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Interpretação e integração: quanto às convenções coletivas de trabalho, como fo

No documento Direito Do Trabalho II - Romano Martinez (páginas 128-132)

I – Instrumentos negociais de regulamentação coletiva de trabalho

5. Interpretação e integração: quanto às convenções coletivas de trabalho, como fo

indicado anteriormente, na parte obrigacional dever-se-ão aplicar os artigos 235.º e seguintes CC. Partindo do pressuposto de que as convenções coletivas de trabalho, na parte regulativa, como produzem efeitos em relação a terceiros, se aproximam da lei, quanto à sua interpretação deve recorrer-se ao artigo 9.º CC. Mas é preciso ter em conta que a convenção coletiva de trabalho se distingue da lei, não tendo as normas características, por outro lado, as normas de uma convenção coletiva provêm de negociações entre sujeitos privados (associações sindicais e associações de empregadores ou empregadores), não emanando unilateralmente do poder central ou regional. Porém, das negociações havidas podem, nalguns casos, retirar-se elementos importantes para a interpretação das regras constantes da convenção coletiva de trabalho. A interpretação e a integração das convenções coletivas seguem as regras gerais, não valendo, neste ponto, qualquer particularidade digna de menção. Há, todavia, dois regimes especiais:

a. O constante do artigo 493.º CT: prevê-se a criação de comissões paritárias

de interpretação, devendo das convenções coletivas constar regras quanto á constituição de tais comissões. As comissões deverão ser compostas por número igual de representantes das entidades signatárias (artigo 493.º, n.º1 CT). Se a comissão paritária, por unanimidade, interpretar ou integrar uma norma da convenção coletiva num determinado sentido, essa deliberação considera-se como regulamentação do instrumento e deverá ser depositada e

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publicada nos mesmos termos prescritos para a convenção coletiva (artigo 493.º, n.º3 CT). Pretende-se que a interpretação feita por unanimidade tenha o valor de uma norma da convenção coletiva num determinado sentido, essa deliberação considera-se como regulamentação do instrumento e deverá ser depositada e publicada nos mesmos termos prescritos para a convenção coletiva (artigo 493.º. n.º3 CT). Pretende-se que a interpretação feita por unanimidade tenha o valor de uma norma da convenção coletiva, aplicável imediatamente após o depósito e a publicação, podendo ser objeto de regulamento de extensão (artigo 493.º, n.º4 CT). A norma da convenção coletiva passará, assim, a valor com a interpretação feita pela comissão. É, porém, discutível que esta interpretação feita pela comissão tenha o valor de uma interpretação autêntica, nos termos do artigo 13.º CC, a interpretação autêntica, em princípio, produz efeitos retroativos, a lei interpretada valerá com esse sentido desde o momento da sua entrada me vigor. Mas, quanto à interpretação feita pela comissão paritária, é discutível que assim seja. Em primeiro lugar, as convenções coletivas não se enquadram na noção de lei, pelo que não se justifica a aplicação do artigo 13.º, n.º1 CC. Segundo é preciso ter em conta que o artigo 478.º, n.º1, alínea c) CT restringe a eficácia retroativa das regras constantes de uma convenção, exceção feita para as questões emergentes da aplicação das cláusulas de natureza pecuniária.

b. A hipótese de acórdãos interpretativos com valor de uniformização jurisprudencial, previstos nos artigos 183.º e 186.º CPT: esta segunda

exceção quanto à interpretação respeita ao facto de o Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça que interprete uma convenção coletiva ter o valor ampliado de revista. Trata-se de uma situação especial no domínio laboral, em que se prevê a possibilidade de existir um Acórdão de uniformização de jurisprudência – ainda que não haja decisões contrárias – no qual o Supremo Tribunal de Justiça faz a interpretação de cláusulas de uma convenção (artigo 183.º e 186.º CPT).

