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Exercício do direito à greve:

No documento Direito Do Trabalho II - Romano Martinez (páginas 157-162)

III Conflitos coletivos de trabalho

7. Exercício do direito à greve:

a. Adesão à greve: se a greve; depois de ter sido decretada, não for

desconvocada, os trabalhadores abrangidos podem a ela aderir na data em que foi marcada. A adesão corresponde a uma liberdade no exercício deste direito dos trabalhadores, ninguém podendo ser obrigado a aderir a uma greve, nem impedido de o fazer. Para que um trabalhador possa aderir à greve é necessário que a atividade por ele exercida esteja abrangida no âmbito daquela forma de luta. Desde que a greve tenha sido decretada e que no respetivo âmbito esteja abrangida a atividade do trabalhador, ele pode aderir à greve. A adesão a determinada greve é um direito potestativo de todos os trabalhadores por ela abrangidos, mesmo não sindicalizados, não estando limitado aos trabalhadores filiados no sindicato que a declarou. A adesão à greve corresponde a uma liberdade da qual não pode advir qualquer discriminação para o trabalhador (artigo 540.º, n.º1 CT). Tendo em conta o disposto no artigo 540.º, n.º1 CT, têm sido considerados discriminatórios os designados prémios anti-greve. Estes prémios correspondem, normalmente, a quantias monetárias oferecidas aos trabalhadores em razão da sua assiduidade. Estabelece-se, assim, que se o trabalhador não der faltas receberá um prémio de assiduidade, mas na hipótese de o trabalhador ter dado, nem que seja uma falta, perderá o referido prémio de assiduidade. Não é que os prémios de assiduidade sejam ilícitos, pois o empregador pode estabelecer tais prémios para incentivar os trabalhadores a não faltarem. O problema que se põe nestes casos advém do facto de o trabalhador perder o prémio de assiduidade por ter faltado, na medida em que aderiu a uma greve, podendo,

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medida, violadores do artigo 540.º, n.º1 CT; não sendo válidos na medida em que correspondem também a prémios anti-greve. A adesão à greve é um ato unilateral de cada trabalhador, que se consubstancia numa declaração de vontade. Depois de ter sido declarada, cada trabalhador individualmente adere ou não à greve. A adesão à greve corresponde a uma declaração negocial que não carece de fora, basta que resulte da atitude do trabalhador. Normalmente, a própria atitude do trabalhador é esclarecedora quanto à sua adesão ou não adesão à greve. Se o trabalhador no dia da greve não comparece no local do trabalho, em princípio, presume-se que aderiu. A mera atuação do trabalhador, por factos exteriores, indicia a adesão à greve, mas a presunção é ilidível. Podem suscitar-se dúvidas no caso de a atuação do trabalhador não ser concludente ou quando os factos exteriores levam a concluir que o trabalhador aderiu à greve e ele, de facto, não está em greve ou vice-versa. A presunção de ter aderido à greve já não valerá se o trabalhador, antes da greve, informar o empregador de que se encontra doente e a doença prolongou-se para além do dia de greve. Da mesma forma, mas no sentido oposto, como o seu local de trabalho não é a empresa, dificilmente se pode determinar se está ou não em greve. Em tal caso, para se entender que este trabalhador está em greve, ele deverá fazer uma declaração concludente, pois a simples falta de comparência nas instalações não poderia ser entendida como adesão à greve. O trabalhador pode aderir ou não a uma greve, mas tal declaração de vontade é livremente revogável. O trabalhador pode aderir à greve no próprio dia marcado para a paralisação, que é, aliás, o que acontece na maioria das situações, ou mesmo antes do dia marcado para a greve. Tem-se entendido que, em qualquer dos casos, o trabalhador pode revogar estas declarações, admitindo-se que ele é livre de mudar de ideias. A adesão à greve só produz efeitos a partir do momento em que o trabalhador, no próprio dia da greve, não comparece no local de trabalho; é, pois, necessário um comportamento de abstenção. As declarações anteriores que o trabalhador tenha feito não o vinculam, na medida em que, até ao momento de iniciar o trabalho, ele pode mudar de opinião. Em tais casos, deve entender-se que se o comportamento do trabalhador com respeito a aderir ou não à greve for contrário à sua declaração de vontade poder-se-á estar perante um venire contra factum proprium. Não há declaração de vontade. O problema está em saber se esta contradição implica uma responsabilização do trabalhador. Torna-se difícil responsabilizar o trabalhador pela sua mudança de posição. Admitindo-se que o trabalhador pode ponderar a sua adesão até ao dia da greve, em princípio, o seu comportamento contraditório não tem em vista prejudicar outrem (empregador ou colegas de trabalho) e, deste modo, não se justifica que seja penalizado, apenas porque mudou de opinião. Da mesma forma, se o trabalhador comunicou que não aderia e, posteriormente, persuadido pelos seus colegas de trabalho, acabou por aderir à greve, não parece aceitável que o empregador possa pedir uma indemnização por esta atuação contratidória. A adesão à greve é um direito a exercer pelo trabalhador, na base de uma total liberdade e sem vinculação a qualquer declaração prévia. Assim, qualquer declaração que o trabalhador faça previamente não o vincula. A sua liberdade de aderir ou não à greve manter-se-á até ao dia desta. É evidente

