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4 Os documentos particulares apenas reconhecidos

1. Aludimos aos documentos que unicamente contêm os reconhecimentos de assinatura quando são efetuados em cartórios notariais. Cabe agora fazer uma breve referência a esses reconhecimentos quando são feitos por outras entidades. Em síntese, não há diferenças que devam ser assinaladas, pelo que teremos de recordar aqui o essencial do que anteriormente se disse, relembrando que abrimos este parágrafo apenas por uma razão metodológica.

Relativamente à concessão dessa faculdade a quem não exerce a função notarial, notamos que é bem anterior à da autenticação de documentos, visto que, quanto a advogados e solicitadores e às faladas câmaras de comércio e indústria, já data do ano de 2001 (Dec-Lei nº 237/2001, de 30/8) e a funcionários de conservatórias do de 1990 (Dec-Lei nº 60/90, de 14/2)291.

O documento particular não é, em princípio, feito pelo notário nem elaborado no cartório notarial. Contudo, no que é autenticado, ainda se exige a intervenção – dir-se-ia até, em comparação com o autêntico, uma intervenção mínima, como referimos - para procurar saber se as partes são aquelas mesmas e se confirmam que o seu conteúdo corresponde ao que nele pretendem consignar. E é esta a diferença essencial do documento que ora analisamos, e que unicamente tem o reconhecimento, em relação com o que é autenticado.

Na verdade, a questão da identidade das partes é também verificada ao efetuar o (atualmente) mais habitual reconhecimento. Não o era quando existia o denominado “reconhecimento simples” da assinatura do subscritor, ou seja, quando a conformidade da mesma com a verdadeira era apenas verificada “por semelhança” com a que constava do documento de identificação apresentado. Todavia, esse reconhecimento simples foi há anos abolido292 e, presentemente, só existe o presencial e o circunstanciado.

291 Note-se que a atribuição desta competência não foi genérica para qualquer tipo de reconhecimentos,

mas sim e unicamente para o reconhecimento presencial da assinatura em documentos que baseiam e titulam determinados registos provisórios (v.g. art.ºs 47º, nº 2 e 59º, nº 2, do C.R.P.).

292 Este tipo de reconhecimento foi abolido, como se sabe, pelo Dec-Lei nº 250/96, de 24/12, que

considerou, e cremos que bem, tratar-se de mera burocracia que nada acrescentava à credibilidade do documento, uma vez que nem a própria falsidade da assinatura podia ser facilmente detetável com os meios disponíveis em cartórios e escritórios e porque a lei se contentava com uma simples comparação exterior que considerasse a assinatura ‘parecida’ com a que constava do documento de identificação apresentado.

126 É certo que este último (vulgar quando se trata v.g. do reconhecimento na qualidade de procurador ou de representante) também pode ser feito por semelhança293, mas, nesse caso e como também se disse, a existência desse outro elemento ‘complementar’ que é certificado, também ajuda a provar a identidade de quem subscreve o documento.

2. Como se indicou, os reconhecimentos de assinatura que hoje existem, além do circunstanciado, são os “presenciais”, que podem ser de assinatura ou de letra e assinatura. Em qualquer deles quem procede ao reconhecimento tem de verificar a identidade do subscritor – que deve estar presente no acto – através de algum dos meios previstos no art.º 48º do C.N.

Existe ainda um outro tipo de reconhecimento presencial de assinatura: a que é a feita “a rogo”. Como se sabe, o rogo verifica-se quando a pessoa que devia assinar o documento não sabe ou não pode assinar (art.º 154º, nº 1, do C.N.). Neste caso, para que possa haver uma confirmação do que está contido no documento, exige-se que ele seja “lido ao rogante” (citado art.º 154º, nº 2).

Quanto aos reconhecimentos de assinatura e de letra e assinatura, diremos o seguinte: o reconhecimento apenas da assinatura só pode ser o presencial, já que foi abolido o por semelhança e o C.N. também só admite aquele (art.º 153º, nº 4). Quanto ao da letra e assinatura, não sendo a grande maioria dos documentos manuscrita, de modo a poder ser confirmada presencialmente a letra de quem o faz, coloca-se a questão de saber ‘o que fazer’. Dissemos a propósito do reconhecimento notarial, e aqui reafirmamos, o seguinte: trata-se de situações que não se acham previstas na lei e, por isso, e porque neste domínio não se pode improvisar, parece-nos que não restará outra alternativa que não seja a da confirmação do conteúdo294, isto é, a da autenticação do documento.

3. Os reconhecimentos devem conter as indicações referentes ao lugar e dia em que são feitos, a identificação de quem os subscreve e o modo como foi verificada a sua

293 Neste sentido, cf.

NETO FERREIRINHA e ZULMIRA NETO, citado “Manual”, p 1047-1050 e, “A

Função Notarial dos Advogados”, p.31-33.

294 Na verdade, o C.C. estabelece uma presunção de verdade da autoria da letra e da assinatura

reconhecidas e considera que, salvo o caso de falsidade, as declarações fazem prova plena (art.ºs 374º e 376º). Portanto, no tocante à eficácia probatória do documento com o reconhecimento da letra e assinatura ou só da assinatura, parece-nos manifesto que ela abrange o conteúdo das declarações. Com esse reconhecimento, também se diz que o documento fica legalizado (vide: GONZÁLEZ, José Alberto,

127 identidade e bem assim a assinatura do autor do reconhecimento. Trata-se de menções básicas previstas no art.º 46º, nº 1, do C.N. para os instrumentos, mas que são aplicáveis aos reconhecimentos ex vi do disposto no art.º 155º do mesmo Código e sejam eles feitos por juristas ou por qualquer das outras entidades que a lei prevê.

Além destas menções terá ainda de haver lugar a outras referências, tais como a indicação de abonadores e as dos documentos exibidos. E há comprovativos legais que é necessário mencionar, tais como a da declaração fiscal do IMT, a que aludimos a propósito do documento autenticado.

Também merecedor de atenção é o que estabelece o art.º 157º, proibindo que se façam reconhecimentos em certos casos, como a leitura do documento ser for facultada, estar escrito “em língua estrangeira que o notário não domine” e as demais situações que o preceito menciona.

Não se acha especialmente prevista, nem nesta, nem em qualquer outra norma do C.N. a hipótese de o documento ter um conteúdo claramente ilegal. Muito embora o mero reconhecimento de assinaturas não envolva a qualificação da conformidade jurídica do conteúdo do documento, torna-se manifesto, até por maioria de razão em face ao estatuído neste art.º 157º, que não pode ser reconhecido.