6. Aplicação:

a. Início de vigência: por via de regra, as convenções coletivas entram em

vigor decorrido o prazo de vacatio, de cinco dias a partir da data da sua publicação, valendo o regime geral aplicável aos diplomas legais (artigo 519.º, n.º1 CT). A convenção entra em vigor numa determinada data e só produz efeitos para o futuro (artigo 478.º, n.º1, alínea c) CT), nos termos gerais do artigo 12.º CC. Todo o regime que vigorou até essa data não é afetado, exceto no que respeita às cláusulas de natureza retributiva, em que a eficácia retroativa se justifica para evitar a perda do salário real do trabalhador, principalmente em caso de inflação. Entrando em vigor, a convenção coletiva é de eficácia imediata quanto aos contratos de trabalho em vigor e as normas destes, que eventualmente estejam em condição com aquela, deixam de valer, não podendo subsistir na relação inter partes (artigo 476.º CT). Não quer isto dizer que a convenção coletiva passe a integrar o próprio contrato de trabalho, só que deste não podem constar cláusulas que contrariem regras de caráter superior, que é o caso das constantes de uma convenção coletiva, salvo quando disponham em sentido mais favorável para o trabalhador.

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aplicação relativamente aos contratos de trabalho cujas partes estejam filiadas nas organizações signatárias. Assim, é necessário, por um lado, que o empregador seja membro da associação de empregadores outorgante ou tenha sido ele próprio outorgante e, por outro lado, o trabalhador esteja filiado na associação sindical signatária (artigo 496.º, n.º1 CT). Admite-se também a aplicação no caso de uma filiação em cadeia, isto é, se a convenção coletiva foi negociada por uma confederação, união ou federação, aplica-se às associações nela filiadas e, por sua vez, aos filiados nestas associações (artigo 496.º, n.º2 CT). Para efeito da aplicação da convenção coletiva, consideram-se filiados nas associações outorgantes os trabalhadores e empregadores que tinham o estatuto de membros do início do processo negocial e os que se filiarem durante o período de vigência da convenção (artigo 496.º. n.º3 CT), admitindo-se, pois, que a convenção coletiva, em casos pontuais, se aplique a não filiados. Nesta sequência, admite-se também que a convenção coletiva se aplique, durante um período determinado, àqueles que se desfiliarem das entidades outorgantes (artigo 496.º, n.º4 CT). Na prática ocorre, por vezes, que as convenções coletivas se aplicam também a quem não esteja filiado nas organizações signatárias. É frequente o empregador aplicar a convenção coletiva a todos os trabalhadores, não só aos filiados no sindicato outorgante, mas também a outros trabalhadores que não estão nele filiados. Justifica-se a aplicação da convenção coletiva a trabalhadores não sindicalizados ou mesmo filiados em outro sindicato não com base no princípio da igualdade, mas porque o empregador tem interesse em que todos os trabalhadores da empresa tenham um estatuto semelhante. A aplicação da convenção coletiva a trabalhadores não filiados no sindicato outorgante só é possível na medida em que estes deem o seu consentimento, ainda que tácito. Para além das situações referidas, há duas exceções ao princípio da filiação:

i. Como dispõe o artigo 497.º CT permite-se que um trabalhador não filiado possa escolher qual dos instrumentos de regulamentação coletiva vigentes na empresa se lhe aplica: atento o disposto neste preceito permite-se que possa haver

escolha de convenção coletiva por parte de trabalhadores não filiados no sindicato outorgante (artigo 497.º CT), mediante um pagamento à associação signatária (artigo 492.º n.º4 CT).

ii. O artigo 498.º CT preceitua que a convenção coletiva se aplica à entidade adquirente de estabelecimento ou empresa onde vigora um instrumento de regulamentação coletiva até ao termo da respetiva vigência: além da filiação, a

aplicação da convenção coletiva está na dependência do seu âmbito, e só se aplica aos trabalhadores cujas profissões ou categorias profissionais estejam nela previstas.

