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II – Instrumentos não negociais de regulamentação coletiva de trabalho

No documento Direito Do Trabalho II - Romano Martinez (páginas 136-142)

Aspetos gerais: a convenção coletiva, com base no princípio da filiação (artigo 496.º CT), só encontra aplicação aos filiados (trabalhadores e empregadores) nas associações signatárias; mais concretamente, aplica-se às entidades signatárias bem como aos trabalhadores e empregadores nelas filiados. Quanto às entidades signatárias vale a parte obrigacional e aos filiados nestas a parte regulamentar da convenção coletiva; exceto no que respeita aos empregadores que, podendo ser outorgantes, também serão destinatários da parte regulamentar da convenção coletiva. O princípio da filiação vigora igualmente em relação às decisões arbitrais, que se aplicam às partes que aceitaram o compromisso arbitral, assim como aos que se encontram nelas filiados. Deste modo, é com base no princípio da filiação que os instrumentos autónomos da regulamentação coletiva de trabalho encontram a sua aplicação em relação aos filiados nas associações outorgantes. Há, todavia, a exceção relativamente à arbitragem obrigatória ou necessária, na medida em que esta pressupõe uma decisão arbitral, que vale relativamente a quem não aceitou voluntariamente a arbitragem. Nesta hipótese, o instrumento proveniente da decisão arbitral aplica-se a quem não a tenha pretendido. À exceção da arbitragem obrigatória e necessária, os instrumentos de regulamentação coletiva até agora analisados baseiam-se na autonomia contratual. Todavia, a lei prevê que, em determinadas circunstâncias, superando o princípio da filiação, por via legislativa,

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concretamente mediante portaria de extensão, as convenções coletivas e as decisões arbitrais podem valer relativamente a quem não esteja filiado nas associações signatárias. Em tal caso, deixar-se-á de estar perante instrumentos autónomos, mas antes de instrumentos normativos de regulamentação coletiva de trabalho. Por via de uma portaria de extensão pode estabelecer-se que a convenção coletiva ou a decisão arbitral em vigor estenda a sua aplicação a não filiados, como prescreve o artigo 514.º CT. Além disso, não existindo nenhuma convenção coletiva ou decisão arbitral possível de extensão, pode constituir-se ex novo um instrumento, designado por portaria de condições de trabalho (artigos 517.º e seguintes CT).

Portaria de extensão:

1. Noção: por portaria de extensão – publicada em portaria do ministério responsável

pela área do trabalho – pode ser alargado o âmbito de aplicação de uma convenção coletiva ou de uma decisão arbitral. Mas a mencionada extensão só vale no que respeita à parte regulativa da convenção coletiva ou da decisão arbitral e não em relação à parte obrigacional. Por via da extensão, uma convenção coletiva ou uma decisão arbitral passa a aplicar-se a trabalhadores não sindicalizados na associação sindical, assim como a empregadores não filiados na associação de empregadores vinculadas pelo instrumento de regulamentação coletiva de trabalho em questão. Sem dúvida que, mediante uma portaria de extensão, os referidos instrumentos coletivos estendem a sua aplicação a trabalhadores não sindicalizados e a empregadores não filiados em associações de empregadores, mas poder-se-ia discutir se, eventualmente, se poderá alargar o âmbito de aplicação de uma convenção coletiva a trabalhadores filiados em outro sindicato ou a empregadores membros de outra associação de empregadores, distintos das entidades outorgantes do mencionado instrumento de regulamentação coletiva.

