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Capítulo 2 História e Geografia do carnaval em Juiz de Fora

2.2. O carnaval na Juiz de Fora do Brasil Império: entrudo e bailes à fantasia

2.3.15. Blocos, cordões, ranchos e corsos

Não existem conceituações que nos permitam diferenciar com critério cordões, blocos e ranchos, pois ao longo da história fora utilizado de maneiras variadas criando-se conceitos bastante flexíveis. Excetua-se, apesar disso, o corso que sempre foi mais próximo do que se

apresentava nas Grandes Sociedades Carnavalescas, onde se faziam presente as camadas mais ricas da sociedade.

Em Juiz de Fora, os corsos eram comumente chamados os desfiles em automóveis de passeio que saiam às ruas enfeitados e com pessoas fantasiadas que interagiam com o público. Ato este, como se confeccionassem, cada família possuidora de um veículo, um aparato carnavalesco. Utilizamos como exemplo a matéria do O Pharol de 1917 que descreve um corso de automóveis ocupado por pessoas de ricas famílias que interagiam nele.

A’ tarde de domingo, como estava annuciado, realizou-se a passeata de carros e automoveis promovida pelo Sport Club Juiz de Fóra.

Foi um sucesso esse elegante corso, nelle tomando parte, phantasiados, numerosos socios e suas exmas. familias (O PHAROL, 20 fev. 1917).

Entendemos as demais manifestações como etapas de aprimoramentos organizativos e musicais que levam as festas de carnaval ao encontro da música, bem elaborada e com forte dominância de instrumentos de percussão. Seguimos Fernandes (2001) e a sua tentativa de diferenciação entre as manifestações.

Figura 26: REVISTA EM VOGA, 1989: p. 10.

Os cordões, em primeiro lugar, um encontro de percussionistas, com fortes influências da música baiana, sobretudo o cucumbi, que se reuniam em espaços públicos e desfilavam pelas ruas nas batucadas divertidas e reproduzindo fantasias do dia a dia, como por exemplo as figuras dos indígenas e a dos reis, além de alguns ofícios como marinheiros ou o pirata e outros personagens da época. Influenciados pela música negra e estilos africanos, os músicos saíam pelas ruas com seus tambores e sua volta formavam-se espontaneamente cordões de isolamento de pessoas, onde, dando-se as mãos, mantinham uma zona segura para que o som não fosse interrompido ou atrapalhado pela exaltação dos foliões. Fernandes (2001: p. 24) destaca que, a possível origem dos cordões fossem nas festas de Nossa Senhora do Rosário, onde tradicionalmente, os fiéis se fantasiavam reis e outros personagens e ao som de ritmos africanos saíam pelas ruas a cantar e a dançar. Essa influência da cultura negra, vai ser o que caracteriza os cordões e o ponto que os levariam a seu fim. As atividades de trabalhadores nunca fora bem vista pelas forças da ordem e da política, mas somado a isso, incluía-se a forte ligação com as religiões de matriz africana, que num país majoritariamente católico era ligado aos cultos ao diabo. Dessa forma, a “satanização” dos cordões impactou de tamanha maneira que desestabilizou e culminou no fim dos festejos (FERNANDES, 2001: p. 31).

Considerados “formas mais civilizadas de cordões”, os ranchos trouxeram inovações as festividades carnavalescas, ao ponto de superar, em 1911 totalmente os cordões (FERNANDES, 2001: p. 28). Com a inserção dos instrumentos de corda e sopro, os ranchos davam continuidade às práticas dos cordões com as fantasias, a festa, os desfiles e agora, com harmonia e melodia de instrumentos que não existiam nos cordões. Os instrumentos trabalhavam num ritmo próprio – o das marchas-ranchos –, inspirados pelas bandas militares, acrescidas da dança e do canto coletivo. Mais tarde, no transcurso evolutivo das escolas de samba, os ranchos serão combatidos pelos que hoje são conhecidos como os fundadores das primeiras escolas de samba do Brasil, que vão proibir os instrumentos de sopro e se negarão inicialmente, à produzirem enredos, uma vez que estes eram características dos ranchos que cantavam, majoritariamente, temas nacionais. Mostaro, Medeiros Filho e Medeiros retratam o que eram os ranchos em juiz de Fora e seu viés popular em contraposição ao caráter elitista dos clubes e Grandes Sociedade Carnavalescas.

Os Ranchos eram formados por pessoas de várias categorias sociais o que geralmente não acontecia com entidades carnavalescas denominadas clubes, que faziam dois tipos de carnaval: bailes, em suas sedes, e o de rua, com retretas e corso. Destacam-se os Graphos e os Planetas, este se dando ao luxo de trazer coreógrafos do Rio de Janeiro, porque tinha à frente Euchério Rodrigues, que não media esforços econômicos- financeiros para a melhor performance de seu clube. As famílias de índole

carnavalesca achavam-se comprometidas com uma ou outra entidade, e não se pode deixar de catalogar as animadas presenças da família Corrêa (José, Daniel e Oswaldo, este, sempre fantasiado de Rodolfo Valentino), do italiano Duílio Binda e de Gustavo Portilho de Mattos (MOSTARO, MEDEIROS FILHO, MEDEIROS, 1977: p. 17-18).

Finalmente, os blocos. Se hoje é fácil definirmos os blocos nas ruas das cidades durante o carnaval, não existem critérios adotados que o façam se diferenciar significativamente das demais formas de festa, a não ser por uma questão legal. De “1896 a 1898 ocorreram centenas de licenciamentos de blocos pela polícia”. A partir de então, os cordões, “satanizados”, passam a se chamarem de blocos para continuarem existindo e os ranchos, de alguma forma, são aceitos enquanto carnaval civilizado, admitidos no carnaval chic. “Em face de medidas como estas, é natural que os grupos carnavalescos se assumissem cada vez mais como blocos, embora continuassem no essencial com o mesmo ritual dos cordões” (FERNANDES, 2001: p. 36). E para terminar, ainda completa:

Não resta dúvida de que esta estratégia permitiu o desenvolvimento extraordinário dos blocos dentro e através dos quais os cordões seguiam vivos. Sohiet registra que no carnaval de 1922 o Centro da cidade foi invadido por uma enxurrada de cordões que, através de uma barulhenta e infernal zabumbada, saudaram o velho e desaparecido zé- pereira, para total desgosto e horror daqueles que pensavam ter deixado tais manifestações no passado. Na realidade, como veremos adiante, mais que portadores do passado, os blocos naqueles anos já começaram a projetar o futuro do Carnaval, pois será de um deles que logo surgirá a primeira escola de samba, em 1928 (FERNANDES, 2001: p. 36).