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Celebração e depósito: se as negociações chegarem a bom termo, ou seja se as

No documento Direito Do Trabalho II - Romano Martinez (páginas 125-128)

I – Instrumentos negociais de regulamentação coletiva de trabalho

3. Celebração e depósito: se as negociações chegarem a bom termo, ou seja se as

partes obtiverem acordo quanto aos pontos em discussão, os representantes dos sindicatos, das associações de empregadores ou dos empregadores, indicados no artigo 491.º CT, podem celebrar a convenção coletiva de trabalho. A convenção coletiva tem de ser celebrada por escrito e assinada pelos outorgantes (artigos 477.º e 491.º, n.º1 CT). Para além desta exigência de forma, a lei impõe que, da convenção coletiva, constem os elementos indicados no artigo 492.º CT, ou seja: a indicação de que foram as entidades celebrantes, para se saber a quem é que se aplica; a menção da área geográfica da sua aplicação, igualmente para determinar quem são os destinatários da mesma; a indicação do âmbito de aplicação, isto é, a que profissão, por exemplo, se destina a convenção coletiva de trabalho; e a indicação da data da sua celebração. Há outras menções no extenso n.º1 do artigo 492.º CT, tendo sido acrescentada a alínea h), onde se alude à indicação de critérios de preferência entre IRCT. Além disso, impõe-se que haja uma previsão relativamente à constituição de comissões paritárias, que têm por função interpretar a convenção coletiva de trabalho (artigo 492.º, n.º3 CT). Depois de celebrada a convecção coletiva dever-se-á proceder ao seu depósito nos serviços competentes do Ministério do Trabalho (artigo 494.º, n.º1 CT), concretamente na Direção Geral do Emprego e das Relações de Trabalho. Este depósito tem por finalidade da convenção, podendo o Estado exercer essa verificação por via da recusa do registo (artigo 494.º, n.º4, 5 e 6 CT). Mas esta apreciação efetuada pelos serviços do Ministério do Trabalho é meramente formal, pois não pode incidir sobre aspetos substanciais da convenção. De facto, nos termos do artigo 494.º, n.º4 CT, o depósito da decisão arbitral será recusado desde que não se encontre preenchida qualquer uma das cinco exigências seguintes:

a. Não obedecer ao disposto no artigo 492.º, n.º1 CT (conteúdo);

b. Não ser acompanhada dos títulos de representação exigidos no artigo 491.º, n.º2, alínea d) CT;

c. Haver falta de capacidade dos outorgantes para a celebração do instrumento;

d. Não ter sido entregue em documento eletrónico;

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Como resulta da indicada remissão para o artigo 492.º CT, na convenção coletiva dever-se-á atender obrigatoriamente ao conteúdo obrigatório indicado no preceito. A falta de resposta dos serviços do Ministério durante quinze duas após a receção do instrumento determina a aceitação tácita do depósito (artigo 494.º, n.º5 CT). Após o depósito da convenção coletiva, ela deve ser publicada no Boletim do Trabalho e Emprego, e só depois de publicada entra em vigor (artigo 519.º, n.º1 CT). Pese embora a apreciação de conteúdo da convenção coletiva por parte dos serviços do Ministério responsável ser somente formal, quanto à matéria da igualdade e não discriminação cabe averiguar da legalidade do IRC (artigo 479.º CT).

4. Conteúdo:

a. Objeto da regulamentação coletiva: com respeito ao conteúdo das

convenções coletivas, atento o disposto nos artigos 492.º e seguintes CT é necessário referir que o legislador, além de aludir ao conteúdo mais programático da convenção coletiva (artigo 492.º, n.º2 CT), em que a autonomia privada não é coartada, estabelece aspetos em que se impõem às partes:

i. A existência da comissão paritária (artigo 492.º CT); e

ii. Elementos de conteúdo obrigatório (artigo 492.º CT).

Por outro lado, tendo em conta o disposto no artigo 492.º CT, é frequente fazer-se uma distinção entre as cláusulas de natureza obrigacional e as de cariz regulativo, podendo, ainda, estas últimas subdividir-se em cláusulas de aplicação imediata e cláusulas que carecem de concretização. Estas contraposições, tendencialmente lógicas, correspondem a uma forma de encarar as obrigações emergentes das convenções coletivas que, além de superável, pode ter dificuldade de explicar todos os tipos de cláusulas que se inserem nestes documentos. Contudo, estas classificações facilitam a perceção do objeto dos instrumentos de regulamentação coletiva, razão pela qual se lhes faz alusão nas alíneas seguintes.

b. Cláusulas de conteúdo obrigacional: o conteúdo obrigacional de

convenção coletiva respeita às regras que disciplinam as relações entre as partes signatárias, como vem previsto no artigo 492.º, n.º2, alínea a) CT. Neste preceito, exemplificam-se situações de conteúdo obrigacional, aludindo às cláusulas que respeitam à verificação do cumprimento da convenção, à resolução dos conflitos derivados da sua aplicação e à revisão da própria convenção coletiva. São regras que têm por destinatários ou outorgantes, por exemplo, associações sindicais e de empregadores. Ainda quanto à natureza obrigacional, pode aludir-se à vigência e efeitos da extinção (artigo 492.º, n.º2, alínea h) CT) e a definição de serviços mínimos em caso de greve (artigo 492.º, n.º2, alínea g) CT). A propósito do conteúdo obrigacional é costume fazer-se alusão à chamada cláusula de paz social (artigo 542.º CT). Esta cláusula impõe às partes – concretamente ao sindicato – a obrigação de não intentar formas de luta coletiva num período determinado, em princípio, naquele em que a convenção estiver em vigor; já que, tendo-se chegado àquele consenso, se deveria manter a paz social nele estabelecida.