2. Pressupostos: como prescreve o artigo 514.º CT, a emissão de uma portaria de

extensão depende de certos pressupostos. O alargamento do âmbito da convenção coletiva por portaria de extensão está limitado a empregadores e a trabalhadores integrados no âmbito do sector de atividade e profissional definido no instrumento cuja aplicação se estende (artigo 514.º, n.º1 CT). Como dispõe o n.º2 do artigo 514.º CT, a extensão é possível mediante ponderação de circunstâncias sociais e económicas que a justifiquem. Dito de outro modo por via da portaria de extensão, o instrumento coletivo, no que respeita a empregadores, só pode encontrar aplicação do mesmo setor de atividade e, quanto a trabalhadores, ao mesmo setor profissional (artigo 514.º, n.º1 e 2 CT). Não se pode, pois, estender a aplicação de uma convenção coletiva ou de uma decisão arbitral a um setor económico ou a uma profissão distintos; isto é, a situações diversas e se não houver circunstâncias económicas e sociais que justifiquem (artigo 514.º., n.º2, 1.ª parte CT). A portaria de extensão tem por destinatário quem não esteja filiado nas associações sindicais e de empregadores signatárias da convenção coletiva ou da convenção arbitral que deu origem à decisão arbitral. Cabe acrescentar também que não parece razoável aplicar-se, por via da extensão, um instrumento autónomo de regulamentação coletiva a trabalhadores sindicalizados em outros sindicatos ou a empregadores filiados em outras associações de empregadores, pois estar-se-á a pôr em causa o princípio da autonomia privada. A isto acresce que, segundo a regra de subsidiariedade do artigo 515.º CT, a portaria de extensão só pode ser emitido na falta de convenção coletiva, pelo que se dá preferência à autonomia da vontade. A portaria de extensão aparece, assim, como

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forma de suprir a inércia daqueles que não quiseram filiar-se em associações sindicais ou de empregadores existentes ou, na falta destas, não pretenderam constituir associações sindicais ou de empregadores representativas da atividade ou setor. 3. Regime: a portaria de extensão poderia ser emitida pelo Ministro do Trabalho ou

conjuntamente por este e pelo Ministro responsável pelo setor da atividade em causa à qual se pretende estender o instrumento de regulamentação coletiva, se tiver havido oposição à extensão por parte dos interessados no processos (artigo 516.º, n.º1 CT). Antes de ser emitida a portaria de extensão impõe a lei que haja uma prévia publicação no Boletim de Trabalho e Emprego de um projeto, indicando qual o âmbito de aplicação do regulamento que se pretende publicar (artigo 516.º, n.º2 CT). Este aviso prévio serve, não só para que os interessados possam deduzir oposição fundamentada a essa extensão, como também para que se dê a conhecer aos interessados o seu conteúdo, de modo a poderem apreciar a sua justificação. Se não houver oposição ou se esta for considerada infundada e cumpridas as regras procedimentais, o Ministro responsável pela área do trabalho emitirá a portaria de extensão, mandá-la-á publicar, nos termos gerais, no Boletim do Trabalho e Emprego, que também é publicado em portaria do Diário da República, entrando em vigor nos moldes estabelecidos para as convenções coletivas de trabalho (artigo 519.º, n.º1 e 2 CT).

4. Âmbito de aplicação: a portaria de extensão a que se alude no artigo 514.º CT não

deverá abranger o alargamento do âmbito de aplicação de uma convenção coletiva ou de uma decisão arbitral aos trabalhadores de um sindicato não signatário do acordo e aos empregadores filiados noutra associação de empregadores. Por via da extensão, a convenção coletiva ou a decisão arbitral passa a aplicar-se a trabalhadores não sindicalizados, assim como a empregadores não filiados numa associação de empregadores. Mas, como se referiu, não se poderá estender a aplicação de uma convenção coletiva a trabalhadores filiados em outro sindicato ou a empregadores membros de outra associação de empregadores, distintos das entidades outorgantes da mencionada convenção coletiva. Admitindo-se que a extensão do instrumento autónomo pode abranger trabalhadores filiados em outra associação sindical, estar- se-ia a pôr em causa a autonomia contratual desse sindicato, cuja liberdade negocial ficaria coartada. Se um determinado sindicato não quis negociar e celebrar aquela convenção coletiva, ou não pretendeu, depois desta estar celebrada, aderir a esse instrumento, quer isso dizer que ele tinha alguma objeção relativa a essa convenção coletiva. Assim sendo, se a associação sindical tem uma objeção quanto àquela convenção coletiva ou àquela decisão arbitral, admitir-se que, por via de uma portaria de extensão, os filiados nesse sindicato ficarão submetidos ao sobredito instrumento coletivo, pressupõe que se coarta a autonomia contratual das associações sindicais no que respeita à negociação e celebração de convenções coletivas. O mesmo se diga relativamente às associações de empregadores; se a associação de empregadores não quis celebrar ou aderir àquela convenção coletiva ou decisão arbitral, parece que não poderá depois, por via de uma portaria de extensão, aplicar-se o sobredito instrumento coletivo aos seus membros. Pelas razões invocadas, a extensão só deverá valer relativamente a quem não esteja sindicalizado ou a quem não esteja filiado em nenhuma associação de empregadores, porque de outra forma, mediante a portaria de extensão, o Governo poderia pressionar os sindicatos e as associações de empregadores, que não queriam determinada convenção coletiva, a, indiretamente, aceitá-la. Esta tomada de posição pode ser coadjuvada com um argumento

