• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 2 História e Geografia do carnaval em Juiz de Fora

2.2. O carnaval na Juiz de Fora do Brasil Império: entrudo e bailes à fantasia

2.3.3. Príncezes e dominós: máscaras às ruas

Assim como em 1891, o ano seguinte seguiu numa crescente de decoração de ruas. Na “rua Direita havia vistosa ornamentação”, e igualmente, a rua Halfeld “estava ornamentada de galhardetes e lanternas venezianas” (O PHAROL, 1 mar. 1892).

Na rua Halfld foram erguidos dous coretos, um em frente ao hotel Rio de Janeiro e outro no cruzamento da rua do Commercio, tocando neste, desde a tarde até hora adiantada da noite a excellente banda de musica, sob a direcção do sr. Henrique Escudero.

Em ambos os coretos estavam pintadas chistosas criticas aos successos de nossa cidade, com allusões inoffensivas aos sues personagens, alguns dos quaes foram bem caracterisados (O PHAROL, 29 fev.1892).

E a população se empolgou, de fato, neste ano em sair às ruas fantasiada. Tanto que a análise do carnaval relatava o alto número de mascarados nas ruas. “As honras do dia de hontem couberam sem duvida aos princezes que, em verdadeiros enxames, percorreram as ruas da

cidades desde ás 3 horas da tarde até adiantada hora da noite”. Houve também a estudiantina que andou pelas ruas centrais da cidade durante os três dias “esmolando para o Asylo de Mendigos e Santa Casa de Misericordia, tendo angariado a quantia de 378$600” (O PHAROL, 1 mar. 1892).

O Hotel dos Petiscos de propriedade do empresário Alfredo E. Machado apresentou o baile à fantasia “Aventuras do Pedacinho” e segundo consta nos textos publicados no O Pharol “tem havido enchentes reaes e uma animação extraordinaria” (O PHAROL, 1 mar. 1892). A “chuva torrencial” que acometeu, principalmente o primeiro dia de festa “impediu que se realisassem os festejos carnavalescos com a pompa e enthusiasmo desejáveis”. Apesar disto, na rua Halfeld “houve grande animação e extraordinario movimento de povo” e “pelas ruas muitos mascaras avulsos, pela maior parte princezes e alguns dominós” (O PHAROL, 3 mar. 1892).

Em meio a um carnaval agitado e repleto de opções, se destaca os Sortistas Carnavalescos que prepararam “um verdadeiro sucesso”. Desfilando pelas ruas principais da cidade, o cortejo era composto por uma conjunção luxuosa de elementos que traziam a Sociedade Carnavalesca.

Abria o prestito luxuosa guarda de honra com clarins, seguindo-se logo o carro do estandarte, que era empunhado por uma mulher ricamente trajada. A este carro seguiam se outros com mascaras de luxuosas phantasias.

Precediam a estes os de criticas: Náu das alterosas, Pesca de votose Tabajaras e Tamoyos e o da banda de musica – Principe di Napoli – (O PHAROL, 29 fev. 1892).

Figura 19: O PHAROL, 28 fev. 1892.

O carnaval de 1893 chega ás vésperas com o Grande Bazar Lion anunciando suas fantasias, bisnagas e enfeites para a folia, o que poderia dar a entender que estariam movimentadas as festas na cidade. Não obstante, o que podemos concluir é que fora alguns bailes a fantasia como o do Salão dos Petiscos e o baile nos Bilhares do Coelho, pouco se viu de animação nas ruas. O carnaval coube “a meia duzia de princezes, que percorreram as ruas da cidade, silenciosso e discretos acompanhados pela surriada dos garotos”. Viu se “alguns mascarados avulsos [que] passearam de carro descoberto”, mas “nem um mascara de espirito, nem ao menos um ruidoso Zé-Pereira a azoinar os ouvidos do proximo com as suas zabumbas e cornetas!” (O PHAROL, 14 fev. 1893).

Figura 20: O PHAROL, 14 fev. 1893.

Nada se fala do entrudo nesses anos republicanos. Talvez por respeito às leis ou por um maior controle policial, mas para sermos cuidadosos com a própria história, não descartamos que as manifestações ocorriam em menor escala na cidade, não sendo noticiados. Especulação embasada, primeiramente, pelos anúncios de bisnagas que não deixaram de ser ofertados, mesmo com a proibição reforçada. Em segundo lugar, porque o jogo volta a ocorrer e ser noticiado no ano de 1895 quando uma batalha de confetes é interrompida e se transforma na brincadeira da molhadela em plena rua Halfeld.

Durante a tarde e a noite de antehontem houve bastante movimento nas ruas e appareceram diversos dominós asseiados e grande profusão de princezes e diabinhos. O jogo de confetti cedeu o logar ao entrudo e os limões entraram em scena, tendo sido grande o numero das ensopadellas.

Na rua Halfeld, onde se concentrou a concorrencia, não foram sufficientes as bisnagas e os limões, pois appareceram os cartuchos de polvilho, cuja applicação provocou protestos e até pauladas.

Felizmente, o rôlo não tomou proporções assustadoras, nem exigiu a intervenção da policia em duplicata.

Não passou disso o carnaval de 1895, divertimento que vai em progressivo declinio nesta cidade, onde, aliás, ha elementos para fazer se um carnaval mais decente (O PHAROL, 28 fev. 1895).

A “intervenção policial em duplicata” diz respeito à polêmica envolvendo o corpo policial de Juiz de Fora, na figura do coronel Cicero de Pontes “por não achar séria a nomeação de um delegado para uso … dos mascaras”. O coronel telegrafou “ao dr. chefe de policia pedindo uma força de 30 praças para manter a ordem durante o carnaval, [e] declarára no

telegramma que se demittiria caso essa força não viesse até o dia 23”. O diante da impossibilidade de mandar o contingente, “resolvéra nomear o capitão do 3. corpo, Eugenio Pinto de Magalhães, para servir de delegado em commissão durante os festejos carnavalescos”, entrando em exercício assim que nomeado (O PHAROL, 26 fev. 1895). A delegacia dupla gerou confusão por não saberem à qual dos delegados os praças obedeceriam.

Como conclui o jornal, não houve necessidade, justamente pelos festejos na cidade estarem bastante desanimados. Apenas dois bailes são anunciados, um no Hotel dos Petiscos e outro no sobrado do sr. Miguel Teperini, ambos sendo realizados durante quatro dias, mas sem nenhuma repercussão.

Resumiram-se elles em meia duzia de princezes, que percorreram as ruas da cidade, taciturno e molambentos, acompanhados pela classica assuada dos garôtos.

Os passeantes divertiam-se atirando-se mutuamente bisnagas e confetti. Houve algum movimento nas ruas principaes (O PHAROL, 25 fev. 1895).

Figura 22: O PHAROL, 19 fev. 1895.

O final do século XIX foi bastante conturbado para O Pharol. O jornal saiu de circulação por alguns anos e muitos de seus exemplares não foram catalogados. Ao mesmo tempo, a cidade de Juiz de Fora vê a emergência de um outro periódico, o Jornal do Commercio30. Fala-se ainda em outros dois, mas que não existem sequer um exemplar disponível, O Constituinte de 1870 e O Imparcial de 1870.