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A primeira imagem de Alphaville, depois dos créditos, é uma luz que acende e apaga, várias vezes. Uma música380, que o roteiro em inglês descreve como agourenta381, e que também pode ser dita ameaçadora, é usada desde o início, ritmando – ou será que a luz acendendo e apagando ritmou a música, como acontece, preponderantemente: a música é composta quase sempre depois que a montagem definitiva já está pronta, na maior parte das vezes – o acender e o apagar da luz. Na última piscada desta luz, uma voz pausada, rouca, masculina – que durante o filme identificaremos como a voz de Alpha-60, o supercomputador que planeja e comanda Alphaville – começa a dizer um texto382 em off: “pode ser que a realidade seja complexa demais para a transmissão oral. A lenda a recria sob uma forma que lhe permite correr o mundo”. Esta é uma citação, não creditada, de um texto de Borges, “Formas de una leyenda”: “a realidade pode

379 Ibidem.

380 De autoria de Paul Misraki, que compôs, também, trilhas sonoras para filmes de Luis Buñuel, Orson Welles e

Claude Chabrol.

381 Ominous, em inglês. GODARD. Alphaville, p. 19. Grande parte dos roteiros publicados, atualmente, inclusive em

francês, e inclusive os Godard, são versões estabelecidas a partir do filme, depois deste pronto, por pessoas que trabalham numa moviola, com a versão definitiva, e não o original do diretor ou roteirista, que sofrem, a maior parte das vezes, modificações durante as filmagens. Algumas publicações, mais completas, incluem o roteiro original, aquele a partir do qual o filme foi feito, e o roteiro “definitivo”, aquele extraído a partir da montagem definitiva do filme. O roteiro de Alphaville foi extraído a partir da montagem definitiva do filme, e foi publicado em inglês.

ser demasiado complexa para a transmissão oral; a lenda a recria de uma maneira que só acidentalmente é falsa, e que lhe permite correr o mundo, de boca em boca383”.

As modificações que Godard fez no texto borgiano não são muitas, mas podem ser notadas facilmente. Na primeira frase, Godard apenas inverte a ordem de algumas palavras; já na segunda, o diretor modifica um tanto a afirmação do texto original. Faltam duas colocações borgianas: primeiramente, a qualificação “só acidentalmente é falsa”, que se refere à lenda; Borges está dizendo que, em relação à realidade, a versão da lenda pode não corresponder aos fatos. Mas esta forma mesma permite à lenda correr o mundo, “de boca em boca”; esta última expressão também está faltando em Alphaville. As lendas são criações de coletividades humanas e usam da transmissão oral; posteriormente, podem ser escritas em livros, como no caso de Borges. Mas esse não faz referência à natureza escrita das lendas (ou mitos) que ele está examinando e propagando, no seu texto originário. Por outro lado, o mito (ou lenda), foi apropriado no ocidente pela literatura (mais precisamente, pela tragédia grega), constituindo-se, talvez, num primeiro exemplo de intertextualidade; que Alphaville se aproprie intertextualmente da literatura e do mito, nada mais apropriado, pois aqui é restituída a “expressão oral” à lenda (o cinema não é somente uma arte visual, mas sonora e oral): desta maneira, fica mais fácil à realidade ser mais bem entendida, ou nas palavras de Borges, “passar de boca em boca”.

Outras observações podem ser feitas sobre o texto de Borges e o de Godard. O texto de Borges, “Formas de uma leyenda” conta três lendas sobre o Buda, e pressupõe uma tradição de “transmissão oral, de boca em boca”, comum nos tempos antigos, ainda mais quando se tratava da transmissão de informações religiosas, (embora todas as citações borgianas sejam extraídas de livros). Não é por acaso que ele termina o texto dizendo que “... não me surpreenderia que minha

