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O que acontece quando você é exposto aos AGEs?

No documento Barriga de trigo - William Davis.pdf (páginas 104-106)

Além das complicações do diabetes, graves transtornos de saúde estão associados à produção excessiva de AGEs.

Doenças renais – Quando AGEs são administrados a um animal, num experimento científico, o animal desenvolve todos os sinais característicos de uma doença renal5. Os AGEs também podem ser encontrados nos rins de seres

humanos que sofrem de doença renal.

Aterosclerose – A administração oral de AGEs, tanto em animais como em seres humanos, provoca a constrição das artérias, o tônus excessivo e anormal das artérias (disfunção endotelial) associado à principal lesão que permite a instalação da aterosclerose6. Os AGEs também modificam as partículas do colesterol LDL, impedindo que sejam

absorvidas pelo fígado e encaminhando-as para absorção por células inflamatórias nas paredes arteriais, no processo de desenvolvimento da placa aterosclerótica7. Os AGEs podem ser recuperados de tecidos e sua presença está

relacionada à gravidade da placa: quanto maior o teor de AGEs de alguns tecidos, mais grave será a aterosclerose nas artérias8.

Demência – No cérebro de pessoas afetadas pela doença de Alzheimer, o teor de AGEs é três vezes maior que no cérebro de pessoas normais; os AGEs acumulam-se nas placas amiloides e nos emaranhados neurofibrilares característicos do transtorno9. Em conformidade com o aumento acentuado na formação de AGEs em diabéticos, a

demência é 500% mais comum nas pessoas diabéticas10.

Câncer – Embora os dados sejam inconsistentes, a relação entre AGEs e câncer pode se revelar um dos mais importantes de todos os fenômenos associados aos AGEs. Foram encontradas evidências de acúmulo anormal de AGEs em cânceres de pâncreas, mama, pulmão, cólon e próstata11.

Disfunção erétil – Se eu ainda não consegui atrair a atenção dos leitores do sexo masculino, isto deve fazê-lo: os AGEs prejudicam a capacidade de ereção. Eles se depositam no tecido peniano responsável pela reação erétil (corpus cavernosum), impedindo que o pênis se encha de sangue, processo que leva à ereção12.

Saúde dos olhos – Os AGEs danificam os tecidos oculares, desde a lente (catarata) e a retina (retinopatia) até as glândulas lacrimais (olhos ressecados)13.

Muitos dos efeitos danosos dos AGEs ocorrem por meio do aumento do estresse oxidativo e de inflamações, dois fatores subjacentes a numerosos processos que resultam em doenças14. Por outro lado, estudos recentes

têm revelado que a redução da exposição aos AGEs leva a uma expressão reduzida de marcadores inflamatórios como a proteína C-reativa (PCR) e o fator de necrose tumoral15.

O acúmulo de AGEs é uma explicação adequada para o desenvolvimento de muitos dos fenômenos do envelhecimento. O controle sobre a glicação e sobre o acúmulo de AGEs fornece, portanto, um meio em potencial para reduzir todas as consequências do acúmulo de AGEs.

Diabéticos com baixo controle da glicose no sangue, cujas taxas permanecem altas por muito tempo, são especialmente propensos a sofrer complicações diabéticas, todas decorrentes da formação de AGEs em abundância, mesmo pacientes jovens. (Quando a importância de um controle “rigoroso” da glicose no sangue no diabetes do tipo 1, ou infantil, ainda não tinha sido reconhecida, não era raro ver insuficiência renal e cegueira em diabéticos antes dos 30 anos de idade. Com o aperfeiçoamento do controle da glicose, essas complicações tornaram-se muito menos comuns.) Estudos extensos, como o Diabetes Control and Complications Trial (DCCT) [Ensaio Clínico sobre Controle e Complicações do

Diabetes]16, mostraram que reduções rigorosas na taxa de glicose do sangue resultam em redução do risco de complicações diabéticas.

Isso ocorre porque a taxa de formação de AGEs depende do nível de glicose no sangue. Quanto mais alta a taxa de glicose, mais AGEs são produzidos.

