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Os sistemas de inovação vigentes na Defesa

NÃO-TECNOLÓGICA

3.5.4 Os sistemas de inovação vigentes na Defesa

Conforme comentado na introdução deste trabalho, o modelo elaborado com a finalidade de fomentar a cultura de inovação e de promover a gestão do processo inovativo na Defesa é o Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação de Interesse da Defesa (SisCTID) que trata apenas das inovações tecnológicas. O modelo não leva em conta as inovações no campo não- tecnológico (doutrinário), que são alvo de outro sistema: O Sistema de Doutrina Militar Com- binada (SIDOMC).

Esta seção analisa os principais componentes do SisCTID e do SIDOMC, buscando esta- belecer a interface entre estes sistemas e deles com os sistemas das Forças Singulares. Enten- de-se que tais sistemas são componentes importantes da massa de elementos do campo obser- vacional, pois eles dão forma ao que se pode chamar de embrião de um sistema de inovação do setor de Defesa.

Neste aspecto, vale destacar que a literatura aponta que um sistema setorial de inovação (como o da Defesa) está contido em um sistema nacional de inovação. Com base nos traba-

lhos de Malerba (1999, 2002) e de Silvestre (2006), por exemplo, é possível inferir que um sistema de inovação setorial complementa e impulsiona a formação de outros sistemas, haja vista a forte interdependência entre eles. Um sistema não atua isoladamente, ou seja, a forma- ção de um sistema, qualquer que seja ele, mas em especial o do setor de Defesa, não ocorre de forma imediata, estanque, isolada ou desconectada da formação de outros sistemas, especial- mente do Sistema Nacional de Inovação (SNI).

Outro aspecto importante dos argumentos de Malerba (2002, p.248) é que, no sistema se- torial, existe um grupo de agentes que atua no desenvolvimento e na fabricação de produtos de um setor, e na geração e utilização de tecnologias para este mesmo setor. Cada grupo des- tes agentes é inter-relacionado de duas formas: através de processos de interação e cooperação em desenvolvimentos de artefatos tecnológicos e através de processos de competição e sele- ção em atividades de inovação e de mercado (MALERBA, 1999, p. 4-7). No setor de Defesa, isto não ocorre diferente. O sistema de inovação deste setor possui um conjunto de empresas inseridas no processo produtivo, incluindo aí a P&D, de bens e serviços de um setor, buscan- do novas tecnologias para a geração e utilização de conhecimentos que vão beneficiar o pró- prio setor (SBICCA; PELAEZ, 2006, p. 422-423). Vale lembrar que o SIS-Def não é formado apenas por instituições ou empresas exclusivamente militares. Os agentes que atuam neste setor, também, são partes componentes de outros sistemas, atuando ora em um, ora em outro ou até mesmo simultaneamente em vários sistemas. A seguir, serão abordados cada um dos sistemas que compõem o sistema setorial de inovação do setor.

3.5.4.1 No campo das Inovações Tecnológicas

3.5.4.1.1 O Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação de Interesse da Defesa (SisCTID)

O conhecimento das teorias sobre sistemas de inovação, sistemas nacionais de inovação e sistemas setoriais de inovação auxiliam a compreensão do conceito particular de Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação de Interesse da Defesa Nacional (SisCTID), que possui carac- terísticas que o destacam como um sistema especial e que deve estar perfeitamente integrado com o Sistema de Ciência e Tecnologia Nacional (QUINTÃO; SARDENBERG, 2002, p. 19- 20, 37-39). A afirmação dos ex-Ministros de Estado enquadra o SisCTID como um Sistemas Setorial de Inovação (SSI). O modelo do SisCTID foi criado em 2003, com a seguinte orien- tação: “deve atingir o efetivo domínio dos conhecimentos científicos e tecnológicos e da ca-

pacidade de inovação, visando cooperar com a satisfação das necessidades do País atinentes à Defesa e ao desenvolvimento nacional”.

Não podemos mais conceber que as tarefas da defesa sejam tidas como afetas apenas a militares, nem que a responsabilidade pelo desenvolvimento seja percebida exclusivamente como atribuição de órgãos específicos, que atuam em isolamento. O mundo em que vivemos se caracteriza por múltiplos canais de interdependência e não deixa espaço para uma visão estreita e compartimentada dos fenômenos sociais. As várias dimensões da realidade estão em constante processo de entrelaçamento. E, nesse contexto, não tenhamos dúvida: a defesa, de um lado, e ciência, tecnologia e inovação, de outro lado, interpenetraram-se de forma inexorável (BRASIL, 2003b).

