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NÃO É UM PAÍS PARA IDOSOS CONSUMIDORES DE PÃO

No documento Barriga de trigo - William Davis.pdf (páginas 102-104)

Ultimamente os norte-americanos vêm sendo bombardeados com uma enxurrada de termos novos e complexos, desde obrigações de dívidas com garantia até derivativos negociados em bolsa, o tipo de coisa que você preferiria deixar para os especialistas, como seu amigo que trabalha num banco de investimentos. E aqui vai mais um termo complexo, do qual você vai ouvir falar muito nos próximos anos: AGEa.

“Produtos finais da glicação avançada”, cuja sigla, AGE, é muito apropriada, é o nome dado àquilo que enrijece as artérias (aterosclerose), deixa embaciadas as lentes dos olhos (catarata) e confunde as ligações sinápticas do cérebro (demência), tudo encontrado em abundância em pessoas mais velhas1. Quanto mais envelhecemos, mais AGEs podem ser descobertos nos rins, nos olhos, no fígado, na pele e em alguns outros órgãos. Embora possamos ver alguns efeitos dos AGEs, como as rugas em nossa amiga de supostos 25 anos, que segue o conselho de Lucille Ball, eles ainda não fornecem um parâmetro preciso da idade que possa comprovar que ela está mentindo. Apesar de podermos ver provas de alguns efeitos dos AGEs – as rugas e a pele flácida, a opacidade leitosa dos olhos, as mãos nodosas por causa da artrite –, nada disso é realmente quantitativo. Mesmo assim, os AGEs, pelo menos de um modo qualitativo, identificados por meio de biópsia ou por alguns aspectos perceptíveis a olho nu, fornecem um indicador de degeneração biológica.

Os AGEs são resíduos inúteis que provocam a deterioração dos tecidos à medida que se acumulam. Eles não têm nenhuma função útil: não podem ser queimados para gerar energia, não têm função de lubrificação ou de comunicação, não oferecem nenhuma ajuda a enzimas ou hormônios das redondezas nem servem para você se aconchegar a eles numa noite fria de inverno. Além dos efeitos que você pode ver, o acúmulo de AGEs também significa: perda da capacidade dos rins de filtrar o sangue, removendo dejetos e retendo proteínas; enrijecimento das artérias e acúmulo da placa aterosclerótica; rigidez e deterioração da cartilagem das articulações, como o joelho e o quadril; e perda de células funcionais do cérebro, com amontoados de resíduos de AGEs ocupando seu lugar. Como terra na salada de espinafre ou cortiça no Cabernet, os AGEs podem acabar com uma boa festa.

Embora alguns AGEs entrem no corpo com os alimentos, pois estão presentes em vários deles, eles também são um subproduto dos altos níveis de açúcar (glicose) no sangue, fenômeno que define o diabetes.

A sequência de acontecimentos que leva à formação de AGEs é a seguinte: são ingeridos alimentos que aumentam a taxa de glicose no sangue; a maior disponibilidade de glicose nos tecidos do corpo permite que a molécula desse açúcar reaja com qualquer proteína, criando uma molécula combinada de glicose e proteína. Os químicos falam em produtos reativos complexos, como os produtos de Amadori e as bases de Schiff, que geram um grupo de combinações de glicose-proteína que, coletivamente, recebem o nome de AGEs. Uma vez formados, os AGEs não podem ser desfeitos, eles são irreversíveis. Eles também se agrupam em cadeias de moléculas, formando polímeros de AGEs, que são especialmente destrutivos2. Os AGEs têm a má reputação de se acumular exatamente onde se encontram, formando amontoados de refugos inúteis que resistem a quaisquer processos digestivos ou de limpeza do organismo.

Portanto, os AGEs resultam de um efeito dominó, que se inicia sempre que o nível de glicose no sangue se eleva. Onde quer que essa glicose vá (que é praticamente qualquer parte do corpo), os AGEs irão atrás. Quanto mais elevada a taxa de açúcar no sangue, mais AGEs se acumularão, e mais depressa avançará a deterioração do envelhecimento.

O diabetes é o exemplo concreto do que acontece quando a taxa de glicose no sangue permanece alta, uma vez que os diabéticos costumam apresentar taxas de glicose na faixa de 100 a 300 mg/dL ao longo de um dia inteiro, enquanto tentam controlar seus açúcares com insulina ou com medicação por via oral. (A taxa normal de glicose em jejum é de 90 mg/dL ou menos.) A taxa de açúcar no sangue pode atingir valores muito mais altos, às vezes: depois de uma tigela de aveia cozida em fogo brando, por exemplo, a glicose pode facilmente atingir uma faixa de 200 a 400 mg/dL.

Se a frequente elevação da taxa de glicose no sangue causa problemas de saúde, nós deveríamos observar a manifestação exacerbada desses problemas em diabéticos… e, de fato, encontramos. Por exemplo, a probabilidade de um diabético ter doença coronariana ou sofrer ataques cardíacos é de duas a cinco vezes maior que a de um não diabético; 44% dos diabéticos desenvolverão aterosclerose das carótidas ou de outras artérias, fora do coração; e de 20 a 25% deles desenvolverão insuficiência renal ou terão falência renal num prazo médio de onze anos após o diagnóstico do diabetes3. Na realidade, altas taxas de glicose no sangue, mantidas ao longo de vários anos, praticamente garantem o desenvolvimento de complicações.

Com a repetição de altas taxas de glicose no sangue no diabetes, também se esperaria encontrar altos níveis de AGEs no sangue; e na realidade é isso que ocorre. Os diabéticos apresentam níveis 60% mais altos de AGEs no sangue em comparação com os não diabéticos4. Os AGEs resultantes de altas taxas de glicose no sangue são responsáveis pela maior parte das complicações do diabetes, desde a neuropatia (lesões nos nervos que levam à perda de sensibilidade nos pés) e a retinopatia (defeitos da visão e cegueira) até a nefropatia (doenças dos rins e falência renal). Quanto mais alta for a hiperglicemia e quanto mais tempo ela permanecer alta, mais produtos AGE vão se acumular, resultando em mais lesões aos órgãos.

No documento Barriga de trigo - William Davis.pdf (páginas 102-104)