Os AGEs formam-se mesmo quando a taxa de glicose no sangue é normal, embora, nesse caso, sua formação ocorra a uma velocidade muito menor do que quando a glicose está alta. Logo, a formação de AGEs caracteriza o envelhecimento normal, do tipo que faz uma pessoa de 60 anos de idade parecer ter 60 anos. Entretanto, os AGEs acumulados pelo diabético que não controla bem a a taxa de glicose no sangue provocam um envelhecimento acelerado. O diabetes vem servindo, portanto, como um modelo vivo para a observação, pelos pesquisadores do envelhecimento, dos efeitos aceleradores do envelhecimento decorrentes da hiperglicemia. Assim, as complicações do diabetes, como a aterosclerose, as doenças renais e a neuropatia, são também as doenças do envelhecimento, comuns em pessoas em sua sexta, sétima ou oitava década, mas incomuns em pessoas mais jovens, em sua segunda ou terceira década de vida. Portanto, o diabetes nos ensina o que acontece com as pessoas quando a glicação ocorre num ritmo mais acelerado, permitindo que se acumulem AGEs. Não é nada agradável.

A história não termina assim. No sangue, os níveis mais elevados de AGEs deflagram a expressão do estresse oxidativo e de marcadores inflamatórios17. O receptor dos AGEs, ou RAGE, funciona como o porteiro para uma variedade de reações oxidativas e inflamatórias, como citocinas inflamatórias, o fator de crescimento do endotélio vascular e o fator de necrose tumoral18. Logo, os AGEs põem em movimento um exército de efeitos oxidativos e inflamatórios que levam a doenças cardíacas, câncer, diabetes e outros males.

A formação dos AGEs, portanto, é um continuum. Contudo, embora eles se formem até mesmo com níveis normais de glicose no sangue (glicose em jejum a 90 mg/dL ou menos), o processo torna-se mais rápido quando os níveis glicêmicos são mais altos. Quanto mais alta a glicemia, mais AGEs são formados. Na realidade, não se pode esperar que a formação de AGEs cesse totalmente; qualquer que seja a taxa de glicose no sangue, isso não acontece.

Não ser diabético não significa que você seja poupado desses destinos. Os AGEs acumulam-se nos não diabéticos, causando neles seus efeitos promotores do envelhecimento. Basta um pouco de glicose a mais no sangue, só alguns miligramas acima do normal, e – pronto – você já tem AGEs fazendo seu trabalho sujo, obstruindo seus órgãos. Com o tempo, se o acúmulo de AGEs em seu corpo for o bastante, você também pode desenvolver os transtornos observados em pessoas diabéticas.

Somados aos 25,8 milhões de diabéticos, há 79 milhões de pré-diabéticos nos Estados Unidos hoje19. Existem também muitos outros norte-americanos que ainda não se encaixam nos critérios da ADA para o pré-diabetes mas que ainda assim apresentam alta glicemia depois de consumir certa quantidade de carboidrato que eleve a taxa de glicose no sangue – isto é, elevação suficiente para deflagrar uma produção de AGEs maior que a normal. (Se você duvida que a glicose no sangue aumenta depois que você come, digamos, uma maçã ou um pedaço de pizza, é só comprar um simples medidor de glicose na farmácia. Meça sua taxa de glicose uma hora depois de consumir o alimento em questão. Você muito provavelmente ficará chocado ao ver como seu nível de glicose no sangue dispara. Lembra-se de meu “experimento” com duas fatias de pão integral? A glicose no sangue foi para 167 mg/dL. Isso

em geral acontece.)

Enquanto os ovos não aumentam o nível de glicose em seu sangue, e tampouco o fazem as castanhas e sementes cruas, o azeite de oliva, as costeletas de porco ou o salmão, os carboidratos aumentam – todos os carboidratos, desde maçãs e laranjas até balas de goma e cereal de sete grãos. Como analisamos anteriormente, do ponto de vista da glicemia os produtos do trigo são piores que praticamente todos os outros alimentos, pois fazem a glicemia disparar a níveis que se comparam com os de um verdadeiro diabético – mesmo que você não seja diabético.

No documento Barriga de trigo - William Davis.pdf (páginas 104-106)