383 “La realidad puede ser demasiado compleja para la transmisión oral; la leyenda la recrea de una manera que sólo

história da lenda fosse lendária, feita de uma verdade substancial e de erros acidentais”384. As duas frases de Borges ocorrem no segundo parágrafo de “Formas de uma leyenda”, escritas que são pelo “compilador que arrisca esta nota”385; em Alphaville, alguns segundos depois que o filme começou; uma certa equivalência pode ser proposta, neste caso; mas no filme, Godard muda o contexto onde esta citação intertextual aparece: num filme de ficção-científica, e ela é dita em situação pela voz (um personagem, portanto, embora também uma máquina) de um super-computador. Um “compilador” (Borges) escreve as duas frases de “Forma de uma leyenda”; a voz (suposta) de um computador-personagem diz essas frases, com algumas modificações; discutirei mais abaixo o que significa esta última transformação do texto borgiano. Outros acréscimos intertextuais são observáveis no filme, nesta seqüência. Primeiramente, quanto às imagens: três planos cobrem as duas frases: uma luz piscando, pela última vez (posteriormente, vamos saber que esta luz identifica Alpha-60); quando ela se apaga, a câmera faz um travelling para a direita, mostrando prédios, luzes e ruas de Alphaville à noite (na verdade, Paris) e termina num carro (Ford Galaxy, uma ironia com o gênero do filme, uma ficção científica: este carro é usado pelo herói do filme como maneira de viajar pelo espaço intersideral) em movimento, que em seguida saberemos que é o de Lemmy Caution; o terceiro plano começa com este mesmo carro, ainda em movimento, faz um travelling para cima e para a esquerda, mostrando alguns outros prédios e, num travelling para baixo, termina no mesmo carro, que estaciona. Terminada a frase dita pelo computador, um plano do interior do carro nos é mostrado: primeiro, um isqueiro é aceso por Lemmy Caution, para que ele fume um cigarro, o que por breves segundos nos permite ver seu rosto; quando o isqueiro é apagado, vemos suas mãos pegando um revolver, armando-o e colocando-o no bolso do seu sobretudo. Vários signos do

384 “...no me sorprendería que mi historia de la leyenda fuera legendaria, hecha de verdad sustancial y de errores

accidentales”. Ibidem, 743.

gênero policial (literário ou cinematográfico) são observáveis: cidade à noite, isqueiro, cigarro, o ato de fumar, um revólver, o claro-escuro da fotografia. Exatamente como disse Alain Bergala, falando sobre os usos e costumes do nosso autor, “Godard pensa que pode se apropriar de tudo, que temos o direito de nos apropriarmos de tudo, se transformamos estas coisas”386.

Na primeira vez que Natacha von Braun dá uma carona a Lemmy Caution, este comenta que “Natacha é um nome antigo”387, ao que ela responde: “mas você sabe que, na vida, só há o presente. Ninguém viveu no passado e ninguém viverá no futuro”388. Aqui, além de notar que se trata de uma citação de Schopenhauer, que Borges faz em “Nueva refutación del tiempo” – uma tradução do filósofo alemão, feita por Borges, e que funciona como intertexto no seu próprio texto – basta dizer que ela está simplesmente repetindo algo que é a ideologia oficial de Alphaville, e que ouviremos alguns minutos depois numa aula que Alpha-60 dá no “Instituto de Semântica Geral” para um grupo de pessoas, entre os quais estão Natacha e Lemmy Caution. Parece que, num estado totalitário como este, não examinar o passado nem o futuro (pela razão simples que eles não existem) é bastante conveniente, pois permite que não se relacione nem causas nem conseqüências, e que não se questione absolutamente nada (é bom lembrar uma das palavras proibidas em Alphaville: pourquoi, exatamente a forma interrogativa no francês, desta palavra: a afirmativa é parce que. Perguntar ou interrogar não são bem vistos na cidade). É interessante notar que esse texto de Schopenhauer/Borges é dito por Natacha enquanto a imagem mostra luzes e números em néon, que vão de 9 a 0, numa contagem regressiva.