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que poderá haver uma declaração, sabendo que, dessa forma, vai atingir determinado objetivo e, depois, revoga a sua declaração, prejudicando terceiros. Esta situação limite pode acarretar responsabilidade civil por culpa

in contrahendo.

b. Piquetes de greve: sabendo-se que se uma greve tiver um grau de adesão

elevado será um sucesso, mas se, pelo contrário, a adesão dos trabalhadores for reduzida, será um fracasso, torna-se relevante persuadir os trabalhadores a participar na greve. Por um lado, em particular os sindicatos e os respetivos delegados, tentam persuadir o maior número de trabalhadores a aderirem à geve apresentando as razões de sua justeza. Por outro lado, o empregador tenta que a greve seja um fracasso, persuadindo os trabalhadores a não aderirem, mostrando que ela é injustificada. Esta luta de persuasão apresenta- se com uma relevância extrema, visto que o nível de adesão a uma greve é um dos fatores com maior peso. Para efeito desta persuasão, permite-se a criação de piquetes de greve; ou seja, institucionalizou-se uma forma de persuadir os trabalhadores a aderirem à greve. Nos termos constantes do artigo 533.º CT parece poder concluir-se que quem organiza os piquetes de greve deverá ser a entidade que declara a greve. De facto, neste artigo fala-se em associação sindical, no singular. Daqui pode depreender-se que a organização dos piquetes de greve não é um direito dos sindicatos em geral, mas sim da associação sindical que declarou a greve É evidente que se forem várias associações sindicais a declarar a greve todas elas poderão organizar os piquetes de greve. Há, pois, uma relação entre declarar a greve e organizar o piquete de greve. Admitindo a situação excecional em que a greve é declarada, não por um sindicato, mas sim pela assembleia de trabalhadores, o piquete de greve, nesse caso, será organizado pela comissão de greve. Se a greve foi declarada por uma assembleia de trabalhadores, essa mesma assembleia, no momento em que se reúne para declarar a greve, também delibera quanto à eleição de uma comissão de greve (artigo 532.º, n.º1 CT), que representa os trabalhadores durante o período de paralisação. No caso de a greve ter sido declarada por um sindicato, será este que representa os trabalhadores em greve, ainda que não sindicalizados. Ao abrigo do princípio da liberdade de associação, qualquer pessoa poderia organizar um piquete de greve à revelia do sindicato ou da comissão de greve. No entanto, do artigo 533.º CT deduz- se que a organização dos piquetes de greve cabe à associação sindical, que declarou essa paralisação, ou à comissão de greve. Apesar do disposto no artigo 533.º CT, nada obsta a que quaisquer pessoas se reúnam e constituam um piquete de greve com vista a persuadir os trabalhadores a aderirem à paralisação. Porém, um piquete de greve, no sentido técnico, tem de ser organizado pelo sindicato ou pela comissão de greve, mas, na prática, torna- se difícil controlar a situação. Os piquetes de greve constituídos legalmente, nos termos do artigo 533.º CT, têm liberdade de atuação, em particular no seio das empesas, diferentemente dos piquetes ad hoc, que, em princípio, não a têm. No que respeita à composição, os piquetes de greve, em sentido técnico – organizados pela associação sindical ou pela comissão de greve –, deverão ser compostos por trabalhadores a abranger por aquela greve. No caso de a greve ter sido convocada por um sindicato, a composição do

