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CARA DE CASCA DE PÃO: O EFEITO DESTRUTIVO DO TRIGO SOBRE A PELE

No documento Barriga de trigo - William Davis.pdf (páginas 133-137)

SE OS EFEITOS DO TRIGO podem atingir órgãos como o cérebro, o intestino, as artérias

e os ossos, ele não poderia afetar o maior órgão do corpo, a pele?

De fato, pode. E pode manifestar seus efeitos peculiares numa infinidade de apresentações. Apesar de sua fachada aparentemente inativa, a pele é um órgão ativo, um canteiro de atividade fisiológica, uma barreira impermeável que rechaça os ataques de bilhões de organismos estranhos, regula a temperatura do corpo por meio da transpiração, suporta batidas e arranhões todos os dias, regenerando-se para repelir as agressões constantes. A pele é a barreira física que separa cada pessoa do resto do mundo. A pele de cada um fornece abrigo para 10 trilhões de bactérias, a maioria das quais vive ali em tranquila simbiose com seu hospedeiro mamífero.

Qualquer dermatologista pode lhe dizer que a pele é o reflexo externo de processos corporais internos. O simples fato de corar de vergonha demonstra esse fato: a vasodilatação (dilatação dos capilares) facial aguda e intensa que ocorre quando você se dá conta de que o cara para quem acabou de fazer um gesto obsceno no trânsito era seu chefe. Mas a pele reflete mais que nossos estados emocionais. Ela também pode exibir sinais de processos físicos internos.

O trigo pode exercer efeitos de aceleração do envelhecimento da pele, como rugas e perda de elasticidade, por meio da formação de produtos finais de glicação avançada. Mas o trigo tem muito mais a dizer acerca da saúde de sua pele do que a aceleração do envelhecimento.

O trigo expressa-se – na realidade, a reação do corpo ao trigo expressa-se – por meio da pele. Assim como os subprodutos da digestão do trigo levam a inflamações das articulações, elevação da taxa de glicose no sangue e efeitos no cérebro, eles podem também provocar reações na pele, que variam desde pequenos inconvenientes até ameaças à vida, como úlceras e gangrena.

Alterações na pele não costumam ocorrer isoladamente. Se uma anormalidade decorrente do trigo se manifesta na superfície da pele, geralmente isso significa que a pele não é o único órgão que está experimentando uma reação indesejada. Outros órgãos podem estar comprometidos, desde o intestino até o sistema nervoso – embora você possa não estar

consciente disso.

EI, ESPINHENTO!

Acne: o transtorno comum entre adolescentes e jovens adultos, que causa mais aflição que o baile de formatura.

Médicos do século XIX chamavam-na de stone-pocka, enquanto médicos da Antiguidade costumavam dar muita atenção a uma manifestação que tinha a aparência de urticária mas não coçava. Praticamente tudo foi considerado causa do transtorno, desde conflitos emocionais, especialmente os relacionados à vergonha ou à culpa, até o comportamento sexual aberrante. Muitas vezes os tratamentos eram medonhos, incluindo fortes laxantes e enemas, banhos fedorentos com enxofre e exposição prolongada a raios-X.

Será que já não bastam as dificuldades da adolescência?

Como se os adolescentes precisassem de mais razões para se sentir constrangidos, a acne atinge a turma entre os 12 e os 18 anos com uma frequência extraordinária. Acompanhada do ataque de efeitos hormonais desnorteantes, ela é um fenômeno quase universal nas culturas ocidentais, afetando mais de 80% dos adolescentes, até 95% dos que se encontram entre os 16 e os 18 anos de idade, às vezes chegando a desfigurá-los. Os adultos não são poupados: 50% dos que têm idade superior a 25 anos têm crises intermitentes1.

Embora a acne seja quase universal entre os adolescentes norte-americanos, ela não é um fenômeno universal em todas as culturas. Em algumas culturas não há absolutamente nenhum tipo de acne. Culturas geograficamente tão afastadas quanto a dos habitantes da ilha de Kitava, em Papua-Nova Guiné, a do povo aché, caçadores-coletores do Paraguai, a dos nativos do vale do rio Purus, no Brasil, a dos bantos e zulus, na África, a dos okinawanos, no Japão, e a dos inuítes, no Canadá, são estranhamente poupadas do tormento e constrangimento da acne.

