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TRIGO E BUNGEE JUMPING

No documento Barriga de trigo - William Davis.pdf (páginas 70-72)

Comer trigo, como praticar alpinismo no gelo, skate de montanha e bungee jumping, é um esporte radical. Ele é o único alimento comum que traz consigo a própria taxa de mortalidade a longo prazo.

Alguns alimentos, como os crustáceos e o amendoim, têm o potencial para provocar reações alérgicas agudas (por exemplo: urticária ou choque anafilático), que podem ser perigosas para quem é suscetível, e até mesmo fatais, ainda que raramente. Contudo, o trigo é o único alimento comum que tem sua própria taxa mensurável de mortalidade quando observado ao longo de anos de ingestão. Numa grande análise realizada ao longo de oito anos e oito meses, houve um aumento de 29,1% da probabilidade de morte em pessoas com a doença celíaca ou que apresentaram resultados positivos para anticorpos da doença mas sem a

manifestação dela, em relação à população em geral35. A maior taxa de mortalidade decorrente da exposição ao glúten do trigo foi observada no grupo daqueles que estavam na faixa etária dos 20 anos ou menos, seguida pelo grupo que estava na faixa dos 20 aos 39 anos de idade. A mortalidade também aumentou em todas as faixas etárias desde o ano 2000; a mortalidade em pessoas com resultados positivos para anticorpos ao glúten do trigo mas sem a doença celíaca mais que dobrou em comparação com a mortalidade anterior a 2000.

Nem pimentões verdes, nem abóboras, mirtilos ou queijos geram mortalidade a longo prazo. Só o trigo. E você não precisa apresentar os sintomas da doença celíaca para que isso aconteça.

Mesmo assim, o trigo é o alimento que o próprio Departamento de Agricultura dos Estados Unidos nos estimula a comer. Eu pessoalmente acredito que não seria exagero a FDA (que agora regulamenta o tabaco) exigir uma mensagem de advertência em produtos que contenham trigo, assim como as exige na embalagem de cigarros.

Imagine:

O MINISTÉRIO DA SAÚDE ADVERTE: O consumo de trigo, em todas as suas formas,

representa grave ameaça para a saúde.

Em junho de 2010, a FDA emitiu uma portaria que exigia da indústria do fumo a remoção das descrições enganosas light, “suave” e “baixo teor” dos maços de cigarros, já que todos esses tipos de cigarro são exatamente tão nocivos quanto qualquer outro tipo. Não seria interessante ver uma portaria similar que ressaltasse que trigo é trigo, não importa se for “integral”, “multigrãos” ou “rico em fibras”?

Nossos amigos do outro lado do Atlântico publicaram uma extraordinária análise dos 8 milhões de residentes do Reino Unido, em que identificaram mais de 4.700 celíacos e os compararam com grupos de controle de cinco integrantes para cada participante celíaco. Todos os participantes foram observados por três anos e meio para verificar o surgimento de vários tipos de câncer. Ao longo do período de observação, os participantes com a doença celíaca apresentaram uma probabilidade 30% maior de desenvolver algum tipo de câncer, sendo que a incrível proporção de 1 em cada 33 participantes celíacos desenvolveu câncer, apesar do período relativamente curto de observação. Os cânceres que se manifestaram eram, em sua maioria, gastrointestinais malignos36.

A observação de mais de 12 mil celíacos suecos mostrou um aumento semelhante, da ordem de 30% no risco para cânceres gastrointestinais. O grande número de participantes revelou a ampla variedade de cânceres gastrointestinais que podem se desenvolver, entre eles linfomas do intestino delgado e cânceres da garganta, do esôfago, do intestino grosso, do sistema hepatobiliar (fígado e dutos biliares) e do pâncreas37. Ao longo de um período de até trinta anos, os pesquisadores registraram nesse grupo o dobro da mortalidade em comparação com suecos não celíacos38.

Você já sabe que doença celíaca “latente” corresponde a um resultado positivo para um (ou mais de um) teste de anticorpos indicadores da doença mas sem sinais de inflamação intestinal observados por endoscopia e biópsia – o que eu chamo de intolerância ao glúten imunomediada.

O acompanhamento de 29 mil celíacos ao longo de aproximadamente oito anos revelou que, naqueles que tinham a doença celíaca “latente”, houve um aumento da ordem de 30 a 49% no risco de contrair algum tipo fatal de câncer, doença cardiovascular e doenças

respiratórias39. A doença celíaca pode estar latente, mas não está morta. Está de fato muito viva.

Se a doença celíaca, ou a intolerância ao glúten imunomediada, não for diagnosticada, ela pode provocar o aparecimento de um linfoma não Hodgkin do intestino delgado, condição de difícil tratamento, que costuma ser fatal. Os celíacos estão sujeitos a um risco quarenta vezes maior de ter esse tipo de câncer em comparação com os não celíacos. O risco volta ao normal depois de cinco anos de remoção do glúten da dieta. Os celíacos que não evitam o glúten podem se expor a um risco 77 vezes maior de linfoma e a um risco 22 vezes maior de cânceres da boca, da garganta e do esôfago40.

Vamos refletir sobre isso: o trigo provoca a doença celíaca e/ou a intolerância ao glúten imunomediada, que são subdiagnosticadas numa proporção incrivelmente alta, já que apenas 10% dos celíacos sabem que têm a doença. Isso deixa os 90% restantes na ignorância. O câncer não é um resultado raro nesse caso. Sim, de fato, o trigo causa câncer. E costuma causar câncer naqueles que nem desconfiam de nada.

Pelo menos quando pratica bungee jumping, saltando de uma ponte para ficar pendurado na ponta de uma corda de 60 metros de extensão, você sabe que está fazendo uma maluquice. Mas comer “grãos integrais saudáveis”… quem iria imaginar que isso faria bungee jumping parecer um jogo de amarelinha?

No documento Barriga de trigo - William Davis.pdf (páginas 70-72)