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termos de greve e, deste modo, mesmo que a paralisação tenha sido declarada por um determinado sindicato, os membros do piquete não têm de ser necessariamente filiados nessa associação sindical. A lei não dispõe quanto à composição dos piquetes de greve, pois, neste ponto, o artigo 533.º CT é omisso. Está-se no domínio da liberdade de atuação e, por conseguinte, qualquer pessoa pode livremente, fora da empresa, sem ter uma relação laboral com ela, convencer os respetivos trabalhadores a aderirem a uma greve. No exterior da empresa, mesmo nas suas imediações, não há qualquer limite quanto á atuação de grupos organizados que tentam convencer os trabalhadores a aderirem a uma greve. O problema reside em saber em que medida os piquetes de greve podem exercer a sua tarefa de persuasão dentro da própria empresa. No seio da empresa põe-se o problema de saber se o empregador pode impedir a atuação dos piquetes de greve. A lei nada estabelece quanto ao desempenho de funções por parte dos piquetes de greve dentro da empresa. Da parte do empregador pode haver interesse em opor- se à entrada do piquete de greve na empresa, visto que, se alguns trabalhadores não aderiram à greve, a entidade patronal, em princípio, não pretende que eles sejam persuadidos a abandonarem o trabalho. É evidente que o empregador pode sempre opor-se à entrada de pessoas estranhas na empresa. Deste modo, quando o piquete de greve não for composto por trabalhadores da empresa, o empregador pode licitamente impedir a entrada dessas pessoas na empresa. Relativamente às empresas com serviços abertos ao público, haverá áreas reservadas aos funcionários e, pelo menos, nesses espaços, o empregador poderá não permitir a entrada de pessoas estranhas. Além disso, o que está proibido aos empregadores é o lock out, ou seja, encerrar a empresa com efeitos relativamente aos trabalhadores, mas não há qualquer impedimento quanto a fechar a empresa ao público; pelo que o empregador pode, quando muito bem entender, fechar as portas da empresa ao público, e, deste modo, impedir a entrada de estranhos na empresa. Quanto aos piquetes de greve compostos por trabalhadores da empresa, o problema é mais complicado. Se o empregador poderia, em condições normais, impedir o acesso de trabalhadores da empresa a determinadas zonas quando não estejam em efetividade de funções, também pode obstar a que os trabalhadores grevistas que compõem o piquete de greve permaneçam nesses locais da empresa. Mas se os trabalhadores têm livre acesso à cantina, a uma sala de convívio, à sala de comissão de trabalhadores, etc., mesmo fora do período normal de trabalho, parece que o empregador não pode vedar a entrada do piquete de greve nesses locais. Deste modo, o piquete de greve, composto por trabalhadores da empresa, pode realizar os seus objetivos nas zonas de acesso livre. Põe-se seguidamente o problema de saber se o empregador pode vedar a entrada do piquete de greve nos locais de trabalho. O empregador, na sua função de direção da empresa, tem a possibilidade de determinar e regulamentar o modo de funcionamento da mesma. Pode, por isso, impedir que haja perturbações nos locais de trabalho, até por motivos de segurança. Se há trabalhadores que não aderiram à greve, parece lícito que o empregador possa impedir que os piquetes de greve permaneçam nos locais de trabalho, persuadindo os trabalhadores não aderentes a aderirem à greve. Deve, assim, partir-se do pressuposto de que os piquetes de greve,

