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Noção e causas: Forma e formalidades: o contrato de trabalho pode cessar,

No documento Direito Do Trabalho II - Romano Martinez (páginas 58-60)

nomeadamente, por caducidade. Em caso de caducidade, o contrato cessa pela ocorrência de um facto jurídico stricto sensu, por exemplo, na hipótese de extinção do objeto ou pela verificação de qualquer facto ou evento superveniente a que se atribua efeito extintivo da relação contratual. Assim, no domínio laboral, a caducidade implica a extinção do contrato de trabalho sempre que as prestações devam ser realizadas um determinado prazo, fixado por lei ou convenção das partes. Como exemplo típico cabe indicar o contrato ao qual foi aposto um termo resolutivo (artigo 140.º CT). Por outro lado, também se estará perante uma hipótese de caducidade quando se esgota o objeto do contrato ou ocorre um evento a que se atribui efeito extintivo, como, por exemplo, a morte do trabalhador. Tal como em outros contratos, a caducidade pode resultar da impossibilidade não imputável a uma das partes de efetuar a sua prestação; de facto, num vínculo sinalagmático como o contrato de trabalho, se uma das partes não pode realizar a sua prestação a contraparte fica desobrigada da contraprestação (artigo 795.º, n.º1 CC). Esta extinção recíproca das prestações contratuais designa-se por caducidade no artigo 343.º CT, que inclui, entre as causas de caducidade do contrato de trabalho, a impossibilidade superveniente de prestar ou de receber o trabalho. Não obstante se reconhecer a distinção entre as duas situações; na sequência do que já foi feito anteriormente, incluir-se-á o estudo da impossibilidade superveniente a propósito da caducidade. Deste modo, aludir-se- á à caducidade em sentido amplo, como forma de cessação do contrato de trabalho

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que decorre de um facto a que a lei atribui o efeito extintivo. Até porque, em ambas as situações, a cessação do contrato advém de um facto jurídico stricto sensu, não dependente de uma declaração de vontade. No contrato de trabalho, por via de regra, a caducidade também funciona automaticamente, não necessitando de ser invocada por qualquer das partes. A caducidade opera pelo decurso do prazo para o qual o contrato foi celebrado ou, noutras hipóteses, pela ocorrência de um facto a que a lei atribui efeito extintivo. Por via de regra, a caducidade determina automaticamente a extinção do vínculo. Noutros casos, porém, quando vigore, por lei depende de uma denúncia prévia do contraente interessado em obstar à renovação automática do contrato. É o que sucede no domínio laboral com a caducidade dos contratos de trabalho a termo certo: o contrato caduca se a parte interessada comunicar a intenção de não renovação do contrato à contraparte com a antecedência mínima de quinze ou oito dias, sob pena de o contrato se renovar por período igual ao inicialmente estabelecido (artigos 149.º, n.º2 e 344.º CT). O contrato de trabalho caduca também, nos termos da lei, em caso de impossibilidade superveniente, absoluta e definitiva de o trabalhador prestar o seu trabalho (artigo 343.º, alínea c) e 348.º CT) ou em caso de morte do empregador e extinção ou encerramento da empresa (artigo 346.º CT). Ainda que se admita, excecionalmente, que, por acordo em contrário, a caducidade tenha eficácia retroativa, esta convenção é, contudo, de duvidosa legalidade no âmbito laboral, atendendo aos limites impostos à autonomia privada no Código do Trabalho (em particular, a regra da imperatividade do artigo 339.º CT). Em princípio, se o contrato for celebrado por um determinado prazo, decorrido esse período de tempo, o negócio jurídico caduca. Todavia, no domínio laboral, a regra aponta no sentido de, não obstante o contrato ser celebrado por um determinado prazo, se decorrer esse lapso, ocorre a renovação automática e o contrato não caduca (artigo 149.º, n.º2 CT). A renovação automática assenta no pressuposto de o contrato de trabalho ter sido ajustado por certo prazo, pelo que não vale em caso de termo incerto. Contudo, no domínio laboral, a aposição de uma condição está limitada, relacionando-se a sua admissibilidade com algumas situações em que é viável ajustar um contrato a termo incerto. Apesar de se ter esclarecido que a verificação da condição resolutiva não determina a caducidade do contrato mas a sua resolução, em razão da imperatividade do regime laboral, as eventuais hipóteses de condição resolutiva admissíveis encontram-se previstas no regime do termo incerto. No caso de termo incerto, o contrato produz os seus efeitos normais desde a data da celebração, mas os efeitos cessam, porém, no caso de se verificar o facto extintivo. Sendo o contrato de trabalho ajustado a termo incerto (artigos 140.º, n.º3 CT), a caducidade não se encontra na dependência da comunicação do empregador ao trabalhador (artigo 345.º, n.º1 CT), pois o contrato caduca independentemente dessa informação. Mas a caducidade do contrato de trabalho a termo incerto é atípica, porque, apesar de verificados os seus pressupostos, permite a conversão da situação jurídica temporária num contrato de trabalho sem termo; o contrato de trabalho não caduca se o trabalhador, decorrido o prazo de aviso ou depois de verificado o termo ou a condição resolutiva, continuar ao serviço (artigo 147.º, n.º2, alínea c) CT). Dir- se-á, assim, que a caducidade do contrato é condicional, pois depende de o trabalhador abandonar o serviço; deste modo, além dos pressupostos comuns, a caducidade do contrato de trabalho a termo incerto está dependente da condição de a atividade não continuar a ser desenvolvida. Em sentido amplo, a caducidade pode

