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CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE TERMOS DA PESQUISA

3 A REALIDADE REFERENCIAL

3.2 CONCEITOS E DEFINIÇÕES DE TERMOS DA PESQUISA

Esta seção destina-se a facilitar a leitura e a compreensão do relatório da tese, haja vista a pletora de conceitos e definições de termos de pouco uso no meio acadêmico. Para a elabora- ção dos conceitos e definições, empregou-se o roteiro para a análise e a constituição de signi- ficados sugerido no livro “Conceitos e Definições: o significado em pesquisa aplicada nas ciências humanas e sociais” do Professor Hermano Thiry-Cherques (2012). Entretanto, bus- cou-se sintetizar as definições, evitando um desgaste prematuro do leitor.

A lista de termos não segue a ordem alfabética e sim uma sequencia lógica em que o lei- tor ao se deparar com um conceito novo, irá encontrar sua definição nos termos subsequentes. Procurou-se não repetir termos já consagrados ou que foram fundamentados durante o texto do relatório de pesquisa. No entanto, há casos em que o leitor encontrará uma definição sucin- ta sobre o termo ou conceito nesta seção e um aprofundamento ao longo do relatório.

A leitura desta seção 3.2 não precisa ser realizada na sequência apresentada no trabalho. Ela pode ser realizada na medida em que o leitor deparar-se com o termo desconhecido no texto. No entanto, sugere-se, para a compreensão da pesquisa, a sua leitura na íntegra.

a) Ameaças x Óbices

Ameaças são fatores perturbadores capazes de alterar o estado de segurança coletiva. Não se pode confundir Ameaças com Óbices, que são obstáculos de toda ordem que dificul- tam ou impedem a conquista e manutenção de objetivos (BRASIL, 2008b).

Óbices, existentes ou potenciais, podem ser, ou não, de ordem material. Resultam, às vezes, de fenômenos naturais, como secas e inundações, outras vezes, de fatores sociais, como a fome, a pobreza e o analfabetismo, ou, ainda, da vontade humana. Existem ameaças que são originarias de óbices (BRASIL, 2008b).

b) Novas ameaças

De acordo com Chiarelli e Michaelis (2005), este conceito surgiu ou tornou-se mais evidente após o fim da Guerra Fria e os atentados de “11 de setembro” e se concretizou após o lançamento do conceito de “transformação de defesa”, publicado na Estratégia Nacional de Segurança dos USA, em 2002. Dentre as principais ameaças enquadradas neste conceito es- tão: a) Crescente desemprego e, consequente, marginalidade social; b) Migrações descontro- ladas; c) Narcotráfico; d) Terrorismo em todas as suas formas; e) Crime organizado; f) Crimes transfronteiriços; g) Violações dos direitos humanos; h) Degradação do meio ambiente; e i) Discriminações diversas.

c) Segurança

É um sentimento de garantia necessária e indispensável a uma sociedade e a cada um dos seus integrantes, contra ameaças de qualquer natureza. Ela é uma necessidade, uma aspi- ração e um direito inalienável do ser humano (BRASIL, 2008b).

d) Poder Nacional e Expressões do Poder Nacional:

- Ver definição e explicação na seção 3.1 Contextualização espacial do objeto.

e) Poder Militar ou Expressão Militar do Poder Nacional:

É a manifestação de natureza preponderantemente militar do Poder Nacional, que con- tribui para alcançar e manter os Objetivos Nacionais. Tem no emprego da força ou na possibi- lidade de usá-la, a característica mais marcante. Manifesta-se, seja por efeito de desestimular possíveis ameaças, seja pela atuação violenta do Poder Nacional para neutralizá-las. Ele divi- de-se em Poder Marítimo, Poder Terrestre e Poder Aeroespacial (BRASIL, 2008b).

f) Defesa

Defesa é um ato, ou conjunto de medidas, atitudes e ações, que se contrapõem a de- terminado tipo de ameaça, para resguardar as condições que proporcionam a sensação de se- gurança (Figura 2). Ela não pode ser entendida como uma atribuição exclusiva das Forças Armadas. A função Defesa é exercida por todas as Expressões do Poder Nacional (BRASIL, 2008b).

g) Não-guerra

O segmento de não-guerra engloba as operações ou situações que, embora empregue o Poder Militar, no âmbito interno e externo do País, não envolve o combate propriamente dito, exceto em circunstâncias especiais, onde este poder é usado de forma limitada. O Estado em- prega nestes tipos de operações uma variedade de outras agências governamentais e não go- vernamentais. Na maior parte destas operações, as Forças Armadas (FFAA) estarão no co- mando das ações. No entanto, existem ocasiões em que elas não exercem necessariamente o papel principal e nem o comando (BRASIL, 2007a).