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compostos por trabalhadores da empresa, podem atuar no interior desta, mas dentro dos limites apresentados. Nomeadamente, é-lhe vedado prejudicar o trabalho daqueles que não quiserem aderir à greve. Os piquetes de greve têm por função persuadir os trabalhadores, potenciais grevistas, a aderirem a uma greve. Justifica-se a existência dos piquetes de greve para esclarecer os trabalhadores acerca das razões que presidiram à realização daquela greve. No fundo, o esclarecimento serve para que os trabalhadores, potenciais grevistas, saibam quais são os problemas inerentes às relações de trabalho e quais as reivindicações apresentadas, podendo, depois, esclarecidos e de forma livre, aderir ou não à greve. A atuação dos piquetes de greve, como refere o artigo 533.º CT, tem de ser feita por meios pacíficos, não podendo constituir uma forma de prejudicar a atuação dos trabalhadores não grevistas. Mas mesmo quando não se chegue a situações extremas e ilícitas, verificadas com alguma frequência, por exemplo, espancamento de trabalhadores não grevistas, os piquetes de greve acabam sempre por exercer alguma coação moral sobre os trabalhadores. Normalmente, o piquete de greve encontra-se colocado na porte de entrada da empresa, de forma a poder controlar os trabalhadores que não aderem à greve, tentando convencê-los a aderir, invocando, muitas das vezes, razões de solidariedade profissional. Na prática, os piquetes de greve acabam igualmente por ter como função identificar os trabalhadores não grevistas. A função de persuasão dos piquetes de greve, nem sempre se limita às formas pacíficas de mero esclarecimento. Não raras vezes chega mesmo a haver coação moral. Sabendo-se que a adesão à greve é uma declaração de vontade unilateral do trabalhador, cabe perguntar se, havendo coação moral, ele não poderá recorrer, em determinadas circunstâncias, às regras dos artigos 255.º e 256.º CC. Trata-se, no fundo, de saber se um trabalhador que aderiu a uma greve, pode, em determinadas circunstâncias, arguir a anulabilidade da sua declaração de vontade com fundamento em coação moral. Estando preenchidos os pressupostos do artigo 255.º CC, o trabalhador poderá pedir a anulabilidade da sua declaração, nos termos do artigo 256.º CC. Trata-se, no fundo, de saber se um trabalhador que aderiu a uma greve, pode, em determinadas circunstâncias, arguir a anulabilidade da sua declaração de vontade com fundamento em coação moral. Estando preenchidos os pressupostos do artigo 255.º CC, o trabalhador poderá pedir a anulabilidade da sua declaração, nos termos do artigo 256.º CC. A declaração negocial será anulável mesmo que a coação não provenha do destinatário daquela. Neste caso, o destinatário da declaração é o empregador, mas a coação não foi exercida por ele; aliás, o empregador, por via de regra, não tem qualquer interesse nessa coação. A coação terá sido exercida por terceiro (membros do piquete de greve), mas, nos termos do artigo 256.º CC, não obsta à anulação o facto de a coação ter sido exercida por outrem que não o destinatário da declaração negocial, desde que seja grave o mal e justificado o receio da sua consumação. Se o trabalhador conseguir anular a sua declaração de adesão à greve, a anulabilidade tem efeitos retroativos (artigo 289.º CC), levando a que deixem de se produzir os efeitos emergentes daquela adesão, designadamente o não pagamento da retribuição. O trabalhador, em tal caso, será considerado, para todos os

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caberia demandar os elementos que compunham o piquete de greve e a associação sindical que o organizou, com base em responsabilidade civil. A única função que o artigo 533.º CT estabelece em relação aos piquetes de greve é a de persuadir os trabalhadores a aderirem à greve. Resta averiguar se, perante a omissão da lei, os piquetes de greve não poderão ser incumbidos de outras funções. Discute-se se os piquetes têm uma função de fiscalização da greve. Tal função não lhes foi atribuída pelo legislador. Porém, os piquetes de greve são, frequentemente, constituídos por trabalhadores que, para além disso, também são cidadãos e qualquer cidadão tem a possibilidade (e o dever) de denunciar violações da lei. Daí que denunciar as violações praticadas pelo empregador no período de greve não seja uma incumbência específica do piquete de greve, tratando-se apenas de uma faculdade de qualquer cidadão. A atividade de fiscalização deve, deste modo, considerar-se ilícita. Existem outras atividades exercidas normalmente pelos piquetes de greve que devem ser consideradas ilícitas, nomeadamente situações em que os piquetes de greve procedem ao bloqueio dos acessos às empresas, ou seja, aos locais de trabalho. A atuação ilícita dos piquetes de greve do género das descritas leva à aplicação das regras de responsabilidade civil (artigos 483.º e seguintes CC), para além da responsabilidade penal que daí possa advir. Em tais casos, a responsabilidade não é coletiva, devendo ser responsabilizados individualmente cada um dos sujeitos que integram o piquete de greve. Caso o piquete de greve tenha sido organizado por uma associação sindical, o empregador poderá eventualmente também demandar o sindicato com base em responsabilidade do comitente, nos termos do artigo 500.º CC. Caso se admita que o piquete de greve funciona como uma entidade organizada pelo sindicato e age dentro de competências que lhe foram atribuídas por este, então, para além da responsabilidade individual dos membros do piquete de greve, pode responsabilizar-se quem o organizou, ou seja, o sindicato, como comitente.

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