Será que essas culturas são poupadas do tormento da acne graças a uma imunidade genética exclusiva?

Indícios sugerem que não se trata de genética, mas de dieta. Culturas que dependem somente de alimentos proporcionados por sua localização e clima específicos permitem-nos observar os efeitos de alimentos acrescentados ou retirados da dieta. Populações em que a acne não ocorre, como os moradores de Kitava, na Nova Guiné, subsistem com uma dieta típica de caçadores-coletores, constituída de legumes e verduras, frutos, tubérculos, cocos e peixe. O povo aché, de caçadores-coletores do Paraguai, segue uma dieta semelhante, acrescentando a ela carne de animais terrestres e produtos cultivados, como a mandioca, o amendoim, o arroz e o milho, e também é totalmente poupado da acne2. Os okinawanos do Japão, provavelmente o grupo mais longevo no planeta Terra, consumiam, até a década de 1980, uma dieta rica numa incrível variedade de legumes e verduras, batata-doce, soja, carne de porco e peixe; a acne era praticamente desconhecida entre eles3. De modo semelhante, a dieta tradicional do povo inuíte, que consiste em peixe, carne de foca e de rena e quaisquer algas, frutos e raízes que sejam encontrados, deixa os inuítes livres da acne. As dietas dos bantos e zulus africanos diferem segundo a estação do ano e o território, mas são ricas em plantas silvestres, além de peixes e de animais que eles caçam. Mais uma vez, sem acne4.

Em outras palavras, culturas que estão livres da acne consomem pouco ou nenhum trigo, açúcar ou laticínios. À medida que a influência ocidental introduziu amidos processados, como o trigo e os açúcares, em grupos como os habitantes de Okinawa, os inuítes e os zulus, a acne logo se manifestou5, 6, 7. Em outras palavras, culturas que estão livres da acne não têm nenhuma proteção genética especial contra o problema; elas simplesmente seguiam uma dieta à qual faltavam os alimentos que provocam o transtorno. Basta introduzir o trigo, o açúcar e os laticínios para as vendas de peróxido de benzoíla aumentarem vertiginosamente.

Por ironia, era de “conhecimento geral”, no início do século XX, que a acne era causada ou agravada pelo consumo de alimentos amiláceos, como panquecas e biscoitos. Essa noção perdeu credibilidade na década de 1980, depois de um único estudo mal elaborado que comparou os efeitos de uma barra de chocolate com os de uma barra doce, sem chocolate e recheada, que seria o “placebo”. O estudo concluiu que não houve diferença na manifestação de acne entre os 65 participantes, não importando o tipo de barra que eles consumissem – exceto pelo fato de que a barra placebo era praticamente idêntica à barra de chocolate, em quantidade de calorias, açúcar e gordura, só que sem o cacau8. (Os amantes do cacau têm motivo para se regozijar: o cacau não causa acne. Saboreiem seu chocolate com 85% de teor de cacau.) Entretanto, isso não impediu a comunidade dermatológica de, por muitos anos, fazer pouco caso da relação entre a acne e a dieta, com base principalmente nesse único estudo, que foi citado repetidas vezes.

Na verdade, a dermatologia moderna em grande parte alega desconhecer o motivo exato pelo qual tantos adolescentes e adultos modernos sofrem com esse transtorno crônico, às vezes desfigurante. Embora a infecção por Propionibacterium acnes, a inflamação e a excessiva produção sebácea estejam no centro das discussões, os tratamentos se voltam para a supressão da erupção, não para a identificação das causas da acne. Desse modo, os dermatologistas são rápidos na prescrição de cremes e pomadas antibacterianas de uso tópico, antibióticos e medicamentos anti-inflamatórios por via oral.

Mais recentemente, estudos voltaram a indicar os carboidratos como os desencadeadores da formação da acne, exercendo seus efeitos promotores da acne por meio do aumento dos níveis de insulina.

O meio pelo qual a insulina leva à formação da acne está começando a se revelar. A insulina estimula a liberação de um hormônio chamado fator de crescimento, semelhante à insulina-1, ou IGF-1. O IGF-1, por sua vez, estimula o crescimento de tecido nos folículos capilares e na derme, a camada da pele logo abaixo da superfície9. A insulina e o IGF-1 também estimulam a produção, pelas glândulas sebáceas, do sebo, que forma uma película oleosa protetora10. A produção de sebo em excesso, associada ao crescimento do tecido da pele, leva à característica espinha avermelhada e protuberante.

