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COMBATER OS CARBOIDRATOS COM CARBOIDRATOS?

No documento Barriga de trigo - William Davis.pdf (páginas 82-84)

Um desjejum humano paleolítico ou neolítico poderia ser composto de peixes, répteis, aves ou outro tipo de caça (nem sempre cozida), folhas, raízes, frutinhas ou insetos. Hoje é mais provável que o desjejum seja uma tigela de cereais matinais feitos de farinha de trigo, amido de milho, aveia, xarope de milho rico em frutose e sacarose. É claro que eles não são chamados de “farinha de trigo, amido de milho, aveia, xarope de milho rico em frutose e sacarose”, mas de algum nome muito mais sedutor, como Pedaços Crocantes de Saúde ou Quadradinhos Saborosos de Frutas. Ou talvez sejam waffles e panquecas com xarope de bordo. Ou ainda um pãozinho torrado com uma camada de geleia, ou um pumpernickel com requeijão de baixo teor de gordura. Para a maioria dos norte-americanos, o exagero no consumo de carboidratos começa cedo, e continua pelo dia afora.

Quando foi a última vez que você esfolou um animal, que você o abateu, partiu lenha que durasse o inverno inteiro ou lavou sua roupa no rio? À medida que diminuíram as exigências físicas em nossa vida e proliferaram alimentos que são rapidamente metabolizados e proporcionam conveniência e prazer, não deveríamos nos escandalizar nem um pouco se tudo isso resultou em doenças decorrentes de excessos.

Ninguém se torna diabético empanturrando-se do javali que ele mesmo caçou, de alho silvestre ou de frutinhas silvestres que ele mesmo colheu… Nem de um excesso de omelete de legumes, de salmão, de couve, de tirinhas de pimentão, nem de pasta de pepino. Mas muita gente desenvolve diabetes em razão de um excesso de pãezinhos, bagels, cereais matinais, panquecas, waffles, pretzels, bolachas, bolos, cupcakes, croissants, sonhos e tortas.

Como já falamos, alimentos que aumentam ao máximo a glicose no sangue também causam o diabetes. A sequência é simples: os carboidratos ativam a liberação de insulina pelo pâncreas, causando o aumento da gordura visceral; a gordura visceral causa inflamação e resistência à insulina. Altos níveis de glicose, de triglicerídeos e de ácidos graxos no sangue prejudicam o pâncreas. Depois de anos de sobrecarga, o pâncreas sucumbe ao ataque que sofreu por parte da glicotoxicidade, lipotoxicidade e inflamação, praticamente “entrando em estafa”, deixando uma deficiência de insulina e um aumento da glicose no sangue: o diabetes.

Os tratamentos para o diabetes refletem essa progressão. Medicamentos como a pioglitazona, que reduz a resistência à insulina, são prescritos na fase inicial do diabetes. A metformina, também prescrita na fase inicial, reduz a produção de glicose pelo fígado. Quando o pâncreas já está esgotado, depois de anos de agressões glicotóxicas, lipotóxicas e inflamatórias, ele não consegue mais produzir insulina, e, então, são prescritas injeções de insulina.

Parte do procedimento de atendimento para prevenir e tratar o diabetes, uma doença causada principalmente pelo consumo de carboidratos… consiste em aconselhar um aumento do consumo de carboidratos.

Anos atrás, usei a dieta da ADA (Associação Norte-Americana de Diabetes) com pacientes diabéticos. Seguindo a recomendação de ingestão de carboidratos da associação, observei que meus pacientes ganhavam peso, experimentavam uma deterioração do controle da glicose no sangue e uma necessidade maior de medicação, além de desenvolverem complicações diabéticas como doença renal e neuropatias. Exatamente como Ignaz Semmelweis, que quase eliminou os casos de febre puerperal no hospital em que trabalhava apenas lavando as mãos, descartar a recomendação dietética da ADA e cortar a ingestão de carboidratos leva a um progresso no controle da glicose no sangue, a uma redução da HbA1c, a uma impressionante perda de peso e a uma melhora do caos metabólico que acompanha o diabetes, como, por exemplo, a hipertensão e o aumento dos triglicerídeos.

A ADA aconselha os diabéticos a eliminar as gorduras da dieta, reduzir o consumo de gorduras saturadas e incluir de 45 a 60 gramas de carboidratos – de preferência “grãos integrais saudáveis” – em cada refeição, ou de 135 a 180 gramas de carboidratos por dia, sem incluir os petiscos. É, em essência, uma dieta lipofóbica, centrada em carboidratos, com 55 a 65% das calorias provenientes de carboidratos. Se eu fosse resumir as opiniões da ADA com relação a dietas, seria assim: Vá em frente e coma açúcar e alimentos que aumentam a glicose no sangue. Certifique-se apenas de ajustar sua medicação para compensar.

Contudo, embora “combater o fogo com fogo” possa funcionar no controle de insetos e com vizinhos do tipo passivo-agressivo, você não consegue se livrar da dívida de seu cartão de crédito fazendo mais despesas com ele. Do mesmo modo, você não vai conseguir escapar do diabetes com a ingestão de carboidratos.

A ADA exerce uma forte influência sobre a elaboração das atitudes nacionais para com a nutrição. Quando é diagnosticado diabetes num paciente, ele é encaminhado a um orientador ou enfermeiro especialista em diabetes, que lhe transmitirá os princípios dietéticos da ADA. Se um paciente internado num hospital for diabético, o médico ordenará uma “dieta da ADA”. Essas “diretrizes” dietéticas podem, na verdade, ser impostas, transformando-se numa “lei” de saúde. Conheci orientadores e enfermeiros espertos que, tendo compreendido que os carboidratos causam o diabetes, resistem às recomendações da ADA e aconselham os pacientes a reduzir o consumo de carboidratos. Como esse tipo de aconselhamento é um desafio declarado às diretrizes da ADA, o establishment médico demonstra sua incredulidade, demitindo esses funcionários rebeldes. Nunca subestime as convicções dos que se aferram às convenções, especialmente na medicina.

No documento Barriga de trigo - William Davis.pdf (páginas 82-84)