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suplementar no caso de o sindicato ou a associação de empregadores, a cujos filiados se pretende aplicar o instrumento autónomo por portaria de extensão, serem mais representativos do que as associações signatárias do acordo que se pretende alargar. Caso em que as associações mais representativas veriam a sua influência ser suplantada por um instrumento celebrado por associações menos representativas. Contudo, atendendo à liberdade no que respeita à constituição de associações sindicais, não será raro surgirem sindicatos e mesmo associações de empregadores com reduzida representatividade que, relativamente a um número diminuto de associados, conseguiriam que não se aplicasse um determinado instrumento de regulamentação coletiva, com as consequentes iniquidades que daí poderiam advir. Só que este eventual inconveniente não deve ser resolvido por via de uma limitação da autonomia privada sem apoio na lei. Acresce que a portaria de extensão é supletiva, não devendo sobrepor-se à autonomia privada, principalmente quando se ajustou outro instrumento coletivo; de facto, como resulta da regra da supletividade do artigo 515.º CT, deve dar-se preferência aos instrumentos negociais em detrimento dos instrumentos não negociais. Por via de regra, até com base nos respetivos pressupostos, a portaria de extensão não pode ser emitida no caso de já existir regulamentação coletiva negocial; na hipótese contrária – pouco consentânea com o princípio da liberdade contratual e dificilmente sustentável face à nova redação da lei – e noutras situações em que seja emitido uma portaria de extensão, podem suscitar- se questões de concurso, caso em que se devem aplicar as regras comuns estabelecidas em sede de convenções coletivas.

Portaria de condições de trabalho:

1. Noção: a matéria relativa à portaria de condições de trabalho vem prevista nos

artigos 517.º e 518.º CT, que era anteriormente designado por portaria de regulamentação do trabalho (LRCT) e depois regulamento de condições mínimas. A portaria de condições de trabalho tem um caráter excecional como se depreende do disposto nos correspondentes artigos, e são cada vez menos as situações em que o legislador recorre a estas portarias, embora existam ainda algumas em vigor, designadamente uma portaria de regulamentação de trabalho para a agricultura (Portaria 8 junho 1979).

2. Pressupostos: só se recorre aos regulamentos de condições mínimas se não for

viável emitir uma portaria de extensão, não existirem associações sindicais ou de empregadores e estiverem em causa circunstâncias sociais e económicas que o justifiquem (artigo 517.º CT).

a. Primeiro, se não houver convenção coletiva de trabalho ou decisão arbitral a lacuna será resolvida por via de uma portaria de extensão;

b. Não sendo possível, então poder recorrer-se à portaria de condições de

trabalho.

O caráter excecional da portaria de condições de trabalho também deriva do facto de, tendo sido celebrada uma convenção coletiva ou proferida uma decisão arbitral com vista à resolução do mesmo problema, nos termos do artigo 515.ºCT, a portaria de condições de trabalho deixa de vigorar. Esta portaria serve somente para suprir lacunas, enquanto não existirem outros instrumentos de regulamentação coletiva fundados na autonomia das partes. A emissão da portaria de condições de trabalho deve ser precedida de um estudo a efetuar por uma comissão, que poderá ser

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integrada também por representantes dos trabalhadores daquela profissão e de empregadores daquele setor económico (artigo 518.º CT).

