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Capítulo 3 O carnaval de Juiz de Fora em conflito

3.1. A periferização do carnaval de Juiz de Fora: as ruas contam a história

3.1.2. Declínio

As obras de reestruturação da Avenida Rio Branco, marcadas para o ano de 1979 só começam de fato em 1980, transferindo os desfiles de 1981 para a Avenida Francisco Bernardino – altura da praça da Estação em direção à rua Benjamin Constant (MOREIRA, 2008: p. 73). Esta via da cidade, situa-se na zona central, paralela à atual Avenida Getúlio Vargas, margeando a linha férrea que corta a cidade. Configura-se como uma importante rota de ligação entre a Praça da Estação e o Morro da Glória, além de ligar perpendicularmente, importantes ruas centrais da centro da cidade.

A marca histórica dessa mudança, é a insatisfação por parte dos organizadores das escolas de samba e por parte do público, que comparece em número reduzido. A montagem de uma estrutura de iluminação especial foi necessária e, mesmo assim, causou descontentamento, pois a avenida não predispunha de luminosidade suficiente de acordo com os organizadores,

prejudicando os detalhes das fantasias, cuidadosamente trabalhadas na representação dos enredos (ALMADA, 2014: p. 87).

Além dos problemas técnicos, a ocupação de uma área menos notável da cidade foi um dos principais motivos pelas avaliações negativas. Fato, que no ano seguinte, ocupando a Avenida Getúlio Vargas, não se confirmou como esperavam os organizadores. Discussões entre a comissão organizadora, carnavalescos e comerciantes, levando uma possível suspensão dos desfiles à esfera jurídica, foram a particularidade do carnaval do ano de 1982 (ALMADA, 2014: p. 86).

As disputas políticas que ocorreram durante o regime militar, marcado pelo bipartidarismo entre os partidos, ARENA e MDB, respectivamente, são refletidas na esfera municipal. Após sete anos (1977-1983) da gestão do arenista Mello Reis, assume a prefeitura Tarcísio Delgado do MDB. O apelo popular partidário se configurou em inúmeros projetos na cidade, entre eles também o carnaval. Logo em 1984, os desfiles voltam à reformada Avenida Rio Branco com o lema “Na avenida de novo, com a força do povo”. Entretanto, o baixo investimento nas escolas de samba, resumidos à 38 milhões de cruzeiros58, não foi suficiente para atrair de volta o público dos anos anteriores (ALMADA, 2014: p. 89).

Em um processo de declínio constante na década de 1980, o marco oficial da “queda” do carnaval juizforano é dado em 22 de janeiro de 1988, quando no primeiro ano da gestão de Carlos Alberto Bejani, filiado ao Partido da Juventude (PJ)59, é noticiado que o ano de 1989 não haveria o desfile de escolas de samba. Em reuniões com os responsáveis pelo desfile do grupo especial, não houve acordo entre a verba proposta pela prefeitura. Após impasse, o grupo especial não desfila (RIBAS, 1989: p. 24).

A história se repetiu e num breve retrocesso começaria oficialmente às 16h30m do dia 21 de dezembro de 88, hora marcada entre o prefeito Alberto Bejani e os dirigentes das agremiações do samba para acertos dos últimos detalhes referentes ao Carnaval 89. Os presidentes das escolas tentaram adiar a reunião para se organizarem e o prefeito decidiu então encarrar negociações não liberando verbas para o desfile do primeiro grupo. “Fim de papo”, muitas lamentações, alternativa única: esperar a chegada da próxima década para tentar resgatar os atrativos de rua que, em outras épocas deram a Juiz de Fora o título de “um dos melhores carnavais do Brasil” (RIBAS, 1989: p. 24).

58 Em 1980 calcula-se que cada escola de samba necessitaria de um investimento de 900 mil cruzeiros.

59 O Partido da Juventude foi criado em 1985 e rebatizado como Partido da Renovação Nacional (PRN) em 1989 após a filiação de Fernando Collor de Mello. O prefeito de Juiz de Fora, nos primeiros anos procurou relacionar suas posturas às do político alagoano (MOREIRA, 2008: p. 74).

A não realização dos desfiles se repetirá em 1991, com exceção das escolas de samba com sede na Zona Norte que desfilam no bairro Benfica, sem verbas da prefeitura (ALMADA, 2014: p. 93). Observa-se, neste ano especificamente, que é gerada um sentimento de autonomia frente ao Estado e um retorno às origens e formas como se realizavam os primeiros desfiles. Hoje constatamos estas práticas autônomas, sobretudo, através da onda dos blocos que a cada ano ocupam ainda mais os terrenos centrais das cidades brasileiras, de incluso Juiz de Fora, dentro ou fora da legalidade.

Assim como toda a década de 1990, o carnaval de escolas de samba, vai ser caracterizado por impasses entre o poder público e as escolas. Assim como em 1989, os anos de 1991, 1992, 1993 e 1999, não houveram desfiles. Em dez anos, apenas em metade, ocorrem os desfiles. Assim como a década de 2010 que se encontra em um nível crítico próximo ao período dos anos de 1990. E apesar da década de 2000 realizar desfiles em todos os anos, os desfiles nunca chegaram a se tornar unanimidade entre a população. O que nos leva a concluir que o carnaval de escolas de samba de Juiz de Fora caminham para completar em 2019, trinta anos de crise.

De 2006 a 2015, os desfiles ocorreram na Avenida Brasil, entre a ponte do bairro Santa Terezinha e a Ponte do bairro Mariano Procópio, sentido centro da cidade. A avenida é uma das vias principais de ligação da Zona Norte e Noroeste da cidade com o centro. Margeando o Rio Paraibuna e a linha férrea quase que a totalidade de seu percurso, se revelou uma das mais importantes avenidas da cidade ligando a Região Norte à Região Leste, quando se transforma na BR-267. Podemos constatar sua relevância para a cidade através de seus equipamentos urbanos, como a Rodoviária Miguel Mansur, o Museu Mariano Procópio e a Prefeitura que localizam-se em seus 12 quilômetros de extensão. Ou ainda, a partir do fluxo de veículos que circulam diariamente pela via, com forte trechos de congestionamento em horários de pico.

Entre os fundos do Museu Mariano Procópio e a margem direita do Rio Paraibuna houveram um número significativo de desfiles que delimitam ativamente um período importante da história do carnaval na cidade. A montagem das arquibancadas populares era feita com alguns dias de antecedência60, o que levava os usuários da avenida a questionarem os desfiles devido à intensificação dos pontos de lentidão no trânsito.

Mesmo com a perda de centralidade, localizando em torno do centro da cidade, a realização dos desfiles na Avenida Brasil representava certo consenso entre poder público, a LIESJUF e a população. Palco do primeiro concurso do carnaval antecipado da cidade,

testemunhou o aumento do público e o que parecia a volta do interesse das pessoas na cidade. Entretanto, em 2016 sem o desfile do grupo especial e a mudança de local em 2017 para o Parque de Exposições, o carnaval de escolas de samba demonstrou-se fragilizado, acumulando até o momento do presente trabalho dois anos sem a realização do concurso do grupo especial.