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Capítulo 2 História e Geografia do carnaval em Juiz de Fora

2.2. O carnaval na Juiz de Fora do Brasil Império: entrudo e bailes à fantasia

2.3.9. A terceira proibição.

O ano de 1909 demonstrou a dificuldade do Club dos Planetas saírem às ruas, que em 1910 se concretizou. Nem os Planetas nem os Graphos conseguiram sair às ruas, fazendo com que “os folguedos corressem frios e sem enthusiasmo”. Mesmo assim, as ruas estiveram cheias de gente para o entrudo e os jogos de confetes, além dos bailes no Theatro juiz de Fora, grupos de Zé Pereiras como os “Estavaredas”, o cordão Flôr do Lamaçal e também muitos mascarados avulsos (O PHAROL, 8 fev. 1910).

Nota-se pelas ruas indescriptivel enthusiasmo, no povo.

Por toda a cidade o pessoal entrega-se ao entrudo com um delírio sem precedentes. Mascaras avulsas percorrem as ruas, umas bem phantasiadas, outras vestidas indecentemente, todos aborrecidos e insípidos como os demonios.

A rua Halfeld á noite apresenta féerico aspecto. A sobria ornamentação que ali fizeram produz lindissimo effeito.

A Euterpe Mineira faz as delicias dos transeuntes, executando as melhores peças do seu repertorio, no coreto armado junto ao Café Isaura (O PHAROL, 8 fev. 1910).

Sem dúvida, o destaque do carnaval desse ano foi o jogo do entrudo, roubando a cena das demais atrações civilizatória de parte da sociedade juizforana.

O povo sem distinção de classe, entregou-se ao entrudo desbragado, ao entrudo ruidoso o trefego dos limões de borracha e baldes d’agua.

Não obstante toda a confusão proveniente dessa brincadeira que o povo tanto ama, não houve, para honra dos nossos creditos de civilisação, um attrito por menor que fosse e que acarretasse a perturbação da ordem (O PHAROL, 10 fev. 1910).

Toda esse contexto resultará num edital de proibição do jogo neste mesmo ano pela câmara municipal.

Para conhecimento dos interessados faz-se publico que está em inteiro vigor a Res. n. 652 de 10 de Outubro de 1910 que prohibe durante o carnaval o jogo de entrudo por baldes d’agua, esguichos e limões nas ruas da cidade. O infractor incorrerá na multa

de 50$000.

Juiz de Fóra, 30 de Janeiro de 1911. Os agente Municipaes:

F. Assis Pinto Junior Matheus Kascher

Ludovico Nehrer (O PHAROL, 16 fev. 1912).

A avaliação final é de “mágua” pela ausência dos Club dos Graphos e dos Planetas que segundo o editorial do jornal “estavamos tão habituados a admirar”.

Infelizmente os valorosos foliões não quizeram fazer um pouco de sacrificio e a ausencia de seus prestitos este anno foi motivo de grande magua para todos os juizdeforanos.

Oxalá para o Carnaval futuro o mesmo desanimo não domine os sympathicos e intelligentes carnavalescos, que são os Planetas e os Graphos (O PHAROL, 10 fev. 1910).

Foi desse medo, da ausência das grandes sociedade, que o carnaval de 1911 realizou-se, com grande animação é verdade, levando à rua Halfeld “mais de cinco mil pessoas” durante as festas, com bandas de música, e grande decoração organizada pela “commissão composta dos srs. Alexandre Nogueira e Pedro Lisboa” (O PHAROL, 2 mar. 1911).

A rua Halfeld está sendo lindamente enfeitada. Foi erguido junto á Confeitaria Rio de Janeiro um vistoso coreto pintado com interessantes paineis representando um pagode japonez, trabalho do pintor Luiz Pereira, e illuminado por 48 lanternas japonezes e docos electricos.

Começará hoje a tocar ali a banda Euterpe Mineira.

O resto da rua será ornamentado com bandeiras e galhardetes. A Companhia Mineira reforçou a luz com alguns arcos voltaicos.

Para mais effeito da ornamentação os srs. Pedro Lisboa e Alexandre Nogueira pedem ao commercio, por nosso intermedio, o favor de embandeirar as fachadas nos dias de carnaval (O PHAROL, 25 fev. 1911).

A polícia providenciou o bloqueio de carruagens, exceção ao transporte com destino à folia, de transitarem na rua Halfeld durante os três dias.

