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Capítulo 2 História e Geografia do carnaval em Juiz de Fora

2.2. O carnaval na Juiz de Fora do Brasil Império: entrudo e bailes à fantasia

2.3.10. O Club dos Escovados

Em 1912 a empolgação por uma nova Sociedade Carnavalesca que desfilasse pelas ruas centrais era grande, e o Club dos Escovados assumiu essa responsabilidade desfilando no último dia de festa. Fora isso, as batalhas de confetes e lança perfumes tomaram a rua Halfeld e os bailes no Club Juiz de Fora e no Salão Floresta foram bastante animados, segundo consta.

Pode-se dizer que só houve verdadeiramente carnaval em Juiz de Fora no ultimo dia: tendo cessado a chuva, a animação foi maior e o povo pôde sair á rua e folgar á vontade.

Terça-feira, das quatro horas da tarde á meia noite, a rua Halfeld, a Direita e algumas outras do centro da cidade encheram-se de uma compecta multidão, que, emquanto esperava o prestito dos Escovados, se entregava ao jogo de confetti e ao uso do lança- perfume. Na rua rua Halfeld, era tanto o povo que se agglomerava, que o transito se tornou impossivel durante muito tempo (O PHAROL, 22 fev. 1912).

Sete carros desfilando pelas ruas do centro e a população aplaudindo o préstito que organizado “sem tempo e sem dinheiro conseguiram bastante”. As expectativas para que o clube se mantivesse nos carnavais futuros eram altas, sobretudo, por parte dos escritores do O Pharol (O PHAROL, 22 fev. 1912).

Se vemos a volta de um préstito de uma Grande Sociedade Carnavalesca, por outro lado, o entrudo pela primeira vez, na história que pudemos acompanhar do carnaval juizforano, de fato não acontece35, seja por vias de limões de borracha ou revólveres e bisnagas de água. O jogo de confete também diminui em comparação com os anos anteriores, em contrapartida, cresce o uso de lança-perfumes.

Ao contrário dos annos anteriores, não houve este anno jogo de entrudo, graças á nova lei municipal posta agora em vigor.

Desappareceu egualmente o jogo de revólveres e de bisnagas, por completo. O proprio jogo de confetti diminuiu extraordinariamente. Em compensação, o lança- perfume attingiu a altura de um principio. A’ ultima hora não se encontrava mais um unico lança-perfume á venda no grande numero de casas especiaes de objetos de carnaval (O PHAROL, 22 fev. 1912).

Por outro lado, o ano de 1913 foi o carnaval das batalhas de confetes e dos lança perfumes. Sem as Grandes Sociedades Carnavalescas nas ruas, as batalhas de confetes alcançaram altos níveis com as pessoas nas ruas. Os bailes do Club Juiz de Fora e do Salão Floresta foram os locais de festa das classes mais abastadas (O PHAROL, 2 fev. 1913). As ruas foram enfeitadas com coretos e luzes, sobretudo a rua Halfeld. Pessoas fantasiadas eram vistas

em bom número andando pelas ruas ou em veículos, onde acenavam ao povo. A aglomeração foi tão grande que em determinados momentos interrompiam o trânsito de veículos (O PHAROL, 4 fev. 1913).

Ante-hontem, ultimo dia consagrado aos festejos carnavalescos, a cidade teve um movimento estraordinário. Desde cedo as ruas se encheram de grande massa de povo, ávido de diversões.

O jogo do confetti e do lança-perfume attingiu proporções enormes, principalmente á noite, na rua Halfeld, onde o transito se interrompeu por completo, devido á agglomeração de gente.

Verdadeiras batalhas de lança-perfume eram travadas entre moças e rapazes, que se mostravam incançaveis nas pugnas de Momo

Emfim, a terça-feira gorda pôz em verdadeiro delirio o nosso povo, que se divertiu á vontade (O PHAROL, 6 fev. 1913).

Na segunda década do século XX o carnaval de Juiz de Fora sofre fortes alterações, se afirmando as batalhas de confetes e de serpentinas, mas também, os lança-perfumes. Paralelo a isso, o entrudo deixa de existir e a cidade começa a ver os herdeiros dos Zé-Pereiras nas ruas, através dos blocos e cordões.

2.3.11. Decorações

Entre as formas de decorações dessa etapa encontram-se os coretos que se tornavam pontos fixos nas ruas que remetiam aos festejos e por vezes, eram temáticos. Além de complementar os enfeites de rua e, por vezes, abrigar o palco de bandas de música que tocam durante os dias de carnaval, mobilizava moradores e vizinhança a participarem das comemorações, uma vez que estes eram assumidos pelos habitantes locais. Em 1914, um relato define um coreto montado na rua Halfeld.

O coreto organizado pelos conhecidos electricistas srs. Joaquim Rodrigues de Araújo, José Maria e Orlando Lage, está realmente digno de ser admirado pelas pessoas de bom gosto

Ha em volta do coreto uma ornamentação de luz electrica feita a capricho e de grande effeito.

Podemos asseverar que depois do celebre carnaval de 1897 em que fizeram um em frente a Confeitaria Rio de Janeiro, ainda não tivemos obra de mais gosto (O PHAROL, 22 fev. 1914).

Em 1914 a iluminação elétrica já era realidade e outras tecnologias já apareciam com mais frequência na cidade. Sinal deste momento, é o nome de João Carriço, conhecido cinegrafista pioneiro no cinema brasileiro, também era pintor e, amante do carnaval, produzia carros alegóricos para as Grandes Sociedades Carnavalescas e Escolas de Samba (LOURES,

2014). Organizou neste ano em conjunto com o pintor Xisto Valle, o único desfile de carros alegóricos da cidade.

O prestito organizado pelos pintores srs. Xisto Valle e João Carriço, que foi o unico que tivemos este anno, era composto de quatro carros bem ornamentados, destacando- se um que foi uma allegoria ao saudoso barão do Rio Branco.

Muito caṕrichosamente trabalhado, este carro mereceu os applausos de todos tendo desfilado varias vezes pela rua Halfeld (O PHAROL, 26 fev. 1914).

Há ainda, o registro de que o “sr. Lindolpho Rocha, habil photographo do ministerio da Agricultura, tirará um film do Carnaval na rua Halfeld” (O PHAROL, 22 fev. 1914). Assim como grande parte da obra de João Carriço e da Carriço Filmes, o registro de Lindolpho Rocha não está documentado.