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14. A produção de queijos Terrincho DOP e Cabra Transmontano DOP e a sua relação com o

14.2. Propostas de melhoria para a promoção dos queijos certificados: Terrincho e Cabra

É curioso verificar que os produtores ou implicados na produção de queijos não só conseguem perceber os problemas, como são os primeiros apontar algumas soluções para a sua resolução.

Neste sentido temos a noção de que a maior dificuldade se encontra a nível político e ao nível de articulação entre os poderes políticos locais e os produtores de queijos transmontanos, para que se possam desenvolver várias iniciativas tendentes à maior comercialização destes queijos.

É preciso destacar, também, a falta de hábito de trabalhar o cooperativismo, pois a tendência, parece ser, ainda, a competitividade. A sensação é a de que uma quinta ou um município é sempre o rival do outro e de que o sucesso está mais em competir do que em cooperar.

Apesar de termos consciência de que promover turisticamente os queijos transmontanos ainda é visto como um passo secundário perante os outros desafios encontrados, como a solidificação da base da produção, ou seja, da matéria-prima – os leites, cremos que uma proposta de promoção pode ser vantajosa, não só para os produtores de queijo, como para os pastores e criadores animais, pois são atividades interligadas profundamente.

Apontamos, assim, algumas propostas de ações que se consideram pertinentes para a promoção dos queijos Terrincho e Cabra Transmontano. Estas prendem-se, essencialmente, com três vetores: a educação/informação, o associativismo e a divulgação.

Uma das formas de estimular a mudança social no reconhecimento dos seus produtos de qualidade está vinculada com a educação. Neste sentido propomos que se articulam ações entre os produtores de queijo e as escolas secundárias, escolas técnicas, institutos politécnicos e universidades que possibilitem aos alunos conhecer e valorizar os produtos existentes na região e as suas potencialidades regionais.

Quanto ao associativismo, seria necessário trabalhar a nível regional (promovendo regionalmente o queijo DOP transmontanos) e a nível nacional, trabalhando todos os queijos DOP do país. O associativismo em prol destes produtos pode constituir um passo importante para a manutenção

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da tradição queijeira, através do diagnóstico dos problemas comuns e de pensar estratégias para a sua resolução.

Assim, cabe fomentar a cultura cooperativista no universo rural. Os produtores familiares, quando unidos, têm probabilidades de maior alcance de produção e mercado dentro da região e do país, viabilizando inclusive o mercado exterior.

Quanto à divulgação há diversas propostas a saber:

- Criação de uma identidade visual mais específica, atrativa e/ou «colecionável», para estes produtos, com informações da região, origem, curiosidades, formas de consumo, armazenamento, que atraiam, estimulem e satisfaçam a curiosidade do consumidor nacional e estrangeiro. Isso pode também estimular os turistas, a levarem estes produtos como lembranças. Os queijos, quando em vácuo, são alimentos fáceis de transportar em viagem.

- Disponibilização do produto nos centros urbanos ou áreas de circulação de maior número de turistas, pode proporcionar maior projeção de venda, quer em lojas de produtos regionais, quer em mercados tradicionais, feiras ou mesmo supermercados. No entanto é preciso cuidar da sua apresentação no espaço das lojas, apostando em layout mais chamativos e informativos e numa disposição mais didática e intuitiva que facilite a sua identificação.

- Fazer-se constar em mapas turísticos da região e em revistas sobre o turismo regional e nacional, que trate estes produtos como um símbolo identitário de uma comunidade e um elemento gastronómico.

- Criar uma cartilha informativa ou um calendário de eventos relacionados com estes queijos (em formato virtual ou impresso), para que as pessoas tomem conhecimento da sua existência. A plataforma virtual Tastefood, que já tem estes produtos, pode e deve ser mais explorada e complementada, e utilizada como um meio de informação, por meio da internet, de forma mais sistemática.

- Completar a informação do sítio virtual “Produtos Tradicionais Portugueses-PTPT” (https://tradicional.dgadr.gov.pt/pt/) que já tem informações sobre os queijos transmontanos DOP135 com modos de consumo e harmonizações.

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- Criação de uma feira de queijos transmontanos, à semelhança de outras existentes pelo país, como as “Feiras do Queijo Serra da Estrela” e a “Festa do Queijo Serra da Estrela”, que, este ano, se desenvolve em 9 municípios, entre fevereiro a março136, ou a “Feira do Queijo do

Alentejo”, realizada em Serpa137, também em fevereiro. Este evento, com maior ênfase no queijo,

poderia combinar com outros produtos como as compotas, os vinhos, o fabrico de pão tradicional, etc. que se harmonizem bem com o produto; mas o foco ainda é o queijo.

- Promover durante a feira e ou em eventos em equipamentos de restauração, a vinda de chefes que possam inventar receitas com estes queijos, para serem degustadas, como formas alternativas de consumo. Esta iniciativa pode ser realizada em conjunto com os restaurantes locais e podem associar-se a concursos gastronómicos ligados com a inovação.

