugal, as raças caprinas são caracterizadas por uma grande diversidade genética, o que dificulta o seu rastreio de forma precisa.

A sua origem pode ser rastreada desde o período do Quaternário da era Cenozoica, em torno de 3 milhões de anos. Essa origem envolve ao menos três raças caprinas (uma do continente europeu; duas da Ásia; e uma africana, respetivamente): Capra aegagrus; Capra falconeri e Capra prisca; e, por fim, a Capra nubiana. Destas raças, há uma controvérsia entre somente a espécie C. aegagrus ser a descendente direta das cabras domésticas; ou, a origem vir de duas, as espécies C. aegragrus e a C. falconeri.98.

96 Disponível em: https://autoctones.ruralbit.com/index.php?i=4&id_img=&esp= 2&pais=pt&rac=43 Acesso em 11/02/2018 97 http://www.ovinosecaprinos.com/serranahistoria.html

98 A SPOC coletou estas informações de acordo com as obras:

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Fig. 19 – Distribuição Geográfica da Cabra Serrana Fonte: http://www.ovinosecaprinos.com/serrana.html

De acordo com as migrações destas espécies, ao longo dos anos surge a Capra pyrenaica, que ocupou a região da Península Ibérica. Aceita-se hoje, entretanto, que a cabra Serrana seja sua descendente e tenha surgido em Portugal primeiramente na região da Serra da Estrela, e a partir de então, tenha se distribuído pelo país e evoluído os seus quatros ecótipos: Transmontano, Ribatejano, Jarmelista, e o da Serra (que se encontra em risco de extinção).

De acordo com o mapa acima (Fig. 19), a distribuição da cabra Serrana ocorre por grande parte do país. A publicação “A Raça caprina Serrana”99, descreve a distribuição do ecótipo

Transmontano (Fig. 20) entre os concelhos de Valpaços, Murça, Alijó, Mirandela, Macedo de Cavaleiros, Mogadouro, Alfândega da Fé, Freixo de Espada à Cinta, Moncorvo, Vila Flor, Carrazeda de Ansiães, Miranda, Vimioso e Bragança. Concentrados na região norte e nordeste (Trás-os-Montes), sobretudo nos distritos de Vila Real e de Bragança.

- Almendra, L., 1996. A cabra Serrana Transmontana - origem, caracterização da raça e sistemas de produção. Coletânea SPOC, Volume 7, Nº1, p. 31

99 A Raça caprina Serrana - Interreg IIIA – acção 1.2. Projecto Douro/Duero. Formas de complementares de valorização dos produtos animais. Estudo desenvolvido pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, ANCRAS e LEICRAS. Disponível em: http://interreg.utad.pt/accao12/serrana1.html. Acesso em 20/12/2018

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Fig. 20 – Mapa da distribuição da cabra Serrana – ecótipo Transmontano Fonte: http://interreg.utad.pt/accao12/serrana1.html

Quanto aos padrões da raça, o sítio virtual da SPOC descreve:

a. Aspeto geral: estatura mediana. Aptidão predominantemente leiteira. É uma cabra de estatura média, com uma altura de 64cm na cernelha;

b. Pelagem: A pelagem pode ser preta, castanha e ruça, podendo apresentar coloração amarela em algumas regiões, sendo a única raça caprina autóctone de pelos compridos; c. Cabeça: grande, comprida, de perfil subcôncavo, frente ampla e ligeiramente abaulada;

face triangular, chanfro largo, retilíneo e com depressão na união com o frontal; focinho fino; boca pequena e lábios finos; orelhas relativamente curtas e horizontais, cornos de seção triangular, rugosos, dirigidos para trás e, forma de sabre, com hastes paralelas ou divergentes, ou ligeiramente dirigidas para trás, divergentes ou espiraladas;

d. Pescoço: comprido, mal musculado, bordos retilíneos com ou sem brincos; e. Tronco: linha dorso-lombar quase direta ou ligeiramente oblíqua, dorsos e rins

descarnados e retilíneos; garupa descaída, cauda curta e arrebitada. Tronco ligeiramente arqueado; abdómen desenvolvido;

f. Úbere: bem desenvolvido, globoso, por vezes pendente de fundo de saco; tetos pequenos e cónicos dirigidos para a frente ou ligeiramente para os lados; g. Membros: finos, resistentes com unhas pequenas e rijas;

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As ilustrações abaixo (Fig. 21 (a) e (b)) são da cabra da raça Serrana – ecótipo Transmontano. Todas as imagens são do acervo da ANCRAS.100

Fig. 21 – (a) e (b) Cabra Serrana – Ecótipo Transmontano Fonte: Acervo ANCRAS

Para a manutenção destas raças produtoras de leite, há subsídios destinados à procriação animal dos produtores extensivos, à formação sobre os cuidados e maneio com os animais, ao melhoramento genético da raça e apoio técnico e veterinário por parte das associações representantes (ANCRAS e ANCOTEQ). Estes subsídios vêm do Programa de Desenvolvimento Rural – PDR 2020101, e as cooperativas são as representantes dos produtores. que é a

representante dos produtores das raças e é a principal intermediário para os requerimentos de subsídios e apoios. Esses apoios são destinados a manutenção da atividade, o que inclui formação de maneio com os animais, aquisição de alimentos, materiais de suporte, reformas e adaptações dos estábulos.

Os apoios para a reprodução animal têm em conta aumentar o volume de cabeças de gado para mitigar o risco de extinção das raças e aperfeiçoar o melhoramento genético destas espécies. De acordo com a publicação “Criação de Caprinos – Manual do Produtor, 2017, p. 6”102, das 7

raças caprinas portuguesas, somente a raça Serrana é a que está fora do risco de extinção, representando 45 % do gado caprino nacional autóctone. E dentro esta raça, o ecótipo Transmontano é a que apresenta maior volume com 63% de fêmeas103.

100 Disponível em: http://www.ancras.pt/raca-serrana/fotos/ecotipos. Acesso em 22/12/2018

101 O sítio virtual do PDR 2020 (http://www.pdr-2020.pt/) possui um portal de requisição direta aos apoios agrícolas. 102 Câmara Municipal de Vila Nova de Poiares, 2017

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Ao tratar do volume de animais de cada espécie, Carolino et. al. (2013, p. 4)104 dizem que o

número mínimo de ovinos e caprinos (fêmeas e machos) de raças autóctones portuguesas, que inclui a cabra Serrana – ecótipo Transmontano, e a Ovelha Churra da Terra Quente, seja de 10 mil fêmeas e 200 machos de linha pura.

No entanto, de acordo com o Guideline for the Cryoconservation of Animal Genetics Resources (2012) da Organização Mundial das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação – FAO, o montante aconselhável para exploração sobre, sendo o ideal a partir de 20 mil animais de raça pura.

Assim, de acordo com o Guia, os valores inferiores ao volume mínimo esperado (20mil), já apresenta um risco de extinção para a espécie autóctone. Nos resultados apresentados por esta publicação, o volume efetivo da Ovelha Churra Terra Quente era 16.929 fêmeas e 705 machos; e o da Cabra Serrana era 18.607 fêmeas e 929 machos.

Mesmo, embora o volume esteja acima do volume mínimo aconselhável (10mil fêmeas e 200 machos), as estatísticas apontam o risco de extinção das raças transmontanas ao ser identificado um decréscimo populacional na contagem entre os anos 2009 e 2013, sobretudo da ovelha Churra da Terra Quente, cuja a queda é constante. A cabra Serrana, no mesmo período, após decréscimo entre 2009-2011, passa a aumentar o seu efetivo entre 2011 e 2013 (p. 09).