A policia, de acordo com a Camara Municipal, prohibiu, durante os tres dias de Carnaval, das 6 horas da tarde em diante, a passagem, pela rua Halfeld, de carruagens. Ficam apenas isentos dessa medida os carros conduzindo mascaras e enfeitados, desde que levando também pessoas phantasiadas (O PHAROL, 26 fev. 1911).

Nesta mesma rua que se desenrolou os principais eventos carnavalescos deste ano. “As batalhas de lança-perfumes principalmente no trecho que vae da rua Direita á do Commercio, têm estado encantadoras” e um público variado se divertia pelas ruas. “Senhorinhas graciosas, senhoras, creanças, moços, velhos, todos se munem de tubos de ether e com o enthusiasmo que lhes é peculiar, travam pleitos renhidissimos, e assim gozam um dos melhores prazeres do Carnaval. A banda Euterpe Mineira se apresentou no mesmo local sob regência do Professor Armando Faria. Mascarados, dominós e demais fantasiados avulsos apareciam aos montes na rua, e até o proibido entrudo se manifestou na figura de alguns. “Está prohibido pela Camara o uso da agua e de limões. No entanto ha individuos que lançam mão desse recurso para molhar os transeuntes” (O PHAROL, 28 fev. 1911).

O Zé Pereira esteve presente por alguns grupos promovendo batucadas pelas ruas. Entre eles um grupo do Club dos Faquistas e um grupo do Club dos Planetas que não saíram em

préstito nas ruas. “Com um ensurdecedor Zé Pereira sahiram hontem á rua alguns denodados rapazes do Club dos Planetas, trazendo á frente do grupo o glorioso estandarte preto e vermelho” (O PHAROL, 26 fev. 1911).

“Os luxuosos e magnificentes salões” do Club Juiz de Fora abriram todos os dias estando bastante movimentado, assim como o Theatro Juiz de Fora. Entre as apresentações, os clubes eram animados por maxixes, can-cans e “festa do Pagode e da Troça” (O PHAROL, 26 fev. 1911).

Contudo, com a grande oferta de atrações e grande movimentação pelas rua centrais da cidade, a ausência de préstitos levantou críticas que desqualificaram por completo o carnaval deste ano. Um delas republicada abaixo pelo O Pharol, classifica os desfiles como fundamentais à festa..

Carnaval! Nós enchemos aqui a bocca com esse nome, como si de facto o tivessemos tido em nossa cidade. Poder-se á chamar, com verdade, Carnaval isso que os senhores estão vendo ahí? Qual! Só se nos quizermos enganar a nós mesmos.

A festa de Momo, o povo só a comprehende com as luminárias e as phatasmagorias dos prestitos. Estes, por miseria ou desdita, não se poderam organizar. E o publico que os colloca em primeiro plano e só se diverte quando os vê sahir á rua com a portentosa e deslumbrandora riqueza das suas allegorias e as efusiantes creações de suas criticas e allusões, o publico, diziamos, não aprecia o Carnaval sem prestitos, porque elles são a alma desses tres dias de pandega desenfreada. E tem razão o publico. Mas, ao mesmo tempo não tem. Não tem porque não auxilia a fazer isso de que tanto gosta (O PHAROL, 28 fev. 1911).

E ainda mais radical na análise, afirma:

Não houve, nem está havendo Carnaval em Juiz de Fóra.

Não obstante, a população conserva o seu tradicional enthusiasmo pela festa mais popular que temos no anno e vae tratando de divertir-se da melhor maneira possivel. E graças a esse enthusiasmo, as ruas enchem-se lindamente, ganhando um aspecto formosissimo que unicamente hes pode emprestar a concorrencia do povo.

Como sempre acontece, a rua Halfeld tem conseguido uma enchente descomunal. Desde sabbado a afluencia popular á nossa rimeira rua cresceu de modo colossal. Depois de 5 horas da tarde, reune-se ali uma tão grande multidão que se torna quasi impossivel o transito nos passeios e mesmo no meio da rua (O PHAROL, 28 fev. 1911).

A ausência do préstito das Grandes Sociedades Carnavalescas é um grande baque no período na história do carnaval da cidade, já anunciado no ano anterior, todavia, não devemos generalizar o discurso do escritor e da redação do Pharol quanto a análise geral. Sendo assim, entendemos esse ano como uma comemoração bastante movimentada e repleta de atrações, com exceção aos desfiles das Grandes Sociedade Carnavalescas.