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4. Denominações de origem protegida (DOP)

4.2. O que torna e legitima um produto DOP, IGP ou ETG?

As DOP, IGP e ETG são denominações de produtos de origem animal ou vegetal (e seus derivados), e são atribuídas às suas qualidades organoléticas únicas, associadas ao local, sendo relacionadas ao seu bioma (ou ecossistema) e aos modos de vida das comunidades produtoras. Quando os fatores «envolventes» da fabricação podem ser comprovados como autêntico e representativo da sua comunidade, estes produtos tornam-se habilitados a obter uma denominação.

A submissão de um género agrícola ou alimentício deve estar especificado num Caderno de Especificações e de Obrigações, desenvolvido pelo agrupamento produtor interessado (Regulamento CEE nº 2082/1992, p. 11):

[...] Considerando que, a fim de garantir o respeito e a constância das características específicas certificadas, é necessário que os produtores reunidos em agrupamentos definam, eles próprios, as características específicas do produto agrícola ou do género alimentício num caderno de especificações e obrigações, mas que é necessário que as regras relativas à aprovação dos organismos de controlo encarregados de verificar o respeito do caderno de especificações e obrigações sejam uniformes a nível comunitário; [...]”

E o Caderno de Especificações e de Obrigações deve possuir, minimamente, segundo o Artigo 6º (nº 2, p. 13) do regulamento, os seguintes elementos:

“O caderno de especificações e obrigações compreende pelo menos os seguintes elementos: — O nome, na acepção do artigo 5º, redigido numa ou mais línguas,

— A descrição do processo de produção, incluindo a natureza e características da matéria-prima e/ou ingredientes utilizados, e/ou do processo de fabrico do produto agrícola ou do género alimentício de que resulte a sua especificidade,

— Os elementos que permitam avaliar o carácter tradicional, na acepção do nº 1 do artigo 4º,

— A descrição das características do produto agrícola ou do género alimentício mediante a indicação das suas principais características físicas, químicas, microbiológicas e/ou organolépticas que lhe conferem especificidade;

— As exigências mínimas e os processos de controlo da especificidade”

Assim que elaborado o Documento, o agrupamento responsável deve apresentá-lo à autoridade competente do Estado-membro, sendo este último responsável por encaminhar o pedido à Comissão Europeia. para avaliação, conforme as exigências do Regulamento em vigor.

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Em seguida, a CE encaminha a solicitação aos demais Estados-membros, traduzidos para avaliação. Também encaminhará para publicação no Jornal Oficial das Comunidades Europeias, os principais elementos deste pedido. O prazo para oposições é de seis meses. Em caso positivo, será inscrito no registo previsto e, novamente, publicado65.

Quando registado, o Caderno de Especificações e de Obrigações passa a ser um manual de produção, de padronização de qualidade e de segurança higiénico-alimentar do produto ali representado. É um documento para consulta pública, estando disponível nos sítios virtuais da Comissão Europeia, dos oficiais dos estados-membros, e dos agrupamentos de produtores, por exemplo.

Os agrupamentos podem, também, solicitar alterações de seus Cadernos de Especificação, o que passa pelo mesmo processo da inscrição e de registro, especificado anteriormente. O tempo de resposta dos Estados-membros é menor (4 meses). Em caso positivo, há a publicação no Jornal Oficial da União Europeia (JO UE); em caso negativo, o produtor pode pedir o cancelamento do registro atual e iniciar um novo pedido.

Em 2012, a União Europeia aprova o Regulamento (UE) nº 1151 de 21 de novembro. Este regulamento trata dos regimes de qualidades dos produtos agrícolas e géneros alimentícios por alguma da denominação genérica referida (DOP, IGP ou ETG). Os parágrafos a seguir são

adaptações das Considerações do presente regulamento66.

O documento reforça o reconhecimento da riqueza agrícola, de pesca e da aquicultura tradicionais, como fonte de diversidade cultural, e como contributo para o património cultural e gastronómico.

Defende, também, a recompensação justa da produção e distribuição de qualidade, para impedir a concorrência desleal, trazendo vantagens económicas às áreas rurais menos favorecidas e fomentando maior investimento local ou regional.

Informa as prioridades estratégicas da Europa 2020, cujo objetivo é o de fomentar economias locais de forma inteligente e sustentável, melhorar a identificação dos seus produtos, promover a qualidade local com reconhecimento das suas especificidades e combater as práticas desleais.

