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ICEBERG DA DEFESA PIRÂMIDE DA DEFESA Figura 6 – Iceberg e Pirâmide de Defesa

Fonte: Cunha e Amarante (2011)

Blocos Fragmentados

Os autores não citam, explicitamente, mas é possível observar que o formato piramidal da estrutura não indica hierarquia entre os agentes e sim o volume, em importância, que cada agente representa.

Cunha e Amarante (2011) acreditam que a “Pirâmide de Defesa”, no País, possui algumas distorções. Em primeiro lugar, os blocos reais ainda possuem volume reduzido (em importân- cia), quando comparado com as ambições políticas, com a performance econômica do País e com sua dimensão internacional. Os autores citam como exemplo: as poucas instituições pú- blicas do Executivo e do Legislativo que tratam do tema da Defesa; e o descontínuo orçamen- to militar, reconhecidamente insuficiente. Em segundo lugar, os blocos atuais estão afastados uns dos outros, indicando a dificuldade de interação entre eles. Os exemplos citados são: seto- res públicos ainda evitam tratar de assuntos militares; e alguns setores das Forças Armadas, por diversos motivos, optam, muitas vezes, por comprar meios e equipamentos de defesa no exterior.

Focando-se, por outro lado, na figura do “Iceberg de Defesa”, vê-se que na base está o se- tor de geração, de manutenção e de transmissão do conhecimento acumulado por todas as gerações no mundo: a universidade. Na universidade realizam-se o ensino e a pesquisa. Ela é a “ferramenta” desenvolvida pela sociedade para ampliar a base de conhecimentos científicos. Esse papel exclusivo da universidade não impede que nos laboratórios universitários se reali- ze alguma pesquisa aplicada, na busca de soluções objetivas para problemas previamente de- finidos. No Brasil, os institutos militares de engenharia ocupam um lugar de destaque neste setor (AMARANTE, 2012)

Imediatamente acima da base (universidade), estão os centros de pesquisas e desenvolvi- mento que se dedicam, preferencialmente, à pesquisa aplicada e ao desenvolvimento experi- mental. De acordo com Cunha e Amarante (2011), “o ensino e a pesquisa básica, praticamen- te, não se realizam em centros de pesquisa, só ocorrendo essa atividade quando necessária devido à especificidade”. Na realidade, eles se aproveitam de conhecimentos adquiridos nas universidades e os transforma, buscando a obtenção de meios de emprego militar a serem dis- ponibilizados para a realização das operações militares. Nos centros de pesquisas e desenvol- vimento realiza-se um trabalho sistemático com a tecnologia militar, objetivando tanto o de- senvolvimento de novos produtos e o estabelecimento de novos processos, quanto o melho- ramento técnico ou operacional daqueles já existentes.

Sobrepostas aos centros de P&D estão localizadas as empresas de engenharia, construto- ras da infraestrutura, as quais se apropriam de conhecimentos já disponíveis, não necessitando

realizar pesquisa. Elas são responsáveis pela construção das fábricas, das vias de transporte, dos portos, ou seja, realizam a base para o funcionamento das empresas industriais e de servi- ço. Além disso, produzem as obras de arte (pontes, túneis, edifícios, estradas, usinas e outras) que permitem o deslocamento e a operação das forças combatentes.

Continuando a escalada rumo ao topo do Iceberg, depara-se com as empresas industriais, responsáveis pela fabricação de todos os meios, sistemas, equipamentos e materiais de defesa. Uma vez que o produto ou o serviço esteja disponível, é necessário colocá-lo em serviço e disponibilizá-lo para o emprego na Defesa. Surgem, então, as empresas de serviço, que cui- dam da distribuição, da utilização e da manutenção de produtos, ou seja, provém o apoio lo- gístico, valendo-se do conhecimento tecnológico para garantir o funcionamento dos meios de combate, durante as operações militares.

Por fim, a parte visível do Iceberg, localizada acima da linha d’água, representa os produ- tos e serviços tecnológicos disponibilizados para a Defesa. Conforme se observa, o “Iceberg

de Defesa”, funcionalmente, é uma estrutura complexa composta de várias instituições e em-

presas, com diferentes especializações, de difícil relacionamento e, por vezes, de conflitantes interesses, que precisaria operar de forma harmoniosa para produzir os materiais e serviços necessários às forças combatentes (AMARANTE, 2012).