O termo, definido na Portaria no 113, do Ministério da Defesa, de fevereiro de 2007, que dispõe sobre a Doutrina Militar de Defesa (DMD), se fortaleceu com a introdução do conceito de “novas ameaças”, já que o segmento de não-guerra atua prioritariamente contra as mesmas.

Veja definição e explicação mais aprofundadas na seção 3.3 O campo observacional: segmento de não-guerra.

Figura 2 – Gráfico da relação entre ameaça, segurança e Defesa Fonte: Elaborado pelo autor

Ameaças

Segurança DE-

FE- SA

h) Sistema de Defesa

É um conjunto de elementos (órgãos funcionais, componentes, entidades) interconec- tados, cuja sinergia é fundamental para a redução das ameaças e, consequente, aumento da percepção de segurança da sociedade. Neste sistema, existem componentes militares e civis que devem funcionar em perfeita harmonia.

Sob a ótica das Inovações em Defesa, o vetor militar do Sistema Militar de Defesa é com- posto por Recursos Humanos, Doutrina (cultura organizacional) e Materiais de Emprego Mili- tar (MEM) ou Produtos de Defesa (PRODE). Veja a figura 5 na seção 3.5.1.

a) Doutrina

Representa uma exposição integrada e harmônica de ideias e entendimentos sobre de- terminado assunto, com a finalidade de ordenar linhas de pensamentos e orientar ações. Po- dem ser explícitas ou implícitas. Explícitas, quando formalizadas em documentos, e implíci- tas, quando praticadas de acordo com costumes e tradições (BRASIL, 2008b).

b) Doutrina Militar

Doutrina militar é o conjunto de valores, princípios, conceitos, normas, métodos e pro- cessos que têm por finalidade estabelecer as bases para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas (BRASIL, 2008b).

Ela é dinâmica e evolutiva, isto é, destituída, de um lado, de qualquer sentido dogmá- tico e, de outro, suscetível de constante evolução seja devido ao notável dinamismo de que se reveste o mundo moderno, seja em consequência de novos processos de combate, de organi- zação e de métodos, seja pelo surgimento de engenhos bélicos sofisticados, de largo alcance e poder de destruição, que a tecnologia vem colocando, em ritmo acelerado, à disposição dos estrategistas do mundo inteiro (BRASIL, 2008b).

c) Transformação da Defesa

De modo abrangente a transformação pode ser definida como um conjunto de refor- mas para aumentar a eficácia das forças militares. Atua como uma revolução militar na arte e ciência operacional (LAMB, 2005, p.1).

De acordo com Covarrubias (2005) ela tem um alcance não somente técnico, mas também político. É um processo que depende essencialmente da capacidade de inovação do setor.

Pode-se dizer, também, que é um processo com 4 dimensões: as pessoas (inclui as ver- tentes de pessoal, liderança, educação e treinamento); os processos (a doutrina); a organi- zação; e a tecnologia (equipamentos e instalações) (GARSTKA, 2005, p.2).

Como se observa na Figura 3, ela é um processo de longo prazo que, além de conduzir o Poder Militar a um novo patamar de tecnologia, conduzindo-o da era industrial para a era do conhecimento, irá promover mudanças na cultura organizacional das Forças. Não se trata, portanto, apenas a reequipamentos, adaptações ou modernizações. Para as Forças Armadas brasileiras, ela é um processo que tem por objetivo aumentar a capacidade dissuasória do país, atendendo às novas demandas do setor de Defesa. A velocidade com que esta transformação ocorrerá depende, essencialmente, da atitude inovadora (α) que será gerada no ambiente da Defesa.

d) Base Industrial de Defesa (BID)

É o conjunto das empresas estatais e privadas, bem como organizações civis e milita- res, que participam de uma ou mais das etapas de pesquisa, desenvolvimento, produção, dis- tribuição e manutenção de produtos estratégicos de Defesa (BRASIL, 2005b).