3. Regime: a portaria de condições de trabalho é emitida pelo Ministro do Trabalho e

deverá ser publicado no Boletim do Trabalho e do Emprego e no Diário da República, entrando em vigor nos termos gerais (artigo 519.º CT). A portaria de condições de trabalho aplica-se o regime comum estabelecido para os instrumentos de regulamentação coletiva, sabendo-se, contudo, de entre estes, que tem uma origem não negocial.

Natureza jurídica das portarias de extensão e de condições de trabalho:

1. Regulamentos administrativos: a referência não negocial a estes instrumentos

precisa de uma justificação, que se prende com a natureza jurídica de tais regulamentos, mais propriamente dos instrumentos coletivos criados por regulamento. Normalmente, relacionam-se as portarias de extensão e de condições de trabalho com formas de regulamentação laboral de índole administrativa, considerando-as instrumentos administradores de regulamentação coletiva de trabalho. Havendo mesmo quem qualifique a portaria de extensão como um ato administrativo. É indiscutível que estas portarias se englobam na atividade regulamentar da administração estadual, entendida num sentido amplo, de intervenção no domínio laboral. Mas o problema está em saber se esta intervenção, por via das referidas portarias, tem natureza administrativa ou se, pelo contrário, tais atos conformam uma natureza normativa. O ato administrativo pressupõe uma estatuição relativa a um caso concreto, que visa solucionar; por conseguinte, tem em vista uma situação delimitada, perfeitamente definida. Por via de regra, através de um ato administrativo resolve-se o problema pontual de um indivíduo, de uma empresa, etc., faltando-lhe, pois, a generalidade e a abstração. Tanto a portaria de extensão como a portaria de condições de trabalho; por princípio, não têm em vista resolver casos concretos; elas destinam-se a solucionar questões de um determinado grupo de trabalhadores ou de determinadas empresas, aplicando-se, normalmente, para o futuro, nas situações a constituir, pelo que tem as características da generalidade e da abstração. Mas, no Direito Administrativo (alemão), fala-se, também, nos chamados atos administrativos gerais, que têm por destinatário uma generalidade de pessoas. Todavia, no nosso sistema jurídico português, é duvidoso que tais atos administrativos gerais tenham a natureza de atos administrativos. Considerando que tais atos têm natureza normativa, qualificam-se como regulamentos administrativos. Mas mesmo que se conferisse natureza de ato administrativo aos chamados atos administrativos gerais, continuaria a ser discutível que a portaria de extensão e, em especial, a portaria de condições de trabalho tivessem tal natureza. De facto, tais regulamentos, mormente a portaria de condições de trabalho, gozam da característica da generalidade, pois aplicam-se a uma pluralidade de destinatários, a um determinado grupo de trabalhadores. Além disso, os mencionados regulamentos (portarias) gozam igualmente da característica da abstração, pois têm em vista regular situações a constituir, ou seja, vale em relação a contratos futuros. Há um último aspeto a considerar. Relativamente à portaria de condições de trabalho não parecem subsistir dúvidas quanto à sua natureza normativa, na medida em que ela não tem por base qualquer acordo das partes. Trata-se, por conseguinte, de normas emanadas do Ministério responsável pela área do trabalho sem qualquer base contratual,

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diferentemente do que ocorre com as portarias de extensão, que alargam o campo de aplicação de um acordo das partes. Mas, quanto aos efeitos, não há diferenças substanciais entre uma portaria de extensão e uma portaria de condições de trabalho e, no que concerne à respetiva natureza jurídica, os dois tipos de regulamentos devem ter um tratamento unitário, porque pretendem as mesmas situações; a isto acresce que a portaria de condições de trabalho é subsidiária da portaria de extensão. Ora, como não se põe em causa a natureza normativa da portaria de condições de trabalho, parece que também não se deve questionar a natureza normativa da portaria de extensão; ambas se englobam no poder regulamentar do Estado. Perante isto, talvez se possa concluir que as portarias de extensão e de condições de trabalho devem ser qualificadas como regulamentos administrativos; daí a alteração terminológica introduzida pelo Código do Trabalho, que passou a designar as portarias de extensão por regulamentos de extensão e as portarias de regulamentação de trabalho por regulamentos de condições mínimas. Não obstante a alteração terminológica, em 2009, que voltou a apelidá-las de portaria, a natureza jurídica regulamentar persiste. Destes regulamentos constam normas jurídicas emanadas de uma autoridade administrativa – Ministério responsável pela área do trabalho e, no caso de portaria conjunta, Ministério do Trabalho e outro Ministério. Sendo normas jurídicas, nelas encontram-se as características da generalidade e abstração. Por outro lado, tais portarias também se devem incluir na figura do regulamento administrativo porque estão subordinadas à lei, podendo delas constar regras, tão só na medida em que não contrariem o disposto na lei e, mais do que isso, estas portarias só podem ser emitidas quando expressamente a lei as prevê e nas condições nela determinadas. As regras constantes das referidas portarias não podem desrespeitar a lei sob pena de serem impugnadas contenciosamente.