De acordo com Amaral e Viegas Filho, então Ministros da Ciência e Tecnologia e da Defesa, respectivamente, o SisCTID é um esforço nacional, para a construção de um sistema que permita definir as prioridades comuns entre alguns ministérios, não admitindo ilhas ou feudos (BRASIL, 2003b, p.6). A proposta do modelo é construir sinergias e operar em rede de forma a alcançar bons resultados, como consequência de um trabalho realizado coletivamente. Esse Sistema também procura a harmonização e a integração das atividades de C,T&I das Forças Armadas com o Sistema Nacional de C,T&I, considerando, ainda, a participação de outras instituições brasileiras, tais como de Instituições Acadêmicas, da Indústria e de outras instituições do governo (BRASIL, 2003b, p.9).

O modelo é fruto de uma parceria, entre os Ministérios da Defesa e da Ciência e Tecno- logia, que realizaram em Brasília, no dia 26 de novembro de 2002, o Primeiro Seminário de Ciência, Tecnologia e Inovação para a Defesa Nacional. Neste Seminário foi divulgado o do- cumento Ciência, Tecnologia e Inovação – Proposta de Diretrizes Estratégicas para a Defesa Nacional, com mensagens do Ministro da Defesa, Geraldo Magela da Cruz Quintão, e do Mi- nistro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Mota Sardenberg.

Em decorrência deste documento, foram formados, ao longo do ano de 2003, vários gru- pos de trabalho destinados a fornecer sugestões para a concepção e implementação do SisC- TID. Os resultados desse trabalho conjunto foi a publicação dos documentos denominados

Concepção Estratégica – Ciência, Tecnologia e Inovação de Interesse da Defesa Nacional e Gerenciando Projetos no Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação de Interesse da Defesa Nacional (SisCTID).

O documento denominado Concepção Estratégica traz a Missão e a Visão 2015 sobre o assunto, no que se refere à área de CT&I. A Missão é expressa da seguinte forma: “viabilizar soluções científico-tecnológicas e inovações para a satisfação das necessidades do País atinen-

tes à Defesa e ao Desenvolvimento Nacional”. Quanto à Visão 2015, o documento diz que o Ministério da Defesa “será uma organização de referência na condução dos assuntos relativos à área da CT&I de interesse da Defesa Nacional. Esta visão é composta por 4 (quatro) temas: 1) domínio de tecnologias que atendam às necessidades da Defesa Nacional; 2) contribuição para o fortalecimento da indústria nacional; 3) reconhecimento institucional, no Brasil e no exterior; e 4) gestão eficiente e eficaz.”

O Tema 1 possui objetivos estratégicos que privilegiam a ampliação do conteúdo tecno- lógico dos produtos e serviços de Defesa, a elevação do nível de capacitação de recursos hu- manos e o aprimoramento da infraestrutura de C&T de apoio a programas e projetos de inte- resse da Defesa Nacional. O Tema 2 tem por objetivo a criação de um ambiente favorável à inovação e à competitividade industrial e a implantação de mecanismos de financiamento das atividades de C,T&I de interesse da Defesa Nacional. O Tema 3 objetiva a ampliação do inte- resse dos diversos segmentos da sociedade pelas iniciativas nas áreas da C,T&I voltadas para a Defesa Nacional e o aprimoramento da imagem de excelência institucional. Por fim, o Tema 4, que é o mais afeto a esta pesquisa, tem por finalidade a integração das iniciativas de C,T&I de interesse da Defesa Nacional, conduzidas nas organizações militares de P&D, nos institu- tos, nas universidades civis e na indústria, o estabelecimento de política para a valorização de recursos humanos, baseada em resultados, a implantação de sistemática que integre o plane- jamento estratégico, o ciclo de desenvolvimento de produtos e serviços de Defesa e a avalia- ção de resultados.

Para dar sustentação a estes objetivos estratégicos distribuídos pelos temas, o documento Concepção Estratégica apresenta uma série de ações estratégicas, dispostas em 10 (dez) obje- tivos integradores, sobre os quais não tratarei neste trabalho.