c. Termo da vigência; caducidade: a convenção coletiva destina-se a vigorar

durante o período que nela foi estipulado, que é supletivamente de um ano (artigo 499.º CT), renovando-se no fim do prazo, se nenhuma das partes denunciar (artigo 500.º CT). A convenção coletiva pode vigorar depois de denunciada – verificando-se a sua sobrevigência – se as partes, entretanto, entabularem negociações ou decorrem processos de conciliação, mediação ou arbitragem com vista à sua substituição (artigo 500.º, n.º2 e 3 CT). Pretendendo-se, assim, evitar um vazio regulamentar caso a negociação se

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prolongue para além da data de cessação do instrumento. O problema está em saber se se pode protelar a vigência da convenção coletiva indefinidamente. Perante um impasse nas negociações pode recorrer-se à conciliação, mediação e arbitragem, mas não parece viável manter uma convenção coletiva indefinidamente em vigor. Celebrada a convenção coletiva, em princípio, qualquer das partes pode livremente denunciá-la (artigo 500.º, n.º1 CT), mas a denúncia não implica automaticamente a extinção dos efeitos de convenção coletiva, pois tem necessariamente de ser acompanhada de uma proposta (artigo 500.º, n.º1 CT). A denúncia funciona como meio de se proceder a novas negociações com vista a substituir a convenção coletiva em vigor, mas não implica que, naquele momento, os seus efeitos se extingam, pois a convenção coletiva denunciada mantém-se em vigor durante o período em que decorrem as negociações com vista à sua substituição. A sobrevigência, contudo, não pode ser indefinida; só se justificaria durante o período negocial, mas a questão assume particular complexidade atento o disposto no artigo 501.º, n.º2 e seguintes CT. Havendo denúncia e verificados os pressupostos para a sua caducidade, a convenção mantém-se em regime de sobrevigência, pelo menos durante 12 meses, tendo em vista a negociação, mediação, conciliação ou arbitragem (artigo 501.º, n.º3 CT). Além da caducidade, verificados os pressupostos do n.º2 do artigo 502.º CT, nomeadamente em caso de crise empresarial, pode haver suspensão temporária de aplicação de uma convenção coletiva. A convenção coletiva também deixa de vigorar se for substituída por outra (ou por uma decisão arbitral) e ainda em caso de revogação ou de resolução por alteração das circunstâncias. A matéria relativa ao concurso entre convenções coletivas, que vem prevista nos artigos 481.º e seguintes CT, já foi referida a propósito da hierarquia das fontes, para onde se remete. Ainda que não surja novo instrumento, se a convenção denunciada fizer depender a sua cessação de vigência da substituição por outro instrumento, caduca decorridos três anos após a verificação de qualquer das situações indicadas nas alíneas do n.º1 do artigo 501.º CT. Caducando, nos termos do n.º8 do artigo 501.º CT, a convenção coletiva mantém-se, até à entrada em vigor de outra convenção ou decisão arbitral, os efeitos acordados pelas partes ou , na sua falta, os já produzidos pela convenção nos contratos de trabalho no que respeita a retribuição do trabalhador, categoria e respetiva definição, duração do tempo de trabalho e regimes de proteção social. Da regra constante do n.º8 do artigo 501.º CT, parece poder depreender-se que determinadas soluções prescritas numa convenção coletiva continuarão a aplicar-se mesmo depois de esta ter caducado; solução que, no plano jurídico, é pouco razoável. Tendo a convenção caducado em consequência da denúncia, cabe aos serviços do Ministério responsável pela área laboral proceder à publicação no Boletim do Trabalho e Emprego de avisos sobre a data da cessação da vigência do IRC (artigo 502.º, n.º6 CT). Os mencionados serviços não podem recursar a publicação do aviso; na realidade, o controlo feito pelos serviços do Ministério do Trabalho é de mera conformidade formal, estando, assim, vedada qualquer apreciação respeitante ao fundamento da denúncia ou à validade da caducidade da convenção coletiva. O controlo material da

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seguintes CPT). Assim sendo, a falta de publicação do aviso da cessação não afeta a validade nem eficácia da denúncia. Na eventualidade de a declaração negocial de denúncia ser válida, produz de modo inexorável os seus efeitos: a caducidade da convenção coletiva, independentemente de ter havido publicação do aviso.

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