- Criação de uma rota do queijo portugueses e ou transmontano, que tenha em conta o conhecimento das espécies animais que fornecem o leite e os seus lugares de pasto, assim como a visita às unidades de produção. A esta rota deveria associar-se os postos de degustação e de venda do produto, assim como aos restaurantes que servem estes queijos como entrada ou sobremesa. Esta iniciativa teria que abranger vários stakeholders privados e ser apoiada pelos municípios.

- Maior articulação entre os produtores de queijo e diferentes agentes de negócios da restauração, para que incorporem estes produtos como parte dos ingredientes utilizados na alimentação e promovam estas marcas como produtos com valor agregado.

- Maior articulação entre os produtores de queijo e as unidades de alojamento transmontanas, por forma a divulgar o produto, a eventual rota, os sítios de degustação, de consumo e venda dos queijos;

- Dignificação da vida rural e pastoril enquanto produtora de alimentos primários e de produtos tradicionais, através de um centro interpretativo/ecomuseu (com enfâse para o gado produtor de leite, o pastor, as práticas pastoris, os processos de fabrico de queijo, etc.). Tal possibilitaria combater o preconceito do criador de ruminantes de pequeno porte, como cabras e ovelhas, descritos, ainda hoje, por vezes, como incapazes ou pouco instruídos, assim como pensar a vida rural como lado “pobre”, “atrasado” e “sujo” da sociedade e menos interessante

136 Veja-se por exemplo as páginas https://www.cm-celoricodabeira.pt/etiqueta/feira-queijo-serra-da-estrela/ e https://www.facebook.com/confrariadoqueijoserradaestrela/, consultadas em 22 de janeiro de 2019.

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economicamente, quando comparado à vida nas grandes cidades. Esta dignificação pode passar, ainda, pela oferta de um turismo criativo138, ou de um turismo voltado para as

experiências e aprendizados, em meio rural, como por exemplo, passar um dia com os pastores, aproveitando as potencialidades paisagísticas da região.

- Contribuir para fomentar uma política educativa acerca dos produtos tradicionais portugueses, e neste caso, de Trás-os-Montes, com informações sobre a sua origem, história e importância social, cultural, ambiental e económica, através de um programa didático e de marketing que deveria ser tutelado por uma identidade nacional, abarcando diferentes regiões e produtos. A nível local, seria interessante a publicação de livros, e-books, brochuras, em diferentes línguas, sobre a história destes queijos e dos seus processos de produção.

Com estas informações, acerca dos problemas encontrados e juntamente das potencialidades a serem trabalhadas, podemos sintetizar estas questões numa análise SWOT139, que seja possível

identificar as “Forças, Fraquezas, Oportunidades e as Ameaças” de uma instituição. Através disso, aplicamos a técnica para a produção dos queijos certificados (Tabela 10).

Tabela 10 – Análise SWOT

ANÁLISE SWOT

STRENGHT (Pontos Fortes) WEAKNESS (Pontos Fracos)

Produtos Certificados (DOP) Produção muito baixa em comparação a outros queijos nacionais certificados (2%)

Têm condições para participar em feiras gastronómicas,

turísticas e de produtos regionais/tradicionais Inexistência de apoios diretos à atividade queijeira. Além da falta de Confrarias ou associações vinculadas a promoção dos queijos.

A produção consegue escoar seus produtos todos os

anos Produto considerado caro para o consumidor local

2 dos 3 responsáveis pela produção têm interesse em

manter e fortalecer o setor. Atividade queijeira desvinculada da atividade pastoril

DOP possui muitas exigências não atraente para novos investidores

138 Termo conceituado em 2000, pelos autores Greg Richards e Crispin Raymond (2000. Creative Tourism). Trata-se de um nicho específico do turismo. Os especialistas definiram-no como: “o turismo que oferece aos visitantes a oportunidade de desenvolver o seu potencial criativo através da participação ativa em cursos e experiências de aprendizagem que são característicos do destino de férias onde são realizados”. Artigo publicado em “ATLAS News, no. 23. pp 16-20. ISNN 1388-3607.”

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OPPORTUNITIES (Oportunidades) THREATS (Ameaças)

Inserir em rotas turísticas, culturais e gastronómicas Animais em risco de extinção

Fomento ao associativismo para melhorar e aumentar a

produtividade Concorrência desleal acentuada

Interesse do mercado de queijos nacionais (certificados

e não certificados) em valorizar o produto no país Indiferença por parte da comunidade a respeito do conhecimento e da valorização do produto

Região Trás-os-Montes como alvo de novos

investimentos, sobretudo ligados à história, paisagem, cultura e gastronomia

Vida rural é desinteressante, sobretudo para os jovens. A densidade demográfica é cada vez menor em TM.

Região do país com muitos produtos certificados Falta cultura de se consumir queijos tradicionais no país (não há a "cultura do queijo")

Educação para as comunidades arredores, sobretudo a

estudantes. Falta de apresentação/exposição adequada por parte das redes de distribuição

Oportunidade de criar uma identidade visual que insira todos os queijos tradicionais, de modo informativo e que valorize o produto certificado.

Estigma vinculado ao trabalho do pastor e sobretudo da criação de cabras e ovelhas. Os criadores têm idade média superior aos 60 anos.

Interesse por materiais didáticos como estímulo à

informação (dicionário, cartilhas, pareamento) Resistência no pensamento associativista

Fonte: Produzido pelo autor.