Observa-se que a Concepção Estratégica do SisCTID foi elaborada tomando-se alguns cuidados em sua arquitetura. Em relação à sua estrutura o sistema foi construído para ter baixa interferência nas organizações já atuantes, para possibilitar atuação descentralizada, ser flexí- vel e adaptável a mudanças, estar preparado para não desperdiçar oportunidades e, para per- mitir a revitalização constante da visão estratégica. No que tange à sua atuação, o sistema foi delineado para a frequente busca por novas parcerias e integração, para identificar inovações e fomentar ideias inovadoras, para ser transparente aos usuários e para possibilitar a salvaguar- da de informações estratégicas ou sigilosas. Sua implementação deveria ser de fácil acesso e utilização e permitir avaliar o desempenho com vistas ao seu aperfeiçoamento.

A leitura do referido documento permite concluir que o Sistema foi formatado para fa- zer uso de um processo top-down para definir problemas e um processo bottom-up para en- contrar ideias21. Sua concepção baseia-se no modelo da Petrobrás e está hierarquizado nos níveis estratégico, tático e operacional (BRASIL, 2003b). Nas figuras 9 e 10, é possível iden- tificar cada um destes níveis. As figuras retratam os Principais Componentes do SisCTID e o Ciclo de Definição da Carteira de Projetos respectivamente. Com elas, torna-se mais fácil a compreensão da estrutura do sistema (SisCTID).

Verifica-se que o nível estratégico conta com um Comitê Estratégico que auxilia a to- mada de decisões nesta área, denominado de Comissão Assessora de Ciência e Tecnologia para a Defesa (COMASSE).

A COMASSE atua no estabelecimento de metas para a criação da carteira de projetos no nível tático, as quais são controladas pelos Comitês Técnicos.

Figura 9: Componentes principais do SisCTID

Fonte: Concepção Estratégica do SisCTID (BRASIL, 2003b)

De acordo com o modelo elaborado, a secretaria executiva da COMASSE, em tese, de- veria focar atenção na gestão de cinco áreas de coordenação. A primeira diz respeito à Gestão

da Cadeia Produtiva, que tem por objetivo conduzir o planejamento operacional e a execução

dos processos, o mais eficientemente possível. Ao contrário da inovação, a gestão da cadeia

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O DARPA (Defense Advanced Research Projects Agency) adota uma metodologia semelhante (top-down para problemas e bottom-up para ideias), mas exclusivamente voltada às inovações de ruptura (EUA, 2005).

de produção não redesenha nada, apenas multiplica a difusão das inovações e busca utilizar os efeitos da economia de escala de forma a gerar lucro. Outro foco seria na Gestão de Relacio-

namentos, cujo objetivo é conquistar clientes e/ou fornecedores e ganhar suas lealdades. A

terceira área é a inovação. O documento afirma que a secretaria deveria ter foco na criação rápida de novos produtos e a na promoção de um ambiente dinâmico.

A quarta área está relacionada à infraestrutura. O documento ressalta a importância das atividades de apoio à inovação e a necessidade de um elevado grau de dependência entre par- ceiros, a fim de tornar os relacionamentos estáveis.

Por fim, a quinta área a ser focada trata do desenvolvimento organizacional, que deveria incentivar a disposição dos próprios colaboradores e dos parceiros para a cooperação, empre- gando procedimentos especiais para avaliar e premiar o desempenho, para desenvolver parce- rias e para conquistar parceiros.

Figura10 - Ciclo de definição da carteira de projetos (baseada na concepção da Petrobrás) Fonte: Concepção Estratégica do SisCTID (BRASIL, 2003b)

Em relação aos Comitês Técnicos, pode-se afirmar que os mesmos têm a incumbência de analisar as novas propostas de projetos, verificar seu alinhamento com as Diretrizes Estratégi- cas de C,T&I de interesse da Defesa e proceder ao seu enquadramento em áreas ou tecnologi- as de interesse, definidas pelos próprios Comitês.

Ações Estratégicas Diretrizes Estratégicas De Defesa (MD) Título Missão Cenários Tecnológicos Redes de Inteligência Tecnológica (RIT) COMITÊ ESTRATÉGICO (COMASSE) COMITÊS TÉCNICOS Programas e áreas tecnológicas

CARTEIRA DE PROJETOS