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4. Denominações de origem protegida (DOP)

4.1. Historial

A origem de um produto, desde a antiguidade, foi um fator relevante para o seu consumo, apreço e credibilidade. Pellin et al. (2016, p. 269, adaptado) cita que, ao que tudo indica, o processo de identificação iniciou-se nas cidades-estado gregas, que se preocupavam com a origem e qualidade de seus produtos. Como exemplo, cita-se o bronze de Coríntio; os tecidos da cidade de Mileto; as

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ostras de Brindisi ou o mármore de Carraca, que são sempre associados com a suas origens (Almeida, 2010 in Cerdan et. al, 2014, p. 34).

Os vinhos também eram motivo de preocupação e os produtores utilizavam ânforas para identificação, e, a partir do século VII a.C., os gregos preocupavam-se em identificar os seus melhores vinhos (Pelin et. al. 2016, p.270)

Na Idade Media surgiram os “grêmios” ou as corporações de ofícios, que criaram as marcas corporativas de seus produtos. Os grêmios de cada cidade possuíam o próprio Estatutos e Ordenações, que serviam para detalhar o processo e as operações de produção desses bens designados. A diferenciação era dada por um selo da localidade ou da cidade. No começo, ainda não eram utilizadas as marcas individuais (Almeida, 2010, p. 35) mas, conforme o aperfeiçoamento e melhorias que alguns produtores tinham perante os outros de um mesmo grêmio, surgiu a necessidade da separação entre os selos coletivos (do grêmio) e o selo individual, do próprio fabricante (Almeida, 2010, p. 35).

Durante o século XVI, no contexto europeu, nomeadamente em França e na Galiza, a preocupação em proteger os vinhos produzidos era também constante, pois a notoriedade e fama requeriam cuidados contra a falsificação e a concorrência desleal. (Pelin et. al. 2016, p. 270).

No contexto português, foi apenas no séc. XVIII, ou seja, em 1756, que Marquês do Pombal instituiu e criou mecanismos «estatais» para a proteção do vinho do Porto (Almeida, 2010, p. 35), que já tinha grande notoriedade na época. Foi uma forma de impedir que outros vinhos utilizassem o mesmo título – do Porto – e causassem prejuízos aos legítimos produtores.

A estratégia utilizada foi o reconhecimento dos produtores, agrupando-os na Companhia dos Vinhos do Porto, igualmente conhecidos como “Real Companhia Velha” ou “Companhia Velha”; a delimitação da sua área de produção; a descrição do produto e da sua forma de fabrico. O título “do Porto” foi registado por decreto, com a chamada "Demarcação Pombalina da Região do Douro" tendo desempenhado, no seu primeiro século de existência, importantes funções ao nível da regulamentação, controlo e disciplina da produção dos Vinhos da Região. Tais medidas permitiram a criação da primeira Denominação de Origem Protegida, ou, na sua forma abreviada, a primeira DOP (Almeida, 2010, p. 35-36).

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Em França, no ano de 1885, os vinicultores franceses criaram associações para a classificação dos vinhos crus de Bordéus, sendo um marco importante para estabelecer a relação deste produto com um território específico. Também em França, cria-se, em 1905, a Lei sobre Fraudes e Falsificações em Matéria de Produtos e Serviços, com o objetivo de proteger os consumidores de transações ilegais (INAO60, apud Pelin et al. 2017, p. 270).

No final do século XX, em 1992, o Conselho da Europa aprova o Regulamento CEE nº 2081/9261, onde elenca as atuais definições de ‘áreas delimitadas’, a serem aplicadas como referência à origem de um produto tradicional. No seu artigo 2º define como:

a) Denominação de origem, o nome de uma região, de um local determinado ou, em casos excecionais, de um país, que serve para designar um produto agrícola ou um género alimentício:

— Originário dessa região, desse local determinado ou desse país e

— Cuja qualidade ou características se devem essencial ou exclusivamente ao meio geográfico, incluindo os factores naturais e humanos, e cuja produção, transformação e elaboração ocorrem na área geográfica delimitada;

b) Indicação geográfica, o nome de uma região, de um local determinado, ou, em casos excepcionais, de um país, que serve para designar um produto agrícola ou um género alimentício:

— Originário dessa região, desse local determinado ou desse país e

— cuja reputação, determinada qualidade ou outra característica podem ser atribuídas a essa origem geográfica e cuja produção e/ou transformação e/ou elaboração ocorrem em área na área geográfica delimitada.

3. São igualmente consideradas denominações de origem certas denominações tradicionais, geográficas ou não, que designem um produto agrícola ou um género alimentício originário de uma região ou local determinado e que satisfaça as condições previstas na alínea a), segundo travessão, do nº 2.

Esta primeira definição abarca duas categorias: Denominação de Origem Protegida (DOP) e Indicação Geográfica Protegida (IGP). A DOP é mais restrita e os produtos que seguem esta denominação são produzidos exclusivamente nas áreas delimitadas. A qualidade do produto resultado da matéria-prima produzida na região, juntamente com o modo de fazer tradicional de seus produtores que vivem nestes sítios delimitados.

A IGP é um pouco mais flexível, pois permite que apenas parte do processo de fabrico seja feita nesta área delimitada ou que o parte da matéria-prima venha destas regiões demarcadas.