65 artigos 7º, 8º e 9º do Regulamento (CEE) nº 2082/92. Adaptado.

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A proteção das DOP e IGP visa garantir a remuneração justa de seus produtos, conforme esforço, especificidade e raridade, e permitir melhor apresentação das informações dos produtos ao consumidor final, gerando credibilidade.

Para além de satisfazer os requisitos mínimos dos produtos, conforme o respetivo Caderno de Especificações e de Obrigatoriedades, os produtores devem, também, proteger os recursos naturais, a paisagem e o bem-estar dos animais de criação.

A União Europeia negocia acordos e parcerias com empresas que visam promover a divulgação de tais produtos, como forma de fomentar a economia local e permitir maior contato do consumidor com os produtos. Incentiva, também, os produtores a apresentarem os produtos conforme o seu símbolo representativo (DOP, IGP ou ETG), para os tornar mais credíveis perante o consumidor. A rotulagem serve, também, para evitar equívocos na apresentação dos produtos, uso abusivo ou imitação.

Além disso, quanto ao que se trata da apresentação, a Associação Nacional de Municípios e de Produtores para a Valorização e Qualificação dos Produtos Tradicionais Portugueses – QUALIFICA, em documento publicado em 200967 trata das normas de apresentação de produtos certificados e

não certificados. Trata-se de uma estratégia que impede que o consumidor seja induzido em erro e que o possibilite identificar um produto DOP.

Este documento informa, inclusive, que a utilização desleal ou não autorizada da certificação, pode ser enquadrada como crime em face ao Código da Propriedade Industrial68, pois considera um

produto DOP como uma marca. Assim, os seus direitos de uso devem ser respeitados e deve ser combatida a concorrência desleal que coloca em risco o valor agregado deste produto.

As considerações acima mencionadas necessitam de uma ação estratégica e direta em suas respetivas áreas. Isto é papel dos seguintes elementos e organismos controladores, que asseguram a qualidade e a sua procedência:

• Caderno de Especificações e de Obrigações; • Agrupamento de Produtores/Transformadores; • Organismo de Controlo e de Certificação;

67 Qualifica. (2009). “As Denominações de Origem e as Indicações Geográficas Protegidas dos Produtos Agrícolas e dos Géneros Alimentícios”. Portalegre. Disponível em: http://docplayer.com.br/3338726-As-denominacoes-de-origem-e-as-indicacoes-geograficas-protegidas-dos-produtos- agricolas-e-dos-generos-alimenticios.html Acesso em 30/04/2017

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• Organismo Nacional de Acreditação.

Os Organismos de Controlo e Certificação e o Organismo Nacional de Acreditação devem fazer o acompanhamento e realizar o controlo periódico dos produtos denominados, a fim de assegurar o cumprimento dos requisitos e garantir a qualidade do produto e a segurança higiénico-alimentar. No artigo 36º do Regulamento pode ler-se:

Designação da autoridade competente

1. De acordo com o Regulamento (CE) nº 882/200469, os Estados-Membros designam a autoridade ou autoridades competentes responsáveis pelos controlos oficiais realizados para verificar o cumprimento dos requisitos legais relativos aos regimes de qualidade estabelecidos pelo presente regulamento.

Os procedimentos e requisitos do Regulamento (CE) nº 882/2004 são aplicáveis, com as necessárias adaptações, aos controlos oficiais realizados para verificar o cumprimento dos requisitos legais relativos aos regimes de qualidade para todos os produtos abrangidos pelo Anexo I do presente regulamento.

2. As autoridades competentes referidas no nº 1 devem oferecer garantias adequadas de objetividade e de imparcialidade e ter ao seu dispor o pessoal qualificado e os recursos necessários para o desempenho das suas funções.

3. Os controlos oficiais incluem:

a) A verificação da conformidade dos produtos com o caderno de especificações correspondente; e,

b) O acompanhamento da utilização das denominações registadas para descrever os produtos colocados no mercado, nos termos do artigo 13. o para as denominações registadas em aplicação do Título II, e nos termos do artigo 24. o para as denominações registadas em aplicação do Título III.

Uma vez que todo o processo esteja executado e concluído, cabe especial atenção desenvolver a sua promoção e estratégias de educação patrimonial existente sobre este produto, capazes de valorizar o seu reconhecimento, enquanto elemento representativo de uma região e de uma tradição.