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1. As nulidades do ato notarial – as que a ele respeitam e se acham previstas no C.N. – não se referem ao ‘negócio jurídico’ que é titulado nos documentos e certamente daí que não condigam com o conceito civilístico tratado na teoria geral do direito civil.

Com efeito, não se trata, propriamente de “nulidades” (consideramos que não o

são, embora sem ter encontrado apoio para este entendimento nos textos de direito

notarial), visto que na quase totalidade não correspondem aos parâmetros, nem têm as

357 Com efeito, como já referimos, estes são os elaborados pelos notários e quando o outougante não

sabe ou não pode assinar, não há necessidade de ‘rogar’ a alguém que assine pelo rogante, visto que, como observou TAVARES DE CARVALHO, o rogo existe apenas quando há lugar à “assinatura dos documentos particulares” (“Actos dos Notários”, p. 31).

151 características, nem visam salvaguardar os valores equivalentes aos das nulidades soi-

disant normais.

Para confirmar o que acabamos de referir, sublinhe-se que o ato notarial dito “nulo” (ao invés do que é civilmente nulo) pode, em geral, ser sanado, ou revalidado, ou confirmado com efeitos ex-tunc 358.

As nulidades que o C.N. contempla – e, portanto, as que denominamos “nulidades notariais” – verificam-se por incumprimentos formais, tais como a existência de emendas, rasuras ou entrelinhas não ressalvadas, a falta de menção da data ou do local em que o documento foi feito, a omissão quanto ao cumprimento de formalidades relativas a intérpretes, a incompetência ou impedimento do funcionário, em suma, um elenco de causas que em geral (apenas com a exceção da última referida) são sanáveis e o ato suscetível de revalidação.

Por outro lado, a incapacidade permanente do outorgante, o erro-obstáculo ou erro na declaração, derivado da sua declaração de vontade não ter sido deviamente manifestada no documento, são vícios que não estão contemplados no C.N. (mas sim no C.C., este no artº 247º), assim como todas as demais causas de invalidade substantiva, apesar da sua consabida relevância, não são notariais.

2. O que se acaba de dizer não significa que a matéria das nulidades notariais seja despicienda e que, como é evidente, o titulador não deva ter o maior cuidado em evitá- las. De facto, o ato notarial é, como temos vindo a sublinhar, fundamental para a credibilidade, segurança e garantia dos negócios jurídicos e de quaisquer atos que através dele possam ser titulados. Ora, se ficar ferido de nulidade, embora sanável, isso necessariamente motiva que as apontadas características saiam prejudicadas359.

A nulidade do ato notarial, diz o C.N., pode ocorrer por “vício de forma” (artº 70º) ou em “outros casos” (artº 71º). No nº 1 do art.º 70º indicam-se as sucessivas hipóteses (que não vamos aqui detalhar, até porque estão claramente referidas) em que esse vício pode ocorrer e no nº 2 referem-se as situações que determinam que tais nulidades se considerem sanadas.

358 Todas estas possibilidades e não apenas a da sanação em restritas hipóteses faz com que não

estejamos perante um caso isolado ou especial e que, portanto não se enquadrará apenas nas denominadas “nulidades atípicas”. Nas nulidades notariais estamos, a nosso ver, perante um conceito diferente de nulidade.

359 Cabe notar que o supra mencionado não colide com a credibilidade do ato notarial. Tenhamos em

vista que casos de nulidade podem também ocorrer com a sentença judicial, com o registo, ou com qualquer ato administrativo.

152 Os “outros casos” são aqueles que os nºs 1 e 2 do artº 71º enunciam. No nº 3 mencionam-se as circunstâncias em que há possibilidade de sanação “por decisão do respetivo notário”. Quer, portanto, dizer que nesses outros casos o notário, verificando a nulidade, sem necessidade de instaurar um processo, deve proferir um despacho no qual conclui por considerar que a nulidade é sanável (e referir como) ou por negar essa sanação360.

No normativo seguinte, o art.º 72º faz um esclarecimento útil e pertinente: quando há disposições a favor de pessoas relativamente às quais o vício decorre da existência de impedimento do notário ou do funcionário, a nulidade é restrita a essas pessoas.

3. A Subsecção que começa no art.º 73.º o C.N. contempla os casos de “revalidação notarial”,361

que são os mencionados nas sucessivas alíneas desta disposição.

A revalidação já envolve um processo, que supõe a formulação de um pedido no qual devem ser especificados e referidos vários elementos (art.ºs 74º e 75º). Seguem-se as fases de notificação e de audição dos interessados, apreciação da prova e, se necessário, inquirição de testemunhas e, por último, a decisão final do notário no sentido de deferir ou indeferir o pedido.

Depois da decisão e da sua notificação aos interessados, a sua execução “é sustada pelo prazo de 10 dias, durante o qual qualquer das partes pode interpor recurso” (art.º 77º/1), que é dirigido ao tribunal de 1ª instância da área de circunscrição do cartório (art.º 78º/1).

Apenas depois de findos estes procedimentos é que o notário deve executar a decisão, a qual, sendo favorável, tem de ser averbada ao ato que foi revalidado, tal como

o art.º 131º, nº 1, f) do C.N. prevê.

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A lei não o refere expressamente, mas consideramos que a decisão do notário é sempre recorrível, nos termos gerais. Com efeito, por um lado, não se vê como poderia ser negado tal direito fundamental e, pelo outro, também nos parece que o art.º 175.º do C.N. quando faz alusão à recusa de “praticar o ato”, emprega esta expressão num sentido genérico, abrangendo a recusa ou o indeferimento de qualquer ato.

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A Subsecção tem mesmo a epígrafe de “casos de revalidação notarial”. Na redacção inicial da Código (dada pelo Dec-Lei nº 207/95, de 14/8) a revalidação era só a judicial (dizia-se que o ato “pode ser judicialmente revalidado”). Esta alteração deveu-se à introdução do “programa” – dirigido ao notariado e aos registos - que o legislador designou como de “desjudicialização de matérias” que não envolvem um conflito (um litígio) que só judicialmente pudesse ser decidido.

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