Uma vez que Lemmy Caution chega no “Instituto de Semântica Geral” – depois de encontrar-se com seu amigo, Henry Dickinson, presenciar a morte deste, procurar e achar

386 Devires, número 4, 2007. Entrevista ao autor, Paris, 2005. 387 GODARD. Alphaville, 1965, videolar.

Natacha von Brown – ele ouve uma aula que o supercomputador está dando. Entre outras coisas, Alpha-60 diz que

ninguém vive no passado, ninguém viverá no futuro. O presente é a forma de toda vida. É uma posse que nenhum mal pode lhe tomar. O tempo é como um círculo que gira infinitamente. O arco que desce é o passado e o que sobe é o futuro.389

Quando o computador começa a dizer “ninguém vive no passado”, Lemmy Caution está procurando Natacha numa sala escura, com uma lanterna (será que poderemos identificar o passado com a escuridão? Não são poucas as obras, literárias inclusive, que fazem exatamente isto); quando ele diz “passado”, o facho da lanterna é dirigido para o seu próprio rosto (será que como um habitante dos “países exteriores”, de onde veio a maioria dos habitantes de Alphaville, ele é um representante do passado?); quando ele diz “ninguém viverá no futuro”, a imagem é a da lanterna iluminando o rosto de Natacha e, depois, o dele próprio, novamente. Para um habitante dos “países exteriores”, Natacha será o futuro? Estará o filme negando a ideologia do computador, que afirma a existência somente do presente, tomando consciência do passado e do futuro? Esta imagem da lanterna iluminando sucessivamente o rosto dos dois amantes, além do mais, é uma citação do filme A fúria do desejo390. Segue-se um plano relativamente simples, mas complicado para descrever. Com o resto do texto, temos uma panorâmica de 360 graus, que termina e acaba em Lemmy Caution e Natacha von Braun. Quando o computador diz “o presente é a forma de toda vida”, alguém (uma mulher, logo veremos) pega a lanterna e começa a andar com ela, e a câmera começa a fazer uma panorâmica circular. Quando Alpha-60 diz “o tempo é

389 Ibidem, videolar. Borges assim traduz o texto de Schopenhauer, em “Nueva refutación del tiempo”: “Nadie ha

vivido en el pasado, nadie vivirá el futuro; el presente es la forma de toda vida, es una posesión que ningún mal puede arrebatarle. El tiempo es como un círculo que girara infinitamente: el arco que desciende es el pasado, el que asciende es el porvenir...” Esta é a tradução, de Borges, provavelmente do alemão (que ele lia bem), de O mundo

como vontade e representação, de Arthur Schopenhauer, Volume I, capítulo 54, e que se encontra no penúltimo parágrafo de seu ensaio “Nueva refutación del tiempo”. O texto em inglês a que tive acesso (SCHOPENHAUER.

The world as will and representation, Volume I, p. 278) parece indicar que se trata de uma tradução bastante fiel, não havendo modificação notável.

como um círculo que gira infinitamente” a luz se acende, e vemos uma sala, com várias pessoas em torno duma mesa. Quando ele pronuncia “o arco que desce é o passado”, a câmera chega nos dois amantes. Quando a frase “e o que sobe é o futuro” é pronunciada, na palavra “futuro”, exatamente, o filme corta para um plano no qual vemos um ventilador, que no resto do filme é outra das representações possíveis de Alpha-60, em todo caso a mais freqüente. O futuro será Alpha-60? Por alguns segundos, continua esta imagem do ventilador, e Alpha-60 continua com sua aula (que, na verdade, deveria ter sido dada por Roland Barthes391). Um outro detalhe importante: um tema musical começa a ser ouvido exatamente na primeira palavra da frase “o presente é a forma de toda vida”. O que ouvimos é o assim chamado “tema de amor392”: a música

é realmente romântica, e se lembramos do mito de Orfeu e Eurídice, que está operando no filme, podemos pensar que se trata exatamente do encontro dos amantes (no inferno). O jogo intertextual do texto borgiano, com a imagem e os sons godardianos, que acontece ao mesmo tempo, pode ser um exemplo clássico de como cinema e literatura podem se “adicionar” e criar um novo sentido, um novo “texto”.