60 Abreviação para “Institut National de lorigine et de la qualité”. Agência nacional francesa incubida da regulamentação dos produtos agrícolas e tradicionais com DOP no país. N.A.

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Neste mesmo regulamento (CEE nº 2081/92), especificamente no seu artigo 4º, parágrafo, 2º, os produtos agrícolas e alimentícios especificados só podem beneficiar de uma Denominação de Origem Protegida se forem enquadrados nas seguintes condições:

a) O nome do produto agrícola ou do género alimentício, incluindo a denominação de origem ou a indicação geográfica;

b) A descrição do produto agrícola ou do género alimentício, incluindo as matérias-primas se for caso disso, as principais características físicas, químicas, microbiológicas e/ou organolépticas do produto ou do género alimentício;

c) A delimitação da área geográfica e, se for caso disso, os elementos que indiquem a observância das condições previstas no nº 4 do artigo 2o;

d) Os elementos que provem que o produto agrícola ou o género alimentício são originários da área geográfica, na acepção do nº 2, alínea a) ou b) do artigo 2o, conforme o caso;

e) A descrição do método de obtenção do produto e, se for caso disso, dos métodos locais, leais e constantes; f) Os elementos que justificam a relação com o meio geográfico ou a origem geográfica na acepção do nº 2, alínea a) ou b), do artigo 2º, conforme o caso;

g) As referências relativas à ou às estruturas de controlo previstas no artigo 10º;

h) Os elementos específicos da rotulagem relacionados com a menção «DOP» ou «IGP», conforme o caso, ou as menções tradicionais nacionais equivalentes;

i) As eventuais exigências fixadas por disposições comunitárias e/ou nacionais.

Essas condições são uma estratégia para evitar equívocos, abusos e usos indevidos perante o nome ou o local demarcado para a produção (exclusiva ou não) destes alimentos. E serve, sempre, para valorizar a região, as suas qualidades enquanto espaço natural, biodiversidade, tradição e saberes da comunidade.

Um outro item importante, no Regulamento (CEE) de nº 2082/9262, é a «Especificidade» como

fator de manutenção da riqueza cultural das comunidades rurais, que pode acrescer valor à sua identidade. Neste âmbito, pode ler-se, no artigo 2º, o seguinte:

“1. Especificidade, o elemento ou conjunto de elementos pelos quais um produto agrícola ou um género alimentício se distingue claramente de outros produtos ou géneros similares pertencentes à mesma categoria. [...]

2. Agrupamento, qualquer organização, independentemente da sua forma jurídica de produtores e/ou de transformadores interessados no mesmo produto agrícola ou no mesmo género alimentício. Poderão pertencer ao agrupamento outras partes interessadas;

3. Certificado de especificidade, o reconhecimento da especificidade do produto pela Comunidade mediante registo, segundo o disposto no presente regulamento.

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Posteriormente, em 2006, o Regulamento (CE) nº 509 (de 20/03/2006) abandona a terminologia “certificado de especificidade” e passa utilizar o termo63 “Especialidade Tradicional Garantida –

ETG”. Neste, pode ler-se no item 1º do artigo 2º, a seguinte definição:

a) «Especificidade»: o elemento ou conjunto de elementos pelos quais um produto agrícola ou um género alimentício se distingue claramente de outros produtos ou géneros similares pertencentes à mesma categoria; b) «Tradicional»: de uso comprovado no mercado comunitário por um período que mostre a transmissão entre gerações; este período deve corresponder à duração geralmente atribuída a uma geração humana, ou seja, pelo menos 25 anos;

c) «Especialidade tradicional garantida»: qualquer produto agrícola ou género alimentício tradicional que beneficia do reconhecimento da sua especificidade pela Comunidade, por intermédio do seu registo em conformidade com o presente regulamento;

d) «Agrupamento»: qualquer organização, independentemente da sua forma jurídica ou composição, de produtores ou de transformadores do mesmo produto agrícola ou do mesmo género alimentício.

A alteração está na criação de uma alínea (neste caso, b) onde se exige que a tradição tenha um tempo, minimamente comprovado de 25 anos de existência no contexto comunitário, e seja resultante de um bem transmitido entre as gerações.

A ETG, em comparação com a DOP e a IGP, está muito mais vinculada à importância do conhecimento humano, do saber-fazer, do que propriamente à origem das matérias-primas ligadas à terra ou a um espaço físico demarcado. Neste caso, a especificidade está nas técnicas e nos saberes, e os materiais não precisam ser somente produzidos nestas áreas.

Para identificar os produtos DOP, IGP e ETG, a Comissão Europeia criou símbolos comunitários (Fig. 2, em português), que identifica os produtos agrícolas e géneros alimentícios fabricados. Estes servem, também, como um meio de credibilidade e de informação sobre a origem e aos meios de fabrico de um determinado produto.

Fig. 2 – Símbolos Comunitários

Fonte: Direção-Geral da Agricultura e Desenvolvimento Rural - DGAR64.

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Em consulta ao sítio oficial da Comissão Europeia, em 2017, verificou-se que estão registados: 632 produtos DOP, 728 produtos IGP e 56 produtos ETG, totalizando 1.410 produtos.