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celebração do contrato de trabalho. Estas hipóteses em que deixam de existir os pressupostos nos quais as partes se basearam para a celebração do contrato melhor se enquadram na impossibilidade superveniente ou, eventualmente, na alteração das circunstâncias; podendo, neste caso, constituir uma hipótese de resolução com causa objetiva. É o que acontece nos termos do artigo 394.º, n.º3, alíneas a) e b) CT). Importa esclarecer que a caducidade se distingue da resolução com causas objetivas porque, nesta, a cessação do vínculo depende de uma declaração de vontade justificada, distinta, portanto, de denúncia (ad nutum) que gera caducidade. No regime geral, sempre que o contato caducar por impossibilidade superveniente, importa averiguar se há ou não culpa de uma das partes. E, havendo culpa no que respeita à produção do facto que desencadeou a caducidade, o responsável terá de indemnizar a contraparte pelos danos decorrentes da cessação do vínculo. Mas esta contraposição não vale no âmbito laboral, em que a caducidade se baseia em postulados distintos. O trabalhador não responde pela caducidade do contrato, ainda que tenha atuado culposamente. A responsabilidade pode advir, tão-só, do regime geral de neminem laedere (artigo 483.º, n.º1 CC). Por seu turno, o empregador, ainda que não tenha tido culpa no que respeita à causa de caducidade do contrato, pode ter de compensar o trabalhador nos casos previstos na lei. Assim, no caso de caducidade do contrato de trabalho por verificação do termo incerto (artigo 345.º, n.º4 CT) ou motivada por morte do empregador e extinção ou encerramento da empresa (artigo 346.º, n.º5 CT) é devida uma compensação ao trabalhador. Não obstante a caducidade do contrato, tal como noutras situações contratuais, a subsistência do vínculo contratual pode pressupor o seu renascimento, ou seja, a renovação do contrato. Esta renovação do contrato, porém, por motivos lógicos, não pode valer para todas as hipóteses de caducidade do contrato de trabalho, pois em certos casos em que a extinção da relação contratual opera ipso iure não se justifica o seu renascimento. Assim, no caso de morte do trabalhador (artigo 343.º, alínea b) CT) não faz sentido aludir-se à subsistência do vínculo contratual. Mas ainda que a caducidade opere automaticamente – não havendo, pois, renovação do contrato – o cumprimento das prestações depois de o negócio jurídico ter caducado determina a sua subsistência. É isso que prescreve o artigo 147.º, n.º1 CT quanto ao contrato de trabalho a termo incerto. Em tais casos, o cumprimento das prestações do contrato caducado, durante mais de quinze dias após a ocorrência do termo, depreende-se que há uma vontade das partes no sentido da manutenção do vínculo.

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