Já no final do filme, depois de matar o professor Leonard Nosfératu (aliás, von Braun) e alguns agentes de segurança, Lemmy Caution se dirige para o centro de Alphaville, o prédio onde encontra Alpha-60 e Natacha, que ele procura. Pela primeira vez, Lemmy Caution mostra alguma fraqueza: ele cai na escada que está subindo, se levanta novamente, e continua sua procura. É quando ouvimos a voz do supercomputador: é a última vez que isto acontece, e ele, tendo decifrado o enigma que lhe propôs Caution, está, ao que tudo indica, se auto-destruindo, assim

391 Ver BERGALA. Godard au travail, p. 244.

392 “Thème d’Amour”, do CD “ Bandes originales des Films de Jean-Luc Godard. Album conçu et realisé par l’equip

de ‘CINEMA MUSIC COLLECTION’. À bout de souffle/Pierrot le fou/Alphaville/Le mépris. Manufactured by BMG Victor Inc. (Tokyo) Japan 1994.

como todos os habitantes de Alphaville (falta luz para todos). Mais uma vez Alpha-60 diz um texto de Jorge Luis Borges:

O presente é assustador, porque é irreversível e porque ele é de ferro. O tempo é a substância da qual sou feito. O tempo é um rio que me carrega, mas eu sou o tempo. É um tigre que me esfola, mas eu sou o tigre. Para nossa infelicidade, o mundo é real, e eu, para minha infelicidade, sou eu, Alpha-60.393

Algumas modificações foram feitas no trecho do ensaio citado de Borges, que está, também, em “Nueva refutación del tiempo”, no livro Otras Inquisiciones:

Nosso destino [...] não é espantoso por ser irreal; é espantoso porque é irreversível e de ferro. O tempo é a substância da qual sou feito. O tempo é um rio que me arrebata, mas eu sou o rio; é um tigre que me destroça, mas eu sou o tigre. É um fogo que me consome, mas eu sou o fogo. O mundo, desgraçadamente, é real; eu, desgraçadamente, sou Borges.394

A primeira frase do filme simplifica a colocação borgiana (faltou “não é espantoso porque irreal”); mas o adjetivo para qualificar destino passa de espantoso para assustador (effrayant, em francês, quer dizer assustador, mas também horroroso, medonho, pavoroso); Alpha-60, no “pavor” de sua própria “morte”, justificaria esta mudança? Falta, no filme, a frase sobre o fogo; mas a mudança mais radical é transformar este “eu”, que faz referência a Borges, em um “eu” que é Alpha-60. Em Alphaville, Godard atribui tanto o texto, como a assinatura, quanto à ideologia sobre o tempo, de Borges, ao supercomputador. É de se notar que quando Borges escreve “o tempo é um rio que me arrebata, mas eu sou o rio”, Godard repete a palavra “tempo”; Borges, a palavra “rio”.

O intertexto que acompanha estas frases, em termos de imagem é como se segue: até a palavra “feito”, Lemmy Caution – que está no prédio onde “habita” Alpha-60, e onde Natacha foi levada para ser interrogada – passa várias vezes por algumas telas de televisão. Detalhe: a

393 GODARD. Alphaville, 1965. Videolar.

394 BORGES. Obras completas, p. 771. “Nuestro destino [...] no es espantoso por irreal; es espantoso porque es

irreversible y de hierro. El tiempo es la sustancia de que estoy hecho. El tiempo es un río que me arrebata, pero yo soy el río; es un tigre que me destroza, pero yo soy eltigre; es un fuego que me consume, pero yo soy el fuego. El mundo, desgraciadamente, es real; yo, desgraciadamente, soy Borges.”