Provas indiretas do papel da insulina como causa da acne também vêm de outras experiências. Mulheres afetadas pela síndrome do ovário policístico (SOP), que manifestam produção exagerada de insulina e taxas mais elevadas de glicose no sangue, são extraordinariamente propensas a ter acne11. Medicamentos que reduzem os níveis de insulina e glicose em mulheres afetadas pela SOP, como a metformina, também reduzem a ocorrência de acne12. Crianças não fazem uso de medicamentos de administração oral para diabetes, mas foi observado que jovens diabéticos que tomam medicamentos por via oral para reduzir os níveis de glicose e de insulina no sangue, de fato têm menos acne13.

Os níveis de insulina no sangue são mais elevados depois do consumo de carboidratos. Quanto maior o índice glicêmico (IG) do carboidrato consumido, maior a quantidade de insulina liberada pelo pâncreas. É claro que o trigo, com seu índice glicêmico extraordinariamente alto, aciona maiores níveis de glicose no sangue que praticamente todos os outros alimentos, com isso provocando a liberação de mais insulina que quase todos os outros alimentos. Não deveria ser surpresa, portanto, que o trigo, especialmente na forma de rosquinhas açucaradas e biscoitos – ou seja, trigo, que tem alto índice glicêmico, junto com a sacarose, que também tem alto índice glicêmico –, cause acne. Mas isso também se aplica a seu pão multigrãos, que está sob o disfarce inteligente de “saudável”.

Os laticínios também influem na capacidade da insulina de provocar a acne. Embora a maioria dos especialistas em saúde insista no teor de gordura dos laticínios e recomende produtos semidesnatados ou desnatados, a acne não é causada pela gordura. Proteínas específicas presentes em produtos de origem bovina são as responsáveis pela liberação de insulina em quantidade desproporcional ao teor de açúcar no sangue, uma exclusiva propriedade insulinotrópica que explica a incidência 20% maior da acne severa em adolescentes que consomem leite14, 15.

Adolescentes com sobrepeso ou obesos não costumam chegar a esse ponto por um consumo excessivo de espinafre ou pimentões, nem de salmão ou tilápia, mas de carboidratos, como os dos cereais matinais. Portanto, os adolescentes com sobrepeso ou obesos deveriam ter mais acne que os adolescentes mais magros, e de fato é isso o que ocorre. Quanto maior o peso de um/uma jovem, mais provável ele/ela ter acne16. (Isso não quer dizer que jovens magros não tenham acne, mas que a probabilidade estatística da acne é maior quanto maior for o peso corporal.)

Como se poderia depreender dessa linha de raciocínio, práticas nutricionais que reduzam os níveis de insulina e de glicose no sangue deveriam reduzir a acne. Um estudo recente comparou duas dietas, uma delas com alto índice glicêmico, a outra de baixo índice glicêmico, ambas consumidas por universitários ao longo de doze semanas. A dieta de baixo índice glicêmico gerou 23,5% menos lesões de acne, em comparação com uma redução de 12% no grupo de controle17. Participantes que reduziram ao máximo a ingestão de carboidratos apresentaram uma redução de quase 50% na quantidade de lesões de acne.

Resumindo, alimentos que aumentam as taxas de glicose e insulina no sangue deflagram a formação da acne. O trigo, mais do que praticamente todos os outros alimentos, eleva a taxa de glicose no sangue, e, portanto, a de insulina. O pão integral que você dá a seu filho adolescente em nome da saúde, na realidade agrava o problema. Embora por si só a acne não represente uma ameaça à vida, mesmo assim ela pode levar o paciente a recorrer a todos os tipos de tratamento, alguns potencialmente tóxicos, como a isotretinoína, que prejudica a visão noturna, pode alterar pensamentos e comportamento, além de causar malformações congênitas em fetos em desenvolvimento.

Como alternativa, a eliminação do trigo da dieta reduz a acne. Ao eliminar também os laticínios e outros alimentos industrializados, como batatas fritas, tacos e tortilhas, você basicamente desmantelará a máquina de insulina que aciona a formação da acne. Você talvez até chegue a ter sob seus cuidados um adolescente grato, se é que isso é possível.

No documento Barriga de trigo - William Davis.pdf (páginas 133-137)