Veja definição e explicação mais aprofundadas na seção 3.6.1 Interesse dos Agentes da Inovação.

Figura 3 – Transformação da Defesa

e) Inovações em Defesa ou Inovação no setor de Defesa

Inovação, no setor de Defesa, é a implementação de um Produto de Defesa (bem ou serviço), ou um processo, ou um método de marketing, ou método organizacional, novos ou significativamente melhorados, que seja capaz de alterar consideravelmente a forma de orga- nizar, preparar e empregar o Poder Militar.

No Setor de Defesa, as inovações podem ser tecnológicas e não-tecnológicas, podendo envolver mudanças nos equipamentos, na capacitação dos recursos humanos, na doutrina militar ou na combinação destes (Sistema Militar de Defesa – ver Figura 5).

Veja definição e explicação mais aprofundadas na seção 3.4 O ponto de vista analítico: sistema de inovação na defesa.

f) Inovações tecnológicas na Defesa

As Inovações Tecnológicas, no Setor de Defesa, via de regra, são representadas pelas inovações materiais ou tangíveis (produtos de Defesa e seus processos de fabricação) desen- volvidas para uso, prioritário, no segmento militar, mas podendo ser de natureza dual, ou seja, de aplicação militar ou civil.

Em outras palavras, são aquelas que introduzem ou melhoram significativamente algum Material de Emprego Militar (MEM), Produto de Defesa (PRODE) ou mesmo processos de produção destes engenhos. São exemplos atuais: o VANT (veículo aéreo não-tripulado), o GPS, etc.

Veja definição e explicação mais aprofundadas na seção 3.4 O ponto de vista analítico: sistema de inovação na defesa.

g) Inovações não-tecnológicas ou doutrinárias na Defesa

As Inovações Não-tecnológicas (imateriais), de maneira geral, são as representadas não só pelas inovações que criam competências para emprego das inovações tecnológicas do setor de Defesa (tangíveis), mas também aquelas que são intangíveis, relacionadas à Arte da Guerra: princípios doutrinários, organizacionais, estratégicos e de tática militar.

Em outras palavras, são as que geram modificações significativas no modo de organi- zar, preparar e empregar as forças para as operações (de guerra e não-guerra). Diferentemente das inovações tecnológicas, elas não são patenteáveis, pois não são frutos de invenções indus- trializáveis.

Veja definição e explicação mais aprofundadas na seção 3.4 O ponto de vista analítico: sistema de inovação na defesa.

h) Sistema de Inovação no setor de Defesa ou Sistema de Inovação na Defesa (SIS- Def)

Consiste em um conjunto de agentes públicos e privados que, apoiados por fatores de ordem econômica, social, política, organizacional, realizam atividades e interações, contribu- indo para a criação, o desenvolvimento, a produção, a comercialização e a difusão das Inova- ções em Defesa.

Veja definição e explicação mais aprofundadas na seção 3.4 O ponto de vista analítico: sistema de inovação na defesa.

i) Agentes do Sistema de Inovação na Defesa

São todos aqueles indivíduos, grupos ou organizações que produzem inovações na De- fesa. Dentre esses agentes, destacam-se: as agências e instituições governamentais, em espe- cial, aquelas pertencentes ao Poder Militar, caracterizado pelas Forças Armadas; a Base In- dustrial de Defesa (BID) e outras empresas ou associações empresariais; os institutos de pes- quisa e Instituições de Ensino Superior (IES), militares e civis; as firmas e seus laboratórios de pesquisa e desenvolvimento; os indivíduos (militares, empreendedores, pesquisadores e cientistas); os órgãos de fomento; as leis e instituições normativas que envolvem o sistema; etc. (MALERBA, 2002).

j) Planejadores e desenvolvedores das Forças Armadas do futuro (Planejadores): São indivíduos, militares e civis, integrantes das Forças Armadas, que têm a atribuição de pensar e desenvolver as Forças Armadas do futuro, induzindo e / ou conduzindo a produ- ção de inovações tecnológicas e não-tecnológicas para o setor. Os militares deste grupo per- tencem ao Quadro de Estado-Maior de cada uma das Forças. No caso de civis, eles ocupam cargo de mesmo nível destes militares e estão trabalhando ou já trabalharam no nível político- estratégico do setor de Defesa, normalmente, no Ministério da Defesa.

k) Gestores do Sistema de Inovação na Defesa (Gestores):

São integrantes do Ministério da Defesa ou das Forças Armadas, militares e civis, cuja atribuição é fazer funcionar os sistemas e subsistemas responsáveis pela produção, avanço e difusão das inovações tecnológicas e não-tecnológicas do setor.

l) Inovadores do Sistema (Inovadores).

