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Capítulo 2 História e Geografia do carnaval em Juiz de Fora

2.2. O carnaval na Juiz de Fora do Brasil Império: entrudo e bailes à fantasia

2.3.19. Rouxinóis e Quem São Elles?

A partir do ano de 1925, já não temos nos registros históricos da Biblioteca Nacional as edições do período de carnaval. Mesmo assim, a existência de outros jornais como O Dia37 e o Jornal do Commercio38 nos auxiliam nesta reconstituição histórica.

Em 1926, o jornal O Dia noticia que as chuvas fortes que caíram sobre a cidade prejudicaram a realização da festa de rua, “contudo, não se pode dizer que fracassaram”. A população aproveitou os desfiles das Grandes Sociedades e se destinaram para os clubes assim que estes abriram as portas. O préstito do club dos Planetas, diz a notícia, “apesar de não ter sido nada deslumbrante, representa um grande esforço dos rubro-negros em corresponder a sympathia que todos lhes dispensaram, apresentando-se na rua”. Os bailes noturnos foram julgados como “enthusiasticos e concorridos”. “Os bailes dos Graphos, Planetas, Selecto e outras sociedades, notadamente nos Graphos, que foram os mais concorridos, representaram a nota mais chic do carnaval deste anno” (O DIA. 18 fev. 1926).

Além de uma rua Halfeld iluminada com “um aspecto bellissimo” as ruas ainda viram os desfiles de corsos em todos os três dias na região central. “No corso tomou parte o Moto Club Juiz de Fóra, tendo-se destacado entre as motocycletas a do sr. Pedro Machado da Rocha, onde eram conduzidas lindas crianças” (O DIA, 18 fev. 1926).

Os anos de 1920, representam na história do carnaval brasileiro o ano da evolução do samba, que em 1928 resultou no surgimento da primeira Escola de Samba no Rio de Janeiro. Juiz de Fora sob forte influência da capital federal, acompanha esse desenvolvimento com certa proximidade. Vê-se cada vez mais um declínio dos préstitos das grandes Sociedades Carnavalescas, ligadas à famílias ricas, enquanto blocos, cordões e ranchos progridem e saem em maior número às ruas. Os ranchos, como explicitaremos melhor à frente, são grandes influenciadores das escolas de samba, tanto no Rio de Janeiro quanto em Juiz de Fora e seus desfiles na cidade mineira será capaz convergir uma série de carnavalescos e sambistas na criação das primeiras escolas de samba39.

Nos princípios da década de 1920 ainda não se falava em samba na cidade, “o que tocavam (e dançavam), se não fosse choro ou chorinho, era chamado tango, sem nenhuma semelhança com o maxixe, e batucada”. Já nos finais da década, devido à forte influência

37 Edições de 1926 e 1927 disponíveis no setor de memória da Biblioteca Municipal Murilo Mendes. 38 Edições de 1933 e 1934 disponíveis no setor de memória da Biblioteca Municipal Murilo Mendes. 39 Cf. MOSTARO, MEDEIROS FILHO, MEDEIROS, 1977.

carioca, onde muitos sambistas que aqui foram pioneiros frequentavam, vai se inserindo o ritmo nas rodas de samba e também nos desfiles carnavalescos.

Em 1926 e 1927 o desfiles de blocos aumentou significativamente, fazendo o Jornal O Dia, dar destaque à nova onda que tomava as ruas centrais. Importante destacar que enquanto o jornal trata dos grupos como blocos, Antônio Coury, diz que grupos como Rouxinóis e o Quem São Eles na verdade se trata de ranchos (MOSTARO, MEDEIROS FILHO, MEDEIROS, 1977: p. 175).

Entre o grande numero de blócos e cordões que appareceram é justo que sejam destacados em primeiro logar o dos <<Rouxinóes>> e o <<Quem São Ellles?>>, pelo garbo com que se apresentam, muito bem ensaiados. Outros, como os <<Quem fala de nós, tem paixão>>, <<Mais um que vai>>, <<Os lanfranhudos>> e <<BAM-bam- buê>> merecem tambem applausos (O DIA, 18 fev. 1926).

Em 1927, os clubes dos Planetas e dos Graphos não saem às ruas, a animação das ruas fica a cargo dos blocos e ranchos, enquanto o carnaval dos clubes “esteve tambem bastante animado este anno” (O DIA, 3 mar. 1927).

Foi devido talvez á frieza dos Graphos e dos Planetas, que não apresentaram prestitos, que este anno o carnaval perdeu um pouco do seu encanto nesta cidade.

Mas, para contrapor a isso os nossos tres mais valentes blocos – Espiga, Rouxinóes e Quem são elles? – se esforçaram e apresentaram na rua grandemente melhorados, colhendo grandes applausos.

O bloco do Espiga que só appareceu no ultimo dia, apresentou um pequeno prestito de dois carros de critica e um allegorico, todos dignos de figurar entre o prestito de qualquer club. Os outros dois blocos referidos tambem apresentaram lindos carros. Varios outros blocos e grupos alcançaram muitos applausos. O Não tem que achar ruim, Aventureiros, os amargos, estão neste numero (O DIA, 3 mar. 1927).

A ligação entre o carnaval e o futebol é marca de muitas cidades brasileira, onde se sobressai São Paulo40, num primeiro momento, mas também, se faz presente em certa medida em Juiz de Fora. Mais do que sediar bailes e festas, a rivalidade entre o Tupynambás Futebol Clube e o Tupi Football Club41, excediam os campos de futebol e iam pras ruas em forma de festa e batalhas de confetes.

[...] os Ranchos Quem São Eles – ligado intrinsecamente ao Tupynambás Foot-Ball Club – e Rouxinóis, em suas cores amarelo e roxo, por sua vez uma filial do Tupy Foot-Ball Club, enchiam os olhos de todos com seus balizas e mestres-salas. Vale registrar nesse último Rancho a grande criatividade do pintor Antônio Cândido na execução de carros alegóricos, bem como a efetiva participação da família Altomar,

40 A história do Vai-vai, que se origina de um time de futebol chamado Cai-cai, assim como as escolas de samba Gaviões da Fiel, Mancha Verde e Dragões da Real, também torcidas organizadas, ilustram a proximidade. 41 Grafias atuais.

tendo a frente o chefe do clã, Francisco. (MOSTARO, MEDEIROS FILHO, MEDEIROS, 1977, p. 17).

A aproximação entre o futebol e o carnaval é resultado de um tempo que antecede a profissionalização do esporte, onde a organização do clube se dava mais próxima à comunidade. Com a profissionalização o esporte ganha em qualidade, mas se transforma em uma instituição mais distante dos torcedores.