primeira imagem mostrada é o negativo (enquanto o computador diz “o presente é assustador”: será que Alpha-60, que dizia antes, que tudo é presente, que não existe passado nem futuro, ao se aproximar do que parece ser sua autodestruição, sente o “pavor” da morte, e Godard, mimeticamente, transforma o positivo em negativo? O supercomputador já mostrara algumas características humanas, desde o começo: sua fala sempre fora pontuada por uma respiração – na verdade, inspiração – bastante difícil e entrecortada, propriamente humana); a segunda, em positivo (quando ele diz “porque ele é irreversível, porque é de ferro. O tempo é a substância...” Existe pelo menos uma brincadeira metalingüística aí. Enquanto Alpha comenta a irreversibilidade do tempo, Godard passa do negativo para o positivo e do positivo para o negativo mostrando que formalmente, o filme é reversível, tudo pode ser reversível). Quando Alpha-60 diz “[...] da qual sou feito”, o filme passa para negativo, novamente. Trata-se de um comentário autoral, ligando a substância do que é feito Alpha-60 com o “negativo”? É bom lembrar, que estas alternâncias do positivo para o negativo, e vice-versa, como comentado, existem em “Nosferatu”, o filme de F. W. Murnau.

Entre “sou feito” e a próxima fala que Alpha-60 articula, temos um relativamente longo silêncio, no qual Lemmy Caution entra num longo corredor do prédio em que está, abre e fecha portas, procurando Natacha, a câmera em travelling, mostrando alguns habitantes da cidade se arrastando pelos muros e caindo no chão (a destruição do supercomputador significa também a destruição da cidade e de seus habitantes: falta a eletricidade, que mantém a vida naquela galáxia). No final do corredor, Alpha-60 começa a dizer “o tempo é um rio”; quando ele completa “que me carrega”, a imagem é do ventilador que identifica e representa o computador. Neste momento, coincide, sem dúvida, a “imagem” do supercomputador, e a “primeira pessoa” do “me carrega”; assim como a próxima imagem, na qual ele diz “que me carrega, mas eu sou o tempo. É um tigre que me esfola, mas eu sou o tigre” e a imagem é uma sala cheia de luzes,

microfones e uma divisória de vidro, uma outra representação do computador (já tomáramos contato com esta representação, em duas seqüências anteriores). Alpha-60, aqui, chega à sua identificação final com os seres humanos, que carregam dentro de si mesmos sua própria destruição: ele afirma categoricamente que o tempo é a substância da qual ele é feito.

Ao mesmo tempo, nesse mesmo plano, nessa mesma sala, está Natacha, apoiada com suas mãos, no vidro da divisória. Lemmy Caution, entre duas falas do computador, chega até ela, e diz a Alpha-60: “Veja nós dois. É a sua resposta. Nós somos a felicidade e vamos a ela”395. O computador retorna à sua fala, ainda com a mesma imagem (sala, microfone, luzes): “para nossa infelicidade, o mundo é real, e eu...”, e, na continuação, com a imagem do ventilador, novamente, diz “...para minha infelicidade, sou eu, Alpha-60”. Novamente, identificação da imagem mostrada com a frase em primeira pessoa. Nesta narrativa mítica, em mais de um sentido, os heróis, ao final, depois de vencerem os inimigos, partem para a “felicidade”; ao supercomputador, o vilão, o tirano totalitário, só resta a “infelicidade”, mesmo quando chega às portas da humanização (ou será exatamente por isso mesmo?). A infelicidade, paradoxalmente, é a prova da sua humanização.

Ao que tudo indica, enquanto é uma máquina, Alpha-60 pode reivindicar a existência solitária do presente, e negar passado e futuro. Ao se transformar, ao se humanizar, isso não é mais possível: agora ele carrega o tempo dentro de si, este tempo que finalmente o destruirá. Desta maneira, Godard se apropria do texto de Borges, modifica-o, interpreta-o, com imagens, músicas e sons, cita-o, e transforma-o em intertexto, fazendo nitidamente, do conjunto (ou adição) assim obtido(a), um texto “seu”, que pode levar a sua assinatura .