São militares e civis, engenheiros ou não, que embora não estejam pensando nas For- ças Armadas do futuro, são capazes, pelos seus conhecimentos e habilidades, de produzir ino- vações tecnológicas e não-tecnológicas. Em geral, pertencem a um dos agentes do sistema setorial de Defesa (Governo, Forças Armadas, Indústria de Defesa ou IES), mas não obrigato- riamente. Os Planejadores e Inovadores também podem ser Gestores do sistema dos sistemas ou subsistemas de inovação, desde que estejam trabalhando em prol do funcionamento dos mesmos. Os Planejadores, também, podem ser Inovadores, desde que se envolvam, direta- mente, na produção das inovações.

m)Sistema de Inovações Fragmentado e Desarticulados

Sistema de Inovação de Defesa Fragmentado é aquele que possui baixa interação entre os agentes de natureza militar para a produção de inovações, ou seja, entre as Forças Militares e seus membros, entre seus institutos de ensino e de pesquisa e entre seus centros tecnológicos (ver Figura 6 – Iceberg e Pirâmide de Defesa).

Por outro lado, entende-se como Desarticulado o Sistema de Inovação que possui bai- xa interação entre os agentes de natureza militar e os de natureza civil, ou seja, o nível de inte- ração civil-militar é baixo (ver Figura 6 – Iceberg e Pirâmide de Defesa).

n) Dissuasão

É uma das três linhas estratégicas referentes ao modo de uma nação se comportar em relação a possíveis ameaças ou conflitos. A dissuasão busca impedir a formação de vontades coletivas conflitantes ou a desestimular que tais vontades, já existentes, concorram para o em- prego do choque violento como alternativa para efetivação de seus objetivos. Isto se dá, fa- zendo saber ou crer ao oponente ou força adversa que esta alternativa lhe custaria um preço muito elevado em perdas de toda ordem. São exemplos desta linha estratégica as ações da diplomacia, a utilização dos mecanismos de pressão econômica internacional, a demonstração de força militar, a presença militar, a projeção do poder e a dissuasão nuclear. Esta é uma es- tratégia importante para países pacíficos como o Brasil (BRASIL, 2007a, p.38)

o) Produtos de Defesa (PRODE)

Todo bem, serviço, obra ou informação, inclusive armamentos, munições, meios de transporte e de comunicações, fardamentos e materiais de uso individual e coletivo utilizado

nas atividades finalísticas de defesa, com exceção daqueles de uso administrativo (BRASIL, 2012)

p) Material de Emprego Militar (MEM)

Armamento, munição, equipamentos militares e outros materiais ou meios navais, aé- reos, terrestres e anfíbios de uso privativo ou características das forças armadas e, também, seus sobressalentes e acessórios (BRASIL, 2007a, p.156)

q) Defesa da Pátria

O emprego das FA na defesa da Pátria constitui a atividade finalística das instituições militares e visa primordialmente à garantia da soberania, da integridade territorial e patrimo- nial e à consecução dos interesses estratégicos nacionais (BRASIL, 2008b).

r) Objetivos Nacionais ou Fundamentais

A evolução histórico-cultural da comunidade nacional, ao promover a integração de grupos sociais distintos, gera o surgimento de valores, necessidades, interesses e aspirações que transcendem às particularidades grupais, setoriais e regionais e, ao mesmo tempo, con- formam as ações individuais e coletivas. A nação brasileira, no Art. 3° da Constituição Fede- ral, manifesta alguns destes objetivos de forma explicita, como objetivos fundamentais: de- mocracia, integração nacional, integridade do patrimônio nacional, paz social, progresso e soberania. Os Objetivos Nacionais não podem ser confundidos com Objetivos de Governo, que são decorrentes de situações conjunturais em um ou mais períodos de Governo (BRASIL, 2008b).