2. Competência jurisdicional: qualificadas como regulamentos administrativos, tal

portarias não podem ser impugnadas contenciosamente com base em ilegalidade, nos termos gerais, em que se admitem que as normas regulamentares, em que se incluem os regulamentos administrativos, sejam impugnadas contenciosamente, invocando a sua ilegalidade. Esta impugnação pode contrariedade à lei é diversa daquela a que estão sujeitos os atos administrativos. Em termos gerais, sempre se poderá dizer que a impugnação baseada em ilegalidade dos regulamentos administrativos e a respetiva declaração de ilegalidade segue um regime muito simular ao da declaração de inconstitucionalidade das leis, sendo a competência jurisdicional diferente. A declaração de ilegalidade com força obrigatória geral dos regulamentos administrativos é da competência de um tribunal administrativo, enquanto para idêntica declaração de inconstitucionalidade das leis a competência foi atribuída ao Tribunal Constitucional. Estabeleceu-se, por conseguinte, um sistema de ilegalidade para os regulamentos administrativos, distinto do regime instituído para a impugnação dos atos administrativos, designadamente porque, mesmo depois de declarada a ilegalidade (sem força obrigatória geral) de um regulamento administrativo, este pode continuar a aplicar-se, enquanto não for declarada a ilegalidade com força obrigatória geral. O mesmo ocorre em relação às leis. Tendo concluído que as portarias de extensão e de condições de trabalho se enquadrem na figura dos regulamentos administrativos, e sabendo que estes são impugnados perante o Tribunal Administrativo, poder-se-ia, então, deduzir que as questões emergentes da aplicação de normas destas portarias deveriam ser suscitadas perante

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Tais questões devem, antes, ser suscitadas perante o tribunal de trabalho; cabendo aos tribunais administrativos a declaração de ilegalidade com força obrigatória geral das normas constantes de regulamentos. São os tribunais de trabalho que têm de verificar se numa portaria de extensão ou de condições de trabalho foi respeitada a lei, ao menos tempo que lhes cabe determinar como devem tais portarias ser interpretadas perante as situações concretas. O respeito da lei a que se aludiu reporta- se, em particular, à relação com a lei geral do trabalho; sendo os tribunais do trabalho que deverão apreciar da compatibilidade de uma solução que decorre da portaria com as regras gerais; por exemplo, cabe aos tribunais de trabalho verificar se não foi violada uma norma imperativa, como a que prescreve o regime da caducidade do contrato de trabalho ou o regime do tempo de trabalho, fixando o período máximo de trabalho. Assim sendo, para as questões relativas à anulação e interpretação de cláusulas de portarias de extensão ou de condições de trabalho e a declaração de ilegalidade de tais regulamentos (portarias) ou de normas dele constantes com força obrigatória geral. Esta última declaração de ilegalidade tem lugar depois de os tribunais de trabalho terem julgado ilegal, em três casos concretos, uma determinada norma de tais portarias. O tribunal administrativo declara com força obrigatória geral a ilegalidade da portaria de extensão ou de condições de trabalho ou de normas deles constantes em termos idênticos àqueles em que o Tribunal Constitucional declara a inconstitucionalidade das leis. Por conseguinte, a portaria de extensão bem como a portaria de condições de trabalho inserem-se na atividade administrativa estadual, mas têm uma natureza normativa. As questões delas emergentes são dirimidas perante os tribunais de trabalho.

No documento Direito Do Trabalho II - Romano Martinez (páginas 136-142)