3.5.2 A Guerra Omnidimensional e as inovações no setor de Defesa

Também, com intuito de compor a Massa Amorfa De Elementos, acredita-se ser neces- sário e oportuno abordar, também, sobre o elemento “guerra” e seus condicionantes no mo- mento atual. A guerra é um fenômeno social que se caracteriza pelo choque violento entre vontades coletivas conflitantes, dispostas a empregar todos os meios, recursos e capacidades que lhe estejam disponíveis para submeter, debelar ou transformar a vontade oponente e, as- sim, satisfazer a sua própria. Deste conceito, destacam-se dois elementos: o caráter violento da guerra e sua origem com base em vontades coletivas divergentes (CLAUSEWITZ apud PARET, 2003). O entendimento preciso a respeito destes dois elementos é muito importante para a definição das estratégias a serem utilizadas na condução das guerras ou na maneira de evitá-las e interpretá-las.

Basicamente, as estratégias relativas às guerras seguem uma das três seguintes linhas es- tratégicas fundamentais – a linha das estratégias dissuasivas, a das persuasivas e a das destru- tivas. As dissuasivas são as que buscam impedir a formação de vontades coletivas conflitan-

violento como alternativa para efetivação de seus objetivos. Isto se dá, fazendo saber ou crer ao oponente que esta alternativa lhe custaria um preço muito elevado em perdas de toda or- dem. São exemplos desta linha estratégica as ações da diplomacia, a utilização dos mecanis- mos de pressão econômica internacional, a demonstração de força militar, a presença militar, a projeção do poder e a dissuasão nuclear (ARON, 1962; BEAUFRE, 1998). Esta é uma estra- tégia importante para países pacíficos como o Brasil.

Já as estratégias persuasivas dizem respeito àquelas que buscam a mudança das estraté- gias já implementadas ou em andamento por parte dos oponentes, particularmente, aquelas estratégias que se valem do conflito armado deflagrado. Assim, esta linha estratégica visa a debelar ou a transformar a vontade coletiva oponente, desgastando-lhe tanto em seus meios, recursos e capacidades, quanto em sua possibilidade de atuação por meio da ação violen- ta. São exemplos deste tipo de estratégia as já citadas (diplomacia, pressão econômica, etc.), mas também as guerras irregulares de resistência, os movimentos de insurgência e as ações terroristas, cujos perpetradores não possuem recursos suficientes para optarem por uma estra- tégia destrutiva definitiva (SUN TZU, 1983). Entretanto, destaca-se que esta opção não é ex- clusiva de coletividades sem meios suficientes para empreender uma linha destrutiva. A opção persuasiva também poderá ser adotada por coletividades que julguem ser suficiente conduzir um conflito violento limitado, visando tão somente à transformação da vontade oponente por meio da combinação de ações diretas e indiretas, buscando a surpresa e o desgaste do oponen- te (LIDDELL HART apud PARET, 2003).

Por último, têm-se as estratégias destrutivas, que são aquelas que empregam o choque violento, em sua plenitude máxima, visando a eliminar os meios, os recursos e as capacidades oponentes a fim de submeter definitivamente a vontade coletiva conflitante. São exemplos desta linha as guerras regulares clássicas e os conflitos convencionais, mas também as opera- ções militares de contraterrorismo e de contrainsurgência, empreendidas por tropas numérica e materialmente superioras contra coletividades restritas, uma vez que, via de regra, a estraté- gia comum do lado superior é a destruição definitiva da capacidade de violência do oponente (CLAUSEWITZ , 1993).

Feitas estas considerações, verifica-se que, ao longo do tempo, de um conflito para ou- tro, novas dimensões de atuação militar foram sendo incorporadas ao campo de batalha, indu- zindo mudanças e impondo constantes modernizações na estruturação e nos meios de empre- go dos exércitos. Sem dúvida, as inovações foram as grandes responsáveis pela incorporação destas novas dimensões no campo de batalha. No entanto, se, por um lado, as inovações tec-

nológicas, graças à ampliação das capacidades dos elementos beligerantes, desempenharam um papel muito relevante na incorporação das novas dimensões do campo de batalha, por outro, foram as inovações não-tecnológicas os fatores determinantes para que as transforma- ções dos exércitos fossem concretizadas.

O Quadro 4, apresenta o relacionamento das inovações tecnológicas com as não- tecnológicas. Nele, pode-se observar alguns exemplos da combinação das inovações tecnoló- gicas com as não-tecnológicas18 que possibilitou o avanço das concepções estratégicas, a modernização material dos exércitos e a transformação militar. Em decorrência disso, a incor- poração de novos espaços de atuação do poder militar permitiu o estabelecimento de objetivos mais ousados, cuja conquista se refletiu em efeitos favoráveis aos detentores das melhores capacidades tecnológicas e das doutrinas militares mais originais, desequilibrando sobrema- neira os desdobramentos das guerras seguintes.

Quadro 4: Dimensões do campo de batalha e inovações

DIMENSÕES INOVAÇÃO TECNOLÓGICA INOVAÇÃO