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1. Sob a epígrafe deste parágrafo, pretendemos aludir (apenas ‘aludir’ e não analisar detidamente) a alguns dos atos do foro notarial que até aqui não mencionamos, mas que têm interesse no domínio da titulação.

1.1. Referimo-nos em primeiro lugar aos averbamentos. É que estes visam incorporar no conteúdo do instrumento alguma menção que, ou dele não constava, ou que deve ser alterada (e retificada), ou que deve ser completada, ou ainda que cumpre atualizar, inclusive porque foi posteriormente lavrado um outro ato que alterou o que constava do título ao qual é feito o averbamento. Daí a sua óbvia importância para o rigor do que é (ou foi) documentado e mesmo para a integral e duradoura veracidade e, portanto, proficuidade do título.

O facto a averbar primeiramente referido (na al. a) do art.º 131º, nº 1) é o do falecimento do testador ou do doador. Este é um facto, que embora não alterando o conteúdo do documento, se destina à produção dos efeitos que lhe são inerentes. E, tal como a generalidade dos averbamentos, é efetuado com base em prova documental (no caso, a certidão de óbito) comprovativa do facto ocorrido e a que lei manda mencionar.

Não vamos detalhar todos os factos constantes das sucessivas alíneas, aliás claramente indicados, mas diremos que a última – a al. g) – contém uma referência genérica a todos os “atos notariais que envolvem aceitação, ratificação, retificação, aditamento ou revogação do ato anterior”.

Deste modo, conclui-se que quando o notário pratica um ato, ou é feito um documento que ele mesmo lavrou, ou que apesar de ter tido outra proveniência, lhe é apresentado, e tal ato ou documento altera ou completa o conteúdo do instrumento, não pode este continuar a referir coisa diversa, como se o facto posteriormente documentado não tivesse existido. Pelo contrário: tem de ser atualizado, a fim de que verdade factual do que antes havia sido titulado transpareça face à nova realidade. E essa é a função do averbamento.

1.2. Quando, de harmonia com o disposto no art.º 132º, nº 1, do C.N., se verifiquem determinadas inexatidões ou omissões do instrumento notarial que sejam documentalmente comprovadas, ele deve ser retificado ou completado, mas “desde que

154 da retificação não resultem dúvidas sobre o objeto a que o acto se reporta ou sobre a identidade dos intervenientes”.

Dissemos ‘determinadas inexatidões ou omissões’, visto que nem todas podem ser averbadas, mas apenas as referidas nas seis alíneas do nº 2 da citada disposição. Lendo o que cada delas refere, verifica-se que a lei restringiu as hipóteses de retificação a pontos que ‘documentalmente’ se comprova ter havido mero engano na sua menção, ou a lapsos de escrita, e sempre de modo a que, através delas, não possa ser beliscada a substância do que foi titulado.

Assim, verificando-se, por hipótese, que a designação da freguesia da situação do prédio, ou a indicação do número da descrição, ou do artigo da matriz, constantes do instrumento notarial não são os que foram nele mencionados, mas sim outros, como se verifica através das certidões apresentadas ao notário, este deve retificar esses elementos por meio de averbamento.

Contudo, se porventura resultar ou ficar em dúvida que o prédio pode não ser aquele que o instrumento identifica, mas sim um outro, nessa hipótese – ou seja, podendo o objeto da relação jurídica titulada ser outro - é óbvio que o notário já não pode proceder à feitura do averbamento.

1.3. Nos posteriores números do sobredito art.º 132º são feitas algumas precisões que aqui não importa detalhar. Limitamo-nos a referir o seguinte: se do facto averbado resultar que há algum acréscimo do valor do imposto (v.g. do selo) ou dos emolumentos devidos, devem os interessados efetuar o correspondente pagamento. Por outro lado, as normas fiscais mal citadas no documento, ou a falta de menção dos documentos, são inexatidões que podem ser oficiosamente corrigidas.

Um dos números deste artigo que se deve destacar é o nº 7, porque se prende com o caso de nulidade referido na al. a) do nº 1 do art.º 70º do C.N.: falta da indicação da data ou do lugar em que o acto notarial foi lavrado. Pois bem: essa nulidade é sanável (al. a) do nº 2 daquele art.º 70º) no caso da omissão poder ser suprida “pelo texto do instrumento ou pelos elementos existentes no cartório” e se, em face disso, “for possível determinar a data ou o lugar da sua celebração”. Esse suprimento deve então ser feito oficiosamente, por averbamento.

As restantes disposições desta Secção do C.N. (cujos pormenores não nos parecem relevantes) referem-se à forma do averbamento – que consiste numa “anotação

155 sucinta” – e às comunicações a efetuar, bem como aos averbamentos de restituição de testamentos depositados.

2. Na Secção seguinte o Código regula uma matéria importante, que é a dos “registos”, para consignação escrita de diversos atos, o que permite facilitar as buscas, assim como contribui para a própria credibilidade de alguns dos mais frequentes: instrumentos, actas e outros documentos.

Para tanto, existem nos cartórios notariais livros a tal fim destinados, - distinguindo-se dos “livros de notas”, onde se lavram os próprios instrumentos - sendo de realçar os que respeitam aos registos de testamentos públicos, cerrados e internacionais, escrituras, protestos de títulos e de documentos e demais instrumentos avulsos, bem como os livros auxiliares, tais como os de contas e de selo, dos quais aqui não falaremos já que não respeitam aos problemas peculiares da titulação.

A referenciação registral visa, pois, conservar uma informação (um registo) sobre a realização dos atos e os seus dados básicos, de modo a permitir localizá-los e a identificar a sua prática. É que, sobretudo no que concerne aos instrumentos fora das notas, se não houvesse esse registo, poderia ‘perder-se-lhes o rasto’, visto que, além de serem lavrados num único exemplar (art.º 103º, nº 1) este, salvo se for solicitado o seu arquivo, é entregue ao interessado, não ficando arquivado no cartório (art.º 104º, nº 1).