c. Cláusulas de conteúdo regulativo:

i. Conceito e exemplificação: as cláusulas de cariz regulativo correspondem

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coletiva estas são as cláusulas de maior relevância, pois têm em vista regular as relações individuais de trabalho estabelecidas entre trabalhadores e empregadores filiados nas associações outorgantes. Estas cláusulas, como se esclarece, aplicam-se diretamente aos contratos de trabalho em vigor. Nas normas regulativas são de incluir as regras que disciplinam as condições de trabalho com aplicação nos contratos individuais. De entre estas cláusulas é costume dar relevo às que respeitam às tabelas retributivas, sendo talvez este o aspeto em que, de início, foi dado maior peso nas convenções coletivas. Apesar de a questão salarial nas convenções coletivas não ter perdido importância, deverá ser tratada em conjunto com outras. Todavia, a lei estabelece que, nas negociações, devem as partes dar prioridade à resolução dos problemas retributivos e de tempo de trabalho (artigo 488.º CT). Além das cláusulas relacionadas com matéria retributiva, é frequente deparar-se com regras que respeitam à duração do trabalho, aos descansos semanais, às férias, à determinação das categorias profissionais, à promoção dos trabalhadores, etc. São muitos os temas regulados nas convenções coletivas notando-se, cada vez mais, um crescente aumento de matérias nelas incluídas. Apesar de terem uma natureza híbrida, também se podem incluir no âmbito do conteúdo normativo as cláusulas que respeitam à institucionalização dos processos de resolução pacífica de conflitos emergentes de contratos individuais de trabalho. Frequentemente, em convenções coletivas incluem-se cláusulas que respeitam a formas de resolução pacífica de conflitos laborais (artigo 492.º, n.º2, alínea f) CT). Tais cláusulas não impõem uma paz social no domínio das relações individuais, pois não impedem qualquer forma de luta coletiva, sendo, por conseguinte, válidas. Importa distinguir as cláusulas que visam resolver conflitos derivados da aplicação e revisão de convenções coletivas, que vinculam as partes, das cláusulas que têm em vista a resolução de conflitos laborais, que opõem os trabalhadores às empresas. Estas últimas, constituindo uma quase terceira categoria, podem incluir-se entre as cláusulas de conteúdo regulativo, na medida em que têm por destinatários não outorgantes.

ii. Cláusulas de aplicação imediata e cláusulas que carecem de concretização futura:

as cláusulas das convenções coletivas que compõem o conteúdo regulativo, também designado por normativo, podem ser de dois tipos. Na maioria das situações são cláusulas de aplicação imediata em relação aos contratos de trabalho em vigor. Admite-se uma segunda situação em que as cláusulas constantes de uma convenção coletiva não sejam de exequibilidade imediata, pois necessitam de uma concretização futura a efetuar, em princípio, pelo empregador. Enquanto não se verificar a concretização não pode ser exigido o seu cumprimento. As normas de convenções coletivas mais relevantes são as de aplicação imediata, como, por exemplo, o estabelecimento de nova tabela salarial, a qual se aplicará a partir do momento em que a convenção coletiva entre em vigor, muitas vezes, neste caso, com

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têm de ser postas em prática, em princípio, por atos do empregador, por exemplo, as regras respeitantes a questões sociais, indiretamente relacionadas com a prestação de trabalho, tais como a abertura de uma cantina para trabalhadores ou de uma creche para os filhos dos trabalhadores, ou regras respeitantes ao fornecimento de transporte para os trabalhadores. Tais cláusulas necessitam de concretização, há que fazer obras, comprar autocarros, etc. Se o empregador não procede à concretização de tais cláusulas, viola a convenção coletiva e haverá uma obrigação de indemnizar os trabalhadores, para além de sujeição às sanções previstas no artigo 521.º CT, porque a violação de normas de instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho constitui uma contraordenação leve ou grave, consoante as circunstâncias (artigos 521.º, n.º1 ou 2 CT). Não parece viável, no entanto, o recurso à execução específica dessas cláusulas. Deriva do facto de, por um lado, em Direito do Trabalho, não ser esse recurso normal perante o incumprimento de obrigações, como ocorre em sede de contrato-promessa de trabalho (artigo 103.º., n.º3 CT). Por outro lado, a execução específica, em determinados casos, implicaria uma intromissão inadmissível na atividade empresarial. Contudo, por vezes, em relação à violação de cláusulas que impõem prestações da coisa ou de facto fungível, eventualmente, pode defender-se o recurso às regras gerais da execução específica nos termos dos artigos 827.º e seguintes CC.

d. Limites: no artigo 492.º CT estabelece-se o que pode ser regulado numa

convenção coletiva, impondo-se aspetos que devem ser incluídos, mas é necessário atender aos limites aplicáveis a todos os instrumentos, constantes do artigo 478.º CT, onde se coarta a autonomia privada.

No documento Direito Do Trabalho II - Romano Martinez (páginas 125-128)