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Capítulo 2 História e Geografia do carnaval em Juiz de Fora

2.2. O carnaval na Juiz de Fora do Brasil Império: entrudo e bailes à fantasia

2.2.5. O policiamento moral e da folia

Juiz de Fora, no carnaval do ano seguinte, pode ver a volta dos bailes do Theatro Perseverança de forma discreta, com pouca publicidade e atrações que não emocionaram o público. Enquanto divulgavam um baile “Grande e pomposo” em honra do deus Momo, “á loucura, á alegria e á gargalhada”. O entrudo, de acordo com opinião publicada no Pharol na terça-feira, “decididamente matou o carnaval”. Segundo o autor, os dois primeiros dias foram dos entrudistas. Havia poucos mascarados nas ruas e o próprio autor depositava a sua esperança de um carnaval mais animado neste último dia, devido ao baile do Theatro Perseverança (O PHAROL, 22 fev. 1887).

O sucesso do entrudo é creditado a dois fatores argumentados. O primeiro, pois havia somente um delegado de polícia para conter os chamados de toda a cidade, sendo este, reservado para casos mais graves. Uma repressão ao entrudo seria possível, de acordo com o chefe de polícia apenas com a presença de dois delegados (O PHAROL, 22 fev. 1887). O segundo, devido ao calor “extraordinário” que fazia na cidade. Isso tornaria as pessoas mais susceptíveis a se refrescarem com as águas dos chafarizes e córregos. Comum foram os “diversos carros de grupos que percorreram as ruas, atirando limões e esguichos d’agua”, algumas vias como a rua da Imperatriz, tiveram o trânsito dos bondes impossibilitado, não poupando nem aqueles que dele faziam uso das rajadas de água (O PHAROL, 22 fev. 1887).

As batalhas tiveram duração aproximada das 15 horas e se estenderam, aproximadamente, até as 20h e 30 minutos, com “grupos de senhoras e moços, munidos todos de baldes e limões” amedrontando muita gente (O PHAROL, 22 fev. 1887).

O saldo final, noticiado pelo O Pharol, do carnaval de 1887 foi além de um animado baile realizado na terça-feira no Theatro Perseverança. Assaltos, “baldes e barris de agua despejaram em grande quantidade”, “mascarados, formando um grupo de fina critica” e ainda “foram lembrados professores, advogados. Os factos mais recentes foram criticados e até… de nós se lembraram” (O PHAROL, 25 fev. 1887).

Figura 12: O PHAROL, 20 fev. 1887.

Figura 13: O PHAROL, 22 fev. 1887.

Para o carnaval de 1888 foi reforçado o contingente policial. O “vereador B. Halfeld propoz e a camara approvou, a creação de um corpo de policia municipal”. Este corpo seria composto de “10 praças, podendo elevar-se o numero dellas conforme as necessidades o exigerem”. Além do aumento do número de praças, uma publicação do O Pharol ainda cobrava “a mais escrupulosa moralidade na organisação desse contigente” (O PHAROL, 14 fev. 1888). Aliás, o controle moral foi bastante cobrado neste ano, como se pode ver na publicação da diretoria do salão Escudeiro.

São permittidos intercalados com os carro de idéias da sociedade, outros carros de fantasias, desde que se portem convenientemente e sem offensas á moral e bons costumes. Os carro de critica da sociedade levarão todos um signal para serem reconhecidos e este signal está convencionado que seja uma bandeira em ponto menor, egual ao grande estandarte.

A directoria pede aos associados toda a moderação em suas expressões e ditos de espirito (O PHAROL, 12 fev. 1888).

A moralidade dos anos finais do século XIX, se consternava perante os dias carnavalescos, causando preocupações mesmo daqueles que promoviam a festa, como o caso do Sr. Escudeto. Os dias de liberdade, eram acompanhados de forma temerosa.

2.2.6. Decorações

“Nunca se preparou Juiz de Fora com tanto primor e variado gôsto, nas decorações das ruas, como para festejar o carnaval de 1888 [...]”, dizia o resumo do último dia de festa.

Nem se encontra um pequeno espaço que não seja occupado por arcos, enfeites, etc. Em todas as ruas um sem numero de bandeiras de todas as nacionalidades, milhares de galhardetes, arcos, coretos e mil outros adornos vieram tornar a cidade um verdadeiro brinco (O PHAROL, 14 fev. 1888).

A rua Halfeld, se destacou com seu coreto, “os arcos dos quaes pendiam quadros de critica, chistosos quadros alem dos enfeites a ramos, a vistosa illuminação, tudo concorreu para o brilhantismo dessa rua”. A rua Marechal Deodoro da Fonseca (ainda Rua da Imperatriz) apresentou na “entrada da rua um elegante arco que primava pelo bom gôsto e simplicidade”. Além da decoração, a rua ainda tinha uma banda de música que tocava “constantemente”. O bairro dos Passos preparou “dois lindos e grandes arcos que vistos de mais longe eram de effeito admiravel”. Espalhadas pela cidade diversas bandas de música, os carros das sociedades carnavalescas e indivíduos fantasiados nas ruas ditaram estes dias, que ao julgar o autor de um texto no O Pharol conclui que “esteve: boa” (O PHAROL, 14 fev. 1888).

O comércio local entrou no ritmo da folia e também decoraram suas fachadas. Foi o caso da Maison Brandi e da Casa das Baratezas. A primeira ergueu “um vistoso lampeão belga no meio de espessas ramagens” (O PHAROL, 14 fev. 1888), enquanto o segundo investiu em “illuminação a giorno, simetricamente distribuida pelos arcos e arbustos que enfrentam a referida casa” (O PHAROL, 15 fev. 1888).

Do entrudo não se publicou notícia alguma. O destaque principal do carnaval de 1888 ficou por conta do Volapukistas Carnavalescos, “o primeiro clube de Grande Sociedade Carnavalesca em Juiz de Fora, formado por advogados e funcionários do fórum” (MOREIRA, 2008: p. 65). Auto intitulados “filhos legítimos da Virtude e do Prazer” e pregando “flores – em vez de entrudo”, saíram durante todos os dias por volta das 17 horas da rua da Imperatriz passando por ruas centrais da cidade se retirando para o grande baile na “caverna, o club dos Volapukistas”. O cortejo continha seis carros alegóricos e de críticas à temas da atualidade com cartazes e faixas, seguido de perto, em último lugar pelo Zé Pereira (O PHAROL, fev. 1888).

Figura 14: O PHAROL, 14 fev. 1888. 2.3. A folia nos tempos da Primeira República.

A proclamação da república pelos militares, em 1889, é o início de um processo racionalista de gestão do Estado e provoca efeitos que se esparramam pelas diferentes cidades brasileiras. Na Juiz de Fora dos anos seguintes à proclamação, a câmara municipal se divide entre vereadores que representavam lados opostos ideológicos. Se de um lado havia aqueles

defensores dos ideais modernos da república, de outro, vereadores se alinhavam ao imperador deposto e juravam fidelidade à ordem monárquica.

A disputa ideológica em torno das toponímias reflete as disputas realizadas na câmara. Com maioria republicana, Juiz de Fora opta por remover os nomes de ruas que remetiam à monarquia, como as ruas do Imperador e da Imperatriz, transformando-se em odes à recente república, tornando-se Rua XV de Novembro e Marechal Deodoro da Fonseca, respectivamente. Os nomes inspirados na tradição católica de santos e santas são mantidos pelos republicanos. A Rua Direita verá a mudança posteriormente para a atual Avenida Barão do Rio Branco.