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7 Responsabilidade no caso de nulidade, participações e encargos

1. Nos casos em que o acto notarial é nulo (ou foi nulo) e depois é revalidado ou a nulidade sanada, essa ‘resolução’ do problema não significa que o notário fique isento de responsabilidade. Não fica, tal como indica o artº 184º do C.N.

Simplesmente, não é no C.N. ou em legislação aplicável antes da privatização ocorrida em 2004 (isto é, a que também envolvia o Estado) que devemos procurar a regulamentação desta matéria, visto que o regime da responsabilidade deixou de ser o aplicável à função pública. Esse regime é agora o “comum”364

, tanto no que tange à

364 Note-se que, após a reforma de 2004, o regime “comum” do foro privado, a que aludimos, não é

apenas o aplicável à responsabilidade civil, mas a tudo o mais, nomeadamente o que respeita à matéria do trabalho (do notário e dos empregados do cartório) e da segurança social (cf. art.º 24º do E.N.).

158 responsabilidade civil365366, como ainda, em certos casos (v.g. nos de dolo), à criminal. Não obstante a privatização do notariado, acresce, como se crê evidente face à natureza pública da função, a “responsabilidade disciplinar”.

Os notários são disciplinarmente responsáveis (nos termos do disposto no art.º 60º do E.N.) “perante o Ministro da Justiça e a Ordem dos Notários”. Por seu turno, no Capítulo VI do E.O.N. é detalhadamente regulada esta matéria, a que aqui não nos iremos referir, por se nos afigurar que excede a problemática da titulação.

O que, em suma, devemos dizer é que a questão da responsabilidade dos notários é indubitável e que ela não é afastada pela circunstância de ser reparada a invalidade de que o ato enfermava.

2. No tocante a muitos dos atos praticados, designadamente às escrituras e aos testamentos, os notários, além de fazerem os registos nos livros próprios a que já nos referimos, devem, como preveem os art.ºs 185º a 187º, fazer uma série de comunicações a diversas entidades: de autoridade estatística, bem como do âmbito fiscal e do registral, incluindo neste a Conservatória dos Registos Centrais.

É que, a esta Conservatória cabe, em especial, fazer o “registo central de escrituras e de testamentos”. Trata-se de uma importante fonte de informação para quaisquer interessados, visto que, consabidamente, esses atos (ou a sua revogação) podem ser feitos em locais muito diferentes da habitual residência das partes – e por vezes são-no precisamente para tentar ocultar o ato – e, existindo o registo central, torna-se fácil a localização e certificação dos mesmos.

É no C. N. (um pouco anomalamente, diga-se) que está determinado (art.º 188º) que na Conservatória dos Registos Centrais deve existir um “índice geral”, alfabetado, dos testamentos, escrituras de revogação destes, renúncias de heranças e análogas, precisamente para se tornarem mais acessíveis as inerentes buscas.

365 Precisamente para garantir a efetivação da responsabilidade civil, a Revista da O.N. anunciava que a

Ordem subscreveu (e muito bem)“um seguro de responsabilidade civil profissional em que a participação de cada notário será garantida pela inscrição na ordem e manutenção das quotas”, e que “o objeto deste seguro inclui a responsabilidade civil imputável ao notário em consequência de erro, omissão ou negligência cometidos pelo próprio, ou seus trabalhadores e empregados, exclusivamente no exercício da atividade profissional de notário” (cf. R.O.N. nº 4, Maio de 2007, p. 13). Em Espanha o art.º 24º do “Regulamento” diz que “o notário deve obrigatoriamente acreditar a contratação de um seguro de responsabilidade civil...”.

366 Antes da reforma do notariado, em 2003, o BRN publicou um interessante estudo sobre este tema

que em grande parte mantém atualidade (cf. RODRIGUES, João Maia, “Responsabilidade Civil dos Notários”, separata do BRN nº 2/2003).

159 Além destas participações, existe ainda uma obrigação – considerada publicamente relevante – que é a do fornecimento dos dados estatísticos ao INE. Para tanto, os cartórios notariais têm de preencher os correspondentes verbetes “até ao dia 10 do mês seguinte” (art.º 185).

3. Uma última referência que neste parágrafo nos pareceu oportuno fazer é a concernente aos encargos e à cobrança de impostos.

Como é de todos sabido, pela prática dos atos são devidos emolumentos (salvo nos raríssimos casos de isenção) que aos interessados cumpre satisfazer, bem como taxas e despesas, estas designadamente pelas deslocações (art.º 189º). Mas, além disso, nos cartórios e escritórios devem também ser cobrados os inerentes impostos.

Há muitos anos já que os notários têm sido obrigados a liquidar o ‘Imposto de Selo’ e, evidentemente, a proceder à liquidação e ao pagamento deste imposto, enviando o correspondente montante, no prazo legal, aos serviços fiscais367. Aliás, basta atentar no disposto no artº 2º, nº 1, a) do C.I.S. para se verificar que notários e conservadores são “sujeito passivos do imposto” – devendo, portanto, proceder à sua liquidação e pagamento - e que este incide “sobre todos os atos, contratos, documentos, títulos, livros (…) previstos na Tabela Geral”, ou seja, sobre a generalidade dos atos praticados nos cartórios notariais”368

. Os notários devem igualmente fazer as participações respeitantes ao IMT.

Após a privatização do notariado adveio ainda a necessidade de, pela prática dos atos, ser pago o IVA correspondente. A este propósito a O.N. aproveitou para informar que o Estado não sofreu prejuízo material com a aludida privatização, visto que a receita do IVA é até superior à que resultava do saldo líquido dos emolumentos369.

Esta obrigação da liquidação do IVA pela prática dos atos é (como nos parece óbvio) extensiva aos advogados e solicitadores, ainda que tenha já originado alguma contestação e, pelo menos, um Parecer da O.A.370.

367 Sobre este tema podem ver-se as anotações constantes do citado “Código do Notariado, Anotado”,

edição do Ministério da Justiça, pp. 242-252.

368 Após a aprovação do O.E. de 2010 foi noticiada a eliminação do Imposto de Selo em alguns atos e

contratos. Consultável em: http://economico.sapo.pt/noticias/imposto-de-selo-eliminado-em-contratos- e-actos-notariais_79892.html - (consultado em 17/07/2012 às 8:00 h).

369 Disponível em: www.notarios.pt/OrdemNotarios/.../ConteudoGenerico.aspx - consultado em

17/07/2012 às 9:10 h.

370 Tratou-se do Parecer n.º E-2/03, que considerou (e bem) “que deveria equacionar-se a criação, ou

pelo menos a clarificação, de um novo regime de tributação para os reconhecimentos e certificações de fotocópias, de molde a nivelar fiscalmente todas as entidades concorrentes, o qual poderia passar, por exemplo, pela obrigatoriedade de os notários liquidarem IVA nos reconhecimentos e certificações de

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